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Luciano Ayan
Ceticismo e dinâmica social na investigação da religião política
Zé Celso é intimado a depor por causa de peça de apologia ao crime contra religiosos e acaba dando sanção moral à qualquer manifestação artística contra gays
com um comentário
Fonte: Entretenimento R7 (por Miguel Arcanjo Prado)
O diretor do Teatro Oficina, José Celso Martinez Corrêa, foi intimado pela Polícia Civil de São Paulo a comparecer nesta terça (11), às 17h, ao 23º Distrito Policial de Perdizes, bairro da zona oeste paulistana.
O motivo, segundo a intimação assinada pelo delegado Percival de Moura Alcantara Junior, é “elucidar os fatos e reconhecer atores de teatro em fotos ou vídeos postadas na web sob o título ‘Decaptação do Papa na PUC’ na ‘Ocupação da Puc’ pela Democracia’”.
Em novembro de 2012, Zé Celso e integrantes do Teatro Oficina participaram de uma manifestação de estudantes da PUC-SP contra a indicação da professora Anna Cintra à reitoria da universidade, já que ela havia ficado em terceiro lugar na eleição — ela tomou posse em fevereiro deste ano. O ato contou com a adaptação de uma cena da peça Acordes, na qual um boneco gigante, vestido com roupas sacerdotais para a ocasião, era decaptado.
Segundo nota divulgada pela companhia teatral localizada na Bela Vista, bairro do centro paulistano, no ano de 2012 “os estuantes da PUC foram procurar os artistas do Oficina quando estávamos fazendo a peça Acordes, baseada em texto de Bertolt Brecht”.
Ainda de acordo com a nota enviada pelo Oficina, “os estudantes tinham ocupado a PUC e convidaram a Uzyna Uzona para participar de uma ação pela liberdade do ensino laico. Em Acordes havia uma cena em que um boneco, representando o Capitalismo, era despedaçado por dois Palhaços. A cena foi adaptada para a situação que a PUC estava passando e apresentada no evento promovido por estudantes e professores”.
Zé Celso comentou a intimação recebida em seu blog. Ele afirmou que “querer incriminar artistas de teatro por esta cena é um atentado à liberade de expressão do ator”. O diretor afirmou que o teatro é “o espaço da liberdade”. E lembrou de sua luta pela democracia e liberdade de expressão durante os anos de chumbo da ditadura militar.
— Nós das artes, que lutamos contribuindo para abolir a censura no Brasil durante a ditadura militar e ganhamos esta conquista não podemos recuar e aceitar a censura à nossa atividade [...] Este instrumento jurídico, que a Inquisição da PUC conseguiu passar para uma delegacia de polícia, é uma intimação contra a Constituição do Estado Democrático Laico no Brasil, a favor da reinstauração da censura, contra a qual tanto lutamos nos tempos da ditadura militar. É um atentado à arte, considerada como crime. Não desejo ser cúmplice deste crime por isso vou por a boca no trombone do mundo.
O R7 falou com a assessoria da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e também com a assessoria de imprensa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
A assessoria da PUC afirmou: “Checamos a informação e a PUC-SP não abriu nenhum processo contra o diretor José Celso Martinez Corrêa”.
Abaixo, a resposta da Secretaria de Estado de Segurança Pública de São Paulo:
“Apuramos que, por requisição do Ministério Público, a Polícia Civil instaurou inquérito para apurar o fato. A natureza da investigação é o artigo 208 do Código Penal: ‘Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso’. O delegado que preside o inquérito é o titular do 23° DP, Marco Aurélio Floridi Batista.”
No começo do ano, a peça Edifício London, do grupo teatral Os Satyros, foi proibida de estrear em São Paulo por conta de uma decisão judicial.
Meus comentários
Este post surge a partir de mais uma dica do leitor Cidadão.
