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Palavras do Papa
O nada e o tudo do cristão
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2013-06-17 L’Osservatore Romano
«O nada é semente de guerra, sempre; porque é semente de egoísmo. O tudo é Jesus». É na compreensão correcta deste binómio que se fundam a mansidão e a magnanimidade, que distinguem o cristão, disse o Papa Francisco na manhã de 17 de Junho, durante a missa na capela da Domus Sanctae Marthae, concelebrada entre outros pelo cardeal Attilio Nicora, presidente da Agência de informação financeira (Aif); estavam presentes alguns dos seus colaboradores e um grupo de empregados dos Museus do Vaticano.
Comentando as leituras do dia – tiradas da segunda carta de são Paulo aos Coríntios (6, 1-10) e do Evangellho de Mateus (5, 38-42) – o Pontífice meditou sobre o significado de «um clássico» dos ensinamentos evangélicos, ou seja, o sentido do que Jesus diz a propósito da bofetada recebida no rosto, à qual o cristão responde oferecendo a outra face, algo que vai contra a lógica do mundo, disse o Papa, segundo a qual a uma ofensa é preciso responder com uma reacção igual e contrária, porque «devemos defender-nos, devemos lutar, devemos defender o nosso lugar. E se alguém nos dá uma bofetada, nós daremos duas, para nos defender. Esta é a lógica normal, não é?».
Mas Jesus vai além e diz que depois de ter recebido uma bofetada – explicou o Pontífice – é preciso parar e dedicar o próprio tempo ao outro. E se alguém nos pede algo, temos que lhe dar muito mais. Esta é a lei de Jesus: «A sua justiça é diferente, totalmente diversa do olho por olho, dente por dente». O Santo Padre chamou a atenção para a frase com que Paulo conclui a página do trecho lido durante a liturgia porque, explicou, «nos diz uma palavra que talvez nos ajude a compreender o significado da bofetada no rosto. Com efeito, termina dizendo isto: “Como pessoas que nada têm, e ao contrário possuímos tudo”».
Foi este o binómio sobre o qual o bispo de Roma convidou a meditar: o nada e o tudo. «Acho que esta é a chave de interpretação de tal palavra de Jesus, a chave para interpretar bem a justiça que Jesus nos pede, uma justiça superior à dos escribas e dos fariseus». Como se resolve a tensão entre o nada e o tudo? O tudo constitui a segurança cristã: «Nós temos a certeza de que possuímos tudo, com a salvação de Jesus Cristo. E Paulo estava tão persuadido disto, que dizia: para mim, o que importa é Jesus Cristo, e nada mais; para mim, o resto é lixo. O tudo é Jesus Cristo. As outras coisas nada valem para o cristão. Mas para o espírito do mundo, o tudo são as coisas: as riquezas, as vaidades e a importância» e, ao contrário, «o nada é Jesus».
Isto, explicou o Papa, expressa-se no facto de que se a um cristão é pedido dez, «ele deve dar cem», porque «para ele o tudo é Jesus Cristo». Eis «o segredo da magnanimidade cristã, sempre em sintonia com a mansidão. O cristão é uma pessoa que abre o seu coração com esta magnanimidade. Ele possui o tudo, Jesus Cristo; as outras coisas são boas, servem, mas no momento do confronto, ele escolhe sempre o tudo», que é Jesus.
Mansidão e magnanimidade. Sem dúvida, «viver assim não é fácil – reconheceu o Papa – porque realmente recebemos bofetadas. E ambas as faces». Mas «o cristão é manso, é magnânimo. Abre o seu coração. E quando nós encontramos cristãos com o coração pequeno», quer dizer que vivem «um egoísmo mascarado de cristianismo». De resto, «Jesus aconselhava: “Procurai antes o reino de Deus e a sua justiça, e o resto ser-vos-á dado”. O reino de Deus é o tudo; o resto é secundário, não é principal». E todos os erros dos cristãos, «todos os erros da Igreja, todos os nossos erros nascem aqui: quando nós dizemos ao nada que é tudo; e ao tudo, que parece que não tem importância».
Seguir Jesus, disse o Pontífice, «não é fácil, mas também não é difícil, porque no caminho do amor o Senhor faz as coisas de modo que nós possamos ir em frente. É o próprio Senhor que nos abre o coração». Quando, ao contrário, somos propensos a seguir o nada, então «nascem os conflitos em família, com os amigos, na sociedade. Até os conflitos que terminam em guerra», porque «o nada é semente de guerra, sempre; porque é semente de egoísmo», enquanto «o tudo é Jesus». A graça invocada pelo Pontífice é que o Senhor «abra o nosso coração e nos torne humildes, mansos e magnânimos», porque nele possuímos tudo», preservando-nos de criar «problemas diários à volta do nada».
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Reflexão Espiritual
Das Obras de São Boaventura, bispo
(Opusculum 3, Lignum vitae, 29-30.47 Opera omnia 8,79)
Considera, ó homem redimido, quem é aquele que por tua causa está pregado na cruz, qual a sua dignidade e grandeza. A sua morte dá a vida aos mortos; por sua morte choram o céu e a terra, e fendem-se até as pedras mais duras.
Para que, do lado de Cristo morto na cruz, se formasse a Igreja e se cumprisse a Escritura que diz: Olharão para aquele que transpassaram (Jo 19,37), a divina Providência permitiu que um dos soldados lhe abrisse com a lança o sagrado lado, de onde jorraram sangue e água. Este é o preço da nossa salvação. Saído daquela fonte divina, isto é, no íntimo do seu Coração, iria dar aos sacramentos da Igreja o poder de conferir a vida da graça, tornando-separa os que já vivem em Cristo bebida da fonte viva que jorra para a vida eterna (Jo 4,14).
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