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    sexta-feira, 18 de abril de 2014

    Confraria de São João Batista




    Confraria de São João Batista


    Meditação da Paixão de Cristo e seus frutos. 
    Homilia de D. Antônio de Castro Mayer: "E eles o crucificaram!". 
    A Paixão de Cristo para as Almas Devotas - Santo Afonso Maria de Ligório. 
    Paciência. 



    Posted: 18 Apr 2014 03:30 AM PDT


    "Abraão, vosso pai, desejou ansiosamente ver o meu dia: ele o viu e exultou de gozo" (Io. 8, 56).




    Sumário. Não é sem razão que Abraão e com ele os demais justos do Antigo Testamento desejavam tão ansiosamente ver o dia do Senhor. Sim, porque depois da vinda de Jesus Cristo, é impossível que uma alma crente que medita nas dores e ignomínias que Ele sofreu por nosso amor, não se abrase em amor e não se resolva firmemente a tornar-se santa. Se, pois, queremos progredir no caminho de perfeição, meditemos a miúdo, e especialmente nestes dias, na Paixão do Redentor, e meditando afiguremo-nos que presenciamos os mistérios dolorosos.




    I. Não é sem razão que o patriarca Abraão desejou ansiosamente ver o dia do Senhor; e que, tendo tido a ventura de vê-lo por uma revelação divina, ainda que em espírito somente, se alegrou em seu coração, como atesta o Evangelho de hoje. Sim, porque o tempo que se seguiu à vinda de Jesus Cristo, já não é mais tempo de temor, mas tempo de amor: Tempus tuum, tempus amantium (1).




    Na Lei antiga, antes da Encarnação do Verbo, podia o homem, por assim dizer, duvidar se Deus o amava. Depois de O havermos visto, porém, morrendo por nós, exangue e vilipendiado sobre um patíbulo infame, já não podemos duvidar que Ele nos ame com toda a ternura. — Quem poderá jamais compreender, que excesso de amor levou o Filho de Deus a pagar a pena dos nossos pecados? E, todavia, isso é um ponto de fé: Dilexit nos, et lavit nos in sanguine suo (2) — "Ele nos amou, lavou-nos em seu sangue". Ó misericórdia infinita! Ó amor infinito de Deus!




    Mas porque é que tantos cristãos olham com indiferença para Jesus Cristo crucificado? Que na Semana Santa assistem à comemoração da morte de Jesus, mas sem algum sentimento de ternura e gratidão, como se não se comemorasse um fato verdadeiro, ou não lhes dissesse respeito?




    Não sabem, ou não crêem, porventura, o que os santos Evangelhos dizem acerca da Paixão de Jesus Cristo? Com certeza o crêem, mas não refletem. Entretanto, é impossível que uma alma crente, que medita nas dores e ignomínias que Jesus Cristo padeceu por nosso amor, não se abrase de amor para com Ele e não tome uma forte resolução de tornar-se santa, a fim de não se mostrar ingrata para com Deus tão amante. Caritas Christi urget nos (3) — "A caridade de Cristo nos constrange".




    II. Meu irmão, se queres sempre crescer em amor para com Deus e progredir na perfeição, medita a miúdo na Paixão de Jesus Cristo, conforme o conselho que te dá São Boaventura: Quotidie mediteris Domini passionem. Especialmente nestes dias, que procedem a comemoração da sua morte dolorosíssima, guiado pelos sagrados Evangelhos, contempla com olhos cristãos tudo que o Salvador sofreu nos principais teatros de seu padecimento; isto é, no horto das oliveiras, na cidade de Jerusalém e no monte Calvário.




    Para que tires desta meditação o fruto mais abundante possível, representa-te os sofrimentos de Jesus Cristo tão vivamente, que te pareça veres diante dos olhos o Redentor tão maltratado, e sentires em ti mesmo as chagas que n'Ele abriram as pontas dos espinhos e dos cravos, a amargura do vinagre e fel, o pejo das ignomínias e dos desprezos: Hoc enim sentite in vobis, quod et in Christo Iesu (4) — "Senti em vós o que Jesus Cristo sentiu". Ao passo que assim meditas, repete muitas vezes com o Apóstolo: Tudo isso o Senhor tem feito e padecido por mim, para me mostrar o seu amor e ganhar o meu: Dilexit me, et tradidit semetipsum pro me (5) — "Ele me amou e se entregou por mim". E não O amarei?




    Sim, amo-Vos; † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas; e porque Vos amo, pesa-me de Vos haver ofendido, e proponho antes morrer do que Vos tornar a ofender. "Vos, ó Senhor onipotente, lançai sobre mim um olhar benigno, para que por vossa proteção seja regido no corpo e defendido na alma". (6) † Doce Coração de Maria, sêde minha salvação. (*I 600) 

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    1. Ez. 16, 8

    2. Eph. 5, 2.

    3. 2 Cor. 5, 14

    4. Phil. 2, 5.

    5. Gal 2, 20.

    6. Or. Dom. curr.







    (LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 374-376.)




    Posted: 18 Apr 2014 03:00 AM PDT





    DOM ANTÔNIO DE CASTRO MAYER

    HOMILIA DA SEXTA FEIRA SANTA




    8 de abril de 1977




    E eles o crucificaram! Et crucifixerunt eum!




    Eles. Mais imediatamente, os soldados romanos, que martelaram desapiedadamente os cravos, transpassando-os punhos e os pés adoráveis do Salvador, e fixando-os na cruz. Embrutecidos nas desordens de toda espécie, num exercito falho do santo temor de Deus, habituados a relaxar as tensões nervosas das campanhas militares na ferocidade com que tratavam os inimigos vencidos, tinham os soldados do "Império", como um regalo de festa, a faculdade que lhes outorgavam os chefes de seviciarem, com sabor sádico, uma vítima indefesa, já condenada a morte.




    O infeliz sentenciado era, antes de tudo, submetido a flagelação Suplício tremendo ao qual, frequentemente, sucumbiam suas desgraçadas vitimas. Ficava o condenado a mercê da brutalidade bestial de homens grosseiros, robustos no físico e aviltados na alma. Decidia o fim do suplício, ou a morte da vitima, ou o cansaço dos verdugos.

    Não foram mais compassivos os esbirros a cuja discrição entregou Pilatos a Jesus, "«Jesum tradidit voluntati eorum" (Luc. XXIII, 25).




    Eis que o Bom Jesus, ao ser estendido sobre o madeiro, e uma chaga viva, renovada pela violência com que lhe despiram de suas vestes. O Santo Sudário de Turim, no mudo é eloqüente depoimento dos fatos, testemunha as atrocidades praticadas sobre a sagrada humanidade do Filho de Deus: A seqüência ininterrupta das chagas, que pontilham todo o Corpo sacrossanto do Salvador, diz-nos da freqüência e violência dos golpes do flagelo, dotado de extremidades metálicas, que abriam sulcos na carne do Salvador, como o arado vai sulcando a terra.




    Como se tão desumana crueldade não bastasse, ainda por escárnio e irrisão, plantam-Lhe na cabeça a coroa de espinhos.

    Foi nesse estado lastimável, adornado com a púrpura de seu próprio Sangue e com o diadema de sua dolorosa realeza que o estenderam sobre a cruz e terminaram sua tétrica missão, crucificando-O.