Enfim, não exagero ao dizer que o livro Rules for Radicals, do esquerdista Saul Alinky, mudou minha visão sobre política. O magnífico capítulo 7 (abordado aqui) cita como uma das regras essenciais a arte de fazer o adversário sucumbir pelo seu próprio livro de regras.
Ao investigarmos o discurso da esquerda, usar essa regra se torna uma arte. Basta pegarmos um “código” contido no discurso oponente, e em seguida utilizá-lo contra o adversário, demonstrando ao público a hipocrisia dele. O ato de fazer o adversário sucumbir pelo seu próprio livro de regras tem duas pagas políticas imediatas: (1) demonstra o oponente como hipócrita, aumentando o nível de pressão sobre ele, (2) sanciona várias de suas próprias ações no jogo político.
Um exemplo recente é o caso das descobertas de que o governo de Barack Obama anda investigando a vida de seus cidadãos. Mas na época da campanha eleitoral contra Bush, Obama publicou um livro de regras no qual dizia que a espionagem sobre cidadãos seria uma aberração, que era praticada por Bush mas jamais seria aceita por ele. Agora é só esfregar o livrinho de regras do Obama na cara dele. Isso, em resumo, é o que significa esta tática de Alinsky.
Agora, Zé Celso, lutando para não ser punido, lança um novo livrinho de regras. Veja:
— Nós das artes, que lutamos contribuindo para abolir a censura no Brasil durante a ditadura militar e ganhamos esta conquista não podemos recuar e aceitar a censura à nossa atividade [...] Este instrumento jurídico, que a Inquisição da PUC conseguiu passar para uma delegacia de polícia, é uma intimação contra a Constituição do Estado Democrático Laico no Brasil, a favor da reinstauração da censura, contra a qual tanto lutamos nos tempos da ditadura militar. É um atentado à arte, considerada como crime. Não desejo ser cúmplice deste crime por isso vou por a boca no trombone do mundo.
Mas são os esquerdistas, grupo do qual Zé Celso faz parte, que lutam para cercear a liberdade de expressão artística quando um gay se sente incomodado em uma peça, filme ou programa de humor.
Ao adaptarmos o livro de regras de Zé Celso para usarmos toda vez que o movimento gay surgir com choradeira por causa de uma piadinha feita em direção a eles, e ainda com com adaptações para retirar os frames convenientes aos esquerdistas, temos o seguinte:
A nossa luta contra a censura (que as ditaduras da Coréia do Norte e Venezuela adoram) não pode aceitar recuos;
As queixas do movimento gay em relação à algumas manifestações artísticas significam censura à atividade artística, e não podem ser toleradas;
Quando eles fazem isso, praticam um atentado à arte, considerada como crime;
Se nós ficarmos calados, seremos cúmplices dos crimes da esquerda;
A ação de tentar calar a ação artística, por parte do movimento gay, é uma ação digna de uma Inquisição marxista típica da Coréia do Norte.
Tudo acima está nos livros de regras do Zé Celso. Foi ele, um esquerdista, que publicou. Não eu! Ele agora me dá sanção moral. Para que a esquerda possa tentar me contestar, deverão tentar contestar o Zé Celso, e não a mim! Eu só estou jogando pelas regras que o adversário forneceu. Simples assim!
Notaram que ao usarmos a regra de Saul Alinsky, transformamos a interação com esquerdistas como se fosse uma pequena arte? Tudo vira um jogo de xadrez, ou uma partida de pôquer.
Quando Alinsky nos explicou sobre esta arte, ele entregou o segredo: muitas vezes, “códigos” são publicados não para serem cumpridos (nem pelos seus proponentes), mas para obter o benefício psicológico que eles podem prover.
Mas isso não interessa. O que interessa é o que Zé Celso falou. E tudo que ele disse tira a legitimidade de todas as manifestações dos movimentos LGBT protestando contra manifestações artísticas que apresentem os gays de forma de que eles não gostem de ser apresentados. Ué, mas o Zé Celso apresentou um líder religioso como alguém digno de ser decapitado. Por que os gays agora não podem ser citados de maneira desfavorável na arte?
