- A Rússia da era pós-soviética
Revelações de um arguto viajante, que analisou a situação reinante na ex-União Soviética. O país é assolado por impressionante processo de decadência e desagregação moral, social e econômica, fruto do comunismo.
Sr. Slawomir “Na Rússia, de cada 100 casamentos, 70 se desfazem. A instabilidade do matrimônio é causada pela falta de princípios religiosos e morais” |
O Sr. Slawomir Olejniczak, 42 anos, presidente da Associação pela Cultura Cristã Padre Piotr Skarga e da Fundação com o mesmo nome, visitou recentemente o Brasil, tomando contato com o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. Sediadas em Cracóvia, segunda cidade da Polônia, as entidades que ele preside defendem os três princípios básicos da civilização cristã — a tradição, a família e a propriedade — e exercem em seu país importante atuação para libertá-lo das seqüelas nele deixadas pelo tirânico regime comunista, que jugulou a Polônia durante décadas. Desenvolvem também ação contra a nova tirania, representada pelas imposições da União Européia às nações-membros no sentido de que aceitem os erros modernos, como as uniões homossexuais, contrários à doutrina e tradição católicas. O Sr. Slawomir acedeu amavelmente ao convite para conceder uma entrevista sobre sua recente visita à Rússia, e descreveu a trágica situação em que se encontra aquele país, visão pouco difundida no Brasil. Profundo conhecedor da situação pós-comunista na Polônia, o entrevistado graduou-se em Filosofia pela Universidade Jagiellon de Cracóvia. Para a entrevista, recebeu a reportagem de nossa revista na sede do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, na capital paulista. * * *
Mais da metade das mortes na Rússia, de pessoas entre 14 e 54 anos, é causada pelo alcoolismo. |
- Catolicismo— A atual situação da Rússia é pouco conhecida no Brasil, pois a imprensa costuma silenciar o assunto. Mas o pouco que chega ao nosso conhecimento parece indicar que, em conseqüência dos 70 anos de regime comunista, a Rússia está sofrendo um processo de desagregação. Sob o aspecto moral, a situação seria catastrófica: número assustador de divórcios, promiscuidade sexual, taxas muito acentuadas de alcoolismo e uso de drogas, virtual desaparecimento da instituição da família, aumento impressionante da pandemia da AIDS, do número de abortos, etc. O Sr. confirma a objetividade dessa visão?
Sr. Slawomir— A situação na Rússia, após 20 anos da queda do Muro de Berlim, mostra que a experiência comunista de 70 anos foi um fiasco. Não só isso, mas também ocasionou enorme devastação no país, conduzindo-o a uma fase de pré-agonia. O comunismo é associado com freqüência ao ateísmo ideológico, ao sistema político totalitário e à miséria econômica. Mas é preciso ainda lembrar que esse sistema leva a família à degradação, minando o seu papel social e de educadora. Combate a religião e a família, o que dá origem a deploráveis conseqüências morais, psicológicas e sociais. Permito-me alguns exemplos. A facilidade na concessão do divórcio pelas autoridades administrativas, a pedido do casal (o tribunal decide só em caso de falta de acordo entre os cônjuges, e quando não se sabe o que fazer com os filhos), conduziu à situação atual em que, de cada 100 casamentos, 70 se desfazem. A instabilidade do matrimônio é causada pela falta de princípios religiosos e morais, e em particular pelo alcoolismo e a devassidão sexual. Vale a pena chamar a atenção para o fato de que, pelas estatísticas, cada russo toma anualmente 18 litros de álcool puro, o que ultrapassa duas vezes o limite reconhecido pela Organização Mundial da Saúde como perigoso para a saúde e a vida. O desregramento moral e os narcóticos conduzem à expansão do vírus HIV, que contamina cerca de 2% da população. - Catolicismo— O Sr. conhece os dados sobre a média anual de abortos por mulher russa?
Sr. Slawomir— A Rússia foi o primeiro país do mundo a legalizar o aborto. Aprovado em 1920 pelo governo comunista, esse método de controle de nascimentos expandiu-se tanto, que 80% das mulheres russas realizam de dois a 20 abortos. Assim, a média é de seis abortos por mulher. - Catolicismo— Outro tema preocupante é o envelhecimento da população. Qual o número de russos que falecem por ano? E quantos nascem?
Sr. Slawomir— A desmoralização da sociedade, a destruição da instituição da família e o aborto causaram deploráveis conseqüências demográficas. Em 1990 a população russa era de 148 milhões. Atualmente é de 140 milhões, e cálculos demográficos indicam que esse número vai cair para 100 milhões no ano 2050. A tendência atual mostra que, a cada ano, morrem 700 mil russos a mais do que os nascimentos. Por exemplo, em 2006: para 1.479.000 nascimentos, ocorreram 2.167.000 mortes. Uma conseqüência desse desequilíbrio é o envelhecimento da população, ou seja, um aumento percentual de pessoas idosas, o que causa diminuição do dinamismo social e definhamento do desejo de desenvolvimento econômico. Além disso, o baixo nível de higiene e o alcoolismo provocam redução da perspectiva de vida. A média de vida na Rússia é de 65 anos, igual à da Índia; e a dos homens é de 58 anos, como a do Paquistão. Segundo um relatório da revista médica “Lancet”, de 1991, mais da metade das mortes na Rússia, de pessoas entre 14 e 54 anos, era causada pelo alcoolismo. - Catolicismo— Depois de décadas de regime oficialmente ateu, qual a porcentagem dos russos que aderem à igreja conhecida como greco-cismática, majoritária no país? Quais as confissões religiosas reconhecidas oficialmente pelo atual governo?
Sr. Slawomir— Qualquer declaração sobre renovação espiritual e religiosa na Rússia precisa ser considerada como mera suposição, pois apenas 2% dos russos são praticantes da religião dita ortodoxa. Além do mais, apesar da abolição oficial do ateísmo, a religião continua a ser controlada pelo Estado. O direito russo só reconhece quatro confissões: a chamada “ortodoxa”, a judaica, a muçulmana e a budista. Todas as outras, inclusive o catolicismo, são tratadas como seitas, e encontram para sua atuação numerosos obstáculos por parte das autoridades. Como exemplo, pode-se indicar a escandalosa expulsão do bispo católico Jerzy Mazur, que o impossibilitou de continuar seu trabalho pastoral na diocese da Sibéria Oriental. |
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