Paz e bem!
AUGUSTO CÉSAR RIBEIRO VIEIRA
Teresópolis - RJ
"Verdadeiramente és admirável, ó Verbo de Deus, no Espírito Santo, fazendo com que ele se infunda de tal modo na alma, que ela se una a Deus, conheça a Deus, e em nada se alegre fora de Deus" (Sta. Maria Madalena de Pazzi)
AUGUSTO CÉSAR RIBEIRO VIEIRA
Teresópolis - RJ
"Verdadeiramente és admirável, ó Verbo de Deus, no Espírito Santo, fazendo com que ele se infunda de tal modo na alma, que ela se una a Deus, conheça a Deus, e em nada se alegre fora de Deus" (Sta. Maria Madalena de Pazzi)
----- Mensagem encaminhada -----
De: marcio_xyz <marciogpelissari@yahoo.com.br>
Para: estudando_a_biblia@yahoogrupos.com.br
Enviadas: Quinta-feira, 12 de Julho de 2012 8:10
Assunto: [estudando_a_biblia] HISTORIA DE ISRAEL - Parte 1
INTRODUÇÃO
Até meados da década de 70 do século XX, havia um razoável consenso na História de Israel. Entre outras coisas, o consenso dizia que a Bíblia Hebraica era guia confiável para a reconstrução da história do antigo Israel. Dos Patriarcas a Esdras, tudo era histórico. Se algum dado arqueológico não combinava com o texto bíblico, arranjava-se uma interpretação diferente que o acomodasse ao testemunho dos textos, como no caso da destruição das (inexistentes) muralhas de Jericó pelo grupo de Josué.
Exemplos
Os patriarcas eram personagens históricos, o que podia ser comprovado pelos textos mesopotâmicos de Nuzi, do século XIV a.C., em seus muitos paralelos, de estruturas sócio-econômicas a tradições legais, com Gn 12-35. E a migração dos amoritas, que ocuparam a Mesopotâmia e a Palestina no final do terceiro milênio a.C., criava as condições ideais para a entrada dos patriarcas na região da Palestina e explicava seus nomes, sua língua e sua religião.
José era personagem historicamente possível, pois havia grande quantidade de evidências egípcias que testemunhava os costumes contados em Gn 37-50. Semitas poderiam ter chegado a altos postos de governo no Egito, incluindo o de grão-vizir, especialmente durante o governo dos invasores asiáticos hicsos.
A escravidão dos hebreus no Egito e o êxodo não podiam ser questionados, pois textos egípcios testemunham que Ramsés II utilizou hapirus (= hebreus) na construção de fortalezas no delta do Nilo em regime de trabalho forçado. A Estela de Merneptah, faraó sucessor de Ramsés II, comprova a existência de israelitas na terra de Canaã na segunda metade do século XIII a.C., o que nos permitia fixar a data do êxodo aí por volta de 1250 a.C.
A conquista da Palestina pelas 12 tribos israelitas sob o comando de Josué, como narrada no livro que leva o seu nome, contava com testemunhos arqueológicos respeitáveis, como a destruição de importantes cidades cananéias na segunda metade do século XIII a.C., embora muitos autores preferissem explicar a entrada na terra de Canaã de outro modo, como pacífica e progressiva infiltração de seminômades pastores a partir da Transjordânia.
A construção e a consolidação do poderoso império davídico-salomônico eram consideradas como pontos fixos e imutáveis na historiografia israelita, constituindo marco seguro para qualquer manual de História de Israel ou de Introdução à Bíblia quanto às datas dos acontecimentos e às realizações da sociedade israelita.
Os reinos separados de Israel e Judá, após a morte de Salomão, eram bem testemunhados pelos textos assírios e babilônicos, e até pela Estela de Mesha, rei do vizinho país de Moab, sendo tudo, por sua vez, muito bem detalhado nos livros dos Reis, parte da confiável Obra Histórica Deuteronomista.
