Rodrigo Constantino
O risco de virarmos uma grande Argentina
O plebiscito bolivariano
Caiu a ficha?
Embraer é empresa do ano
O ódio à Globo
Encontrei a vítima de Battisti
Beautiful People e seus micos amestrados
A Fiesp é vermelha
A bolha imobiliária vai estourar?
Acorda, Eliane: o PT é pior que os outros!
Mais tarifas aéreas? Sério?
Trem-bala: o tiro de misericórdia
Gasparzinho, o fantasma camarada
O risco de virarmos uma grande Argentina
Posted: 02 Jul 2013 05:19 PM PDT
Rodrigo Constantino
Deu no Valor: País é diferente da Venezuela, diz Mailson
Crítico da política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff, Mailson da Nóbrega, ministro da Fazenda entre 1988 e 1990, defende que o investidor considere disputar os leilões de infraestrutura em andamento e não "simplesmente saia correndo". "É possível provar que o risco de o país trilhar o caminho argentino ou venezuelano é muito baixo. O Brasil se destaca pela qualidade de suas instituições", diz.
Mailson é sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, que firmou uma parceria com o Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) e a Inter.B para prestar assessoria a empresas no segmento de concessões. Em entrevista ao Valor, ele não deixa de contestar o modelo de leilão elaborado a partir do governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2010), que prioriza menores tarifas. "O ideal seria que o governo revisse a questão da modicidade, mas duvido que isso aconteça."
Além disso, ele acredita que deveriam ser buscadas taxas de retorno mais atraentes ao mercado. O governo ainda pode receber pedidos de grupos privados por melhorias na atratividade dos projetos, diz. "Os investidores sabem lidar com situações como essa, seja demandando rentabilidade maior ou reduzindo participação a alguns projetos em específico", afirma.
Mesmo assim, ele acredita que haverá participantes em todos os projetos. "A tendência é que, exceto no caso do trem-bala [no setor, há dúvidas sobre a viabilidade do projeto], todos os leilões tenham participantes e tenham vencedores. Não tenho dúvida disso. O que se pode discutir é se serão os ideais", afirma. Segundo ele, a percepção sobre a presença de interessados é ainda mais forte no caso de rodovias e aeroportos - segmentos em que há forte concorrência. Em ferrovias, ele diz ainda haver dúvidas sobre o modelo.
Mailson ressalta que os projetos levados ao mercado são de longo prazo, e que isso deve ser considerado pelo investidor estrangeiro como um forma de se obter experiência. "Ter um pé aqui dentro, ainda que em uma ou duas concessões, é perceber as tendências do país, é avaliar. Então, ficar de fora pode significar estar fora por muito tempo, porque outros vão entrar", diz.
Comento: Ler Maílson da Nóbrega é sempre importante. O "economista do ano" (Maílson foi agraciado com este prêmio pela Ordem dos Economistas Brasileiros recentemente) merece todo o meu respeito, e tem feito ótimas análises em sua coluna da revista VEJA. Nessa reportagem do Valor, ele levanta bons pontos também. O Brasil não é a Argentina, e tem instituições mais fortes. Mas...
Isso pode mudar, e passaremos pelo grande teste justamente nos próximos meses. O Brasil tem outra dimensão, maior pluralidade, muitos grupos de interesse organizados, e tudo isso dificulta um golpe bolivariano, sem dúvida. Mas desconfio que nossas instituições não são tão sólidas assim.
Temos um Congresso de péssima qualidade (alguém achou graça na eleição do palhaço Tiririca?), sob um sistema político confuso que perde credibilidade a cada dia. O clima de revolta difusa nas ruas, "contra tudo isso que está aí", cai como um raio sobre esta fundamental instituição da República, que é a democracia participativa. São legendas de aluguel, não partidos de verdade.
O pior de tudo, em minha opinião, é a total ausência de uma oposição legítima e organizada. Isso simplesmente não existe. O DEM quase sumiu, e o PSDB é bem menos pior que o PT, sem dúvida, pois o ranço autoritário da esquerda carnívora, leia-se bolivariana, não se faz presente. Ainda assim, é uma "oposição" tímida, envergonhada, sem convicção em um modelo alternativo de fato, com menos intervencionismo e mais liberal.
Restam o Judiciário e a imprensa. Sim, até aqui o STF se mostrou uma força republicana razoável. Mas assusta a presença de alguns ministros que mais parecem petistas disfarçados, assim como não soa nada bem o discurso de "escutar as ruas"; o STF é o guardião da Constituição, e esse é seu papel precípuo. Enfim, não há garantias de que este fundamental poder está realmente blindado contra a tentação bolivariana.
Por fim, temos a heróica imprensa independente, aquela que os golpistas chamam de "mídia golpista". Ela tem feito um papel importantíssimo para impedir esses avanços chavistas, mas até que ponto conseguirá resistir aos insistentes ataques sob o manto de "controle social" é uma incógnita.
Falta falar que o Bolsa Família se transformou no maior programa de compra de votos da história deste país. Isso representa constante ameaça à democracia, pois o governo pode sempre fazer terrorismo eleitoral afirmando que o concorrente vai acabar com a festa. Tivemos uma idéia do que isso acarretaria quando o próprio governo fez uma tremenda confusão e permitiu que o boato de fim da mesada circulasse.
Juntando isso tudo, receio que eu não consiga compartilhar da mesma tranqüilidade de Maílson. Nosso destino não é certo, nossa evolução não é garantida, e o risco de virarmos uma grande Argentina não é tão desprezível assim. A Argentina, não custa lembrar, contava com uma classe média razoável e mais educada que a nossa, e uma imprensa livre também. Não suportou as sucessivas crises econômicas e o populismo do casal Kirchner.
Se nossa crise se agravar nos próximos meses, como eu acredito que vá ocorrer, nossas instituições democráticas estarão em perigo. O teste para valer será agora. Espero que Maílson esteja certo em sua confiança. Mas creio que o veredicto ainda não foi dado...
