Deus lo vult!: “Sobre a posição do Pe. Paulo Ricardo a respeito da Reforma Litúrgica” e mais 2 novidades
- Sobre a posição do Pe. Paulo Ricardo a respeito da Reforma Litúrgica
- “Ó, vós, ministros de Deus!” – Valdeci Silva
- No alto da Cruz ou aos pés d’Ela
Posted: 16 Sep 2013 02:13 PM PDT
Muitas pessoas questionaram os recentes programas de internet em que o pe. Paulo Ricardo tratou do Missal de Paulo VI; eu, ao contrário, gostei muitíssimo que ele o tivesse feito, e achei inclusive que foi providencial. Afinal de contas, é uma coisa muito boa que assuntos como este não sejam somente característicos de grupos restauracionistas radicais que perderam o passo da Igreja. Como comentei então junto a alguns amigos, as pessoas que começam a se interessar pela Liturgia da Igreja vão, mais cedo ou mais tarde, se deparar com a história da Reforma Litúrgica. Ora, é melhor que elas tomem contato com o assunto dentro do ambiente equilibrado das aulas do pe. Paulo, e não em sites da FSSPX e quetais.
Os dois programas do Padre Paulo onde o assunto foi abordado são os seguintes:
A maior parte dos meus leitores já teve ter ouvido as duas aulas acima. Sobre elas muito já disse, inclusive coisas que não correspondem à verdade: principalmente da primeira aula, foram retiradas de contexto diversas passagens da fala do padre, fazendo com que ele parecesse um fanático rad-trad vomitando impropérios contra o Novus Ordo Missae, em nada distinguível de um Lefebvre raivoso dizendo que «a maioria destas Missas são sacrílegas e (…) diminuem a fé, pervertendo-a». Ora, Lefebvre estava errado, como é capaz de o perceber qualquer pessoa que, por exemplo, tenha a Auctorem Fidei diante dos olhos. Na conhecida Bula, o Santo Padre Pio VI diz o seguinte:
LXXVIII. (…) In quanto per la generalità delle parole comprenda e assoggetti all'esame prescritto anche la disciplina costituita e approvata dalla Chiesa, quasi che la Chiesa, la quale è retta dallo spirito di Dio, potesse stabilire una disciplina non solamente inutile e più gravosa di quello che comporti la libertà cristiana, ma addirittura pericolosa, nociva, inducente nella superstizione e nel materialismo;
FALSA, TEMERARIA, SCANDALOSA, PERNICIOSA, OFFENSIVA DELLE PIE ORECCHIE, INGIURIOSA ALLA CHIESA E ALLO SPIRITO DI DIO, DAL QUALE LA CHIESA STESSA È REGOLATA; PER LO MENO ERRONEA.
Traduzo o que é mais relevante: “(…) como se a Igreja, que é regida pelo Espírito de Deus, pudesse estabelecer uma disciplina não somente inútil e danosa à liberdade cristã, mas ainda perigosa, nociva, que conduzisse à superstição e ao materialismo: [tal proposição é] FALSA, TEMERÁRIA, ESCANDALOSA, OFENSIVA AOS OUVIDOS PIOS, INJURIOSA À IGREJA E AO ESPÍRITO [SANTO] DE DEUS, PELO QUAL A IGREJA É CONDUZIDA; [E] PELO MENOS ERRÔNEA”.
A tese, portanto, segundo a qual a Igreja pudesse estabelecer uma disciplina – por exemplo, um Rito para a celebração do Santo Sacrifício da Missa – que fosse nociva à Fé é condenada pelo Magistério, é «falsa» e «escandalosa», é «injuriosa à Igreja» e «pelo menos errônea». Não há o que discutir aqui. A esta mesmíssima conclusão chegaram inclusive pessoas que, convencidas da nocividade da Reforma Litúrgica, usam-na como argumento em favor do sedevacantismo. Os que acreditamos que o Papa Francisco é – de fato e de direito – o Sumo Pontífice gloriosamente reinante (e que igualmente o foram Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e Bento XVI) precisamos, portanto, sustentar ao mesmo tempo que o Rito com o qual a Igreja virtualmente inteira oferece nos dias de hoje ao Deus Altíssimo o Sacrifício da Missa é vere et proprie um Rito Católico, santo e santificante.
