Uma parábola sobre o Reino dos Céus: o joio e o trigo
Mário Silva Martins
IntroduçãoO capítulo XII do Evangelho segundo São Mateus nos mostra a oposição imensa que existia entre Nosso Senhor e os fariseus.
Este conflito entre Jesus e os fariseus, nós o vemos já desde o início de sua vida pública, quando Nosso Senhor discute com eles após ter expulsado os vendedores do templo:
“Então os Judeus, tomando a palavra, lhe disseram: Que sinal tu nos mostra, para agir de tal modo? Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário e em três dias eu o levantarei” (S. João II, 18).
Mas no capítulo XII do Evangelho de São Mateus, esta disputa tomará proporções enormes.
Entre o coração de Nosso Senhor e o coração dos fariseus, há um abismo que não poderá deixar de se manifestar cada vez mais. Os inimigos de Nosso Senhor buscarão aproveitar-se das menores ocasiões para atacá-lo abertamente.
O capítulo XII do primeiro Evangelho nos dá uma série impressionante de disputas consecutivas entre Cristo e seus adversários. Os fariseus terão dois argumentos contra Nosso Senhor, apresentados neste capítulo: uma pretensa violação do sábado, quando os discípulos, constrangidos pela fome, arrancarão algumas espigas para comer, e o meio empregado para expulsar os demônios. Nosso Senhor responderá vitoriosamente contra as acusações dos fariseus, mas a dureza de seus corações impedirá que eles o reconheçam como Messias.
É essa dureza de coração que levará Nosso Senhor a ensinar por meio de parábolas. Apresentar a verdade de modo direto causaria mais mal do que bem a suas almas.
Assim, no mesmo dia em que se dará a disputa com os fariseus a respeito da expulsão de um demônio, Jesus se dirigirá à multidão, constituída também nesta ocasião pelos fariseus, e a instruirá com muitas parábolas sobre o Reino dos Céus. Neste artigo veremos uma dessas parábolas.
Encontramo-nos aproximadamente na terceira semana de novembro do ano 28, o primeiro ano da vida pública de Nosso Senhor.
O joio e o trigo
“Naquele dia Jesus saiu da casa e se sentou na beira do mar” (S. Mateus XIII, 1).
O evangelista, nesta curta introdução, expõe as circunstâncias de tempo e de lugar em que Jesus inaugurou seu ensinamento sob a forma de parábolas.
Naquele dia, ou seja, no dia em que se passaram os acontecimentos narrados por São Mateus no capítulo XII de seu Evangelho, ao menos os acontecimentos narrados na segunda metade desse capítulo, a saber: a expulsão de um demônio.
Jesus saiu da casa, ou seja, de sua própria casa em Cafarnaum.
“… e se sentou na beira do mar”. São Mateus se refere aqui ao Mar da Galileia, também chamado de lago de Tiberíades. Na beira deste lago, que foi testemunha de vários dos mais belos episódios do Evangelho, Nosso Senhor, cercado pelos seus discípulos, tinha ido buscar um pouco de repouso após a discussão com os fariseus. Mas este repouso não durará muito tempo.
“E uma grande multidão se juntou em torno dele, de modo que ele subiu sobre uma barca e se sentou, e toda a multidão estava na margem” (S. Mateus XIII, 2).
A multidão, ávida de ver e de escutar Nosso Senhor, rapidamente se encontra junto a ele, na margem do lago.
Compreendendo o que o povo desejava, mas não podendo falar comodamente a um auditório tão aglomerado que o envolvia por todos os lados, Jesus toma uma decisão. Perto da margem havia uma barca. Ele sobe nela e se senta, como faziam os doutores para ensinar.
Ao mesmo tempo a multidão, na margem, se colocou diante dele, permanecendo respeitosamente em pé, conforme o costume antigo, enquanto o Mestre estava sentado.
“O evangelista não expressou tudo isto sem intenção, pois quis nos fazer ver, ao descrever com tanta diligência este espetáculo, que o plano do Senhor era de não deixar ninguém atrás de si, mas de tê-los todos diante de seus olhos” (São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, hom. 44, 2).
“E lhes falou muitas coisas em parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu para semear” (S. Mateus XIII, 3).
Alguns Padres da Igreja, considerando a situação descrita por São Mateus, comparam graciosamente Nosso Senhor a um pescador extraordinário que, com a rede da palavra, pesca os peixes que estão refugiados nas margens do lago.