O plebiscito bolivariano
Posted: 02 Jul 2013 03:40 PM PDT
Rodrigo Constantino
O PT é muito cara-de-pau. A presidente Dilma aproveita-se do momento de manifestações nas ruas e tenta não só se apropriar deles, como se fosse uma rainha da Suécia recém-chegada ao Brasil, e não parte relevante do governo que está no poder há mais de uma década, como desenterra projetos antigos de seu partido fingindo que são puro reflexo do momento atual.
Após falar em Constituinte e sofrer forte reação, tendo que voltar atrás em menos de 24 horas, a presidente lançou a idéia do plebiscito que, como Reinaldo Azevedo já mostrou, era parte dos planos partidários desde 2007, pelo menos. Agora ela envia para o presidente da Câmara seu pedido, argumentando:
Antes ela queria mudar a Constituição, agora ela pensa que plebiscito é a melhor escolha dentro da Constituição. Não é! A desculpa esfarrapada da presidente é que pelo plebiscito o povo participará de forma mais ativa, inclusive com "ampla discussão". Falso. O plebiscito, ainda mais feito às pressas, reduz tudo a uma escolha simplista, sem o devido debate ou compreensão popular. Em poucos meses o povo vai compreender vantagens e desvantagens do voto distrital ou do voto em lista?
Além disso, quem faz as perguntas detém um poder desproporcional em um plebiscito. A forma com a qual ela é feita faz toda diferença. Por isso os governos bolivarianos, inspirados no falecido Hugo Chávez, adoram essa forma de governar. A "democracia direta" é o meio mais adequado ao populista. E é exatamente isso que o PT almeja, como Dilma deixa claro no pedido de plebiscito:
O que o PT deseja com esse plebiscito é sabido já. Alguns especularam se a presidente seria explícita ou não ao solicitar o que é para ser perguntado, ou se deixaria isso a cargo do Congresso. Mas ela já mostrou logo a que veio:
E esse trecho do item b:
É isso que quer o PT: financiamento público de campanha e voto em lista fechada partidária. Essas mudanças favorecem seu partido, pois o PT costuma receber mais votos partidários do que pessoais, uma vez que tem uma legenda forte, organizada e centralizada. Essas mudanças fortalecem os caciques partidários, o voto de cabresto.
O financiamento público de campanha representa simplesmente aumentar ainda mais o gasto dos pagadores de impostos com o processo eleitoral, gastos que já existem e são enormes (via horário "gratuito" etc). Alguém realmente acha que o financiamento público vai eliminar o caixa dois, o toma-lá-dá-cá da política? Piada de mau gosto!
A conta é paga de um jeito ou do outro. O que torma o esquema de corrupção tão atraente é o gigantismo estatal. Com um governo centralizador controlando quase 40% do PIB, é óbvio que vários empresários vão se aproximar como moscas do mel. O que o Brasil precisa é reduzir o tamanho do estado, para tornar o poder financeiro do presidente e dos políticos menor. O resto é discurso oportunista para enganar inocente útil.
Em suma, o PT está se aproveitando das manifestações nas ruas para resgatar seu projeto bolivariano de "democracia direta" e emplacar as medidas que o fortaleceriam vis-à-vis os demais partidos. É isso, e só isso. Acorda, Brasil!
Caiu a ficha?
Posted: 02 Jul 2013 02:55 PM PDT
Rodrigo Constantino
Deu no Globo: Ibovespa fecha em queda de 4,24%
O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), teve um dia de perda expressiva, provocado por perspectiva de crescimento menor da economia brasileira, pelo tombo das ações do Grupo EBX e por um movimento mais forte de venda de ações por investidores estrangeiros. O índice se desvalorizou 4,24% aos 45.228 pontos, puxado por blue chips como Vale, Petrobras e OGX. É o menor patamar da Bovespa desde 22 de abril de 2009. O volume negociado no pregão foi de R$ 8,7 bilhões. Somente duas ações terminaram o dia em alta: os papéis ON da B2W Digital, com alta de 6,64% a R$ 6,75 e os papéis ON da Dasa, com valorização de 2,14% a R$ 11,95.
No mercado de câmbio, o dólar voltou a ganhar força frente ao real, seguindo o movimento da divisa no exterior em relação a outras moedas. A moeda americana fechou em alta de 0,85% sendo negociada a R$ 2,248 na compra e R$ 2,250 na venda. É o maior valor do dólar desde 20 de junho, quando a moeda americana fechou em R$ 2,258. Na máxima do dia, a moeda americana atingiu R$ 2,255, enquanto na mínima foi negociada a R$ 2,235. Apesar da alta, não houve intervenção do Banco Central para frear a escalada da moeda.
Comento: Agora parece que a ficha caiu de vez (e demorou, né?). Os investidores, principalmente os estrangeiros, estão apavorados com a incompetência do governo, com sua negação da realidade, com sua reação totalmente absurda diante dos desafios que o país enfrenta, em boa parte devidos justamente aos erros do modelo econômico desse governo. Cabeças não só não rolam, como ocorreria no setor privado, como aparecem na imprensa para reforçar as idéias erradas, para insistir em um diagnóstico fantasioso que não engana mais nem mesmo um petista.
O inverno chegou para o Brasil. Em parte fruto do ciclo das estações financeiras mundiais; mas em boa parte, pelas próprias burradas do governo, que fez tudo errado, que não só não se preparou para a chegada do inverno, como colocou todos com sungas e biquínis na rua, vendendo a ilusão de que o verão era eterno.
Crédito farto, estímulos, gastos públicos crescentes, taxa de juros artificialmente reduzida, tudo isso com os aplausos de economistas da USP, de Delfim Netto, de "intelectuais" e até de empresários oportunistas. Deu nisso. O brasileiro médio nem sabe o que lhe aguarda ainda. Afinal, o mercado financeiro vem antes. O desemprego ainda está nas mínimas históricas, a inadimplência ainda não subiu e o crescimento do PIB é baixo, mas positivo por enquanto. Vai continuar assim?