Santo, porque é um rito católico, que expressa a Fé Católica, como não poderia deixar de ser diferente: afinal de contas, lex orandi, lex credendi, e a Igreja obviamente reza de acordo com aquilo em que Ela crê. Santificante, porque capaz de produzir nas almas a Graça própria dos Sacramentos e alimentar a Fé dos que dele participam piedosamente. O Pe. Paulo Ricardo tem absoluta consciência disso. A análise dele situa-se em outro nível.
Qual é então o «problema» com o Missal de Paulo VI? Ora, um «rito» é um conjunto de palavras, gestos e símbolos que expressam alguma coisa: no caso, que expressam a Fé Católica. O Rito dos Sacramentos – qualquer Rito dos Sacramentos, não somente o de Paulo VI – em um certo sentido está para os Sacramentos em si assim como o significante está para o significado: é um conjunto de signos que expressam uma realidade. Além disso, no caso dos Ritos Católicos, eles não somente expressam a Fé Católica como também realizam os Sacramentos: «Ego te baptizo in nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti» não somente se refere ao Batismo Católico como de fato confecciona o Santo Batismo, realiza-o. Há, portanto, logo de cara, duas coisas:
a capacidade intrínseca do Rito de confeccionar os Sacramentos que ele realiza; e
a sua expressividade das realidades invisíveis que ele traz à existência.
Quanto à primeira, qualquer Rito católico existente ou possível, por definição, se rito católico é, é perfeito e tem o exato mesmo valor. Aqui não há nuances possíveis: ou o Sacramento é válido ou é inválido, ou a forma é suficiente para confeccionar o sacramento e, portanto, ele existe; ou é insuficiente e não o realiza. Aqui não há matizes e não há graus: ou a fórmula sacramental produz o Sacramento ou não o produz, et tertium non datur.
Já quanto à segunda, nenhum Rito católico que exista, tenha existido ou possa um dia existir está perfeito no sentido de que não possa ser jamais melhorado, e isso também por definição. As realidades sobrenaturais que trazemos à existência por meio da Liturgia Católica transcendem totalmente a capacidade de expressão daquelas palavras, gestos e símbolos de que se compõem os ritos católicos. Podemos sem dúvidas expressá-las, mas jamais esgotá-las, e se elas nunca se esgotam então isso significa que sempre é possível exprimi-las mais e melhor.
É dentro dos limites deste segundo aspecto dos ritos que o padre Paulo Ricardo tece as suas considerações. A capacidade do Missal de Paulo VI de confeccionar os Sacramentos que ele se propõe a confeccionar está totalmente fora de discussão: é claro que ele realiza os Sacramentos, e o próprio fato do pe. Paulo continuar a celebrá-lo é por si só evidência mais do que suficiente de que ele sabe muito bem disso. No entanto – este é o ponto do sacerdote – houve um inegável empobrecimento da expressividade do Rito Romano com a Reforma de 1969, e é essa a história que o padre se propõe a contar.
Dado isso, o que pode ser feito? Como o próprio sacerdote disse de modo explícito, não se trata simplesmente de voltar à celebração da Missa com as rubricas de 1962 e nem muito menos de confeccionar novos livros litúrgicos, coisa que aliás o pe. Paulo sabe perfeitamente não ter competência para fazer. Trata-se, em primeiríssimo lugar, de conhecer um assunto que, infelizmente, durante muito tempo foi “propriedade” (de modo totalmente ilegítimo) de grupos tradicionalistas em guerra contra a Igreja de Roma. E é neste sentido, antes de qualquer coisa, que eu disse ter ficado contente com as considerações do padre Paulo: o próprio fato do assunto ganhar cidadania católica fora dos guetos dos que são contrários ao Concílio Vaticano II é por si só razão mais do que suficiente para se aplaudir a iniciativa do sacerdote de Cuiabá. Afinal de contas, citando o então Card. Ratzinger (que o padre Paulo citou no seu segundo programa):
Mas que se possa ter a impressão de que nada neste Missal [de Paulo VI] possa jamais ser alterado, como se qualquer reflexão sobre possíveis reformas ulteriores fosse necessariamente um ataque ao Concílio [Vaticano II] – semelhante idéia eu só posso chamar de absurda.