    A soldadesca infrene, vã, boçal e tremendamente feroz foi sem dúvida, a vingança da carne contra Aquele que viera sublimá-la na castidade perfeita, parificando os homens aos anjos. Decaído de sua glória, não podia o anjo das trevas tolerar fosse seu lugar ocupado pelo homem cuja virtude domina os ímpetos da concupiscência. E armou a brutalidade do soldado romano contra o Cordeiro Imaculado, culpado de remir o homem, arrancando-o do lodaçal do vício e elevando-o a sociedade dos espíritos celestes. Pois, com humilhantes e atrozes padecimentos, suportados no seu Sagrado Corpo, purificou Jesus, superabundantemente, nossas almas de nossas culpas, e proporcionou, até ao mais miserável pecador, a graça de alçar a cabeça e apresentar-se ao Pai Celeste: «Surgam et ibo ad Patrem meum - Levantar-me-ei e irei ter com meu Pai (Luc. XV, 18). .




    Abençoada Paixão de Jesus Cristo. «Mentita est iniquitas sibi (Salmo XXVI, 12). Armou o demônio contra o Salvador os furores do averno e teve como resultado sua própria derrota. «Adoramus Te Christe et benedicimus tibi, quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum- Nós Vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque com Vossa Cruz remistes o mundo.




    Os soldados eram subalternos. Cumpriam ordens. Estavam ao serviço da autoridade romana. São homens do governador romano, Pôncio Pilatos. Esbirros e procônsul, fazem parte dessa área imensa da Humanidade, imersa nas trevas do paganismo, na ignorância do Deus Verdadeiro. São uns a ralé da abjeção, a que desceu a natureza humana após o pecado. De casta superior, com certa nobreza e cultura, não é Pilatos menos abjeto no papel assumido ou aceito no Drama do Calvário. Encarna ele essa mentalidade pagã do homem decaído da excelência a que fora exaltado na Criação, e, pois, voltado sobre si mesmo, dominado pelo egoísmo.




    Por natureza servo de Deus, aperfeiçoa-se o homem na medida em que aprimora seu devotamento ao Senhor dos Céus e da terra. Pois faz ele parte desse concerto admirável em que todas as criaturas formam coroa em torno da Sabedoria e Santidade inefáveis dAquele que é a fonte de todo o bem e de toda a verdade, para louvá-lO incessantemente, proclamando sua excelsa e altíssima transcendência. Mas, seduzido pelo demônio, que blandiciosa e sorrateiramente lhe açula a vaidade e o amor próprio, rejeita o homem o seu lugar na harmonia dos seres. Quer ser ele também um deus, decretando os limites do bem e do mal. Senhor e não servo da ordem moral. E tornou-se um paradoxo. Os princípios elementares do bom senso ditam-lhe ainda algumas normas de justiça, subordinadas, porém, ele aos seus interesses. Pois, sem esperança de uma vida futura, concentra seus planos na obtenção da bem-aventurança na terra, feita de vanglória e prazeres. Daí a busca ávida das riquezas e a caça do poder, dois elementos indispensáveis para alimentar sua vaidade e sensualidade. Neste afã inglório em torno de uma quimera, sente o homem seus limites, e passa a existência em sobressaltos: teme perder o domínio e a fortuna. E para conservá-los desce as ultimas vilanias.

    Por detrás de pilatos está Tibério César, cujo olhar frio percorre suspeitoso a vastidão do Império receando um rival que lhe dispute o cetro. Nas mãos de Tibério está a sorte de Pilatos. E quem limitou seus horizontes ao mundo presente, sabe tudo quanto isso significa. Seu orgulho fazia o desprezar o judeu. Por isso e, mais ainda, pela convicção da inocência de Jesus Cristo - pois sabia-o vítima da inveja dos sacerdotes e anciãos do povo - e pela impressão de superior majestade do Divino acusado, Pilatos empenhou-se por absolve-lo. «Nullam invenio in neo causam» (Jo. XIX. 4), declara ao povo aglomerado junto ao Pretório e aguilhoado pelos sinedritas. «Não encontro razão para condená-lo». E isso, após longo processo em que se sucederam os expedientes mais abjetos, ditados pela covardia humana, que teme a única saída honrosa: o cumprimento do dever, a absolvição do inocente. Pois, apesar do reconhecimento publico e solene da inocência do Salvador, Pilatos cede, e o condena a morte. São Lucas, sublinha a dupla iniqüidade envolvida na sentença com que o Procônsul condenou Jesus e absolveu a Barrabás. Diante do tumulto provocado no povo pelos príncipes dos sacerdotes e demais sinedritas, Pilatos lançou a sentença, fazendo-lhes a vontade: absolveu, diz o Evangelista, aquele que fora preso por causa de homicídio e sedição, pois que o povo o pedia, e a Jesus entregou-O a morte, de acordo com a vontade de seus inimigos. Injusto absolvendo o culpado, mais injusto condenando o inocente.




    E que para Pilatos, como para os que desconhecem a transcendência do homem, não há uma justiça objetiva. Há umas normas de convívio humano que, por mais necessárias que sejam, jamais se antepõem aos interesses próprios. Justo será o juiz desde que a sentença não lhe acarrete a desgraça ou lhe diminua seu bem-estar. Um aceno a semelhante possibilidade bastou para dobrar a aparente integridade do Procônsul. «Se absolves a este não és amigo de César, porque todo o que se faz rei contradiz a César» (Jo. XIX, 12). Tais palavras avivaram na fantasia do governador a figura de Tibério César: sua inflexibilidade em afastar friamente de seu caminho quaisquer opositores, ainda mesmo seu parente mais chegado. E temeu pela sua posição. E entre esta e a justiça, não tinha duvida o pagão cético e sibarita em sacrificar a justiça e salvar o alimento de sua vaidade e o fundamento de sua fortuna. Uma palavra, uma hipócrita purificação das mãos, e sobre o sangue inocente abafam-se uns tênues restos de remorso de consciência.

    Essa a mentalidade pagã. Por isso, não Ihe interessa a verdade. A Jesus que anunciava o Reino da Verdade, Pilatos pergunta entre intrigado e displicente: Que é a Verdade? - «Quid est veritas?» (Jo. XVIII, 38). - Pergunta e não espera a resposta. Esta pouco se lhe dá. Aos que vivem no circuito fechado desta terra, São incômodos os princípios transcendentes que regulam a urdidura das coisas humanas. Pois escapam ao controle dos limites das faculdades do homem. Obedecem aos desígnios de Deus. E o pagão quer ser ele mesmo o senhor de seu destino. Nem espera, nem confia na justiça da Providencia.




    Na mentalidade pagã floresce a rebeldia do anjo das trevas. Que nisto constituiu sua revolta: sacudir a paternal direção com que Deus dispõe todas as coisas para sua glória e o bem de sua criatura. Quis ele ser como Deus, senhor absoluto, ele mesmo, de seu destino. Precipitado do Céu pela fidelidade dos anjos bons, busca sua vingança, inoculando no espírito do homem a mesma louca pretensão de ser ele o árbitro de toda ordem moral. Que outra coisa não significa a promessa do tentador aos nossos primeiros pais: «Se comerdes do fruto desta arvore, não só não morrereis, mas sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal» (gen. III, 5). Em outras palavras, sereis por vos mesmos os árbitros da ordem moral. Jesus, que veio restaurar a ordem transtornada pelo pecado, não, poderia não ter entre seus algozes os herdeiros daquela primeira nefanda impiedade, em que a criatura ousou pretender substituir-se ao Criador. Pilatos, na Paixão de Jesus Cristo, age como representante destes herdeiros de todos os tempos. Por isso, para lição nossa, e seu nome lembrado na profissão de Fé dos que rejeitam a impiedade pagã, porque abrem seus corações, reconhecidos, ao Padre Nosso que esta nos Céus e por nos vela amorosamente.