O exílio babilônico e a volta e reconstrução de Jerusalém durante a época persa, marcando o nascimento do judaísmo baseado no Templo e na Lei que passa a ser lida sistematicamente nas sinagogas, constituíam matéria real e sem maiores problemas, graças à confiabilidade dos textos bíblicos que detalhavam os acontecimentos desta época.
O melhor livro para detalhada exposição e defesa deste consenso é o de John Bright (ver nota abaixo), História de Israel. São Paulo: Paulus, 1978, traduzido da segunda edição inglesa de 1972. Bright pertence à escola americana de historiografia de W. F. Albright (1891-1971) e esta sua `História de Israel' foi o manual mais utilizado por nós nos anos 70 e 80 do século passado.
É preciso lembrar, porém, que a historiografia alemã, desde W. de Wette, em 1806-7, passando por Julius Wellhausen, em 1894, até Martin Noth, em 1950, não participava integralmente deste consenso, negando, por exemplo, a historicidade dos patriarcas.
Mas, a `História de Israel' está mudando. O consenso foi rompido. A paráfrase racionalista do texto bíblico que constituía a base dos manuais de `História de Israel' não é mais aceita. A sequência patriarcas, José do Egito, escravidão, êxodo, conquista da terra, confederação tribal, império davídico-salomônico, divisão entre norte e sul, exílio e volta para a terra está despedaçada.
O uso dos textos bíblicos como fonte para a `História de Israel' é questionado por muitos. A arqueologia ampliou suas perspectivas e falar de `arqueologia bíblica' hoje é inadequado: existe uma `arqueologia da Palestina', ou uma `arqueologia da Síria/Palestina' ou mesmo uma `arqueologia do Levante'.
O uso de métodos literários sofisticados para explicar os textos bíblicos, afasta-nos cada vez mais do gênero histórico, e as `estórias bíblicas' são abordadas com outros olhares. A `tradição' herdada dos antepassados e transmitida oralmente até à época da escrita dos textos freqüentemente não consegue provar sua existência.
A construção de uma `História de Israel' feita somente a partir da arqueologia e dos testemunhos escritos extrabíblicos é uma proposta cada vez mais tentadora. Uma `História de Israel', que dispense o pressuposto teológico de Israel como `povo escolhido' ou `povo de Deus' que sempre a sustentou. Uma `História de Israel e dos Povos Vizinhos', melhor, uma `História da Síria/Palestina' ou uma `História do Levante' parece ser o programa para os próximos anos.
E há pesquisadores de renome na área, como Rolf Rendtorff, exegeta alemão, professor em Heidelberg, que já em 1993 afirmava em artigo na revista Biblical Interpretation 1, p. 34-53, que os problemas da interpretação do Pentateuco estão intimamente ligados aos problemas mais amplos da reconstrução da história de Israel e da história de sua religião.
A História de Israel que você acompanhará nas páginas seguintes procura levar em consideração tudo o que foi dito até aqui, que, como o leitor verá, é parte de um artigo publicado neste mesmo site. Mas, como era de se esperar, ainda não existe consenso sobre muitos dos temas tratados. Por isso, o texto seguirá um esquema moderado: mostrará perspectivas já assentadas e também informará o leitor sobre os novos questionamentos.
Além disso, e exatamente por isso, é altamente recomendável que o interessado leia, além do texto da História de Israel, outros textos que complementarão o que está sendo tratado aqui. Quase todos estão neste mesmo site. E oferecem bibliografia atualizada, especialmente em inglês, sobre os novos paradigmas. É só clicar nos links abaixo:
DA SILVA, A. J. A História de Israel no Debate Atual. Artigo na Ayrton's Biblical Page.
DA SILVA, A. J. Pode uma 'História de Israel' ser Escrita? Observando o debate atual sobre a História de Israel. Artigo na Ayrton's Biblical Page.