Cristo “falou muitas coisas em parábolas”, isto é, as sete parábolas sobre o Reino dos Céus expostas por São Mateus logo após esta pequena introdução, e a parábola do grão lançado na terra.
Tudo leva a crer que Nosso Senhor expôs, num mesmo dia e seguidamente, toda esta série de parábolas. Elas são estreitamente ligadas. A segunda explica a primeira, a terceira se une à segunda para explicá-la e desenvolvê-la, e assim vai até a sétima, que completa todas as outras.
É uma corrente contínua, na qual todos os elos se sustentam. É pouco ou mesmo nada coerente imaginar que essas partes diferentes tenham sido compostas separadamente, em épocas diferentes. A unidade evidente que existe entre as parábolas mostra que elas foram derivadas de um mesmo movimento.
“(…) dizendo: Eis que o semeador saiu para semear”. Jesus apresentará a primeira parábola sobre o Reino dos Céus. Não é a ela que nós iremos dedicar nosso artigo hoje, mas à segunda parábola, a do joio e do trigo.
“Ele lhes propôs uma outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um homem que havia semeado uma boa semente em seu campo” (S. Mateus XIII, 24).
São Jerônimo, no seu comentário a este versículo dirá que “[Cristo] lhes propôs outra parábola, como um rico que serve pratos distintos aos seus convidados, a fim de que cada um tome o que é mais conveniente ao seu estômago”.
Esta parábola encontra-se somente no Evangelho de São Mateus, e nos ensina os progressos dessa semente celeste e dos perigos que acompanham seu desenvolvimento exterior. A parábola do semeador descreve o desenvolvimento interior do reino de Deus no coração dos homens. A parábola do joio e do trigo mostra qual será a forma exterior deste reino: os bons e os maus viverão lado a lado até o fim dos tempos.
O reino dos céus é semelhante a um homem que havia semeado uma boa semente em seu campo. O contexto supõe que o grão fora escolhido, purificado para não ter qualquer mistura quando fosse lançado na terra. No reino de Cristo algo acontece de modo semelhante à ação de um cultivador que semeia um trigo excelente no seu campo.
“Mas, enquanto os homens dormiam, seu inimigo veio, semeou joio no meio do trigo e partiu” (S. Mateus XIII, 25).
“Enquanto os homens dormiam”, ou seja, de noite. Ao dizer que os homens dormiam Jesus não se refere exclusivamente aos servos do semeador, nem quer dizer que eles dormiam por negligência culpável. Nosso Senhor usa esta expressão para designar o tempo em que estas coisas aconteceram, como se dissesse: Enquanto todo o mundo dormia, etc. Se Cristo quisesse acusar uma negligência culpável dos servos do semeador, Ele teria dito: “Enquanto os servos dormiam, etc”.
É durante a noite, escondido aos olhos de todos, que foi cometida a má ação.
O inimigo semeou uma outra leva de sementes, pouco tempo após a primeira, no mesmo campo.
“(…) seu inimigo veio, semeou joio no meio do trigo e partiu”.
O inimigo semeou joio.
A planta designada aqui por Nosso Senhor é conhecida há tempos pelos botânicos, que a chamam de “Lolium temulentum”, encontrada quase em qualquer lugar da Palestina, bem como na Europa. Os judeus viam o joio como um trigo de qualidade bem inferior e os árabes o julgavam como um trigo enfeitiçado. Os grãos que ele produz, muito semelhantes aos do trigo, mas de cor mais negra, são famosos há muito tempo pelos seus efeitos perigosos.
Misturados em quantidade considerável à comida eles causam tontura, náuseas, convulsões e podem levar mesmo à morte.
O joio cresce, em geral, no meio das plantações e amadurece ao mesmo tempo em que os cereais entre os quais se desenvolve.
Para o agricultor é um mal temível, pois até o período de formação das espigas mesmo o olho mais bem treinado tem dificuldade de distinguir o joio do trigo. Durante o primeiro período de seu crescimento ele não se diferencia quase nada do trigo.
Depois que as espigas se formaram, aí sim, pode ser distinguido facilmente do trigo. Sua haste é mais curta e suas espigas e grãos são menores.