    A bestialidade dos soldados romanos, sim. O naturalismo orgulhoso do gentio, sem duvida. Não são, porem, esses os que arcam com a maior responsabilidade no maior crime da Historia. Atesta-o o protagonista dessa tragédia, que se irradia pelos séculos. Ao Procônsul, atônito com seu silencio, declara o Salvador: «Aquele que me entregou a ti responde por um pecado maior - Qui me tradidit tibi maius peccatum habet» (Jo. 19, II). O que me entregou a ti, o povo judeu, especialmente sua classe dirigente, o Sinédrio, os anciãos, os príncipes do povo, os doutores da lei, e a frente de todo o povo, a casta sacerdotal. Não fora a ação decisiva dessa chusma de apóstatas, talvez o povo se comovesse quando Pilatos Ihes apresentou o Salvador desfigurado pela flagelação e coroado de espinhos, e não prorrompesse no pedido histérico da sentença capital.




    Os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo! Já não estamos entre a gente aviltada pela sordidez de uma vida grosseira e viciada, nem nos havemos com o mesquinho pragmatismo pagão. Estamos, agora com, o povo eleito. Para o gentio, Jesus era um estranho; para o judeu, membro da família. Há toda a malicia do sacrifício da inocência na sentença pronunciada por Pilatos e na Ferocidade com que os esbirros a executaram. O judeu acrescenta-Lhe a hediondez do parricídio. Pois, diz o Senhor no Levítico, ele era o povo escolhido. «Eu serei vosso Deus, e vós sereis meu POVO»(Luc. 26, 12). Povo de predileção, Objeto de um amor providente em todas as fases de sua história. Povo a quem governava através de seus profetas e mantinha escoimados das crendices e superstições que maculavam as religiões das outras gentes. A aliança de Deus com o povo, de Israel era um pacto sempiterno (Is. 55, 3).




    O povo eleito tinha uma missão. Competia-lhe apresentação ao mundo o Messias, o Salvador, por quem Suspiravam as nações, desde a promessa misericordiosa do Paraíso terrestre. E eis que esse povo, no momento culminante de sua história, quando tem no seu seio seu Rei, seu Senhor, o Messias, o Salvador do gênero humano, nesse momento exato de realizar sua missão providencial, quando devera conclamar todos os povos a adoração do enviado das nações para a redenção do mundo, nesse momento, esse povo apostata. Rejeita e repele o Enviado de Deus. «Nolumus hune regnare super nos – não queremos que este reine sobre nos» (Luc. XIX, 14). E apostata, impulsionado pela hierarquia sagrada. É Caifás, o sumo sacerdote; que, na reunião do Sinédrio apos a Ressurreição de Lazaro, para encerrar as duvidas e dissipar os temores, propõe a morte dAquele cuja vinda era a única razão de ser do povo eleito. «Não sabeis, interferiu Caifás que convém que um morra pelo povo, não venha toda a nação a perecer?» (Jo. XI, 50). E desde esse dia ficou assentado que, para o Sinédrio, Jesus devia morrer. E devia morrer por que? Diz o Evangelho: porque Ele fazia muitos prodígios, e se O deixassem, todo o mundo acreditaria nele Jo. XI, 47 - 8).




    Em outras palavras, Jesus devia morrer porque era o Messias. Devia morrer porque realizava aqueles prodígios anunciados pelos profetas como os sinais indicadores de que chegara o tempo messiânico.




    - E quem se empenha por esta morte? - O Sumo Sacerdote. Impossível mais assombrosa cegueira! A frente do povo de Deus, como seu chefe teocrático, estava ali para apresentar o Messias ao mundo: - Ouvi, povos, diria como os antigos profetas, aqui está o Desejado das Nações, o Redentor do gênero humano, aquele por quem fomos constituído seu povo de eleição. Ei-lo aqui. Finda esta nossa missão. Não haverá mais distinção entre judeu e gentio, pois Cristo Jesus congrega todo o mundo num só povo de Deus!

    Oh! Bem que lógica, coerente, na ordem natural da Providencia, semelhante atitude superava os vícios do Sumo Sacerdote. Pois, de há muito, o sacerdócio judaico era infiel ao seu ofício, arrastando o povo na sua infidelidade. A condenação de Jesus Cristo pelo Sinédrio é o termo natural de uma longa obcecação que levou o sacerdócio judaico a não compreender mais a linguagem dos profetas, a perder o sentido real da redenção, a natureza verdadeira do Reino messiânico, de ordem sobrenatural, verificado nas regiões da Graça.




    Caifás é o elo mais saliente de toda esta apostasia. Constituído Sumo Sacerdote pelo Procônsul Valério Graco, a origem espúria de seu pontificado está a indicar o conceito que fazia de sua missão religiosa. Seu servilismo aos prepotentes do momento, acentua-o seu longo pontificado de 18 consecutivos anos, que ainda se alongaram em outros membros da família.

    Diz Santo Agostinho que dois amores construíram duas cidades: o amor próprio até o desprezo de Deus é autor da cidade terrena; e o amor de Deus até o desprezo próprio edificou a cidade celeste. Ou seja, pede-se um devotamento total a todo aquele que almeja a cidadania celeste. Semelhante dedicação perfeita exige-se especialmente daqueles que, por dever de ofício, estão votados as coisas de Deus: os sacerdotes. Por isso, a infidelidade do ministro sagrado torna-o vil e abjeto aos olhos de Deus, e causa da apostasia de todo o povo. Pois Caifás levou ao ápice a infidelidade sacerdotal. Saduceu, era, como os da seita, materialista. Não crendo já na imortalidade da alma, seu ideal se limitava as ambições terrenas: glória que alimentasse sua vaidade, e riquezas que saciassem sua cobiça.




    Com tal sumo sacerdote, não se poderia pensar sequer num Messias sofredor e austero, exemplo e arauto da virtude que repara os desmandos do pecado, como descreviam os profetas o Redentor do mundo. Como poderia, de fato, suportar o sacerdócio de Caifás o novo Rabino a pregar a renúncia as riquezas e a glória? Como poderia ouvir, sem arrepios de escândalo a exortação do Divino Mestre: «Que adianta ao homem ganhar o mundo todo se vier a perder sua alma?» (Mat. XVI, 26). Ou então a pedir para si uma dedicação superior ao afeto a que fazem jus os pais junto aos filhos? «Quem amar a sua mãe ou seu pai mais do que a mim não e digno de mim» (Mt. 10,37). Um rabino que ousava, sem pestanejar, expulsar a chicotadas os vendilhões do Templo, todos eles clientes do Sumo Sacerdote?




    Não. A cidade do sacerdócio judaico não era a cidade celeste propugnada por Jesus Cristo. Por isso, devia Jesus morrer. Devia morrer porque era fiel a sua missão de Enviado de Deus a pregar a penitencia para a remissão dos pecados. Devia morrer, outrossim, porque era amado do povo e punha em risco a popularidade do sacerdócio oficial. Devia morrer sobretudo porque edificava a cidade de Deus, e o sumo sacerdote estava engajado na cidade do homem.




