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    segunda-feira, 11 de junho de 2012

    I – ENTRE OS SAGRADOS CORAÇÕES E O ABISMO


    I – ENTRE OS SAGRADOS CORAÇÕES E O ABISMO

    Jesus e Maria, Sagrados Corações
    O católico sabe que todo bem, pessoal e social nesta terra é conforme a vontade de Deus.
    E esta vontade para o mundo está na Ordem trazida por Nosso Senhor Jesus Cristo.
    Ela manifestou-se com a inigualável Civilização Cristã.
    Num certo momento histórico ela começou a ser desdenhada. De modo especial quando a consciência coletiva foi submetida à grande tentação revolucionária de substituí-la com um evoluído e iluminado pensamento filosófico capaz de abater a Ordem cristã.
    Trata-se, como hoje é de fácil verificação, do período em torno do ano 1689 na França.
    Para reconhecer quanto esse momento histórico foi crucial para a sociedade e também para cada ser humano, lembramos os fatos centrais que se entendia então negar: que a vida no mundo é manchada pelo Pecado original da rebelião a Deus e que esta precisou do Sacrifício de Jesus Cristo para ser remida.
    O fato é que a rebelião pessoal transformou-se na história em Revolução universal.
    Aqui vamos, pois, voltar a falar do processo revolucionário que começava a inocular-se então na mentalidade dos povos, a par do sinal da vontade divina manifestada nessa hora da história humana para domá-lo.
    Em seguida vamos ver como a Igreja acolheu e cumpriu esse desígnio de ajuda de Deus, diante de um mundo cada vez mais contaminado pelas ideologias revolucionárias.
    Com isto poderemos atualizar a visão do curso dessa crise humana aos nossos dias,
    Esta tem sido a especial e constante ocupação deste sito.
    O ano crucial de 1689
    Isto é lembrado no artigo “O Segredo do Sagrado Coração de Jesus e Fátima” (PRM, 11.6.2010 ), sobre o culto do Coração de Jesus.
    Esta nobilíssima parte do divino corpo é símbolo do Amor infinito, dado para enfrentar o que afasta Dele, da sua Sabedoria os homens com as revoluções racionalistas.
    Trata-se do grande mal que passou a atormentar a humanidade e cujos efeitos tornam-se hoje devastadores porque o mal chegou a invadir e ocupar o lugar visível da Igreja.
    No estudo do historiador francês Paul Hazard o período entre 1680 e 1715 representa o momento de conjunção de novas atitudes mentais cujo conjunto conduziria à revolução para a fatal virada histórica. Seria a grande “crise da consciência européia”, vista pelo autor nos fins do reinado de Luís XIV.
    Dela o Papa Bento XV diria:
    “Desde os três primeiros séculos, durante os quais a terra ficou emprenhada pelo sangue dos cristãos, pode-se dizer que nunca a Igreja atravessou uma crise tão grave como aquela em que entrou no fim do século XVIII.”
    E também:
    “É sob os efeitos da louca filosofia resultante da heresia dos Inovadores e da sua traição que os espíritos saíram em massa dos caminhos da razão e que explodiu a Revolução, cuja extensão foi tal que abalou as bases cristãs da sociedade, não só em França, mas paulatinamente em todas as nações.” (A.A.S. 7/3/1917)
    De fato, só a revolução comunista, que estava para eclodir, ultrapassaria tudo isto.
    Note-se, porém, que seria inimaginável para Bento XV que os «valores» da «louca filosofia resultante da heresia dos Inovadores» iluministas, estariam no centro do plano conciliar (Vaticano 2) para serem inseridos no Catolicismo.
    Isto passou a ser explicado por prelados como Ratzinger como uma necessidade (v. entrevista com V. Messori) e hoje é pregado abertamente até para os muçulmanos (v. discurso 22.12.2006) por quem assumiu o nome de Bento XVI.   
    Vamos falar da conexão disto tudo com o Segredo de Fátima.