Deste modo, no momento da colheita, os camponeses cortavam o trigo, com a foice, acima da altura do joio, de modo que as espiga de joio não eram colhidas. De modo geral, os colhedores arrancavam do solo o joio não colhido, à medida que cortavam o trigo, e os lançavam para trás, formando pequenos montes no chão.
Outro modo de triar os grãos de joio e de trigo era usando uma peneira. Os grãos de joio, menores que os de trigo, passavam pelos furos da peneira e eram utilizados na alimentação das galinhas, porque para elas, ao contrário do que acontece com os homens e com o gado, o joio é inofensivo.
Há algo ainda que torna difícil a separação do joio e do trigo. O Lolium temulentum, ao longo do seu amadurecimento, entrelaça suas raízes entre as raízes do trigo. Quando ambos, no fim de seu desenvolvimento, já são facilmente distinguíveis, suas raízes estão entrelaçadas entre si de tal modo que arrancar o joio equivaleria a arrancar juntamente o trigo.
Que grande problema nosso exemplar agricultor tem nas mãos!
“Com estas palavras [o evangelista] nos faz ver que o erro vem depois da verdade, coisa que é demonstrada pela experiência. Assim, depois dos profetas vieram os falsos profetas; depois dos Apóstolos, os falsos apóstolos; e depois de Cristo, o Anticristo. Porque o diabo não de esforça em tentar aquele que não o imitará, nem aquele ao qual não pode estender os seus laços, pois vê que a semente às vezes frutifica cem por um, ou sessenta, ou trinta, e que não pode arrebatar nem sufocar a que tem boas raízes, e por isso usa outro engano, confundindo sua própria semente e revestindo suas obras com cores e semelhanças que surpreendem o homem que se deixa enganar com facilidade. Por isso o Senhor não diz que [o demônio] semeia qualquer semente, mas a cizânia, que é muito parecida ao menos à vista, à semente do semeador: tal é a malícia do diabo. Semeia quando já nasceram as sementes, para desta maneira causar mais danos aos interesses do agricultor” (São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, hom. 46, 1).
“(…) e partiu”.
Depois de ter realizado sua ação cheia de malícia, ele se apressa e desaparece. Bem se aplica aqui o que diz Nosso Senhor a Nicodemos:
“(…) a luz veio no mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque suas obras eram más. Pois todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem em direção à luz, com medo de que suas obras sejam repreendidas” (S. João III, 19-20).
Quanto ao fato do inimigo que vem durante a noite semear joio em um campo recentemente semeado, isto não era fato ignorado nem no Oriente, nem no Ocidente. Este modo de se vingar era provavelmente frequente, pois era previsto no código penal dos romanos.
“Quando a erva cresceu e produziu fruto, então apareceu também a cizânia” (S. Mateus XIII, 26).
O joio e o trigo cresceram pouco a pouco e produziram cada um suas espigas. Até este momento não havia possibilidade de diferenciá-los. O campo parecia semeado de bom trigo, o que é perfeitamente conforme à natureza do joio e à sua semelhança perfeita com o trigo durante todo o período de seu crescimento. Enquanto o desenvolvimento do joio e do trigo não está completo, não se consegue distingui-los.
Mas agora ambos chegaram ao pleno desenvolvimento. Agora se vê que o campo contém também uma grande quantidade de má erva.
“Nas seguintes linhas [o evangelista] descreve perfeitamente o caminho dos hereges: Quando a erva cresceu e produziu fruto, então apareceu também a cizânia. No princípio os hereges não se manifestam com evidência, mas quando têm mais liberdade e alguns outros participam de seu erro, então soltam seu veneno” (São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, hom. 46, 1).
“Os servos do mestre aproximaram-se dele e lhe disseram: Senhor, porventura tu não semeastes uma boa semente no teu campo? De onde vem que ele tenha cizânia?” (S. Mateus XIII, 27).
Os servos se dão conta da desagradável mistura que aparece agora no campo do mestre e, não podendo compreender a origem dela, voltam-se diretamente ao seu senhor, esperando que ele esclareça o mistério.
Eles sabem que o senhor é vigilante e cuidadoso. Evidentemente, ele só semeara no seu campo grãos de excelente origem.
“E lhes disse: é um inimigo que fez isto. Os servos lhe disseram: Queres que vamos e que a colhamos?” (S. Mateus XIII, 28).