    Esta é formada das paixões humanas, todas elas presentes nos tormentos a que foi submetido o filho de Deus. No episódio do Sinédrio, mais especialmente do sacerdócio judaico, age o ódio na sua sanha de extermínio. A violência com que arrastam a multidão na gritaria a pedir a crucifixão com o fim de extorquir da cobardia do Procônsul a sentença de morte, é fruto desse ódio que deseja ver esmagado o rival detestado. O mesmo ódio reponta na cena selvagem com que, após a sentença do Sinédrio, os chefes religiosos incitaram os esbirros do palácio, aos insultos mais ignóbeis contra a Pessoa adorável do Filho de Deus. Partiram cobardemente aos socos e bofetadas, contra Jesus indefeso, cuspindo nas suas faces sagradas. Quando magistrados descem de sua dignidade para se misturarem a canalha vã, e porque o ódio já não guarda reservas. Não tem limites.




    Um dos meios mais eficazes de que se serve o anjo das trevas para desviar as almas do caminho do Céu e levá-las a aceitar uma falsificação da Religião Verdadeira. Daí o ódio especial com que persegue o demônio aqueles que lhe descobrem seu jogo infernal.

    O sacerdócio judaico iludia o povo com as aparências de fidelidade a revelação de Moises, a palavra de Deus. Jesus denunciou-lhe a hipocrisia. E assim despertou o ódio de morte. Precisa morrer, dizia Caifás, aliás perdemos todo o povo. Pois o essencial e que o povo não perceba nossa hipocrisia, nossas falsificações.




    - Esse ardil do demônio e de todos os tempos. Consola-nos que a vitória de Jesus Cristo também e de sempre. O véu do templo, na ocasião da morte de Jesus Cristo, rasgou-se de alto a baixo anunciando o fim do Velho Testamento e igualmente a vitória plena, completa, total de Jesus Cristo contra todas as insídias do demônio.

    Ó meu Jesus! Neste dia solene e trágico em que sois elevado ao patíbulo infamante da Cruz, convêm que se faca toda justiça. Pois só a Justiça condiz com a Verdade, e Vós viestes para instaurar o Reino da Verdade dar testemunho da Verdade. Não foram somente eles que Vos crucificaram. Fomos também nós. É o que dizemos todos o dias na nossa profissão de Fé: Por nossa casa e por nossa salvação desceu dos Céus, padeceu e foi crucificado sob Póncio Pilatos».




    Sim. Eles o crucificaram. Eles, os gentios e os judeus. Mas, nos também o crucificamos. Nos, cristãos. Nos que com Ele professamos ter o mesmo pensamento – homo unanimis (Salmo 54, 14). Nos que com Ele compartilhamos o pão a mesma mesa. Nos que somos seus familiares, seus amigos: «Non dicam vos servos sed amicos». (Jo. 15, 15). Pois, nos também o crucificamos.

    E se nos perguntarem quando o crucificamos, respondemos com o argumento com que Santo Agostinho convenceu os judeus de seu crime. Eles O crucificaram, diz o Doutor da Graça, quando diante de Pilatos vociferaram o "crucifige", extorquindo do Procônsul a sentença de comodismo, nós não o reconhecemos diante do mundo que Ihe é hostil.




    Há, na Paixão de Jesus Cristo, uma figura singular, misto de intrepidez e medo, de Dedicação e vilta. É São Pedro, o Príncipe dos Apóstolos. Convencido de seu valor e valentia, faz ao Mestre os mais ardentes protestos de fidelidade. "Ainda que todos te abandonem - assegura ele a Jesus - eu nunca te abandonarei". C"Ainda que todos se escandalizem por tua causa, eu jamais me escandalizarei" (Mt. 26, 33). Pois estou pronto a ir ate o cárcere e mesmo a morte, e "ainda que seja necessário morrer contigo, não te negarei". E no Jardim das Oliveiras, foi o unido que se aventurou a defender o Mestre com a espada. Decepou mesmo o orelha direita de Malco, ímpeto contido pela mansidão do Salvador.




    Depois, foi a fase da vilta. Como os demais apóstolos, abandonou o Mestre nas mãos dos seus algozes e fugiu covardemente. Mais. No átrio do Palácio do Sumo Sacerdote, misturou-se aos fâmulos da Casa, mais ou menos como quem e estranho ao que ali se passava. E bastou que uma empregada – "ancilla ostiaria", diz São Joao, a porteira - ousasse denunciá-lo como discípulo de Cristo, para que sua Reação fosse imediata: «Não conheço esse homem» (Mat. XXVI, 72). E confirmou sua negação com juramento e imprecações: «coepit anathematizare et iurare quia non novisset hominem» (Mc. XIV, 71). Não conheço esse homem! Como mentes., Pedro, assim desavergonhadamente? Não conheço esse homem ... Mas, não foi Ele por quem há pouco juravas dar a liberdade e mesmo a vida.

    Não conheço esse homem! Mas não foi Ele que te fez seu discípulo, que te prepôs ao colégio apostólico, a cujas glórias assististes no Tabor, que frequentemente conduziste em tua barca, que hospedavas em tua casa?




    - Como não conheces esse homem? Eis o perjuro. E como as quedas se sucedem vertiginosamente, não trepida Pedro de usar o termo desprezível, «esse homem», como se fora qualquer anônimo da rua, sobre o qual podem pesar todas as suspeitas, sem que se comovam as pessoas de bem.




    Eis a espada que mais feriu o Coração do Divino Mestre. Se meu inimigo, disse Ele pelo Profeta, me amaldiçoasse, eu o suportaria. Mas, tu que pensavas comigo, que comias comigo ...(Salmo V, 15).




    Os pagãos viviam nas trevas, sem a luz da Fé. Os judeus há muito haviam falsificado a Religião verdadeira, com saudades das bolotas dos porcos, a mamona da Iniqüidade. Uns e outros estavam em campo oposto ao do Mestre adorável. Mas Pedro, objeto das predileções de Jesus, a quem acompanhou ao Jardim das Oliveiras, que fora escolhido para testemunha de sua oração angustiosa, que dera todas as garantias de sua dedicação, esse agora o nega vilmente, atemorizado por uma mulherzinha, porteira de palácio? Acareadas as vilanias humanas ocorridas no decurso da Paixão de Jesus Cristo, a de Pedro leva a palma.




    Pois em toda a tragédia da Paixão de Cristo, Pedro é quem melhor nos representa. Também nos fomos agraciados pela insondável Bondade do Salvador, que, sem nenhum mérito nosso, nos chamou para a luz inestimável da Fé, para o seio de sua Igreja, para filhos adotivos de seu Pai Celeste, para membros de sua família, para participantes de sua natureza divina. Ele que nos alimenta com sua carne e seu sangue. Pois, apesar de todos esses benefícios, outras tantas demonstrações de sua paternal bondade, nós participamos da vilania de São Pedro. Diante do mundo, com seu fausto, sua glória efêmera, com a ameaça de um ostracismo sem maiores conseqüências, nós já esquecemos todos os favores da munificência divina,c vergonhosamente renegamos nossa condição de cristãos.«Non novi hominem».




    Não é acaso renegar a Jesus Cristo, o silenciar diante do ceticismo diluído no pancristianismo, ao sabor de uma sociedade frívola desejosa de uma Religião sem compromissos?




    Não é acaso renegar a Jesus Cristo, o não combater o erro e as ambigüidades doutrinarias que dessoram e fazem definhar a Fé, base de toda verdadeira vida cristã?




    Não é acaso renegar a Jesus Cristo o ajustar-se aos costumes e aos trajes que alimentam a sensualidade e são a negação da virtude cristã?




