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    sexta-feira, 25 de maio de 2012

    Beleza e Liturgia


    sexta-feira, 25 de maio de 2012

    Beleza e Liturgia

    Infelizmente vivemos hoje um espírito funcionalista que é incapaz de apreciar o valor das coisas belas que não tenham um reflexo imediato no campo da utilidade. Tudo hoje é perecível, tudo hoje é efêmero. Quantas vezes ouvimos pessoas, mesmo católicas, reclamarem da beleza dos vasos sagrados, dos paramentos Papais, da "riqueza da Igreja", do canto gregoriano, do latim na santa Liturgia, como se  fossem coisas supérfluas, ou como se a Igreja fosse resolver todos os problemas do mundo se não os utilizassem.

    Ao contrário do que muitos pensam, por terem uma visão distorcida de que a Igreja reflete Deus e sua Glória -, a beleza nos eleva, a beleza traz alegria ao coração dos homens e  leva ao mundo  Deus para curar e salvar este mesmo homem. Nos diz João Paulo II:  "O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero.  A beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar o futuro. Por isso, a beleza das coisas criadas não pode saciar, e suscita aquela arcana saudade de Deus que um enamorado do belo, como S. Agostinho, soube interpretar com expressões incomparáveis: « Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! »(João Paulo II Mensagem do Concílio aos artistas (8 de Dezembro de 1965): AAS 58 (1966), 13 Cf. n. 122.)

    E ela serve, sobretudo quando é gratuita, quando não busca utilidade alguma, mas somente a irradiação de Deus. Quem não sabe apreciar o valor gratuito (ou seja, da graça) da beleza, em especial da beleza litúrgica, dificilmente conseguirá realizar um ato adequado de culto divino. Nos diz Von Balthasar: "Quem, ao ouvir falar dela, sorri, julgando-a como um resíduo exótico de um passado burguês, desse se pode ter certeza de que - secreta ou abertamente - já não é capaz de rezar e, depois, tampouco o será de amar" (Glória, p. 11).

    No presente, é urgente redescobrir o valor do decoro e da majestade do culto divino. Bento XVI em seus pronunciamentos e sobretudo em suas perfeitas e dignas celebrações, tem nos chamado a entender onde estamos e o que fazemos quando participamos da santa Liturgia.  No rito está manifestada a beleza da ação de Deus que santifica o homem, onde O adoramos em todo seu esplendor. A beleza do rito nos chama a viver os dignos mistérios de forma a compreender que apesar de ação divina, fazemos parte dela com todo nosso ser. Ali está presente Deus e o homem. Deus que é adorado e o homem que é beneficiado pela sua graça santificadora. Portanto, a santa liturgia, antes de ser do homem é um ato de próprio Deus e a Ele deve servir. Não cabe aqui satisfazer o gosto de cada um, onde o sentimento supera a espiritualidade e onde se esvazia o Mistério.

    Bento XVI nos diz: "A sagrada liturgia da Igreja atrairá o homem da nossa época não vestindo cada vez mais as vestimentas da cotidianidade anônima e cinza, a que já está muito acostumado, mas vestindo o manto real da verdadeira beleza, vestidura sempre nova e jovem, que a faz ser percebida como uma janela aberta ao céu, como ponto de contato com o Deus Uno e Trino, a cuja adoração está ordenada, através da mediação de Jesus Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote"

    "A verdadeira beleza é o amor de Deus que nos foi revelado definitivamente no mistério pascal. A beleza da liturgia pertence a este mistério; é expressão excelsa da glória de Deus e, de certa forma, constitui o céu que desce à terra (...) Concluindo, a beleza não é um factor decorativo da acção litúrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto atributo do próprio Deus e da sua revelação. Tudo isto nos há-de tornar conscientes da atenção que se deve prestar à acção litúrgica, a fim de que brilhe segundo a sua própria natureza» (Bento XVI Sacramentum Caritatis, n. 35)

    A Igreja vive do Mistério Pascal, onde Cristo se entrega por amor a nós e tudo que vivemos em termos litúrgicos, vivemos e atualizamos a ação de Cristo e seu mandato de fazer tudo o que Ele nos ensinou. Portanto, a Celebração Eucarística implica Tradição viva e implica reverência e obediência.  Cristo é seu centro e seu fundamento. Para que os fieis participem ativamente e com toda reverência, da celebração dos santos mistérios, estes devem ser celebrados corretamente segundo as normas litúrgicas na sua integridade, porque, como ainda nos diz sua santidade  Bento XVI: "  é este modo de celebrar que, há dois mil anos, garante a vida de fé de todos os crentes, chamados a viver a celebração enquanto povo de Deus, sacerdócio real, nação santa. Com efeito, a liturgia, por sua natureza, possui uma tal variedade de níveis de comunicação que lhe permitem cativar o ser humano na sua totalidade. A simplicidade dos gestos e a sobriedade dos sinais, situados na ordem e nos momentos previstos, comunicam e cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas. A atenção e a obediência à estrutura própria do rito, ao mesmo tempo que exprimem a consciência do carácter de dom da Eucaristia, manifestam a vontade que o ministro tem de acolher, com dócil gratidão, esse dom inefável.  (1 Pd 2, 4-5.9).(115)



      "A predisposição interior de cada sacerdote, de cada pessoa consagrada deve ser a de "nada antepor ao Ofício divino". A beleza desta predisposição interior expressar-se-á na beleza da liturgia, a ponto que onde juntos cantamos, louvamos, exaltamos e adoramos Deus, torna-se presente na terra um pouco de céu. Deveras não é exagerado dizer que numa liturgia totalmente centrada em Deus, nos ritos e nos cânticos, se vê uma imagem da eternidade. De outra forma, como teriam podido os nossos antepassados há centenas de anos construir um edifício sagrado tão solene como este? Já a arquitectura só por si atrai para o alto os nossos sentidos para "aquelas coisas que nenhum olho viu, nenhum ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem, o que Deus preparou para aqueles que O amam" (cf. 1 Cor 2, 9). Em cada forma de empenho pela liturgia o critério determinante deve ser sempre o olhar dirigido para Deus. Nós estamos diante de Deus Ele fala-nos e nós falamos com Ele. Quando, nas reflexões sobre a liturgia, nos perguntamos como torná-la atraente, interessante e bela, o jogo já está feito. Ou ela é opus Dei com Deus como sujeito específico ou não o é. Neste contexto peço-vos: realizai a sagrada liturgia tendo o olhar em Deus na comunhão dos Santos, da Igreja vivente de todos os lugares e de todos os tempos, para que se torne expressão da beleza e da sublimidade do Deus amigo dos homens" (Bento XVI aos monges reunidos na abadia de Heiligenkreuz - Austria)

    " As nossas liturgias da terra, inteiramente dedicadas a celebrar este acto único da história, não conseguirão nunca expressar totalmente a sua densidade infinita. Sem dúvida, a beleza dos ritos nunca será bastante procurada, nem suficientemente cuidada nem assaz elaborada, porque nada é demasiado belo para Deus, que é a Beleza infinita. As nossas liturgias terrestres não poderão ser senão um pálido reflexo da liturgia que se celebra na Jerusalém do céu, ponto de chegada da nossa peregrinação na terra. Possam, porém, as nossas celebrações aproximar-se o mais possível dela, permitindo-nos antegozá-la!(Bento XVI Catedral de Notre-Dame, Paris)

    Portanto, diante disso, como haveremos de nos portar quando formos á casa do Senhor e participar de seu Santo Sacrifício?

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