O mestre vê sem dificuldade o lado de onde vem o mal: é seu inimigo que é culpável de tal maldade, desejoso de satisfazer seu negro projeto de vingança.
Seus servos mostram um verdadeiro zelo pelos interesses de seu mestre. Eles se oferecem corajosamente para ir arrancar uma a uma as más ervas que preenchem o campo, o que não é uma tarefa pequena.
“E disse: Não, para que não aconteça talvez que, colhendo a cizânia, vós arranqueis juntamente com ela o trigo” (S. Mateus XIII, 29).
O mestre não aceita a proposta de serviço de seus servos. Mas o mestre não repreende o zelo que eles tinham, somente o corrige e o endireita. O zelo deles, com efeito, ainda que fosse grande e desinteressado, estava longe de ser prudente, como indica o mestre ao dar o motivo de sua recusa.
O perigo não vinha mais da dificuldade de distinguir as duas plantas uma da outra, pois, como dissemos, o joio agora se manifestava com a diferença que o caracteriza. Ele vinha agora da dificuldade de arrancar a má erva sem causar prejuízo à boa. De fato, segundo o que explicamos acima, nos campos onde o joio e o trigo crescem lado a lado suas raízes se entrelaçam, de tal modo que é impossível arrancar o joio sem prejudicar o trigo de maneira considerável.
Também os maus agem de modo semelhante. Eles buscam atrair os bons e enlaçá-los nas suas obras pecaminosas, para que também se sujem nelas. Eles têm prazer em desviar os bons de uma vida santa para enrolá-los nas redes das más ações.
“Deixai que ambos cresçam juntos até a colheita, e no tempo da colheita eu direi aos operários: Recolhei primeiro a cizânia, e amarrem-na em feixes para serem queimados; e quanto ao trigo, recolhei-o em meu celeiro” (S. Mateus XIII, 30).
Após ter rejeitado o projeto imperfeito de seus servos, o mestre propõe outro que produzirá o mesmo resultado, sem apresentar nenhum inconveniente.
É necessário deixar que o joio cresça e amadureça ao lado do trigo até a época da colheita. É então que ambos serão mais distintos que nunca e, quando forem cortados pela foice, será fácil separá-los sem prejudicar o bom grão.
A ordem que o inteligente cultivador dará aos operários se compõe de três partes. Eles deverão, primeiramente, colocar todo o joio de lado. Feito isso, eles o amarrarão em feixes destinados a serem queimados: excelente precaução, que destruirá os maus grãos que eles contêm. Isto impedirá o grão de se espalhar e de infestar novamente o campo. Enfim, eles recolherão o trigo no celeiro da propriedade, depois de o terem tratado no campo, conforme o modo oriental. Graças a estas sábias precauções ter-se-á uma colheita puríssima, apesar das maquinações maliciosas do inimigo.
“Então, tendo deixado as multidões, ele retornou à casa, e seus discípulos se aproximaram dele e disseram: Explicai-nos a parábola do joio do campo. Ele respondeu: Aquele que semeia a boa semente, é o Filho do homem; o campo, é o mundo; a boa semente, são os filhos do reino; o joio, são os filhos do Maligno; o inimigo que a semeou, é o diabo; a colheita, é a consumação do século; os colhedores, são os anjos. Do mesmo modo como se colhe o joio e que se o queima no fogo, assim será na consumação do século. O Filho do homem enviará seus anjos, e eles retirarão de seu reino todos os escândalos e aqueles que cometem a iniquidade, e eles os lançarão na fornalha de fogo; é lá que haverá choros e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o sol no reino de seu Pai. Que aquele que tem ouvidos compreenda!” (S. Mateus XIII, 36-43).
Nós nos impressionamos de ver que os Apóstolos não tenham compreendido imediatamente o sentido de uma parábola que nos parece, hoje, tão simples. É porque ela é cheia de alegorias, precisando ser traduzida em linguagem clara.
Assim, logo que eles se encontraram sozinhos com Jesus, eles lhe pediram o sentido dela, e Nosso Senhor lhes explicará os termos alegóricos.
O bem deve ser feito e o mal deve ser evitado e combatido. Mas em muitas circunstâncias é impossível extirpar o mal sem prejudicar o bem. Nestes casos é um dever que os pastores e fiéis moderem seu zelo e tenham uma conduta inteligente. O que é essencial é que nunca nos alegremos ao ver o mal, que nunca sejamos indiferentes a ele, que rezemos a Deus para que Ele nos socorra contra o mal, que toleremos o mal quando combatê-lo produziria um mal maior.