[But that the impression should arise as a consequence that nothing in this missal must ever be changed, as if any reflection on possible later reforms were necessarily an attack on the Council – such an idea I can only call absurd.]
RATZINGER, Joseph,
«The Spirit of the Liturgy or Fidelity to the Council: Response to Father Gy»,
Em segundo lugar, o conhecimento das riquezas da Liturgia Católica ajuda muitíssimo a melhor celebrar e a participar de modo mais frutuoso da Santa Missa, mesmo das celebradas segundo os livros litúrgicos atualmente em vigor. Afinal, entender a importância de certos aspectos litúrgicos próprios do catolicismo e que, não obstante serem pouco utilizados ou estarem obscurecidos pela praxis quotidiana, permanecem integralmente válidos dentro do Novus Ordo – coisas como a língua, a música, os paramentos, a posição do sacerdote, o significado da Missa como um todo e de diversas orações que dela fazem parte, a forma de se receber a comunhão, etc. – ajuda-nos a valorizá-los quando os encontramos e a promovê-los quando eles estão ausentes. Era isso, aliás, o que fazia o Papa Bento XVI, que não celebrou jamais enquanto Papa a Missa Tridentina mas soube se utilizar dos elementos previstos no Missal de Paulo VI para impulsionar a sacralidade litúrgica – esta, sim, que não pode jamais faltar, seja qual for o rito em que se celebre.
Por fim, em terceiro lugar, isso fomenta a – por que não? – sadia discussão sobre o assunto. É preciso abandonar a histeria que se construiu em torno da Reforma Litúrgica, é preciso combater com coragem esta idéia – que o Card. Ratzinger chamava “absurda” – de que quaisquer reflexões sobre possíveis reformas no Missal de Paulo VI sejam por si sós um ataque ao Concílio. É portanto justo e conveniente que a pessoas equilibradas, em perfeita sintonia com a Igreja, seja concedido o direito de estudar o Missal de Paulo VI e inclusive propôr alterações a ele, sem que lhes seja lançada à face a pecha de tradicionalistas cismáticos inimigos da Igreja. O padre Paulo, corajosamente, reivindicou de modo perfeitamente legítimo o exercício desse direito: que o sigam os que se julgam capazes de colaborar nesta seara! Ao contrário, transformá-lo em um revoltoso desobediente em nada distinguível dos mais radicais tradicionalistas é, além de uma inverdade e uma injustiça, um enorme desserviço que se presta tanto à Igreja Católica quanto à Sua Sagrada Liturgia.
Posted: 16 Sep 2013 08:56 AM PDT
[Recebi o texto abaixo de um leitor do Deus lo Vult!, que publico para meditação. É curioso; ainda um dia desses eu via no Facebook um vídeo amador de um rapaz que lançava também invectivas contra os bispos - especificamente contra a CNBB - por conta da má doutrina e da Liturgia porcamente celebrada às quais estão sujeitos os católicos brasileiros na média das paróquias que freqüentam.
O sentimento de insatisfação é crescente e a ele eu faço coro: não seria a hora das nossas autoridades eclesiásticas olharem com um pouco mais de atenção para este enorme contingente de almas que não desejam senão receber das mãos dos seus pastores os tesouros legítimos da Igreja de Cristo? No Evangelho, Nosso Senhor perguntou certa feita aos que O ouviam: «Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente? Ou se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á porventura um escorpião?» (Lc XI, 11-12). Nos dias de hoje, talvez essa comparação não possuísse a eloqüência que teve há dois mil anos; nos dias de hoje, são muitos os pais que distribuem pedras e animais peçonhentos aos que lhes batem à porta suplicando por comida.
Deus levará em conta a pequenez dos Seus filhos, sem dúvidas; mas quanto mais eles não poderiam crescer e glorificar a Deus, se estivessem em um ambiente mais propício...? As portas do Inferno nunca prevalecerão sobre a Igreja, disso podemos estar certos. Mas isso vale para a Igreja Universal; nada foi dito com relação às Igrejas Particulares. Quantas hoje já não se encontram in partibus infidelium? Quantas já não cumprem de facto o papel dos inimigos de Deus, embora ostentem ainda o título de Igrejas Católicas? E quantas almas já não se perderam, perdem-se e haverão de se perder, por culpa dos «maus pastores» que não cuidam do rebanho que a Divina Providência lhes confiou? Mais catolicismo, por favor! De mundanidades o mundo já está repleto.
