Coreia do Norte15.abril.2013 11:30:41
O mundo, segundo a propaganda da Coreia do Norte
A
Coreia do Sul é mergulhada em pobreza e violações brutais de direitos
humanos, os moradores de Nova York têm de sair às ruas com colete à
prova de balas para se proteger da violência urbana e a ideologia juche
criada por Kim Il-sung é estudada de maneira fervorosa ao redor do
planeta.
O retrato do mundo e da Coreia do Norte apresentado nos
jornais, rádios e TVs oficiais do país é um exercício de permanente
glorificação da dinastia Kim, demonização dos “imperialistas”
norte-americanos e seus “fantoches” sul-coreanos e exaltação do
militarismo e da suposta superioridade da peculiar versão local do
socialismo.
Notícias internacionais são escassas e costumam dar
destaque a catástrofes naturais, como tufões e terremotos, e ao impacto
negativo da intervenção dos Estados Unidos em crises internacionais. As
experiências de Iugoslávia, Iraque e Líbia são usadas para demonstrar o
que pode ocorrer com países desprovidos de armas poderosas e servem para
justificar a defesa da construção de um arsenal nuclear pela Coreia do
Norte. A propaganda oficial sustenta que, sem ele, o país poderá ser
invadido e dominado pelos norte-americanos.
O risco de um conflito
armado é sempre apresentado como iminente, o que é usado para justificar
o desproporcional investimento militar em um país que está entre os
mais pobres do mundo.
Também é o álibi para explicar a ausência de
acesso à informação fora dos canais oficiais de propaganda, apresentada
como uma maneira de proteger a população da perniciosa influência
inimiga. Norte-coreanos não têm internet, não usam e-mails e não têm
ideia do que sejam Facebook e Twitter.
No universo em que habitam, a
kimilsungia é a flor mais sagrada do mundo e
kimjongilia,
a mais famosa. Na primavera, os meios oficiais trazem textos quase
diários sobre exposições das flores em vários países. Segundo a máquina
de propaganda de Pyongyang, a
kimjongilia floresce nos cinco continentes e “atrai a admiração da humanidade com seu charme”.
Os
representantes das três gerações de líderes da família Kim são
apresentados como estadistas respeitados internacionalmente. Na
quarta-feira, a agência oficial de notícias KCNA disse que “todo o
mundo” enviou “calorosas congratulações” a Kim Jong-un para
cumprimentá-lo pelo aniversário de um ano da nomeação para os cargos de
primeiro-secretário do Partido dos Trabalhadores e primeiro-presidente
da Comissão de Defesa Nacional. “Mais de 12 mil veículos de comunicação
de todo o mundo competiram entre si para dar ampla publicidade a suas
incessantes inspeções do front e orientações práticas nas mais
diferentes áreas”, declarou o texto.
Na mitologia construída pela
propaganda oficial, Kim Il-sung (1912-1994), seu filho Kim Jong-il
(1941-1911) e o neto Kim Jong-un, de 30 anos, são apresentados como
líderes oniscientes e onipresentes, que guiam os norte-coreanos em
tarefas tão distintas como a plantação de batatas e a fabricação de
foguetes.
O ponto alto da visita a qualquer instituição ou empresa é a
relação das orientações escritas recebidas de cada um dos Kim e o
registro das datas em que visitaram o local pessoalmente. Em todos os
lugares há quadros, mosaicos ou fotos e de Kim Il-sung e Kim Jong-il,
que também aparecem nos broches que os norte-coreanos levam do lado
esquerdo do peito.
A glorificação da Coreia do Norte e da dinastia
Kim é acompanhada pela apresentação sombria do mundo exterior, em
especial dos Estados Unidos e da Coreia do Sul. Sob o título “O pior
deserto de direitos humanos”, os veículos oficiais divulgaram em março
relatório do governo de Pyongyang que apontou a suposta situação
“medonha” em que vivem os vizinhos do Sul. “Mais de 7 milhões de
famílias, que representam 45% do total, estão vivendo uma existência da
mão para a boca, sem moradia permanente, e inúmeras pessoas enfrentam
uma vida de privações em lugares que dificilmente podem ser chamados de
lares”, sustentou a propaganda norte-coreana.
Separados em 1945 em
uma zona de influência socialista no Norte e outra capitalista no Sul,
os dois lados da península percorreram trajetórias díspares.
A Coreia
do Sul é um dos países mais tecnologicamente avançados do mundo e
possui um PIB per capital de US$ 31 mil, quando calculado de acordo com a
Paridade do Poder de Compra (PPP), que leva em conta os preços
domésticos. A Coreia do Norte não divulga estatísticas econômicas, mas a
cifra é estimada em US$ 1.800.
Kim Jong-il acreditava que a diluição
ideológica havia sido a principal razão para o fim da União Soviética e
decidiu intensificar a doutrinação para sustentar o regime. Mas o
contato com o mundo exterior começa a abrir brechas na propaganda
monolítica, com a entrada clandestina de DVDs sul-coreanos e chineses. O
que não se sabe é como os norte-coreanos vão reagir quando souberem que
a realidade fora do país não corresponde à imagem construída pelo
regime.
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