No fim do mundo o Filho do homem, Nosso Senhor, enviará seus anjos e eles retirarão de seu reino todos os escândalos, todos aqueles que deram escândalo, e os lançarão na fornalha de fogo, expressão usada na época de Nosso Senhor para figurar o inferno.
Esta é a lição central em torno da qual se agrupam lições secundárias.
O diabo, com sua malícia, é o inimigo, o inimigo pessoal do bom semeador. Não podendo atacar sua pessoa, ele ataca sua obra. O inimigo inventa, para prejudicar o bom semeador, uma maldade enorme, inaudita, difícil de ser vista nos registros da maldade humana que já são, sejamos realistas, bem abastecidos.
Ele escolhe a noite para cumprir seu plano, porque era a hora mais favorável.
Logo em seguida ele vai embora, temendo que seu ato seja descoberto e que o bom semeador encontre algum meio de reparar o mal feito. O inimigo deseja que o mal seja irreparável.
Mais tarde, quando a maldade será descoberta, será tarde. Os interessados não terão outra escolha a não ser a de suportar o mal com paciência.
Mas quais são as razões providenciais desta mistura?
Santo Tomás de Aquino, ao comentar esta passagem diz que “os bons são exercitados pelos maus”, e Santo Agostinho as resume em uma frase: “Os maus exercem a paciência dos bons e os bons se dedicam à conversão dos maus”. “Que ninguém se apresse em arrancar seu irmão”, conclui São Jerônimo.
No fim do mundo não haverá engano algum. Todos os bons, sem exceção, irão ao Reino do Pai. Todos os maus, sem exceção, serão lançados na fornalha ardente. Os maus serão punidos por serem maus, como o joio é queimado por não ser boa semente. Os fiéis serão recompensador por serem praticantes.
Notemos que a retribuição não diz respeito expressamente às relações mútuas que os bons e os maus possam ter tido. Bons e maus coexistiram, é tudo.
Os Padres da Igreja e os comentadores trataram muito a respeito da repressão dos hereges com relação a esta parábola.
Segundo São João Crisóstomo, Nosso Senhor permite “que eles sejam reprimidos, que suas bocas sejam fechadas, que a liberdade de palavra lhes seja tirada, que seus sínodos e reuniões sejam anulados, mas nos proíbe de matá-los” (São João Crisóstomo, Homilias sobre S. Mateus, hom. 46, 1-2).
Santo Tomás de Aquino autoriza a violência, com a condição de que ela seja usada com discrição.
Um grande comentador das Escrituras, o jesuíta Maldonado, pensa que, se não há perigo de prejuízo para o trigo no extirpação do joio, não há motivo de suportar os maus. Neste caso o joio deve ser extirpado rapidamente.
Todos concordam que o joio simboliza os maus cristãos, os pecadores, sobretudo os hereges. Mas seria um erro pensar que Nosso Senhor quis promulgar nesta parábola um manual de regras para a Inquisição. O proprietário do campo não é um inquisidor. Ele anuncia uma lei geral: sempre haverá maus e bons lado a lado, e que seria prejudicial aos bons querer extirpar os maus.
Mas Jesus não tinha em vista os casos particulares nos quais seria preferível para o trigo que um ou outro pé de joio fosse arrancado sem que isso tocasse a plantação. Nosso Senhor teria certamente condenado o joio que, não satisfeito de coexistir com o trigo, começasse a prejudicá-lo e a devorá-lo. Os Padres da Igreja não dizem nada de diferente.
A Inquisição não é de modo algum o assunto da parábola, e nem se põe como contraditória e ela.
A lição que Nosso Senhor nos dá aqui é claríssima. Na Igreja Católica, tal como ela pode existir aqui na terra, os bons e maus vivem lado a lado, e muitas vezes não é fácil distingui-los. Esta mistura não vem nem do Semeador divino, nem da semente, que é essencialmente boa, mas do joio espalhado sub-repticiamente pelo grande inimigo.
Ele terá seu fim no último dia. Mas, por mais funesto que ele seja, é necessário tolerá-lo e sofrê-lo sempre que houver o risco de arrancar o bom grão ao querermos extirpar o joio.
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