O tempo dirá. Mas, como venho alertando faz tempo, o modelo era insustentável e o cenário conjuntural permitiu que muitos esqueletos fossem escondidos. Não mais. O cobertor é curto, e o governo, para resolver um problema, terá de criar outro - ou vários outros. Isso tudo em meio à convulsão social, com manifestações constantes nas ruas, e um clima político cada vez pior. Argentina?
Bom, ainda dá tempo de colocar esses petistas para fora do governo e evitar tal destino. A ficha para os investidores já caiu. E a sua?
Embraer é empresa do ano
Posted: 02 Jul 2013 12:26 PM PDT
Deu na Exame: Embraer é a Empresa do Ano de Melhores e Maiores 2013
A Embraer foi apontada a Empresa do Ano da edição especial Melhores e Maiores de EXAME 2013. O prêmio foi entregue nesta segunda-feira, em cerimônia na Sala São Paulo e foi recebido pelo presidente da companhia, Frederico Curado.
O prêmio assinala a capacidade de a Embraer crescer em um mercado altamente competitivo e de pesado investimento em tecnologia – o de fabricar aeronaves. O resultado de sua estratégia pode ser medido em números.
Entre as maiores exportadoras do Brasil, por exemplo, a Embraer foi a que mais cresceu no ano passado, com 4,9 bilhões de dólares exportados – uma alta de 17,6% sobre o ano anterior. Como comparação, a Cargill, que apresentou a segunda maior taxa de expansão de exportações, cresceu 3,1%.
Plano de voo
Uma das estratégias da Embraer para crescer foi diversificar sua linha de produtos. Em 2004, por exemplo, 82% de sua receita vinha da aviação comercial. Agora, esse segmento representa 67%. Os jatinhos executivos ampliaram sua fatia para 27% das vendas, enquanto os negócios de Defesa já respondem por 17%.
Com isso, a Embraer evitou também concorrer com a Boeing e a Airbus, as duas maiores fabricantes de aviões do mundo, que fornecem aparelhos maiores. Com 6,1 bilhões de dólares em receitas no ano passado, a Embraer é a quarta maior companhia do setor no mundo, atrás de sua principal concorrente, a canadense Bombardier, que faturou 8,6 bilhões.
Comento: Alguém consegue imaginar o mesmo resultado se a empresa ainda fosse estatal? Na época estatal, a Embraer fabricava os "tucanos" e dava prejuízo de $ 400 milhões por ano! Após a privatização, com o mecanismo de incentivos mais adequado, com o escrutínio de sócios preocupados com a rentabilidade, com o alinhamento de interesses entre funcionários e acionistas, todos dependendo do sucesso da empresa para ganhar mais e sobreviver, a Embraer despontou.
Eis aí o resultado disso: emprega muito mais gente, recolhe muito mais impostos, atrai muito mais divisas para o país, e garante uma aposentadoria muito melhor para todos que investem em suas ações, via fundos de pensão ou diretamente. Quem perdeu? Talvez alguns políticos, sindicalistas e funcionários acomodados. E só. Privatize Já!
O ódio à Globo
Posted: 02 Jul 2013 12:09 PM PDT
Rodrigo Constantino
"O mesmo sujeito que diz que a Globo manda no Brasil tem certeza de que ela é contra o partido do governo que está no terceiro mandato presidencial consecutivo; vai entender." (Alexandre Borges)
Não tenho procuração para defender a Rede Globo, até porque ela não precisa disso. Tampouco o fato de eu ser colaborador quinzenal do jornal O Globo impediria uma análise imparcial: felizmente, eu não dependo da módica quantia - padrão do mercado - que um artigo recebe para sobreviver.
Portanto, considero-me bastante isento para julgar. Eu praticamente não vejo televisão (alguns perguntam como encontro tempo para ler tanto, e eis a resposta). Quando vejo, confesso não gostar muito do conteúdo. Sim, as novelas possuem um padrão elevado de qualidade de produção. Mas a mensagem quase sempre bate de frente com os meus valores (já notaram que quase todo empresário é canalha ou infeliz?). Eu prefiro, como diversão, filmes.
Por isso acho curioso o verdadeiro ódio patológico que a TV Globo desperta na esquerda radical (que, com certeza, deve ser espectadora com freqüência muito maior que a minha de seus programas). A Globo, para essa gente jurássica, tornou-se o ícone do Satã capitalista, que engana as massas e controla o país.
A frase da epígrafe, de meu amigo Alexandre, expõe com clareza essa contradição: eles acusam a Globo de possuir um poder quase onipotente sobre as mentes dos brasileiros, mas logo depois acusam a mesma Globo de fazer parte da tal "mídia golpista". Cara-pálida, as facas Ginsu conseguem ou não cortar as meias Vivarina? Para quem não tem idade suficiente ou boa memória, as facas Ginsu cortavam "tudo" nos comerciais, e as meias Vivarina não rasgavam por "nada" nos comerciais. Eis o impasse...
Ou a Globo é tão poderosa quanto dizem e não tem nada de golpista contra o PT, que está no poder há mais de década, ou ela não tem tanto poder quanto afirmam. Não dá para ser A e Não-A ao mesmo tempo. Questão de lógica elementar. Mas vai falar em Aristóteles com essa turma, leitora de orelha de panfletos marxistas...
Ironicamente, não é só da esquerda jurássica que vem esse ódio todo à Globo; ele vem de ala da direita também. Tem a turma "de cá" que, preservando ao menos a lógica, parte da premissa meio conspiratória de que a Globo tem esse poder incalculável que dizem, e que ela é governista, ou seja, defende o PT.
Já eu, cá em minha solidão, prefiro crer que a Globo tem bastante poder de influência, especialmente cultural e no longo prazo, mas que ele é bem menor do que o alegado (recomendo "A Nascente", de Ayn Rand, onde o controlador do sindicato, Toohey, exercia mais poder que o proprietário do jornal), e que ela não é petista nem anti-petista.