    Agora, porém, note-se que o estudo de Hazard é alheio a Fátima e a sua simpatia pela revolução do pensar é até criticada pelos escritores católicos como Jean de Viguerie e Xavier Martin. É uma questão histórica que explica uma crucial hora religiosa.
    A velha crise da consciência européia
    A Reforma foi a parteira dessa revolução européia e mundial que no fim do século XVII culminou na grande crise das idéias que dirige a vida social. A crise que começou na católica França é descrita por Paul Hazard (La crise de la conscience européenne, Paris, 1934). Nos basta aqui o seu prólogo:
    “Que contraste! Que brusca evolução! A hierarquia, a disciplina, a ordem garantida pela autoridade, os dogmas que regulavam a vida com firmeza: eis o que os homens do século XVII amavam. Sujeição, autoridade, dogmas: eis o que detestam os homens do século XVIII, seus imediatos sucessores. Os primeiros são cristãos, os outros anticristãos; os primeiros crêem no direito divino, os outros no direito dos homens; os primeiros vivem à vontade numa sociedade dividida em classes desiguais, os segundos sonham com a igualdade […]. A maioria dos franceses pensava como Bossuet; de repente, os franceses passam a pensar como Voltaire: é a revolução. […] Entra em cena Spinoza, cuja influência começava então a fazer-se sentir, Malebranche, Fontenelle, Locke, Leibniz, Bossuet, Bayle, Fénelon, só para mencionar os maiores e sem falar da sombra de Descartes, que ainda pairava. Estes heróis do espírito, cada um segundo o próprio gênio e caráter, ocuparam-se de repensar, como se fossem novos, os problemas que solicitam eternamente o homem: da existência e da natureza de Deus, do ser e das aparências, do bem e do mal, da liberdade e da fatalidade, dos direitos do soberano e da formação do estado social. Todos problemas vitais. Em que se deve crer? Como se deve agir? e despontava sempre a pergunta, que já se julgava definitivamente regulada: quid est veritas? Aparentemente, prolongava-se o Grande Século com a sua soberana majestade… Tratava-se de saber se havia que obedecer à tradição ou rebelar-se contra esta; se a humanidade poderia continuar o seu caminho confiando nos mesmos guias, ou se alguns novos chefes a fariam mudar para levá-la a novas terras prometidas. Os nacionais e os religionários, como dizia Bayle, disputavam uma luta que tinha por testemunho toda a Europa pensante.
    “Os sitiantes, pouco a pouco, levaram a melhor. A heresia já não se isolava nem escondia; ganhava discípulos, tornava-se insolente e presunçosa. A negação já não se mascarava; exibia-se. A razão já não era uma sabedoria equilibrada, mas uma crítica audaz. As noções mais comuns, do consenso universal que demonstrava Deus, dos milagres, eram agora objeto de dúvida. Transferia-se o divino para céus desconhecidos e impenetráveis; o homem, só o homem, permanecia como medida de todas as coisas… Era preciso, pensava-se, destruir o antigo edifício que havia abrigado mal a família humana e a primeira tarefa seria de demolição. A segunda seria preparadora dos fundamentos para a reconstrução da cidade futura… a constituição de uma filosofia que renunciasse a sonhos metafísicos… de uma política livre do direito divino, de uma religião sem mistério, de uma moral sem dogmas.
    “O afã era no sentido de forçar a ciência a deixar de ser um simples jogo do espírito para tornar-se decididamente um poder capaz de dominar a natureza. Através da ciência poder-se-ia conquistar uma felicidade sem equívocos. Reconquistando assim o mundo, o homem poderia organizá-lo para o seu bem estar, para a sua glória e felicidade futuras. Nestas linhas reconhece-se sem embaraço o espírito do XVIII século. Quisemos mostrar que as suas características essenciais vieram à luz muito antes de quando se julga; que este espírito encontra-se inteiramente formado na época em que Luiz XIV estava em pleno esplendor, que as suas características já eram patentes por volta de 1680, com quase todas as idéias que pareciam revolucionárias por volta de 1760 e até 1789. Ocorreu então a crise da consciência européia entre o Renascimento, do qual procede, e a Revolução francesa, que prepara. Não há nenhuma outra mais importante na história das idéias. A uma civilização fundada na idéia do dever, deveres para com Deus, para com o Príncipe, os novos filósofos procuraram sobrepor uma civilização fundada na idéia do direito; direitos da consciência individual, direitos de crítica, direitos da razão, direitos do homem e do cidadão.”
