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    segunda-feira, 3 de setembro de 2012

    ORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAIS


    ORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAIS

    Link to Oraes e milagres medievais

    Posted: 01 Sep 2012 11:30 PM PDT
    Nossa Senhora dos Mártires, Castro Marim
    Nossa Senhora dos Mártires, Castro Marim
    Esta cantiga refere-se ao surgimento da devoção a Nossa Senhora de Castro Marim (Algarve, século XII), especial protetora dos portugueses cativos dos mouros.

    Captivo de um pêrro moiro
    Em terras de moiraria
    Debaixo de duros ferros,
    Um pobre cristão vivia.

    Negro pão e água turva
    Só lhe davam por medida
    De manhã até à tarde
    A um moinho moia;
    E à noite o perro infiel,
    Com medo que lhe fugisse,
    N'um caixão grande o fechava,
    Muito forte em demasia.

    Depois, em cima deitado,
    Em tom de mofa dizia,
    Como quem Deus não conhece,
    Esta horrível heresia:
    - Livre-se d'aqui agora
    A tua Virgem Maria!

    Chorava o pobre cristão,
    Mas seus males não carpia.
    A blasfêmia que escutava
    Era o que só lhe doía.
    Todo em lágrimas banhado,
    Desta maneira dizia:
    – Senhora! Que não castigas
    Matriz de Nossa Senhora dos Mártires, Castro Marim
    Matriz de Nossa Senhora dos Mártires, Castro Marim
    Esta grande aleivosia?!

    Se ele bem A invocava
    Melhor a Senhora o ouvia.

    Uma noite à meia noite,
    O caixão que se movia!
    Sem que ninguém lhe tocasse,
    Ao mar direito corria!
    O moiro, no melhor sono
    Em cima d'ele dormia.
    Adeus, terra de moirama!
    A terra ao largo fugia...

    Assim três noites vogaram,
    Três noites e mais dois dias!
    O moiro, como encantado,
    Do sono não se bulia.

    Já desponta a manhã clara,
    Manhã do terceiro dia!
    Novas areias se mostram,
    Novos céus, nova alegria!

    Já perto se ouve roncar
    O mar pela penedia.
    O ladrar de muitos cães
    Por toda a costa se ouvia.
    Da torre o galo três vezes
    Este milagre anuncia!
    Os sinos do campanário
    Repicavam à porfia,
    Sem que ninguém os tangesse,
    Castro Marim
    Castro Marim
    Porque tudo inda dormia.

    Com os sinos acorda o moiro, Sem atinar com o que via.
    Já muito contrito e humilhado
    Para o captivo dizia:
    – Cristão, que terra é esta
    De tão alta senhoria?
    Na tua terra, cristão,
    Cantam galos à porfia,
    Tocam sinos, ladram cães,
    Logo ao despertar do dia?
    – Esta terra sei que é minha,
    Mas eu não a conhecia...
     Na minha terra, senhor,
    Cantam cães, repicam sinos,
    Logo ao despontar do dia...
    – Ergue-se, cristão, perdoa-me
    Todo o mal que eu te fazia:
    Ontem eras meu escravo
    Teu servo seu n'este dia.

    Já todos vão, já se partem,
    Caminho da santa ermida;
    O moiro, por Deus tocado,
    D'esta maneira dizia:
    – Oh Mãe de Deus poderosa,
    Piedosa Virgem Maria,
    Perdoa-me os meus pecados
    Que eu cristão me tornaria!

    Brasão da Vila de Castro Marim
    Brasão da Vila de Castro Marim
    Para ver este milagre
    Toda a gente ali corria;
    Com seus gibões encarnados
    Os da justiça assistiam.
    Eis que aos pés da Virgem Santa
    D'água uma fonte se abria;
    Tão cristalina e tão pura;
    Que linda que ela corria!
    Com esta água bendita
    Água de tanta valia,
    Foi logo ali batizado
    O moiro da Babaria.

    E para maior milagre,
    Ao cabo de sete dias
    Mesmo no meio das águas
    Um verde freixo nascia
    Tão copadinho e tão verde,
    Oh que bem que parecia!

    Desde então ficou a Virgem
    Tendo grande romaria;
    De Portugal e Castela
    Todos, ali, corre em seu dia.

    (Fonte: Alberto Pimentel, "História do Culto de Nossa Senhora em Portugal")






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