A Globo abriga valores e interesses conflitantes, tem que jogar o jogo do poder (até porque concessão, nesse país, vem do estado), mas não toma claro partido nem de um lado, nem do outro (como toda mídia mainstream, há um viés esquerdista, mas isso se deve mais ao perfil do staff mesmo - recomendo "Bias", de Bernard Goldberg).
E quanto ao conteúdo condenável, eu prefiro apontar para o verdadeiro culpado: o nem tão respeitável público! É que algo me diz que, se em horário nobre, a Globo resolvesse passar um documentário sobre a importância do pensamento político e filosófico de Isaiah Berlin em vez de Big Brother Brasil, o espectador iria trocar de canal, com seu poderoso - esse sim! - controle remoto.
Vamos odiar menos a Globo, e mais a baixa cultura de nosso povo. Vamos atacar menos o mensageiro, e escutar melhor a mensagem. Que tal?
Encontrei a vítima de Battisti
Posted: 02 Jul 2013 11:00 AM PDT
Carta enviada por Paulo Boccato para diversos jornais. Se eles não publicam, eu publico!
Por uma dessas estranhas coincidências do destino, ao passar agora minhas férias em Roma, na Itália, e comprar bilhetes de trem para Florença, na Estação Termine, encontrei a pessoa de Alberto Torregiani, o filho do joalheiro da cidade de Milão assassinado por Cesare Battisti e seu bando criminoso e cujas balas também o colocaram para sempre em uma cadeira de rodas.
Tendo lembrando de mim e de nossas trocas de e-mails quando não só eu mas tantos outros brasileiros, de origem italiana ou não, tentamos ao seu lado forçar o nefando governo Lula a negar asilo a este terrorista, me disse ele com lágrimas nos olhos: "Mas como um povo tão bom e humano como o povo brasileiro pode permitir que seu governo proteja este terrorista? O Brasil não deve ser um refúgio seguro para terroristas!"
Se o senhor Ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, tiver um pingo de decência pessoal, moral e senso real de justiça, além de respeito pela gente brasileira, expulsará Cesare Battisti do Brasil para que cumpra sua justa sentença na Itália, pois ele entrou em nosso País usando documentos e carimbos falsos, como assim decidiu a quinta turma do STJ, o que pela lei inviabiliza sua concessão de asilo e anula seu status de "refugiado"! Os brasileiros agradeceriam, pois, assim como eu, diante daquele homem em uma cadeira de rodas, não mais se sentiriam tão envergonhados em nome do nosso País!
Beautiful People e seus micos amestrados
Posted: 02 Jul 2013 02:58 PM PDT
Rodrigo Constantino
Considero João Pereira Coutinho, ao lado de Luiz Felipe Pondé, o melhor colunista da Folha, quiçá de todos os jornais. É sempre um prazer abrir a Ilustrada às segundas e terças-feiras e mergulhar na sabedoria desses dois. Hoje não foi diferente.
Em sua coluna "Amestrando proletários", Coutinho detona com precisão cirúrgica o movimento politicamente correto. O português desconstrói tijolo por tijolo a fachada do prédio oco, restando apenas a visão da arrogância hipócrita que jaz por trás dela. Vejamos os principais trechos:
O problema do pensamento politicamente correto é que ele nada tem de correto. Pior: na ânsia de impedir qualquer ofensa a grupos ou minorias, ele converte-se na mais grotesca ofensa que existe para esses grupos ou minorias.
[...]
Para os autores do guia, os alunos proletários são como certas espécies zoológicas que é necessário proteger em "habitat" adequado. E isso implica não os assustar e, logicamente, não os alimentar com doses arcaicas de conhecimento "burguês" e "reacionário".
Como é evidente, o pensamento politicamente correto das patrulhas parte de duas ideias profundamente ofensivas.
A primeira ideia é a defesa explícita de que alunos de famílias proletárias estranham e definham em ambientes eruditos. Sim, seria possível fazer uma lista de intelectuais gerados pelo proletariado --de Jack London a D.H. Lawrence-- que marcaram a história da cultura ocidental.
[...]
Mas é a segunda recomendação que impressiona pela sua evidente discriminação. Para as patrulhas, sempre que um aluno proletário abre a boca, é preciso ser condescendente para escutar as alarvidades que ele diz.
[...]
O que o pensamento politicamente correto produz não é difícil de imaginar: a perpetuação do estigma de alunos proletários e a impossibilidade de eles aprenderem alguma coisa (na universidade) para ascenderem social e economicamente (na vida profissional).
Quando se sai da universidade exatamente como se entrou, é preciso perguntar que mecanismo de atraso explica o resultado. Ironia: o atraso é promovido por aqueles que imaginam lutar contra ele.
[...]
O proletariado não existe. Os negros não existem. Os gays, as mulheres, os anões não existem.
O que existe são indivíduos diversos, com histórias ou interesses diversos. Haverá proletários que não gostam de livros. Haverá proletários que não vivem sem eles.
E haverá burgueses, genuínos burgueses, para quem ler, escrever e pensar são formas medievais de tortura. Conheço vários.
A caricatura do "proletário" como um jumento apedeuta diz mais sobre as patrulhas politicamente corretas do que sobre o proletariado que elas julgam defender.
[...]
O conhecimento verdadeiro não tem cor, sexo ou classe. E, quando tem, então não é conhecimento verdadeiro.
Um guia decente para uma universidade decente só precisava de duas mensagens: "bem-vindo" e "mostra o que vales". Nada mais.
O artigo, por si só, já foi um deleite enorme. Mas o grau de satisfação apenas aumentou devido ao fato de que, especialmente hoje, a coluna de Mônica Bergamo, pouquíssimas páginas antes, trazia um hilário "Cala a boca, Danny Glover" estampado.
É que o ator de "Máquina Mortífera", conhecido por seu ativismo comunista (ele é fã do ditador Fidel Castro), esteve no Brasil à convite da United Auto Workers (UAW), entidade sindical das mais esquerdistas. E ele foi homenageado com um jantar, oferecido pelos empresários Wilson e Tatiana Quintela. O ator Zé de Abreu, aquele amigão do outro Zé, o Dirceu, marcou presença também.