    O ponto central dessa revolução contra Deus
    Leão XIII, PapaO ensino dos direitos de Deus na “Tametsi futura” do Papa Leão XIII: “Do que tem sido chamado “direitos humanos” muito as pessoas já ouviram falar; que alguma vez ouça por fim falar dos “direitos de Deus”… e segue com a devoção ao Redentor.
    O crucial dessa revolução francesa, considerada aqui ‘a mais importante na história das idéias’, é sem dúvida o novo modelo mental colocado nas consciências.
    E a nova consciência, fundada na sua própria razão e ciosa de seus direitos, passará a travar uma luta entranhada à Fé. Vai servir, mesmo sem sabê-lo, a um novo «senhor».
    Este espírito já pairava, como ilustra Paul Hazard, perfeitamente articulado antes de ficar constituído o poder maçônico e cem anos antes da Revolução francesa.
    A revolução cultural apareceu depois com a filosofia idealista, o evolucionismo, o comunismo, o freudismo, Gramsci e a Escola de Frankfurt, etc. Poucos o perceberam no seu tempo, como depois aconteceu com o Modernismo. Só a Igreja o percebia.
    Quanto a entender a preciosa ajuda divina para evitar a revolução nas consciências, o Rei da França, talvez não a entendeu, mas certamente não a atendeu.
    Trata‑se de Luís XIV, da família Bourbon, que em 1689, quando estava com 50 anos e em pleno poder, recebeu, provavelmente através de seu confessor Père La Chaise SJ, o pedido de consagrar seu reino ao Sagrado Coração, pedido este transmitido a Sta. Margarida Maria Alacoque, que teve uma visão no mosteiro de Paray‑le‑Monial em 17 de junho daquele ano. Eis os termos iniciais:
    Faz saber ao filho primogênito de Meu Sagrado Coração que, assim como o seu nascimento temporal foi obtido pela devoção aos méritos de Minha santa Infância, do mesmo modo ele obterá seu nascimento na graça e na glória eterna pela consagração que fará de si mesmo ao Meu adorável Coração que quer triunfar sobre o seu, e por meio dele, sobre os dos grandes da terra”.
    Voltamos a esse fato histórico, conexo ao Rei de França, porque é misteriosamente ligado ao Segredo de Fátima, como o relatei (Entre Fátima e o Abismo, p. 28-30).
    Do mesmo modo, o ataque ao coração da Fé, planeado em vista dos pontos vulneráveis do homem moderno, já estava perfeitamente delineado um século antes de João 23.
    A ajuda do Sagrado Coração através de Maria em Fátima
    Neste mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus queremos lembrar como a profecia feita em 1917 em Fátima, que pede oração e penitência e faz a oferta de paz, indica a vontade divina de associar o culto ao Sagrado Coração de Jesus do Imaculado Coração de Maria, para resolver problemas humanamente insolúveis da Igreja e do mundo.
    São sinais extraordinários oferecidos aos homens para que evitem passagens históricas de conseqüências mais devastadoras que a Revolução francesa, engendrando as grandes guerras para a eliminação da Cristandade e a total degradação da humanidade.
    Conhecemos estas intervenções divinas e seus pedidos de consagração, através de almas simples e inocentes. Por exemplo o que relata a Irmã Lúcia sobre uma comunicação de Nosso Senhor, que talvez ela mesmo nunca tenha compreendido na sua importância.