Somos pobres e temos fome. Pobres das coisas do Alto, e famintos da palavra de Deus. Até quando isso nos será negado?]
Ó, vós, ministros de Deus!
Valdeci Silva I. Junior
Ó, vós, que deveríeis ser pastor de almas e vos convertestes em dispersadores do rebanho.
Recebestes a altíssima e distinta vocação, não fostes chamados para aparência superior; fostes chamados à santidade e a serdes ministro da santificação de vossos filhos.
Ó, quão grave a culpa do ministro de Deus que perde as almas que lhe foram confiadas!
Quão infeliz e miserável se as perde em nome de Deus!
Se descuidar-se das almas postas sob seu cuidado já é um mal grave, mal superior é descuidar-se em Nome de Deus.
Sacerdotes do Altíssimo, recebestes em ordem grau superior às ovelhas; fazê-las perderem-se é tornar-vos, em culpa, merecedores da sorte dos demônios.
Ó ministro de Deus que, tendo nascido para o corpo, fazeis com que as ovelhas do redil do Senhor, não nasçam para vida eterna: seria melhor não terdes nascido, ó miserável e infeliz!
Pois, tendo nascido, havereis de pagar por tamanha culpa, por tamanho mal, por tamanho genocídio espiritual.
Se deixar que as almas se percam já é um mal grave, incomensurável é a gravidade de fazê-las se perderem em Nome de Deus.
Se não cumprirdes o que prometestes e, por ordem, sois obrigados, pelo ministério terrível que exerceis, quão grande é a culpa de negligenciardes em Nome de Deus.
Torna-se pior que um verme, o infeliz, que cai em tamanha desgraça de perder os que lhe foram confiados a salvar.
Pois, podendo salvar a si próprio e aos outros, atrai para si a condenação eterna e conduz as almas para o abismo infernal.
Infeliz é o ministro de Deus que, mutilando a Doutrina dos Apóstolos, deturpando-a, cega os olhos dos filhos de Deus. Desgraçado e culpado mais gravemente será, se estes fiéis se perderem, desviando-se do caminho de Deus.
Ó desgraçado e infeliz se trilhais este caminho! Fostes chamado a ser ministro de Deus e vos tornastes ministro de Satanás.
Anunciais vossa mentira e de vosso pai, rejeitais o Sangue do Cordeiro que redime as almas, e injetais nelas o veneno da serpente infernal, fazendo com que se percam.
Fostes chamados para ministrar a vida no Batismo, fazê-la firme na Eucaristia e restituí-la na Confissão; no entanto, tendes matado a Vida da Graça, roubado o auxílio divino e destruído as vias de salvação.
Quão miserável sois vós, ministro de Deus, que estais a colaborar com o inimigo de Deus e do gênero humano, que sendo condenado ao inferno, quer condenar, primeiro, a vós e, depois, aos que vos foram confiados.
Ouvi isto, sacerdotes do Altíssimo: tendes ainda a benevolência de Deus, podeis retornar ao vosso chamado inicial, podeis salvar vossa própria alma e as que estão sob vosso cuidado.
Aquela que é Auxilium Christianorum é também vossa última tábua de salvação, Seu Coração Imaculado é vossa chance de conversão, sua bondade segura a mão de Deus que há de pesar sobre vós.
Ó miserável e infeliz, gritai a Deus, mas gritai com auxílio da Sempre Virgem Maria, e não tenhais tempo para o vosso orgulho: corre risco a vossa alma e a do vosso rebanho.
Ó epíscopo, ó sacerdote, vós que sois ministros de Deus, lembrai-vos que se recusais a salvação, se descuidais das almas, Deus enviará ministros fieis para salvá-las e sobre vós pesará Sua mão misericordiosa e justa.
Tendes o ministério sublime para colaborar na economia da salvação. Traindo tal vocação, traindo-a em nome dos deuses da modernidade, recebereis o que vós mereceis: a condenação eterna, e Deus haverá de salvar as almas fiéis.