Ah, nada como a doce vida da esquerda caviar! Tom Wolfe já retratou isso com maestria em seu livro Radical Chic, onde essa "Beautiful People" é desmascarada sem dó nem piedade, e com muita ironia. Nada pior do que uma elite culpada. Ela deveria ler Coutinho, e refletir...
A Fiesp é vermelha
Posted: 02 Jul 2013 09:37 AM PDT
Rodrigo Constantino
Eu tenho dito e repito: quem tem Fiesp não precisa de USP! A cada artigo novo de Benjamin Steibruch, fica mais evidente que tanto faz se é ele, Delfim Netto, Beluzzo ou até o Mantega escrevendo: a mensagem é basicamente a mesma. O governo deve estimular a economia com mais gastos e redução dos juros. A receita "desenvolvimentista" dessa turma é a responsável pelos problemas atuais que estamos vivendo, mas eles fingem que nem é com eles...
Steinbruch reforça seu pedido por mais gasto na última coluna da Folha:
Não tenho a intenção de discutir as reivindicações dos manifestantes. Há, porém, na maioria delas uma clara demanda de aumento de gastos públicos. A suspensão do reajuste das tarifas de ônibus em muitas cidades, principal conquista do movimento até agora, assim como a melhoria do transporte, da saúde e da educação apontam nessa direção.
Não é necessariamente ruim essa demanda, ainda que ela se choque frontalmente com a austeridade fiscal cobrada hoje do governo. O gasto público, corretamente direcionado para investimentos e para áreas sociais constitui um propulsor da economia.
É verdade que, em meio à cacofonia das ruas, havia demandas esquerdistas por mais gasto público sim. Mas essa não é a principal bandeira das manifestações, que incluem ataques contra a corrupção e outros slogans de cunho moral. O que o povo pede são melhores gastos públicos, ou seja, um senso de prioridade diferente por parte do governo. Em vez de arenas bilionárias, mais metrô, por exemplo. Em vez de trem-bala, hospitais decentes.
Isso nada tem a ver com a bandeira keynesiana abraçada por esses economistas e empresários que celebram mais gastos públicos, pois isso estimularia a demanda agregada que, por sua vez, incrementaria a produção nacional e geraria mais emprego e renda. A crença nessa ilusão é justamente o que nos trouxe aqui, com contas públicas deterioradas e uma lamentável situação de estagflação: baixo crescimento e elevada inflação.
O empresário ainda tenta, imitando o próprio Lula, dar um jeito de concluir que essas manifestações todas são resultado do sucesso dos últimos anos. Ele diz:
Internamente, uma grande massa teve aumento de renda, aprendeu a gostar do país em que vive e se acostumou a ter orgulho de ser brasileiro - milhares de trabalhadores foram repatriados. Agora, essa massa quer mais. Quer infraestrutura, saúde, educação, transporte eficiente, combate à corrupção.
Patriotismo despertado pelo sucesso da economia, eis o resumo que faz Steinbruch do quadro atual. Eu discordo totalmente, claro. Aquele crescimento era artificial, insustentável, e a conta está chegando. Junte-se a isso a questão da corrupção escancarada e da impunidade, e temos um barril de pólvora. O PT plantou essas sementes podres, e agora está colhendo seus frutos.
Benjamin Steinbruch aplaudia a gestão antes, gostava do veneno que produziu os males, e agora se faz de desentendido, e demanda mais veneno ainda. Eu tenho dito e repito: quem tem Fiesp não precisa de USP. A Fiesp é vermelha.
A bolha imobiliária vai estourar?
Posted: 02 Jul 2013 08:56 AM PDT
Rodrigo Constantino
Deu na Folha: Ações de construtoras perdem até metade do seu valor em 2013
Empresas brasileiras de construção civil perderam até metade de seu valor de mercado no primeiro semestre do ano, em meio ao fraco crescimento econômico do país, à alta dos juros e a investidores mais avessos a risco.
Brookfield e MRV puxaram a fila, com quedas de 56% e 44%, respectivamente. A seguir veio a Gafisa, com queda de 39%, seguida por PDG Realty e Rossi, com quedas de 36%. No mesmo período, o Ibovespa caiu 22,5%.
Para analistas, o desempenho das ações reflete um misto de fatores conjunturais e específicos de cada empresa. A incorporadora Brookfield, por exemplo, revisou os orçamentos da sua carteira de projetos e ainda sofreu os efeitos de adequação a novas regras contábeis, avaliou a consultoria Lopes Filho.
A Gafisa vendeu o controle da Alphaville para a Blackstone e para o Pátria Investimentos, por R$ 2,01 bilhões em junho, em uma tentativa de animar o investidor com a redução do seu endividamento, mas não conseguiu. E ainda deixou alguns com a impressão de que pode não ter feito a escolha certa.
[...]
Comento: Será isso um indicativo de que nossa bolha imobiliária está prestes a estourar? Assumindo que o mercado financeiro procura antecipar as coisas, o que podemos observar é que há bastante pessimismo com o setor, e eventual risco de bancarrota de algumas empresas.
Enquanto o ciclo era de alta, turbinado pelo farto crédito público e também privado (mas mais público), as empresas "pedalaram" com vento de popa. Os lançamentos dispararam, o VGV (Valor Geral de Venda) de cada projeto ficou cada vez maior, fusões e aquisições ocorreram aos montes, o custo de capital caiu e, como o negócio é basicamente financeiro acima de tudo, as construtoras acumularam bilhões no balanço. Mas depois vêm os problemas...
O ciclo se inverte, o custo de capital começa a subir, as vendas travam, o crédito fica mais escasso, os esqueletos surgem nos balanços das empresas e os investidores acusam o golpe. É o inverno, e muitas empresas contavam com um verão quase eterno, confiando nos estímulos artificiais e insustentáveis do governo.
