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    quarta-feira, 7 de agosto de 2013

    Eu achava que a gente só amava uma criança depois que ela nascesse











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    EU ACHAVA QUE A GENTE SÓ AMAVA UMA CRIANÇA DEPOIS QUE ELA NASCESSE



    Se eu não podia contar para ninguém, significa que o que eu fiz foi errado e muito errado. Então por que razão meus pais, as pessoas no mundo em que eu mais acreditava, me deram tanto apoio? Por que razão eles não me impediram? Porque permitiram que eu fizesse o que a minha loucura me mandava fazer? Eu era inexperiente, eu tinha apenas 21 anos! Hoje sei o quanto eu era nova e não sabia quase nada da vida.

    Quando amanhece, e o sol desponta no horizonte e o dia promete ser lindo, penso em porquê não saí correndo daquele consultório, em porquê não expressei meus sentimentos sem sentir vergonha deles. Gritar, chorar, me arrastar no chão de desespero, afinal, era isso o que se passava dentro de mim. Mas porquê eu tinha que ser forte? Por quem? A figura do meu pai, tão duro, um olhar ainda mais sério, pesado, frio como um mármore não me deixava desistir. E eu não desisti.

    O cheiro de incenso percorria toda a sala e parecia um ritual onde eu seria a próxima vítima. Como uma execução onde a minha sentença seria a pena de morte. E não era nada disso, eu não estava sendo obrigada a nada, e isso é o mais terrível de esquecer.

    Quando chegou a minha vez eu nem olhei para o meu pai. Fui, convicta de aquilo seria bom para mim. Quando a médica me perguntou: “O moço te abandonou?” Eu disse: “Sim!” Mas não era verdade. Meu Deus, não era verdade! Eu estava contando uma história que não era minha e porquê? Até hoje não encontro resposta para isso, para a minha cegueira. Eu estava desesperada…

    E quando ela aplicou a medicação, eu não desmaiei. Minha cabeça rodava, rodava e eu sentia muito, muito enjoo Comecei a suar frio, meu corpo tremia incontrolavelmente. Eu não conseguia olhar para um ponto fixo. Gemia de dor, pavor. Era uma dor insuportável, uma sensação indescritível. Parecia que eu estava à beira de um abismo e ia cair a qualquer momento.

    Não foi bem uma anestesia, eu sentia todas as dores, o aparelho me sugando por dentro como se estivesse arrancando meu estômago sem anestesia alguma. Ali sim, eu queria sair correndo, mas já era tarde… E pareceu não acabar nunca. Pareceu durar 5 horas naquela mesa. Minha boca secou, parecia que eu nunca havia bebido uma gota de água em toda minha vida, eu não conseguia fechar os lábios. “Socorro!” Eu queria gritar. “Pára! Pelo amor de Deus. PAiiiiii…. Estão ferindo minha alma…”

    Quando terminou, eu tinha a sensação de ter sido violentada. Talvez um estupro seja assim, como se você fosse um saco vazio, uma boneca de pano… Alguma coisa lhe foi tirada. E tinha sido mesmo, para sempre! Não foi arrancado apenas um feto, mas a minha chance de ser feliz, os meus sonhos, a minha paz, a minha auto-estima, tudo! Tudo foi arrancado ali, naquele dia. É como um acidente em que é amputada uma parte do seu corpo e você tem que aprender a viver sem ela. Sempre será difícil, sempre.

    Na viagem de volta o mundo não parecia ser o mesmo. Nunca vou me esquecer de que o dia estava ironicamente lindo. Alguma coisa havia mudado e eu ainda não tinha me dado conta de que o que mudou fui eu. Foi dentro de mim. É como se as escamas que cobriam meus olhos começassem a cair a partir daquele momento. Aparentemente eu era a mesma pessoa, quem me visse nunca pensaria nada. Nos dois dias seguintes apenas dormi. Eu estava em choque, não tinha sido comigo, não podia ter sido. Eu que sempre amei crianças, sempre. Não, aquela escolha não tinha sido minha. Quem me dera isso fosse verdade…

    Nos três anos seguintes tive pesadelos todas as noites. Eu não comia, só chorava. Chorava de saudade dele, de um ex-namorado que era o amor da minha vida e não um pai inconseqüente como eu havia pintado. Caí num estado de depressão intenso, crônico, grave… de não ver ninguém, não comer, desejar a morte desesperadamente. E ela não veio…