    O padre Joaquim Maria Alonso OFM, estudioso de Fátima, cita em seu livro Fátima Ante la Esfinge a carta de irmã Lúcia a seu bispo, de 29 de Agosto de 1931, em que comunica as palavras de Nosso Senhor:
    “Faça saber aos Meus ministros que, como eles seguem o exemplo do Rei da França ao retardar a execução de Meu pedido, eles o seguirão na desgraça. Nunca será tarde demais para recorrer a Jesus e a Maria.”
    Essa terrível comunicação do Senhor a Seus ministros, pelas suas omissões em seguir o pedido de Fátima, consta também em outros documentos, como seja, no que descreve a comunicação íntima que irmã Lúcia teve:
    “Não quiseram atender ao Meu pedido! [de consagração]… Como o Rei da França, arrepender‑se‑ão e fá‑lo‑ão, mas será tarde. A Rússia terá já espalhado os seus erros pelo mundo, provocando guerras e perseguições à Igreja. O Santo Padre terá muito que sofrer.” (Documentos do P. A. M. Martins, Porto, p. 465)
    Comparação feita por Jesus entre reis do passado e papas recentes
    Eis o termo de comparação proposto pelo próprio Senhor, entre passados reis cristãos da França e papas de nossos tempos recentes.
    Ambos deveriam ser essencialmente executores dos desígnios de Cristo Rei e um destes havia sido expresso em forma de pedido tanto singelo e discreto como de ajuda necessária. Dependia da fé desses chefes reconhecê-los e cumpri-los para salvar seus reinos, que no caso dos papas, de Bento XV até Pio XII, para salvar o Papado da sua ocupação por quantos planejavam a abertura da Igreja ao mundo e aos anticristos.
    Essa abertura hoje é clara porque Bento 16 nem mais precisa esconder que a intenção do Vaticano 2 e a sua era introduzir no catolicismo os valores e direitos iluministas, cuja matriz pode ser reconhecida bem na descrição acima do escritor Paul Hazard.
    Note-se como essas idéias da centralidade do homem, de seus direitos, da «realidade subjetiva» do idealismo, hoje entraram em cheio no plano religioso através do Vaticano 2 e de seus profetas. Ouvimos e lemos estas idéias iluministas desde os tempos de João 23, através de teólogos, uma vez censurados que passaram a ditar a nova «consciência da Igreja» cujos «papas conciliares» a aplicam e difundem na operação ecumenista dos novos tempos. E estes estão aí com toda sua força de devastação mental e moral.
    Foram etapas planejadas por um poder secreto, material e pedagógico, que opera para o domínio do mundo com a mentalidade moderna, gerada por idéias e amores humanos, pluralista, como as vontades que mudam com as modas e cuja constante é a avidez do prazer e do domínio. Mas ela tende a pretender um supremo domínio mundial.
    Trata-se de substituir a Idéia tradicional, fundada na Transcendência, adaptando a Moral e a Religião à mentalidade contingente de cada época: o Modernismo.
    Para este a função da Igreja é de animadora espiritual da vida social e política num mundo que organiza a concupiscência para libertar o homem da visão da vida depois da morte; esta é central para a consciência cristã; eis a razão do mundo para abatê-la, ou pelo menos para revê-la e relegar a visão do Inferno a um vazio virtual.
    O antídoto à Revolução está na vontade e direitos dos Sagrados Corações
    Neste sentido este escrito vai continuar para mostrar o que o Papado fez para difundir o culto do Sagrado Coração em obediência à vontade de Deus e fidelidade ao Seu direito.
    Este foi dado num momento histórico que reforçava as razões religiosas de sinais divinos que pedem de devoções tanto pessoais como universais. Trata-se da posição diante do amor de Deus da consciência humana. E hoje sabemos que tudo isto se liga, tanto na sua oposição – que vai desde a revolução de 1789 na França ao 1958 no Vaticano – quanto na ajuda para a sua solução, que vai desde Paray-le-Monial a Fátima.
    De fato, foi em 1689 que ocorreu a incomparável intervenção do Sagrado Coração de Jesus, que envolve a história da França, da Europa e do mundo até hoje.