No meu artigo "Caixa de Pandora", para O GLOBO, assumi o papel de Cassandra e tentei fazer alertas pessimistas para tentar despertar a atenção de muitos agentes adormecidos e entorpecidos com a bolha. Muitos analistas sequer admitiam a existência da bolha, ou mesmo de uma "espuma". Pensaram que o Brasil tinha condições de expandir o crédito imobiliário a taxas de dois dígitos altos para sempre, pois partiam de base reduzida.
Qualquer apartamento de dois quartos e sala no Rio custando um milhão, e isso é normal? Sinto muito, mas não funciona assim. Não havia fundamentos sólidos para justificar tanto enriquecimento. E toda uma cadeia da felicidade foi abastecida por essa empolgação: bancos, construtoras, corretores, investidores em imóveis, proprietários etc. Mas dá para continuar assim?
O desempenho das ações do setor diz que não, e eu tendo a concordar. Até porque, se pararmos para pensar melhor, os ajustes nem começaram! O clima pode ser péssimo, a economia não cresce mais, e temos alta inflação. Mas o ciclo de ajuste da taxa de juros está só começando, e estamos em pleno emprego.
E se a taxa de desemprego começar a subir? O que acontece com a inadimplência? Como essas pessoas todas que assumiram dívidas de 20 ou 30 anos terão condições de honrá-las, com o preço de seus imóveis caindo? Eu sei, é um cenário assustador. Mas possível, se não provável. Melhor se preparar para o pior do que sonhar, sonhar, sonhar... e descobrir que vive um terrível pesadelo!
Acorda, Eliane: o PT é pior que os outros!
Posted: 02 Jul 2013 07:51 AM PDT
Rodrigo Constantino
Espanta-me como pode ainda ter formador de opinião que tenta vender a idéia de que o PT, após tantas lambanças e trapalhadas, é "apenas como os outros". Quando vejo esse tipo de discurso, confesso que sinto um forte cheiro de petismo no ar. Ele não é nada bom.
Eliane Cantanhêde, em sua coluna da Folha de hoje, solta essa: "Pode significar que eles [os jovens] estão jogando o PT no mesmo balaio dos demais partidos e de todo o resto. Fim do sonho". Como assim?
O PT, com sua bandeira da ética, conseguiu enganar muita gente sim, é verdade. Mas era somente isso: embuste! E aqueles que acreditaram nos sindicalistas e "intelectuais" eram inocentes úteis. Muitos, inclusive, cegos para inúmeros indícios já existentes bem antes da chegada ao poder central.
O Partido dos Trabalhadores era amigo dos piores ditadores comunistas no Foro de São Paulo desde 1990, defendia terroristas e guerrilheiros como os bandidos das Farc, fazia acordo com bicheiros e máfia do lixo, mamava nas tetas do estado por meio dos sindicatos, e sempre esteve do lado oposto às reformas que modernizaram o Brasil. Que sonho era esse?
Só se for o pesadelo bolivariano! Alguém realmente acha que a grande mancha no currículo do PT é o abraço entre Lula e Maluf? Nada disso! O mensalão é algo muito maior, e não se trata apenas de corrupção, mas sim de tentativa de golpe na nossa democracia. O caso de Celso Daniel ainda é muito mal explicado, eis outra sombra gigantesca que paira sobre o partido. E por aí vai.
Ou seja, só pode ser tática de defensor envergonhado do PT essa coisa de afirmar que o partido, agora, se manchou e ficou parecido com todos os outros. Que nada! O PT sempre foi manchado, e é muito pior que os demais! O PT é o que há de mais abjeto na política nacional. A ponto de fazer com que até o fisiológico PMDB pareça razoável como opção, para impedir um golpe bolivariano em nosso país.
O sonho dessa gente, Eliane, seria o pesadelo de todos os brasileiros. Chega disso! É preciso acordar para o que é o PT. Sonhos infantis custam muito caro, quando adultos bem grandinhos ficam encantados com eles também. Fora PT! E não me venham agora sonhar com o PSOL, por favor, que não passa de uma espécie de PT de ontem...
Mais tarifas aéreas? Sério?
Posted: 02 Jul 2013 07:04 AM PDT
Rodrigo Constantino
Deu no Valor: Aéreas questionam nova tarifa na Justiça
As empresas aéreas decidiram questionar na Justiça a cobrança da recém-instituída tarifa de conexão, que custará entre R$ 4,00 e R$ 7,00 e passa a ser cobrada no próximo dia 19. O presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, disse que as companhias querem uma forma mais transparente para informar aos consumidores do novo custo.
"Queremos deixar claro para o consumidor o que as companhias aéreas recebem dele pelos serviços que prestam diretamente", disse o representante de TAM, Gol, Azul e Avianca, também representadas pelo Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea). "O que buscamos é que se dê à tarifa de conexão o mesmo tratamento que já é dado à tarifa de embarque, que vem claramente destacada no bilhete aéreo e que é simplesmente arrecadada pelas empresas por uma questão de praticidade para ser então integralmente repassada ao operador aeroportuário".
Na sexta-feira, o Snea ingressou no Tribunal Regional Federal do Distrito Federal com ação declaratória que questiona a responsabilidade das empresas do setor quanto ao pagamento da recém-instituída tarifa de conexão. A tarifa de conexão foi criada pela Lei 12.648/2012. Ela ampliou a lista das tarifas aeroportuárias, definidas pela Lei 6.009/1973, que buscam remunerar operadores aeroportuários pelas áreas que disponibilizam e pelos serviços que prestam a diferentes clientes - companhias aéreas de transporte de passageiros e passageiros.
Segundo a Abear, a lei de 2012 foi integrada aos contratos fechados entre os aeroportos concessionados no ano passado, em Guarulhos, Viracopos e Brasília, e foi recentemente regulamentada pela Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) para que passe a ser cobrada nos aeroportos públicos a partir de 19 de julho.