    Não é acaso renegar a Jesus Cristo aceitar uma igrejá nova, sem contornos definidos, dentro de um ecumenismo vago e sem caráter, pelo temor de ser apontado como causa de divisão entre os fieis?




    Não é acaso renegar a Jesus Cristo o fazer-se arauto dos direitos humanos, esquecendo os sacrossantos direitos de Deus?




    Não é acaso renegar a Jesus Cristo reduzir sua obra redentora a mera libertação de reais ou supostas opressões de ordem econômico-social?




    Não é acaso renegar a Jesus Cristo a preocupação excessiva com a felicidade e os bens da terra, que faz esquecer o Reino do Céu e a salvação da alma?




    Quem de nos pode sinceramente isentar-se destas ou de outras negações de Jesus Cristo? Sim. Na pessoa de São Pedro estávamos nós a dizer: Non novi hominem. Não conheço a Jesus Cristo.




    O! meu Bom Jesus ... Apesar de minhas misérias, de minha negra traição ao vosso Nome, as promessas de meu Batismo, a vossa Doutrina e ao vosso espírito, ouso apresentar-me a Vós, ouso vir aos vossos pés e me aproximar de vossa Cruz. Pois ela encerra o mistério do amor com que me amais, e este é infinito, supera toda a minha malícia, por mais vã, odiosa e imensa que seja. O estado em que Vos vejo, meu bom Jesus, revestido com a púrpura de vosso Sangue, que jorra de todo vosso Corpo Sacrossanto, com a cabeça coroada dessa cruciante coroa de ignomínia, privado de todo movimento pelas cadeias que vos fixam nesse patíbulo infamante, esse estado, meu Bom Jesus, é o que eu mereci por meus pecados. E Vós, na vossa misteriosa, insondável misericórdia, conhecendo minha fraqueza para suportá-lo, e como me seria inútil, dados os limites de minha natureza, Vós me substituístes e Vos apresentastes a inexorável Justiça Divina para reparar o que por mim seria irreparável.




    Compreendo agora, meu Salvador, todo o alcance da frase de Vosso apostolo: «Dilexit me et tradidit semetipsum pro me - Amou-me e entregou-se a morte por mim» (Gal. II, 20). Sim, meu Bom Jesus, Vos me amais com amor inefável. Se vossa dedicação por mim vos levou ao martírio da Cruz, que receio posso ter eu de que me não recebereis,a vista dos muitos e hediondos pecados que deformam a minha alma e a tornam indigna de vossa presença? Sei que vosso amor supera minha indignidade e que vosso Sangue Divino pode purificar-me de todos os meus crimes. Por isso, confio, e, me apresento a Vossa Misericórdia.




    Mas, Senhor, pois que me amastes tanto, ouso pedir-Vos que me deis a graça de Vos amar também eu, de corresponder ao Vosso amor e de não pecar mais. Sim, meu Bom Jesus, não pecar mais. Sou tão fraco, que nem sequer o que há de mais lógico, bela, natural e confortador como é amar-Vos, nem isso sei ou posso fazer. Por isso, vinde, Senhor, em meu auxilio, e dai-me a graça de amar Vos e de não pecar mais.




    Que vossa Mãe e Senhora das Dores que assiste ao vosso martírio e nele participa, que a Senhora das Dores interceda por mim. E já que A constituístes minha Mãe,que Ela fixe no meu coração indelevelmente vossas chagas sacrossantas, que, em toda parte, lembrem vosso amor por mim e a hediondez do meu pecado, que vos reduziu a este estado lastimável de um farrapo humano. E que esta lembrança seja eficaz para determinar no meu coração um amor ardente por Vós e pelas almas que remistes com Vosso Sangue.




    Sancta Mater istud agas: Crucifixi fige plagasCordi mea valide.




    Fac ut ardeat cor meum In amando Christum DeumUt sibi complaceam. 




    Santa Mãe do meu Senhor, dai-me a graça de trazer indelevelmente gravadas no coração as chagas do Divino Crucificado. Fazei que meu coração se inflame no amor de Jesus Cristo para que com Ele sempre me conforme. Amem. Assim seja



    Posted: 17 Apr 2014 11:30 PM PDT


    Reflexões sobre a paixão de Jesus Cristo

    Por Santo Afonso Maria de Ligório




    "«Oh! se conhecesses o mistério da cruz!, disse Santo André ao tirano que queria induzi-lo a renegar a Jesus Cristo, por ter Jesus se deixado crucificar como malfeitor. «Oh! se entendesses, tirano, o amor que Jesus Cristo te mostrou querendo morrer na cruz para satisfazer por teus pecados e obter-te uma felicidade eterna...»"

    Quanto agrada a Jesus Cristo que nós nos lembremos continuamente de sua paixão e da morte ignominiosa que por nós sofreu, muito bem se deduz de haver ele instituído o Santíssimo Sacramento do altar com o fito de conservar sempre viva em nós a memória do amor que nos patenteou, sacrificando-se na cruz por nossa salvação. Já sabemos que na noite anterior à sua morte ele instituiu este sacramento de amor e depois de ter dado seu corpo aos discípulos, disse-lhes – e na pessoa deles a nós todos – que ao receberem a santa comunhão se recordassem do quanto ele por nós padeceu: "Todas as vezes que comerdes deste pão e beber de deste cálice, anunciareis a morte do Senhor" (1 Cor 11, 26). Por isso a santa Igreja, na missa, depois da consagração, ordena ao celebrante que diga em nome de Jesus Cristo: "Todas as vezes que fizerdes isto, fazei-o em memória de mim". E São Tomás escreve: "Para que permanecesse sempre viva entre nós a memória de tão grande benefício, deixou seu corpo para ser tomado como alimento" (Op. 57). E continua o santo a dizer que por meio de um tal sacramento se conserva a memória do amor imenso que Jesus Cristo nos demonstrou na sua paixão.




    Se alguém padecesse por seu amigo injúrias e ferimentos e soubesse que o amigo, quando se falava sobre tal acontecimento nem sequer nisso queria pensar e até costumava dizer: falemos de outra coisa – que dor não sentiria vendo o desconhecimento de um tal ingrato? Ao contrário, quanto se consolaria se soubesse que o amigo reconhece dever-lhe uma eterna obrigação e que disso sempre se recorda e se lhe refere sempre com ternura e lágrimas? Por isso é que todos os santos, sabendo a satisfação que causa a Jesus Cristo quem se recorda continuamente de sua paixão, estão quase sempre ocupados em meditar as dores e os desprezos que sofreu o amantíssimo Redentor em toda a sua vida e particularmente na sua morte. Santo Agostinho escreve que as almas não podem se ocupar com coisa mais salutar que meditar cotidianamente na paixão do Senhor. Deus revelou a um santo anacoreta que não há exercício mais próprio para inflamar os corações com o amor divino do que o meditar na morte de Jesus Cristo. E a Santa Gertrudes foi revelado, segundo Blósio, que todo aquele que contempla com devoção o crucifixo é tantas vezes olhado amorosamente por Jesus quantas ele o contempla. Ajunta Blósio que o meditar ou ler qualquer coisa sobre a paixão traz-nos maior bem que qualquer outro exercício de piedade. Por isso escreve São Boaventura: "A paixão amável que diviniza quem a medita" (Stim. div. amor, p. 1. c. 1). E falando das chagas do crucifixo, diz que são chagas que ferem os mais duros corações e inflamam no amor divino as almas mais geladas.