Aliás, Zé Celso mentiu ao dizer que a ação surgiu da PUC-SP, que, como sempre, tende a adotar a política da frouxidão contra o oponente. Muito provavelmente, a ação surgiu por parte de um aluno ou mesmo qualquer outra pessoa que tenha se sentido ofendido com a “peça” de Zé Celso.
Ei-la abaixo:
@
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Escrito por lucianohenrique
11 de junho de 2013 às 3:48 pm
Publicado em Outros
Etiquetado com estratégia gramsciana, guerra cultural, guerra política, marxismo cultural, PUC-SP, saul alinsky, zé celso
« A esquerda como ameaça às liberdades individuais OU Como a direita pode utilizar pragmaticamente o caso Edward Snowden a seu favor
Por que o esquerdismo cria uma geração de mimados nem um pouco confiáveis: Alunos do Colégio Bandeirantes vestem saia durante protesto »
Uma resposta
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Agora é preciso também acrescentar à história a postura da Diocese de Guarulhos perante a Marcha das Vadias local. O evento foi programado para 8 de junho em frente à matriz do município (Guarulhos, a exemplo da maioria absoluta das cidades brasileiras, tem uma catedral como seu marco zero). Porém, para aquele mesmo dia iria haver missa especial em memória a Nossa Senhora da Conceição, padroeira do município, evento que ocorre todo dia 8 do mês. Logo, poderíamos considerar que a Marcha para aquele dia e naquele local era uma provocação mais explícita.
Proativamente, em 26 de maio a Diocese local pediu policiamento para que se prevenisse ocorrências do art. 208 (e, por extensão, de atentado leve ao pudor e pichações, uma vez que a matriz já ostentava marcas de spray de uma greve dos professores). Logo, sequer se pode falar que a polícia estava submissa à Igreja, pois apenas fez policiamento especial como ocorre em outros eventos. Além disso, a mesma Constituição que tão evocada é por marxistas-humanistas-neoateístas permite o livre protesto, mas proíbe que duas manifestações sejam realizadas no mesmo lugar e na mesma hora (algo mais do que natural).
Porém, lá foram as vadias marchantes, que já haviam coberto seus seios com sutiãs, protestar em frente à catedral em questão. Não contavam que a Diocese, além de jogar com o livro de regras geral (Constituição e Código Penal) também jogava com o livro de regras canônico e resolveu fazer a missa a céu aberto, com direito a fiéis postados à frente do templo para protegê-lo de depredações (novamente vamos lembrar das pichações anteriores feitas em uma greve dos professores). Como os MHNs mais laicochatos acham que missa só pode ser realizada no interior da igreja, acharam muito estranho uma missa que pudesse ser ouvida fora de tal construção e mais estranho ainda acharam as caixas de som potentes a cobrir o discurso vindo do megafone de uma das líderes da Marcha.
Houve detenção de duas manifestantes e o que era para ser uma marcha caminhou direto para a DP mais próxima e virou protestos. Porém, ainda que queiram reclamar com o bispo, terão de reclamar com a Corregedoria ou para a Lola, sendo que o próprio retrospecto mostra que a polícia não estava em frente à catedral do nada, mas sim havia sido pedido policiamento quase duas semanas antes, o que pressupõe que houve planejamento conjunto entre Diocese e PM sobre como fazer mais uma missa especial como as que ocorrem regularmente no dia 8 de cada mês.
Logo, basicamente a Igreja jogou pelo livro de regras que MHNs sempre evocam (a mesma Constituição que garante liberdade de culto e de protesto, neste último caso sendo respeitada a determinação de não haver dois protestos diferentes em um mesmo lugar) e o livro canônico, que estipula como se deve fazer uma missa e não obriga que ela seja feita dentro de uma catedral.
Cidadão
11 de junho de 2013 em 4:27 pm
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