"Pela atual redação da resolução, a tarifa será cobrada das empresas aéreas por cada passageiro em conexão, que é quem na verdade utiliza as áreas e serviços durante esses procedimentos. Isso certamente terá um impacto e é justo que esses passageiros saibam que qualquer variação não será imposta pelas companhias aéreas, que já lidam com altos custos operacionais e margens bastante apertadas", disse Sanovicz. "Não questionamos o direito dos operadores de serem remunerados pelos passageiros em conexão que utilizam os terminais, mas sim a forma como isso pretende ser feito". A Anac não se pronunciou.
Comento: É sempre a mesma história! O governo controla uma empresa ineficiente que, por conta disso, não tem recursos nem condições de investir em melhores serviços. Para compensar essa incompetência, o governo decide criar novas tarifas, ou seja, aumentar a receita na marra. Para piorar, ainda tenta fazer isso de forma dissimulada, ou seja, oculta, escondendo a tarifa no preço total cobrado pelas operadores privadas, que levam a má fama.
Saber exatamente quanto paga de tributos é um direito de todo cidadão. Discriminar no recibo quanto é imposto e quanto vai para a empresa que fornece o bem ou o serviço é algo crucial para a maior consciência dos pagadores de impostos. Somente agora isso está começando a ser feito no Brasil, algo que já é rotina nos Estados Unidos há décadas. Com o tempo, isso tem a função pedagógica de cidadania, ao deixar claro que boa parte do preço final vai para o governo.
Nossos aeroportos não foram capazes de acompanhar o ritmo de crescimento do tráfego. Isso se deve à falta de um mecanismo adequado de incentivos na Infraero. Estatais não dependem do lucro para sobreviver, e por isso não precisam agradar seus clientes. Sem lucratividade, faltam recursos para investimentos produtivos. A solução encontrada pelo governo foi criar mais tarifas, e jogar o fardo para as costas do usuário, utilizando as empresas como intermediárias para fugir da revolta. Típico...
A solução, aqui como alhures, é privatizar! Aeroportos privados sofrerão pressão dos usuários para oferecer melhores serviços, e não terão como alternativa a criação infindável de tarifas, como tem o governo. Será preciso reduzir os custos, tornando-se mais eficientes.
Os operadores privados de shopping center, por exemplo, resolvem as questões entre aluguel de espaço, serviços comuns e demais acordos com os lojistas de forma a buscar o melhor resultado coletivo, pois todos são parceiros no sucesso do empreendimento. Podemos imaginar um shopping center administrado por uma estatal: os serviços seriam péssimos, e novas tarifas seriam criadas a todo momento, prejudicando a rentabilidade de seus clientes e, portanto, o serviço prestado aos usuários.
É isso que ocorre com os aeroportos. A Infraero não tem nenhum interesse em ser mais eficiente e, portanto, mais lucrativa. E isso é um fardo para as companhias aéreas e, por tabela, para todos nós, usuários de seus serviços. Só tem uma saída: Privatize Já!
Trem-bala: o tiro de misericórdia
Posted: 02 Jul 2013 06:39 AM PDT
Rodrigo Constantino
Deu no Valor: Fazenda define em 7% retorno do investidor no trem-bala
O Ministério da Fazenda fixou em 7% a taxa interna de retorno (TIR) do Trem de Alta Velocidade (TAV), que vai ligar Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas. A decisão foi tomada na sexta-feira e será divulgada aos investidores nos próximos dias, mas ficou abaixo do esperado pelo mercado.
A nova taxa interna de retorno implica aumento da remuneração em relação ao projeto original do governo, em que os investidores receberiam 6,32% ao ano. Mas é um revés para o presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, que havia anunciado na semana passada que o trem-bala, como o projeto é conhecido, teria uma taxa de retorno entre 8% e 8,5%.
Segundo fontes ouvidas pelo Valor, a disputa no governo acabou vencida pelo secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que queria uma taxa mais baixa. Com isso, os investidores no trem de alta velocidade terão retorno abaixo das concessões rodoviárias, que tem remuneração de 7,2%.
[...]
Espanhóis, franceses e japoneses têm estudado com cuidado o projeto do TAV. Mas o interesse maior de cada um desses grupos é vender bilhões de dólares em equipamentos necessários à operação do futuro trem. Por isso, querem ter participação relativamente pequena na empresa que será constituída para gerir o empreendimento. A empresa contará com 45% de capital da própria EPL, além da possibilidade de ter os Correios como parceiro estratégico, com até 5% da sociedade.
Com a definição da TIR em um percentual menor do que esperavam investidores, o governo pode-se ver forçado a dar mais peso aos futuros "sócios estratégicos" de quem ganhar o leilão, como fundos de pensão. Eles podem entrar numa segunda etapa, após a vitória de um dos grupos.
Além do TAV, o governo também está revendo o processo de concessão dos 7,5 mil quilômetros de ferrovias que pretende oferecer ao setor privado.
Comento: Tudo parece errado nessa questão do trem-bala. Para começo de conversa, a enorme presença estatal. Se faz mesmo sentido esse meio de transporte, quem disse que a iniciativa privada não poderia fazer por conta própria? Sempre que o governo precisa mergulhar como grande sócio, é porque o projeto pode não ser economicamente viável, e outros interesses (políticos, eleitoreiros, corrupção?) estão em jogo.
Vale lembrar que nos Estados Unidos, empresários criaram linhas nacionais de ferrovias sem um tostão estatal, e o governo, quando entrava, era para burocratizar tudo, engessar as empresas, conceder subsídios e impedir a livre concorrência. A novela "A Revolta de Atlas", de Ayn Rand, mostra bem como isso funciona, e eu trato do assunto em capítulo do meu "Privatize Já" também.
Além disso, o governo petista tem essa mania de achar que pode decidir na marra cada detalhe da economia, incluindo os preços, o retorno dos investimentos etc. Ele pode decidir algo assim por decreto, claro, mas não pode controlar seus efeitos. Por exemplo: ao congelar um preço, ele acaba criando escassez e mercado negro. Ao decretar um retorno abaixo daquele exigido pelo mercado, ele acaba afugentando potenciais interessados, restando apenas poucos grupos (a menor concorrência reduz a chance de sucesso do leilão).
