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    sexta-feira, 20 de setembro de 2013

    Da Mihi Animas




    Da Mihi Animas





    Posted: 19 Sep 2013 05:16 PM PDT



















    Muitos me perguntaram por que escrevi tão pouco a respeito da vinda do papa ao Brasil. Preferi o silêncio e uma brincadeira que trazia uma realidade fática: "Enquanto ele estava aqui, eu estava em Roma". É verdade. No dia do grande auê, aliás, eu me encontrava no Vaticano. Francisco concedeu uma entrevista à revista jesuíta La Civiltà Cattolica que, mais uma vez, está gerando barulho. Ele está se especializando, parece, em criar ruídos. 






    Tentarei ler depois a íntegra com calma. Se o que se propaga mundo afora for mesmo verdade, a Igreja caminha para uma grande enrascada, da qual sairá ainda menor, por tentar atrair a simpatia daqueles que, no fundo, não entendem por que ela deva existir. Extraio trecho de sua fala, publicada na VEJA.com: "Não precisamos insistir nesses assuntos relacionados a aborto, casamento gay e o uso de contraceptivos. Eu não falei muito sobre essas coisas, e fui repreendido por isso. Não é necessário falar sobre isso todo o tempo (…) Os grandes líderes das pessoas de Deus, como Moisés, sempre deixaram a porta aberta para a dúvida. Você deve deixar a porta aberta para o Senhor." Como é que é, Santidade? 






    Parece-me que a Igreja "insiste" nesses assuntos porque há uma grande insistência, não é?, para que insista nesses assuntos! Está mais do que claro, a esta altura, que a instituição não rejeita, por exemplo, os fiéis homossexuais, reservando-se, aí sim, o direito de ter uma diretriz sobre o tipo de família que considera adequada à comunidade católica. Esse assunto é chato e transita na irracionalidade. Militantes gays reivindicam a igualdade e, ao mesmo tempo, leis especiais que reafirmem a sua diversidade.






    Não quero me estender sobre esse particular porque retira o foco de minha real restrição. Ao misturar o aborto num balaio de temas que dizem respeito aos costumes, comete um erro monumental. No dia em que a vida humana deixar de ser, se deixar, uma questão de princípio para a instituição, então Igreja para quê? A sua essência consiste em proclamar a superioridade do humano que é divino. Sem isso, perde-se nas razões contingentes; renuncia a seu compromisso com a eternidade. A quem o papa espera atrair com essa fala? 






    Francisco diz ter sido repreendido. Não deve ter sido pela Guarda Suíça, não é? Num dos pouquíssimos textos que escrevi a respeito de sua visita ao Brasil, eu mesmo critiquei a sua, vamos dizer, "pegada" apenas sociológica. Acho que seu discurso está fora de foco. A fala de Francisco atrai a atenção e a simpatia dos que acham que a Igreja Católica só passará a ser aceitável quando deixar de ser a Igreja Católica, transformando-se, quem sabe?, numa ONG. Ao contrário do que se diz, dadas as grandes religiões, o catolicismo é a que busca mais obsessivamente a "modernidade", ajustando o seu discurso aos grupos influentes. A despeito disso, é alvo frequente da fúria antirreligiosa na imprensa ocidental, o que, é visível, não acontece com o islamismo, por exemplo. A ironia é que as vertentes que mais crescem no Islã são as de cunho fundamentalista — inclusive no Ocidente. Não obstante, os "analistas" são sempre muito cuidadosos em distinguir aquela que seria a "essência" da religião de suas supostas deformações extremistas. 






    Por mim, o papa estaria dedicado, nesse momento, a iniciar uma outra grande reforma: a do culto católico. Daria início agora a um esforço, que só faria fruto em décadas, para que as missas deixassem de ser uma ladainha aborrecida, levada a efeito, no mais das vezes, por sacerdotes transformados em burocratas da mesmice. 