    O SALVADOR




    Adão peca e se rebela contra Deus e sendo ele o primeiro homem, pai de todos os homens, perdeu-se com todo o gênero humano. A injúria foi feita a Deus, motivo por que nem Adão nem os outros homens, com todos os sacrifícios, mesmo oferecendo sua própria vida, poderiam dar uma digna satisfação à Majestade divina; para aplacá-la plenamente era necessário que uma pessoa divina satisfizesse a justiça divina. E eis que o Filho de Deus, movido à compaixão pelos homens, arrastado pelos extremos de sua misericórdia, se oferece a revestir-se da carne humana e a morrer pelos homens, para assim dar a Deus uma completa satisfação por todos os seus pecados e obter-lhes a graça divina que perderam.




    Desce, pois, o amoroso Redentor a esta terra e fazendo-se homem quer curar os danos que o pecado causara ao homem. Portanto, quer não só com seus ensinamentos, mas também com os exemplos de sua santa vida, induzir os homens a observar os preceitos divinos e por essa maneira conseguir a vida eterna. Para esse fim Jesus Cristo renunciou a todas as honras, às delícias e riquezas de que podia gozar neste mundo e que lhe eram devidas como ao Senhor do mundo, e escolhe uma vida humilde, pobre e atribulada até morrer de dor sobre uma cruz. Foi um grande erro dos judeus pensar que o Messias devia vir à terra para triunfar de todos os seus inimigos com o poder das armas e, depois de os ter debelado e adquirido o domínio do mundo inteiro, deveria tornar opulentos e gloriosos os seus sequazes. Mas se o Messias fosse qual os judeus o desejavam, príncipe soberano e honrado de todos os homens como senhor de todo o mundo, não seria o Redentor prometido por Deus e predito pelos profetas. É o que ele mesmo declara quando responde a Pilatos: "O meu reino não é deste mundo" (Jo 18, 36). Por esse motivo repreende São Fulgêncio a Herodes por ter tão grande temor de ser privado do seu reino pelo Salvador, quando ele não viera para vencer o rei pela guerra, mas a conquistá-lo com sua morte (Serm. 5 de Epiph.).




    Dois foram os erros dos judeus a respeito do Redentor esperado: o primeiro foi que, quando os profetas falavam dos bens espirituais e eternos, eles o interpretavam dos bens terrenos e temporais. "E a fé reinará nos teus tempos; a sabedoria e a ciência serão as riquezas da salvação; o temor do Senhor esse é o teu tesouro" (Is 33, 6). Eis os bens prometidos pelo Redentor, a fé, a ciência das virtudes, o santo temor, eis as riquezas da prometida salvação. Além disso, promete que dará remédio aos penitentes, perdão aos pecadores e liberdade aos cativos dos demônios: "Enviou-me para evangelizar os mansos, para curar os contritos de coração e pregar remissão aos cativos e soltura aos encarcerados" (Is 61, 1).




    O outro erro dos judeus foi que pretenderam entender da primeira vinda do Salvador o que fora predito pelos profetas da segunda vinda, para julgar o mundo no fim dos séculos. Assim, escreve Davi do futuro Messias que ele deverá vencer os príncipes da terra e abater a soberba de muitos e com a força da espada subjugar toda a terra (Sl 109,6). E o profeta Jeremias escreve: "A espada do Senhor devorará a terra de um extremo a outro" (Lm 12, 12). Isso, porém, entende-se da segunda vinda, quando vier como juiz a condenar os malvados. Falando, porém, da primeira vinda, na qual deveria consumar a obra da redenção, mui claramente predisseram os profetas que o Redentor levaria neste mundo uma vida pobre e desprezada. Eis o que escreve o profeta Zacarias, falando da vida abjeta de Jesus Cristo: "Eis que o teu rei virá a ti, justo e salvador; ele é pobre e vem montado sobre uma jumenta e sobre o potrinho da jumenta" (Zc 9, 9).




    Esta profecia realizou-se plenamente quando Jesus entrou em Jerusalém, assentado sobre um jumento, sendo recebido com todas as honras, como o Messias desejado, segundo o testemunho de São João (Jo 12,14). Também sabemos que ele foi pobre desde o seu nascimento, tendo vindo a este mundo em Belém, lugar desprezado, e numa manjedoura: "E tu, Belém Efrata, tu és pequenina entre os milhares de Judá, mas de ti é que há de sair aquele que há de reinar em Israel e cuja geração é desde o princípio, desde os dias da eternidade" (Mq 5, 2). E essa profecia foi assinalada por São Mateus (2,6) e São João (7, 42). Além disso, escreve o profeta Oséias: "Do Egito chamarei o meu Filho" (11, 1), o que se realizou quando Jesus Cristo, como menino, foi levado para o Egito, onde permaneceu sete anos como estranho no meio de gente bárbara, dos parentes e dos amigos, devendo viver necessariamente mui pobremente. Continuou, depois de voltar à Judéia, a levar uma vida pobre. Ele mesmo predisse pela boca de Davi que pobre deveria ser durante toda a sua vida e atribulado pelas fadigas: "Eu sou pobre e vivo em trabalhos desde a minha mocidade" (Sl 87,16).







    A EXPIAÇÃO




    Deus não podia ver plenamente satisfeita a sua justiça com os sacrifícios oferecidos pelos homens, mesmo sacrificando-lhe suas vidas e, por isso, dispôs que seu próprio Filho tomasse um corpo humano e fosse a digna vítima que o reconciliasse com os homens e lhes obtivesse a salvação. "Não quiseste hóstia nem oblação, mas tu me formaste um corpo" (Hb 10, 5). E o Filho unigênito se ofereceu voluntariamente a sacrificar-se por nós e desceu à terra para completar o sacrifício com sua morte e assim realizar a redenção do homem: "Eis, aqui venho para fazer, ó Deus, a tua vontade, como está escrito de mim no princípio do livro" (Hb 10, 7).




    Pergunta o Senhor, referindo-se ao pecador: "Que importará que eu vos fira de novo?" (Is 1, 5). Isso dizia Deus, para nos dar a entender que, por mais que punisse os seus ofensores, suas penas não seriam suficientes para reparar a sua honra ultrajada, e por isso enviou seu próprio Filho a satisfazer pelos pecados dos homens, visto que ele podia dar uma digna reparação à justiça divina. Depois declarou por Isaías, falando de Jesus feito vítima para expiar nossas culpas: "Eu o feri por causa dos crimes de meu povo" (53, 8), e não se contentou com uma pequena satisfação, mas quis vê-lo abatido pelos tormentos: "E o Senhor quis quebrantá-lo na sua enfermidade" (Is 53, 10). Ó meu Jesus, ó vítima de amor, consumida de dores na cruz para pagar os meus pecados, desejaria morrer de dor, pensando quantas vezes vos tenho desprezado depois de tanto me haverdes amado. Não permitais que eu continue a viver tão ingrato a tão grande bondade. Atraí-me todo a vós: fazei-o pelos merecimentos desse sangue que derramastes por mim!




    Quando o Verbo divino se ofereceu para remir os homens, de duas maneiras se podia fazer essa redenção: uma por meio do gozo e da glória, outra das penas e dos vitupérios. Ele, porém, que com sua vinda não só pretendia livrar o homem da morte eterna, mas também ganhar a si o amor de todos os corações humanos, repeliu o caminho do gozo e da glória e escolheu o das penas e dos vitupérios (Hb 10, 34). A fim, portanto, de satisfazer por nós a justiça divina e juntamente para inflamar-nos com seu santo amor, quis qual criminoso sobrecarregar-se de todas as nossas culpas e, morrendo sobre uma cruz, obter-nos a graça e a vida feliz. É justamente o que exprime Isaías quando afirma: "Verdadeiramente ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas e ele mesmo carregou com as nossas dores" (Is 53, 4).