    Era a discreta manifestação da vontade de Deus para que um rei cristão pudesse conter males que estavam para se desencadear de modo violento na vida dos povos ao ponto de abrir a quem iria penetrar perfidamente até no Lugar santo de Deus (cf. II Ts 2).
    Veremos então como antes disso em Roma se acolhia o Desígnio de Consagração do Gênero Humano ao Sagrado Coração de Jesus em 1899, pelo Papa Leão XIII na Encíclica Annum Sacrum e aqui o início da Encíclica «Miserentissimus Redemptor» do Papa Pio XI sobre o «Ato de Reparação ao Sacratíssimo Coração de Jesus».
    “Nosso Misericordioso Redentor, depois de ter trazido a salvação ao gênero humano  na madeira da Cruz e antes de sua ascensão a partir deste mundo ao Pai, para consolar seus apóstolos e discípulos em luto disse: ” Eis que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo”. Estas muito agradáveis palavras são motivo de esperança e segurança, veneráveis irmãos, vem à memória facilmente todas as vezes que vemos, a partir desta alta cúpula da família universal humana aflita por tantos graves males e misérias, até mesmo a Igreja, atormentada sem trégua por assaltos e insídias. [...] Sempre, certamente, Nosso Senhor Jesus Cristo assistiu a sua Igreja; mas com ajuda mais válida proteção especialmente quando foi vítima de perigos e desgraças mais graves, dando justamente aqueles remédios que eram os mais aptos às condições dos tempos e das questões, com a sua divina Sabedoria que «chega de uma extremidade à outra com potência, e com suavidade dispõe tudo» (Sb 8, 1).
    Mas nem nos tempos que nos são mais próximos «encurtou a mão do Senhor» (Is 59, 1), especialmente quando erros se introduziram, e muito largamente se difundiram, de modo a fazer temer que fossem secadas de algum modo as fontes da vida cristã para os homens que se afastavam do amor de Deus e do seu convívio. E visto que alguns ignoram, outros descuidam dos lamentos que o muito amado Jesus fez a Margarida Maria Alacoque nas suas aparições, como também os desejos e vontades que manifestou aos homens, em verdade para a nossa mesma vantagem, queremos, Veneráveis Irmãos, entreter-Nos convosco para falar do dever que impõe de fazer reparação honrosa ao Sacratíssimo Coração de Jesus, com esta intenção: que cada um de vós ensine diligentemente o próprio grei quanto Nós vos teremos comunicado, e o leve a execução quanto estamos para ordenar.
    Publicaremos em seguida em português o «Ato de Reparação ao Sacratíssimo Coração de Jesus» disposto na Encíclica «Miserentissimus Redemptor do Papa Pio XI.

    FÁTIMA E O MISTÉRIO DO CRISTIANISMO DROGADO

    Tantum Ergo. Festa do Santíssimo Corpo do Senhor 
    Na Festa do Corpo de Deus: Ó bom Pastor e alimento verdadeiro dos que apascentas, ó Jesus, tende piedade de nós. Alimentai-nos e defendei-nos e fazei que mereçamos fruir da vossa glória na Terra dos vivos.

     Quando na Mensagem de Nossa Senhora de Fátima são apontados os erros que a Rússia espalhará pelo mundo, isto indica também o sofrimento da Igreja no esmorecimento das defesas do Cristianismo contra novos males, a fome de fé em escala mundial.

    Isto ficou claro no plano internacional com a Grande Guerra de 1914-18, então em curso, e a vitória da Revolução bolchevista na Rússia, para abolir a Cristandade.
    Mas para o plano interno, do Papa e da Igreja para o qual era dirigido o Segredo, ficou na forma condicional, de uma profecia secreta. Estava na terceira e última parte, que hoje se conhece como a visão da hecatombe papal e do seu inteiro séquito.
    Basta rever os “se fizerem”, e ver os outros “se”, para entender essas condições.
