É de aconselhar que se leia primeiro toda a Liturgia da Palavra.
25º DOMINGO COMUM - ANO B !
A Liturgia da Palavra deste 25º Domingo Comum – B, parece estabelecer um certo paralelismo entre Autoridade e Serviço, e a simplicidade das crianças.
Na verdade, uma coisa e outra se relacionam perfeitamente e exigem uma profunda reflexão nos tempos de hoje.
É que fala-se muito em autoridade mas pouco em serviço...
Fala-se muito na simplicidade e nos direitos das crianças e nunca elas foram tão abusadas.
Onde é que estão os valores morais da sociedade de hoje ?
Onde é que está o respeito pela vida ?
Na mesma página do jornal, apontam-se os "milagres" da medicina moderna no salvamento de vidas em perigo, ao lado das campanhas para despenalizar o aborto que mata, as ondas do terrorismo que não respeita a vida de inocentes, e a ameaça das guerras que não respeitam a autoridade nem prestam serviços.
A 1ª Leitura o Livro da Sabedoria diz-nos que muitos Judeus, votando ao esquecimento a Aliança que o Senhor fizera com eles, deixam-se arrastar pelas civilizações de outros povos e negam a sua fé.
O autor do Livro da Sabedoria procura incutir coragem aos seus concidadãos pedindo-lhes que se mantenham firmes em defesa da fé de Israel.
- «Armemos ciladas ao justo ! Que nos incomoda : opõe-se às nossas obras, censura-nos as faltas contra a lei e acusa-nos de acções que repugnam à nossa formação»(1ª Leitura).
Porque a presença do justo incomoda e, de si, é já acusação do mal, perseguiram os seus irmãos de raça que se mantiveram fiéis à Lei divina.
Hoje podemos dizer exactamente o mesmo, porque se opõem à verdade aqueles a quem ela incomoda.
Muitos procuram adorar a Deus através de uma religião de conveniência que lhes permita fazer o que mais lhes agrada, esquecendo-se de que têm que dar conta da sua vida a um Deus misericordioso e bom, mas infinitamente justo, que nos há-de julgar e receber conforme os nossos merecimentos, como diz o Salmo Responsorial :
- "O Senhor receberá a minha vida".
Na 2ª Leitura S. Tiago também nos pergunta donde vêm os males do mundo e responde que é das nossas paixões :
- "De onde procedem os conflitos entre vós ? Não é precisamente das vossas paixões, que lutam nos vossos membros ? Cobiçais e nada conseguis : então assassinais".(2ª Leitura).
A actual sociedade de consumo transformou em ídolo toda a espécie de bem-estar, porque tudo se faz em busca do dinheiro com que se pretende comprar toda a espécie de prazer, ao ponto de criar obras de caridade mais para enriquecer do que para serviço.
Tudo se transformou numa questão de negócio.
O Evangelho é de S. Marcos, e diz-nos que Jesus acaba de anunciar a Sua morte – limite extremo da humildade – e já os discípulos discutem, em segredo – porque se envergonham – qual deles será o maior no Reino dos Céus.
Jesus toma ao colo uma criança, símbolo de fraqueza, e para desmascarar o intuito vão dos discípulos interessados em saber quem seria o maior, explica :
- «Quem acolher em Meu nome uma criança como esta, acolhe-Me a Mim. E quem Me acolher, não Me acolhe a Mim, mas Aquele que Me enviou".(Evangelho).
Portanto quem não acolher uma criança, também não pode acolher nada do que é simples e bom.
A Palavra e o exemplo de Jesus resolvem o problema das precedências em ambiente cristão. Jesus recusa categoricamente toda a ambição de domínio tanto para Si como para a Igreja. A única autoridade da Igreja e no seio dela é a do último lugar, do serviço humilde.
A autoridade é uma das realidades mais ambíguas e, portanto, mais contestadas do nosso tempo, tanto a nível civil como eclesial.
Há os que a exercem por simples ambição, por acentuada vontade de domínio, e por busca desregrada de glória, e há os que a consideram como um bom serviço para o bem comum.
Contudo, essa ambiguidade não tem o seu fundamento no poder e na autoridade como tal, mas na atitude de quem os cobiça e os exerce.
Encarada e desempenhada com as intenções e os propósitos de que fala Cristo, a autoridade manifesta-se como aquilo que está no plano de Deus, isto é, um serviço.
Serviço para o bem comum, daquele que é constituído chefe e responsável; serviço para os homens feito por aquele que tem autoridade, cuidando que cada um contribua para o bem de todos.
Se a autoridade é exercida segundo a verdade, que a justifica humanamente aos olhos dos homens, deveremos considerar a pessoa que a exerce como alguém a quem se destina a Palavra do Senhor : - "É a Mim que o fizestes"; e considerar o seu trabalho como cristão e pascal, mesmo que a autoridade seja puramente leiga e profana.
Tudo isso vale em primeiro lugar para a Igreja, que é a "diakonia", isto é, "comunidade de serviço".
Como Jesus Cristo é o "Servo porque é Salvador", também a Igreja é serva porque é sacramento de salvação. Ela não pode viver, olhando apenas a sua própria grandeza; só existe como serviço para a comunhão de Deus com a humanidade; um serviço de unidade, de caridade e de verdade no mundo inteiro.
Cabe à hierarquia, ordinariamente, ser sinal de autoridade e garantia da verdade; mas a autoridade é criticada e contestada de todos os lados.
Uns acham que hoje as mudanças são demasiadamente rápidas ou profundas, outros perdem a paciência diante das lentidões e do carácter superficial das reformas, e a grande massa dos fiéis aceita sem compreender bem o que se passa e, com isso, fica traumatizada.
Vendo-se em profundidade, o que está em discussão, mais do que o seu modo de agir e de existir, é a própria autoridade "hierárquica".
Alguns sonham com uma Igreja puramente carismática, outros pensam na autoridade eclesiástica nos moldes da autoridade democrática, baseada no povo e dirigida por ele; alguns negam pura e simplesmente a autoridade, dizendo à boca cheia e como "slogan" : "Isto agora é assim", em nome de um anarquismo que vai alastrando.
No entanto, o ministério hierárquico é uma verdadeira participação, embora misteriosa, da actividade com que Cristo instrui e constrói o seu Corpo.
Falta ainda muito para sermos simples como as crianças; aqueles que as sabem acolher, é que caminhan segundo o plano da História da Salvação.
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Diz o Catecismo da Igreja Católica :
526. - «Tornar-se criança» diante de Deus é a condição para entrar no Reino, e para isso é preciso humilhar-se, tornar-se pequeno. Mais ainda : é preciso «nascer do alto»(Jo.3,7), «nascer de Deus» (Jo.1,13) para se «tornar filho de Deus»(Jo.1,12). O mistério do Natal cumpre-se em nós, quando Cristo «Se forma»(Gal.4,19). O Natal é o mistério desta «admirável permuta».
Deixai vir a Mim as criancinhas
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