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Ano IX Ter, 21 de Maio de 2013 Número 227
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2012
Escrito por Bertrand de la Grange | 20 Maio 2013
Internacional - América Latina
O
tribunal não pôde demonstrar de maneira fidedigna que houve da parte do
ex-presidente “intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo
nacional, étnico, racial ou religioso”, segundo definição de genocídio
acordada pela ONU.
Em que pese tudo isso, Ríos Montt foi condenado sob essa acusação, o que abre a porta a uma anulação da sentença de apelação.
O
general Ríos Montt e o comandante Fidel Castro têm a mesma idade, 86
anos. O guatemalteco nasceu em 16 de junho de 1926, o cubano em 13 de
agosto do mesmo ano. Ambos exerceram o poder com mão de ferro e se lhes
responsabiliza pela morte de milhares de seres humanos. Aqui terminam as
similitudes.
O primeiro é um vilão vilipendiado dentro e fora de seu
país, onde acaba de ser condenado a oitenta anos de prisão por
genocídio e crimes de lesa-humanidade, supostamente cometidos durante o
conflito armado que ensangüentou a Guatemala (1960-1996). O outro é
venerado por metade da humanidade e morrerá tranqüilamente em sua cama,
sem ter que prestar conta pelas barbaridades que perpetrou dentro e fora
de Cuba: fuzilou sem direito a defesa, fez de “sua” ilha um imenso
cárcere e patrocinou a subversão em todo o continente.
Sem entrar no
detalhe da sentença pronunciada em 10 de maio contra Efraín Ríos Montt,
celebrada como um “marco histórico” na imprensa internacional, tanto de
esquerda como de direita, me limitarei a assinalar as incongruências da
acusação e da manipulação das testemunhas de acusação, originárias do
Triângulo Ixil, uma zona do altiplano onde a guerrilha teve muita
presença até a contra-ofensiva demolidora do Exército em 1982. A
campanha militar foi uma iniciativa de Ríos Montt, um general aposentado
convertido em pastor evangélico que havia chegado à presidência nesse
mesmo ano através de um golpe.
É por esses fatos que o velho militar
teve que responder ante a justiça. Os familiares e vizinhos das vítimas
foram convocados pelo tribunal para relatar as circunstâncias da morte
de 1.771 ixiles no transcurso de quinze matanças perpetradas há trinta
anos e atribuídas a Ríos Montt. A excessiva precisão de algumas
descrições - a maioria das testemunhas não esteve no local dos
acontecimentos e vários sobreviventes eram então crianças muito pequenas
-, além de certos detalhes inverossímeis, levam a suspeitar que todas
foram previamente instruídas para dar sustentação a um processo judicial
muito débil. Por instâncias de um influente grupo de ativistas
norte-americanos e espanhóis, o Ministério Público se empenhou em
apresentar uma acusação de genocídio em vez de se limitar a uma acusação
de crimes de guerra, muito mais fácil de provar, porém menos rentável
em termos políticos. Que genocídio!, onde a maioria dos autores
materiais eram indígenas como suas vítimas, uma vez que o Exército
recrutava suas tropas nas mesmas comunidades. Um auto-genocídio, pois?
Quanto
ao provável responsável intelectual desses crimes, não lhe foi mal
quando se apresentou, uma década depois, às eleições: Ríos Montt foi o
deputado mais votado pelos vizinhos de suas supostas vítimas (outra
diferença com Fidel Castro, que tomou o poder pelas armas e o
monopolizou durante meio século, sem se submeter nunca ao sufrágio
universal democrático). O tribunal não pôde demonstrar de maneira
fidedigna que houve da parte do ex-presidente
“intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”,
segundo definição de genocídio acordada pela ONU. Em que pese tudo
isso, Ríos Montt foi condenado sob essa acusação, o que abre a porta a
uma anulação da sentença de apelação. Com isto ficou claro que se tratou
de um julgamento político, repleto de irregularidades, sob a batuta de
uma juíza, Yassmín Barrios, que havia dado sobradas provas de sua
parcialidade em casos anteriores.
Essa pantomima contou com a
conivência dos Estados Unidos - também de vários governos europeus,
sempre animados por “boas intenções” -, que em outra época apoiou
dissimuladamente a estratégia contra-insurgente da Guatemala e de seus
vizinhos para compensar a ajuda da URSS e de Cuba às guerrilhas
centro-americanas. Muito antes, em 1954, a CIA havia alentado o golpe
militar contra o governo esquerdista de Jacobo Arbenz. Hoje, Washington
quer apagar esse passado vergonhoso, e se equivoca de novo. Não é culpa
de Obama. Tudo começou no tempo de George W. Bush, a partir de 2001,
quando a embaixada dos Estados Unidos na Guatemala se posicionou
ostensivamente a favor da contenda de três militares no caso do
assassinato do bispo Juan Gerardi. Não havia uma só prova sólida, porém
ali estava a mesma Yassmín Barrios que cumpriu com os desejos da
comunidade internacional.
Se trata-se realmente de apoiar a
reconciliação e pôr fim à impunidade que reinou na América Central
durante os conflitos do século passado, é necessário se interessar
também pelos responsáveis do outro lado. Até agora, a justiça não pegou
os guerrilheiros, que não prestaram contas por sua participação em
vários massacres e em inúmeros seqüestros.
Tradução:
Graça Salgueiro
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