    Após esses três anos confinada, quando consegui sair na rua, voltar a ver gente, trabalhar, eu passei a encenar. Minha vida virou um palco e eu deveria fingir para sempre. Virei uma atriz de mim mesma, rindo sem querer rir, abraçando sem querer abraçar, nada mais fazia sentido. Não havia motivação. E o pior de tudo é não poder contar para ninguém o que eu fiz. Sepultar o que ainda estava vivo e sangrando, uma ferida aberta, uma hemorragia intensa.

    Se eu não podia contar para ninguém, significa que o que eu fiz foi errado e muito errado. Então por que razão meus pais, as pessoas no mundo em que eu mais acreditava, me deram tanto apoio? Por que razão eles não me impediram? Porque permitiram que eu fizesse o que a minha loucura me mandava fazer? Eu era inexperiente, eu tinha apenas 21 anos! Hoje sei o quanto eu era nova e não sabia quase nada da vida.

    Mas o próprio coração tem mesmo as respostas, só que às vezes não conseguimos ver os sinais. São sinais bem pequenos, sutis e se você estiver envolvido demais no desespero não pode enxergar uma chance, uma pequena chance em algum lugar dizendo para você não fazer isso.

    Até mesmo e-mails que você ignora, pode ter ali um escape que vai mudar a sua vida para sempre. É como um “estalo” salva-vidas.

    Mas eu não queria ver, eu fechava os olhos quando alguém tentava me fazer mudar de ideias. Mas porquê? Ah se eu tivesse uma segunda chance…

    Mas o meu pagamento foi a minha vida. E não é como um criminoso que tem uma sentença estabelecida de 5 a 10 anos de prisão. Minha prisão é eterna. Sou prisioneira de mim mesma.

    Nessa fase, tive uma imensa frustração com a religião. Eu achava que Deus estava me apoiando, que aquilo era permitido por Ele. Que seria melhor para mim. Falta de conhecimento.

    Que amor era esse capaz de matar? Tão bom ao ponto de anular tudo em vão?

    Certas escolhas e, porque não dizer, todas, somos nós que fazemos. Nós somos responsáveis por aquilo que escolhemos e eu só fui ver isso depois. Ver que aquilo não foi o melhor para mim, aliás, foi a pior atitude que já tomei em toda a minha vida. Ali foram arrancados os meus sonhos, meu sorriso verdadeiro, minha alegria de viver, minha própria identidade. Sem esperança o ser humano não consegue viver, ele apenas existe.

    Não foram apenas pesadelos que tive. Tive sonhos com uma criança que não me reconhecia. E ela era linda. Não houve nenhum relacionamento entre nós enquanto ela esteve dentro de mim. Eu achava que a gente só amava uma criança depois que ela nascesse, quando já estivesse maior e bonitinha. Só se você convivesse com ela.

    Cresci ouvindo minha mãe dizer que o parto era a coisa mais horrenda que uma mulher poderia viver. Que para ela havia sido um trauma, uma coisa de que ela se arrependia e não queria viver de novo. Ouvir aquilo para mim significava que seria terrível para mim também, eu não queria ter parto normal. Alimentar o medo é alimentar um animal que irá te devorar no final.

    A menina que brincava de boneca, a menina doce havia se transformado numa louca desvairada sem sentido. Não se explica um ato sem sentido. Como julgar as pessoas agora? Como ter opinião formada sobre assassinos? Quem sou eu agora?

    (Depoimento de Daniela, nome fictício)

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    “Se não fosse a Santa Comunhão, eu estaria caindo continuamente. A única coisa que me sustenta é a Santa Comunhão. Dela tiro forças, nela está o meu vigor. Tenho medo da vida, nos dias em que não recebo a Santa Comunhão. Tenho medo de mim mesma. Jesus, oculto na Hóstia, é tudo para mim. Do Sacrário tiro força, vigor, coragem e luz. Aí busco alívio nos momentos de aflição. Eu não saberia dar glória a Deus, se não tivesse a Eucaristia no meu coração.”



    (Diário de Santa Faustina, n. 1037)

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