DA SILVA, A. J. História de Israel 2011: o pouco que sabemos. Post publicado no Observatório Bíblico em 14 de janeiro de 2011.
DA SILVA, A. J. Resenha de DAVIES, P. R. In Search of `Ancient Israel'. London: T & T Clark, [1992] 2005, 166 p. - ISBN 9781850757375.
DA SILVA, A. J. Resenha de GRABBE, L. L. (ed.) Can a 'History of Israel' Be Written? London: T & T Clark, [1997] 2005, 208 p. - ISBN 0567043207.
DA SILVA, A. J. Resenha de GRABBE, L. L. (ed.) Leading Captivity Captive. 'The Exile' as History and Ideology. Sheffield: Sheffield Academic Press, 1998, 161 p. - ISBN 9781850759072.
DA SILVA, A. J. Apresentação de FINKELSTEIN, I.; SILBERMAN, N. A. The Bible Unearthed. Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts. New York: The Free Press, 2001, xii + 385 p. - ISBN 9780684869124 - Hardcover; ISBN 9780684869131 - Paperback, 2002.
DA SILVA, A. J. Resenha de FINKELSTEIN, I.; SILBERMAN, N. A. The Bible Unearthed. Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts. New York: The Free Press, 2001, xii + 385 p. - ISBN 9780684869124 - Hardcover; ISBN 9780684869131 - Paperback, 2002 (Em português: A Bíblia Não Tinha Razão, São Paulo, A Girafa, 2003).
DA SILVA, A. J. Apresentação de LIVERANI, M. Para além da Bíblia: História antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008, 544 p. - ISBN 9788515035557.
DA SILVA, A. J. Apresentação de LONG, V. P. (ed.) Israel's Past in Present Research. Essays on Ancient Israelite Historiography. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 1999, xx + 612 p. - ISBN 9781575060286.
DA SILVA, A. J. A história de Israel na pesquisa atual. In: FARIA, J. de F. (org.) História de Israel e as pesquisas mais recentes. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 43-87 - ISBN 8532628281, sendo esta obra uma ampliação da revista Estudos Bíblicos, Petrópolis, 2001, n. 71.
DA SILVA, A. J. O Pentateuco e a História de Israel. In: TRASFERETTI, J.; LOPES GONÇALVES, P. S. (orgs.) Teologia na pós-modernidade. Abordagens epistemológica, sistemática e teórico-prática. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 173-215. - ISBN 853561110X.
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Nota sobre John Bright e sua História de Israel
John Bright (1908-1995) lançou uma 3a edição de sua História de Israel em 1981. Poucas mudanças foram feitas. O autor atualizou o livro quanto a algumas descobertas arqueológicas e mostrou-se mais prudente nas afirmações sobre a historicidade de certos acontecimentos e personagens bíblicos. Mas manteve, basicamente, as posições da 2a edição. Diz o autor, no Prefácio da 3a edição, que, em muitos pontos onde anteriormente havia certo consenso, hoje há um verdadeiro caos de opiniões conflitantes. E cita, como exemplo, a questão das origens de Israel e a data e historicidade dos patriarcas. Uma 4a edição do livro foi lançada, após a sua morte em 1995, com uma Introdução e um Apêndice de William P. Brown, no ano 2000, pela Westminster John Knox Press (cf. também na Amazon.com). A tradução brasileira desta 4a edição foi publicada pela Paulus no final de 2003, como a 7a edição, revista e ampliada a partir da 4a edição original. Bright foi, até a sua morte, Professor de Hebraico e de Interpretação do Antigo Testamento no Union Theological Seminary, Richmond, Virginia, USA. Uma resenha da 'História de Israel' de Bright, focalizando especialmente a 4a edição, feita por Ludovico Garmus, pode ser lida na revista Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 69, p. 90-93, 2001.
Fonte: http://www.airtonjo.com/historia03.htm
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