    Disso encontram-se duas figuras claras no Antigo Testamento: a primeira era a cerimônia usada todos os anos do "bode expiatório" sobre o qual o sumo pontífice entendia impor todos os pecados do povo e por isso todos, cumulando-o de maldições, o enxotavam para a floresta para servir aí de objeto à ira divina (Lv 16, 5). Esse bode figurava nosso Redentor, que quis espontaneamente sobrecarregar-se com todas as maldições a nós devidas por nossos pecados (Gl 3, 13), feito por nós maldição, para nos obter as bênçãos divinas. E assim escreve o Apóstolo em outro lugar: "Aquele que desconhecia o pecado, fê-lo por nós, para que nós fôssemos feitos justiça de Deus nele" (2 Cor 5, 21). Como explicam Santo Ambrósio e Santo Anselmo, aquele que era a mesma inocência, fê-lo pecado; revestiu-se com as vestes do pecador e quis tomar sobre si as penas devidas a nós pecadores, para nos obter o perdão e nos tornar justos aos olhos de Deus.




    A segunda figura do sacrifício que Jesus Cristo ofereceu por nós a seu eterno Pai na cruz, foi a "serpente de bronze" suspensa em um poste, que curava os hebreus mordidos pela serpente de fogo, quando para ela olhavam (Nm 21, 8). Assim escreve São João: "Como Moisés suspendeu a serpente no deserto, assim importa que seja levantado o Filho do homem, para que todo o que crê nele não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3, 14).







    À LUZ DAS PROFECIAS




    É preciso refletir que no capítulo 2.º da "Sabedoria" está predita a morte ignominiosa de Jesus Cristo. Ainda que as palavras desse capítulo possam se referir à morte de qualquer homem justo, contudo, afirma Tertuliano, São Cipriano, São Jerônimo e muitos outros santos Padres, que de modo especial quadram à morte de Cristo: Aí se diz no versículo 18: "Se realmente é o verdadeiro filho de Deus, ele o amparará e o livrará das mãos dos contrários". Essas palavras correspondem perfeitamente ao que diziam os judeus, quando Jesus estava na cruz: "Confiou em Deus: livre-o agora, se o ama; pois disse que era filho de Deus" (Mt 27, 43). Continua o sábio a dizer: "Façamos-lhe perguntas por meio de ultrajes e tormentos... e provemos a sua paciência. Condenemo-lo a uma morte a mais infame" (Sb 2, 19-20). Os judeus escolheram para Jesus Cristo a morte da cruz, que era a mais ignominiosa, para que seu nome ficasse para sempre aviltado e não fosse mais relembrado, segundo um outro testemunho de Jeremias: "Ponhamos madeira no seu pão e exterminemo-lo da terra dos viventes e não haja mais memória de seu nome" (Jr 11, 19). Ora, como podem dizer hoje em dia os judeus ser falso que Jesus fosse o Messias prometido, por ter sido arrebatado deste mundo por uma morte torpíssima, quando seus mesmos profetas haviam predito que ele deveria ter uma morte tão vil?




    Jesus aceitou, porém, semelhante morte porque morria para pagar os nossos pecados: também por esse motivo quis qual pecador ser circuncidado, ser resgatado quando foi apresentado ao templo, receber o batismo de penitência de São João. Na sua paixão, finalmente quis ser pregado na cruz para pagar por nossos licenciosas liberdades, com a sua nudez reparar a nossa avareza, com os opróbrios a nossa soberba, com a sujeição aos carnífices a nossa ambição de dominar, com os espinhos os nossos maus pensamentos, com o fel a nossa intemperança e com as dores do corpo os nossos prazeres sensuais. Deveríamos por isso continuamente agradecer com lágrimas de ternura ao eterno Pai por ter entregue seu Filho inocente à morte para livrar-nos da morte eterna. "O qual não poupou seu próprio Filho, mas entregou-o por todos nós: como não nos deu também com ele todas as coisas?" (Rom 8, 32). Assim fala São Paulo e o próprio Jesus diz, segundo São João (3, 16): "Tanto Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho unigênito". Daí exclamar a santa Igreja no sábado santo: "Ó admirável dignação de vossa piedade para conosco! Ó inestimável excesso de vossa caridade! Para resgatar o escravo, entregastes o vosso Filho". Ó misericórdia infinita, ó amor infinito de nosso Deus, ó santa fé! Quem isto crê e confessa, como poderá viver ser arder em santo amor para com esse Deus tão amante e tão amável?




    Ó Deus eterno, não olheis para mim, carregado de pecados, olhai para vosso Filho inocente, pregado numa cruz, e que vos oferece tantas dores e suporta tantos ludíbrios para que tenhais piedade de mim. Ó Deus amabilíssimo e meu verdadeiro amigo, por amor, pois, desse Filho que vos é tão caro, tende piedade de mim. A piedade que desejo é que me concedais o vosso santo amor. Ah, atraí-me inteiramente a vós do meio do lodo de minhas torpezas. Consumi, ó fogo devorador, tudo o que vedes de impuro na minha alma e a impede de ser toda vossa.







    NOSSO FIADOR




    Agradeçamos ao Pai e agradeçamos igualmente ao Filho que quis tomar a nossa carne e juntamente os nossos pecados para dar a Deus com sua paixão e morte uma digna satisfação. Diz o Apóstolo que Jesus Cristo se fez nosso fiador, obrigando-se a pagar as nossas dívidas (Hb 7, 22). Como mediador entre Deus e os homens, estabeleceu um pacto com Deus por meio do qual se obrigou a satisfazer por nós a divina justiça e em compensação prometeu-nos da parte de Deus a vida eterna. Já com muita antecedência o Eclesiástico nos advertia que não nos esquecêssemos do benefício deste divino fiador, que, para obter a salvação, quis sacrificar a sua vida (Eclo 29, 20). E para mais nos assegurar do perdão, diz São Paulo, foi que Jesus Cristo apagou com seu sangue o decreto de nossa condenação, que continha a sentença da morte eterna contra nós, e a afixou à cruz, na qual, morrendo, satisfez por nós a justiça divina (Col 2, 14). Ah, meu Jesus, por aquele amor que vos obrigou a dar a vida e o sangue no Calvário por mim, fazei-me morrer a todos os afetos deste mundo, fazei que eu me esqueça de tudo para não pensar senão em vos amar e dar-vos gosto. Ó meu Deus, digno de infinito amor, vós me amastes sem reserva e eu quero também amar-vos sem reserva. Eu vos amo, meu sumo Bem, eu vos amo, meu amor, meu tudo.




    Em suma, tudo o que nós podemos ter de bens, de salvação, de esperança, tudo possuímos em Jesus Cristo e nos seus merecimentos, como disse São Pedro: "E não há em outro nenhuma salvação, nem foi dado aos homens um outro nome debaixo dos céus em que nós devemos ser salvos" (At 4, 12). Assim para nós não há esperança de salvação senão nos merecimentos de Jesus Cristo. Donde São Tomás, com todos os teólogos, conclui que depois da promulgação do Evangelho nós devemos crer explicitamente, por necessidade não só de preceito, como também de meio, que somente por meio de nosso Redentor nos é possível a salvação.