Felizes são os ministros de Deus que, pela graça, salvam suas almas e as dos que lhes foram confiados, pois estes receberão o prêmio de Deus e a eterna gratidão dos que consigo se salvaram.
Lembrai, vós todos, que Deus não abandona Sua Igreja e que, apesar de vossa infidelidade, Ele suscitará nela sacerdotes santos: et portæ inferi non prævalebunt adversum eam.
Posted: 16 Sep 2013 06:42 AM PDT
É interessante que ao 14 de setembro siga-se o 15 de setembro; ou, dito de outro modo, para parecer menos simplório, é interessante que logo após a festa de Exaltação da Santa Cruz (dia 14) a Igreja celebre a festa de Nossa Senhora das Dores (dia 15).
Certo, o dia 14 é para celebrarmos o «o glorioso fato da reconquista da Santa Cruz das mãos dos Persas»; não obstante, é-nos impossível não pensar também na Crucificação em si, naquelas palavras de Cristo: «quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim» (Jo XII, 32). Ave Crux, Spes Unica: Salve, ó Cruz, única Esperança! Foi pela Paixão de Cristo que nós fomos salvos, assim aprendemos quando ainda éramos crianças. No entanto, esta verdade é sempre nova, e a cada vez que voltamos o nosso olhar para o Calvário nós entendemos um pouco melhor o que significa a nossa salvação. O tempo passa, e acumulamos pecados sobre pecados em nossas almas; o tempo passa, e temos o péssimo hábito de colecionar ofensas a Deus. Será possível que ainda poderemos ser perdoados, e de novo, e ainda mais uma vez, nós que já recebemos tanto a misericórdia do Altíssimo e, não obstante, temos retribuído a Ele com tanta mesquinhez?
Deus nunca Se cansa de nos perdoar, e olhando para a Sua Cruz temos a obrigação de amá-Lo cada vez mais, pois somos cada vez mais perdoados. A Cruz d’Ele é sempre nova e sempre que a olhamos, Ela se nos aparenta um pouco mais pesada, propter peccata nostra; cada vez que nos colocamos diante de um Crucifixo, constatamos envergonhados que há um pouco mais de sofrimento ali, colocado por nós. Pelos pecados de cada dia, com cuja malícia nós muitas vezes sequer nos importamos. Não sei se Oscar Wilde pensava nisso ao escrever o seu Retrato de Dorian Gray, mas o fato é que todos nós temos um retrato que fica cada vez mais disforme à força de nossas decrepitudes morais: a Crucificação é um pouco mais horrenda a cada dia, por culpa de nós. Se não percebemos a evolução deste sagrado sofrimento, é porque temos olhado com bem pouca atenção para Aquele que transpassamos.
E aos sofrimentos d’Ele sempre estiveram unidos os d’Ela, como bem o sabemos; a Virgem das Dores sempre acompanha a Paixão do Seu Divino Filho, e assim as nossas faltas não ofendem somente a Ele: também machucam o coração desta amabilíssima Mãe. Que, à semelhança do Seu Filho, não conhece limites para nos amar e volve o Seu olhar maternal para nós talvez com tanto mais fervor quanto mais veemência aplicamos em ofender-Lhe. Talvez não suportássemos a fealdade da Crucificação se a Santíssima Virgem não estivesse lá; talvez voltássemos o nosso rosto com horror e caíssemos no desespero, se a serena beleza d’Aquela Senhora não estivesse lá a nos insuflar coragem.
Somos pecadores, e volvendo o nosso olhar do Crucificado para a Virgem das Dores esta verdade nos salta aos olhos com uma aterradora clareza. No entanto, no alto da Cruz ou aos pés d’Ela, se olharmos com atenção, nós não encontramos senão misericórdia. É grande a nossa culpa, sim, e as dores do Gólgota não nos permitem esquecê-la; no entanto, maior é o amor d’Aquele que quis sofrer e morrer por nós quando ainda éramos pecadores. Maior é o amor d’Aquela que entregou o Seu Filho inocente a nós. Nas dores que infligimos a Cristo e à Santíssima Virgem, bem que poderíamos encontrar a nossa perdição; no entanto, se meditarmos compungidos e arrependidos nestes mistérios sagrados, descobriremos jubilosos que é do Calvário que se nos abrem as portas da nossa salvação.
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