Esses grupos que restam podem participar do leilão com objetivos escusos, visando a compensar o retorno oficial menor com malabarismos, tais como encarecer a construção da obra que ficará a cargo de empresas do próprio grupo vencedor. Não custa lembrar que o projeto do trem-bala, que começou em poucos bilhões, já está estimado em uma montanha de dinheiro realmente absurda, podendo chegar a R$ 40 bilhões!
Isso tudo com enorme participação estatal, tanto pelo lado dos fundos de pensão que devem participar, como das estatais "convidadas" a entrar no leilão e o financiamento subsidiado do BNDES, sempre ele. Será que não existem outras prioridades para os recursos do governo? Será que essa multidão que tomou as ruas do país está demandando um trem-bala que ligue o Rio a São Paulo? Será que aumentar a malha do metrô nas capitais não é algo bem mais urgente?
O governo, ao insistir no projeto do trem-bala, demonstra ter ouvidos moucos às vozes das ruas. As arenas esportivas bilionárias, que são verdadeiros "elefantes brancos", representam uma das principais causas dos protestos. E o governo vai afundar mais algumas dezenas de bilhões do nosso dinheiro em um luxuoso trem-bala? É muito descaso com os pagadores de impostos mesmo. É o tiro de misericórdia para enterrar de vez qualquer resquício de bom senso dessa gestão do PT.
Gasparzinho, o fantasma camarada
Posted: 02 Jul 2013 06:05 AM PDT
Rodrigo Constantino
O governo de Portugal confirmou nesta segunda feira que Vítor Gaspar deixou o cargo de ministro de Finanças do país. Gaspar foi o autor do programa de ajuda de Portugal, no valor de 78 bilhões de euros.
De acordo com o jornal português Público, o presidente Passos Coelho, ao saber do pedido de demissão manifestou-se dizendo que "sublinha o elevado sentido de estado manifestado pelo doutor Vítor Gaspar no desempenho das suas funções, que exerceu em prol da defesa do interesse nacional durante um período de elevadíssima exigência para o país e sempre com espírito de total dedicação e lealdade".
O veículo informou que, em sua carta de demissão, Gaspar critica a falta de coesão interna do governo e assume "ter chegado a hora de sair da pasta das Finanças, depois de terminada a sétima avaliação da troica, aprovado o Orçamento Rectificativo e confirmada a extensão dos prazos dos empréstimos europeus a Portugal".
A pressão popular:
O transporte público em Portugal ficou praticamente paralisado nesta quinta-feira devido à convocação de greve geral de um dia feita pelas duas maiores centrais sindicais do país. A greve é um protesto contra as medidas de austeridade que resultaram em desemprego recorde e na pior situação econômica desde os anos 1970.
As centrais esperam que a quarta greve geral em dois anos pressione o governo a tomar medidas de incentivo ao crescimento e a relaxar o aperto de cinto que levou aos maiores aumentos de impostos vistos nos últimos anos.
"Esperamos uma participação importante dos trabalhadores, que enfraquecerá ainda mais o governo", disse Armenio Carlos, secretário-geral da Confederação Geral de Trabalhadores de Portugal (CGTP), um dos principais sindicatos do país, ligado ao Partido Comunista e que exige a renúncia do governo e a convocação de eleições legislativas antecipadas. A outra central sindical é a União Geral de Trabalhadores (UGT), vinculada ao Partido Socialista.
Os portugueses estão sofrendo com as medidas de austeridade, não resta a menor dúvida, e é compreensível a revolta popular. Dito isso, a solução não está em relaxar o aperto e partir para novas rodadas de aumento de gastos públicos, justamente a razão do problema. Gaspar virou símbolo de tudo que há de terrível na economia, incorporando a bandeira da austeridade, vista como pecado atualmente. Mas tal como o Gasparzinho do desenho animado, ele é um fantasma camarada: parece assustador, mas no fundo é seu amigo.
Recomendo aos patrícios a leitura do livro "Portugal na Hora da Verdade", de Álvaro Santos Pereira. O economista e Ministro da Economia e Trabalho coloca o dedo na ferida, quando diz:
Lamentavelmente, os nossos défices orçamentais são crônicos, persistindo quer em períodos de forte crescimento econômico, quer inclusivamente após a nossa adesão ao euro. Qual é o problema? O problema é que os défices têm de ser financiados e, mais cedo ou mais tarde, pagos. Por isso, uma das conseqüências dos défices orçamentais é fazer crescer a dívida pública de um país. No fundo, tudo se passa como num orçamento familiar: se continuarmos a gastar acima dos nossos rendimentos, a única maneira de mantermos os nossos gastos e hábitos de consumo é pedir emprestado. O mesmo acontece com o Estado: quando as receitas estatais (os impostos, etc.) são menores do que os gastos (isto é, quando há défice orçamental), o Estado tem de se endividar para suprimir a diferença. Ou seja, a dívida pública é a irmã gêmea dos défices orçamentais. E é exatamente isso que tem acontecido em Portugal: nos últimos anos, os défices orçamentais crônicos e crescentes têm feito aumentar substancialmente a dívida pública nacional.
A receita proposta é a típica liberal, mas que pode ser chamada de bom-senso da dona de casa também: cortar despesas e vender ativos (privatizar). Infelizmente, isso é muito mais fácil falar do que fazer. Como os ajustes necessários são muito dolorosos no curto prazo, a revolta popular cria um clima propício para as greves e a pressão de oportunistas de plantão com propostas milagrosas - e inviáveis.
Resta saber quem vai vencer esse cabo-de-guerra. Pelo visto, a ala que quer postergar o encontro com a dura realidade ganhou mais um round agora, com a renúncia do ministro Gaspar. Se mais batalhas contra o caminho da austeridade forem vencidas pelos socialistas e sindicatos, Portugal terá, no fim do dia, perdido a guerra, e o sofrimento será ainda maior no futuro.
PS: Lá, como cá, parece que alguns só conseguem levar as coisas na brincadeira, o que é uma lástima, pois a situação é realmente grave.
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