    Todo o fundamento de nossa salvação está, portanto, na redenção humana do Verbo divino, operado na terra. É preciso, pois, refletir que ainda que as ações de Jesus Cristo feitas no mundo, sendo ações de uma pessoa divina, eram de um valor infinito, de maneira que a mínima delas bastava para satisfazer a justiça divina por todos os pecados dos homens, contudo só a morte de Jesus foi o grande sacrifício com o qual se completou a nossa redenção, motivo pelo qual as Sagradas Escrituras se atribui a redenção do homem principalmente à morte por ele sofrida na cruz: "Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até à morte e morte de cruz" (Fl 2, 8). Razão por que escreve o Apóstolo que, quando tomamos a sagrada eucaristia, nos devemos recordar da morte do Senhor: "Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste vinho, anunciareis a morte do Senhor, até que ele venha" (1 Cor 11,26). Por que é que diz da morte e não da encarnação, do nascimento, da ressurreição? Porque foi esse tormento, o mais doloroso de Jesus Cristo, que completou a redenção.




    Por isso dizia S. Paulo: "Não julgueis que eu sabia alguma coisa entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado" (1 Cor 2,2). Muito bem sabia o apóstolo que Jesus Cristo nascera numa gruta, que habitara por trinta anos uma oficina que ressuscitara e subira aos céus. Por que então escreve que não sabia outra coisa senão Jesus crucificado? Porque a morte sofrida por Jesus na cruz era o que mais o movia a amá-lo e o induzia a prestar obediência a Deus, a exercer a caridade para com o próximo, a paciência nas adversidades, virtudes praticadas e ensinadas particularmente por Jesus Cristo na cátedra da cruz. São Tomás escreve: "Em qualquer tentação encontra-se na cruz o auxílio; aí a obediência para com Deus, aí a caridade para com o próximo, aí a paciência nas adversidades, donde assevera Agostinho: A cruz não foi só o patíbulo do mártir, como também a cátedra do mestre". (In c. 12 ad Heb.).







    À SOMBRA DA CRUZ




    Almas devotas, procuremos ao menos imitar a esposa dos Cânticos, que dizia: "Eu assentei-me à sombra daquele que tanto desejei" (Cânt 2, 3). Oh! que doce repouso as almas que amam a Deus encontram nos tumultos deste mundo e nas tentações do inferno e mesmo nos temores dos juízos de Deus, contemplando a sós em silêncio o nosso amado Redentor agonizando na cruz, gotejando seu sangue divino de todos os seus membros já feridos e rasgados pelos açoites, pelos espinhos e pelos cravos. Oh! como a vista de Jesus crucificado afugenta de nossas mentes todos os desejos de honras mundanas, das riquezas da terra e dos prazeres dos sentidos! Daquela cruz emana uma vibração celeste, que docemente nos desprende dos objetos terrenos e acende em nós um santo desejo de sofrer e morrer por amor daquele que quis sofrer tanto e morrer por amor de nós.




    Ó Deus, se Jesus Cristo não fosse o que ele é, Filho de Deus e verdadeiro Deus nosso criador e supremo senhor, mas um simples homem, quem não sentiria compaixão vendo um jovem de nobre linhagem, inocente e santo, morrer à força de tormentos sobre um madeiro infame, para pagar, não os seus delitos, mas os de seus mesmos inimigos e assim libertá-los da morte em perspectiva? E como é possível que não ganhe os afetos de todos os corações um Deus que morre num mar de desprezos e de dores por amor de suas criaturas? Como poderão essas criaturas amar outra coisa fora de Deus? Como pensar em outra coisa que em ser gratos para com esse tão amante benfeitor? "Oh! se conhecesses o mistério da cruz!". disse Santo André ao tirano que queria induzi-lo a renegar a Jesus Cristo, por ter Jesus se deixado crucificar como malfeitor. Oh! se entendesses, tirano, o amor que Jesus Cristo te mostrou querendo morrer na cruz para satisfazer por teus pecados e obter-te uma felicidade eterna, certamente não te empenharias em persuadir-me a renegá-lo; pelo contrário, tu mesmo abandonarias tudo o que possuis e esperas nesta terra para comprazeres e contentares um Deus que tanto te amou. Assim já procederam tantos santos e tantos mártires que abandonaram tudo por Jesus Cristo. Que vergonha para nós, quantas tenras virgenzinhas renunciaram a casamentos principescos, riquezas reais e todas as delícias terrenas e voluntariamente sacrificaram sua vida para testemunhar qualquer gratidão pelo amor que lhes demonstrou este Deus crucificado.




    Como explicar então que a muitos cristãos a paixão de Cristo faz tão pouca impressão? Isso provém do pouco que consideram nos padecimentos sofridos por Jesus Cristo por nosso amor. Ah, meu Redentor, também eu estive no número desses ingratos. Vós sacrificastes vossa vida sobre uma cruz, para que não me perdesse, e eu tantas vezes quis perder-vos, ó bem infinito, perdendo a vossa graça! Ora, o demônio, com a recordação de meus pecados, pretenderia tornar-me dificílima a salvação, mas a vista de vós crucificado, meu Jesus, me assegura que não me repelireis de vossa face se eu me arrepender de vos haver ofendido e quiser vos amar. Oh! sim, eu me arrependo e quero amar-vos com todo o meu coração. Detesto aqueles malditos prazeres que me fizeram perder a vossa graça. Amo-vos, ó amabilidade infinita, e quero amar-vos sempre e a recordação de meus pecados servirá para me inflamar ainda mais no vosso amor, que viestes em busca de mim quando eu de vós fugia. Não, não quero mais separar-me de vós, nem deixar mais de vos amar, ó meu Jesus. Maria, refúgio dos pecadores, vós que tanto participastes das dores de vosso Filho na sua morte, suplicai-lhe que me perdoe e me conceda a graça de o amar.







    Fonte: "Reflexões sobre a Paixão de Jesus Cristo expostas às almas devotas"

    Tradução: Pe. José Lopes Ferreira, C.Ss.R.



    Posted: 17 Apr 2014 10:30 PM PDT


    "Deveremos afirmar, então, que nenhum sofrimento é grande? De modo algum. E se a sensualidade se revoltar, lembremos-lhe: 'Atenção, pois o fruto da impaciência é o castigo eterno, que receberás no dia do juízo. É melhor para ti querer o que Deus quer, amar o que Ele ama, ao invés de querer o que preferes e amar o que agrada à sensualidade. Quero que suportes virilmente a dor, já que os sofrimentos desta vida não têm comparação com a glória futura, preparada por Deus aos que o temem (Rom. VIII, 18; ICor. II, 9) e cumprem sua vontade".







    Santa Catarina de Sena. Carta 5. Para Francisco de Montalcino.



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    'A Lógica da Criação'


    Jesus, oculto na Hóstia, é tudo para mim




    “Se não fosse a Santa Comunhão, eu estaria caindo continuamente. A única coisa que me sustenta é a Santa Comunhão. Dela tiro forças, nela está o meu vigor. Tenho medo da vida, nos dias em que não recebo a Santa Comunhão. Tenho medo de mim mesma. Jesus, oculto na Hóstia, é tudo para mim. Do Sacrário tiro força, vigor, coragem e luz. Aí busco alívio nos momentos de aflição. Eu não saberia dar glória a Deus, se não tivesse a Eucaristia no meu coração.”



    (Diário de Santa Faustina, n. 1037)

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    A Paixão de Cristo