    E não que eu defenda que padre se confunda com treinador de ginástica ou com cantor de MPB. E isso pode ser feito — aliás, só assim pode ser feito — conservando-se a essência da doutrina. De resto, se o papa acha que a Igreja é obcecada por esses temas, o chefe da Igreja poderia tê-los ignorado em entrevista concedida a uma revista católica. Com Francisco, por enquanto, antevejo uma Igreja tratada com mais simpatia por seus críticos habituais, mas ainda menor: não atrai os que a repudiam por princípio e corre o risco de perder os fieis que já tem. Igreja não é ONG, e papa não é um livre-pensador.






    Um amigo italiano me disse por que não via com simpatia o Sumo Pontífice: "Parece-me bom para cura de aldeia, não para comandar a Igreja". No mês de julho, discordei. Em setembro, estou pensando na sua fala. "Esse Reinaldo Azevedo agora decidiu discordar até do papa…" Ah, mas não duvidem! Na entrevista, ele declarou uma coisa óbvia, mas que está gerando barulho: também é um pecador. 






    Claro que é! Com isso, quer dizer que é humano e está sujeito ao erro. Respeito, como católico, a autoridade religiosa do papa. Mas não tenho respeito nenhum por seus erros.






    Por Reinaldo Azevedo


















    Posted: 19 Sep 2013 01:46 PM PDT



















    O papa Francisco afirmou que a Igreja Católica se tornou "obcecada" com a pregação contra o aborto, o casamento gay e a contracepção, e que ele escolheu deliberadamente não falar sobre esses assuntos por entender que ela deve ser uma "casa para todos", e não uma "pequena capela" focada na doutrina, na ortodoxia e em uma agenda limitada de ensinamentos morais. 






    As declarações foram dadas em uma entrevista concedida ao jornal jesuíta "La Civiltà Cattolica" no mês de agosto, durante três encontros. O conteúdo da conversa foi divulgado nesta quinta-feira por 16 jornais jesuítas de diferentes países. 






    "Não podemos insistir apenas em assuntos relacionados ao aborto, ao casamento gay e ao uso de métodos contraceptivos. Isso não é possível", disse o papa ao também jesuíta Antonio Spadaro, editor-chefe do "La Civiltà Cattolica". 






    O pontífice admitiu ainda que sofre críticas por evitar tratar desses temas. "Eu não falei muito sobre essas coisas, e fui repreendido por isso. Mas, quando falamos sobre essas questões, temos que falar sobre elas em um contexto. O ensinamento da igreja quanto a isso é claro, e eu sou um filho da igreja, mas não é necessário falar sobre esses assuntos o tempo inteiro", acrescentou. O papa disse ainda que "os ensinamentos dogmáticos e morais da igreja não são todos equivalentes" e que o ministério pastoral não deve ser "obcecado" com a transmissão de "doutrinas desarticuladas que se tenta impor de forma insistente". 






    "Precisamos encontrar um novo equilíbrio, senão até mesmo o edifício moral da igreja corre o risco de cair como um castelo de cartas, perdendo o frescor e a fragrância do Evangelho", disse. "A proposta do Evangelho tem que ser simples, profunda, radiante. É dessa proposta que as consequências morais então fluem". O papa Francisco afirmou ainda que a igreja deve ajudar a curar "todo o tipo de doença ou ferida". Ele contou que, quando ainda estava em Buenos Aires, costumava receber cartas de homossexuais que estavam "feridos socialmente" e que diziam sentir que a igreja sempre os condenava. 






    "Mas a igreja não quer isso. Durante meu voo de volta do Rio de Janeiro [após a Jornada Mundial da Juventude, em julho deste ano], eu disse que, se um homossexual tem boa vontade e está em busca de Deus, eu não estou em posição de julgá-lo. A religião tem o direito de expressar sua opinião a serviço das pessoas, mas, na criação, Deus nos fez livres: não é possível interferir espiritualmente na vida de uma pessoa". 










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    (Diário de Santa Faustina, n. 1037)

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