    Hoje, quando falar de Religião parece exercício inútil, há que lembrar ainda mais esta linha profética, porque contem os elementos vitais do curso da história segundo divinos desígnios para o bem humano; lembrar que a Profecia pode ser aviso que respeita toda a liberdade humana, sem exclusão da dos consagrados da Igreja que pensam saber qual seja a vontade de Deus hoje, ontem e sempre, mas nem reconhecem um Seu sinal.
    Nesse sentido, dediquei algumas páginas de meu livro «Entre Fátima e o Abismo» (de XXXI-III e 12-17) sobre o liberalismo que infetava a Igreja do Reino de Cristo.
    Essa pestilência depois reapareceu com a democracia-cristã, que completou a demolição promovendo a separação da Igreja do Estado e a abertura ao naturalismo e ao cientismo.
    Podem estes progredir no desconhecimento da origem e do fim da vida?
    Como tal conhecimento não pode ser deslindado por nós mesmos e nenhuma sabedoria humana pode provar o destino da alma, ele precisava ser revelado pelo Criador.
    Com isto, qual cultura humana universal, à busca de nossa origem, do que somos e para onde vamos, poderia ignorar essa voz posta nas consciências para nos guiar?
    Qual ciência poderia descobrir fonte equivalente para explicar-nos o sentido da vida?
    “Nenhum povo até hoje se organizou baseado nos princípios da ciência e da razão. Isto não ocorreu nenhuma outra vez senão num certo instante histórico, e por tolice.  Razão e ciência, hoje e desde o início dos tempos, só desempenharam funções secundárias e adjuntas; e assim será até a consumação dos séculos. Os povos se constituem e são movidos por uma força que os impele e rege, de origem desconhecida e conhecimento inacessível” – Os Demônios, Fedor Dostoievski).
    Mas os demônios revolucionários justamente queriam fazer esquecer o limite humano, até, ou especialmente na Igreja de Deus. E esta, como se viu estava sob ataque.
    Na era moderna, o orgulho humano tentou inventar o contrário do que os povos sempre creram naturalmente: a origem e o fim sobrenatural do ser humano.
    Assim, só criaram a anti-cultura da demolição religiosa sistemática segundo sofisticadas ideologias gnósticas e socialistas modernizantes.
    Em tempos recentes este movimento intelectual para uma reviravolta cultural com base «científica» avançou com a Escola de Frankfurt e o pensamento de Antônio Gramsci.
    Um reputado autor que descreve hoje esse processo em português é Olavo de Carvalho.
    Ele, porém, se dedica mais à análise política que à inoculação disso na Religião.
    Ora, Gramsci sabia que na Itália o comunismo podia avançar na crista de um crescente «modernismo cristão» e que “o socialismo é a religião que abaterá o cristianismo” (Audácia e fé, em Avanti! e Sotto la Mole, 1916-20, Einaudi, Turim, 1960). “A filosofia da praxis – é o nome com que Gramsci indica o materialismo dialético e histórico – pressupõe todo este passado cultural, o Renascimento e a Reforma, a filosofia alemã e a Revolução francesa, o Calvinismo e a economia clássica inglesa, o liberalismo laico e o historicismo que está na base de toda concepção modernista da vida. A filosofia da praxis é a coroação de todo este movimento de reforma intelectual e moral […]. Corresponde ao nexo: reforma protestante + revolução francesa [...]“.
    A idéia demo-cristã é essencialmente inversão da relação entre política e religião: o homem (a política) no lugar de Deus (a religião), contrapondo a religião do homem àquela de Deus: a «cultura» das aberturas políticas teve grande penetração com Gramsci, o ideólogo comunista do que fazer para chegar ao poder: fomentar a colaboração com a «democracia cristã» do Partido Popular demo-cristão Na data de cuja fundação escreveu (“Ordine Nuovo”, 2.11.1919): “O Catolicismo reapareceu à luz da história, mas bastante modificado e reformado [...]; os Populares representam uma fase necessária do processo de desenvolvimento do proletariado italiano para o comunismo. O catolicismo democrático faz o que o socialismo não poderia fazer: amalgama, ordena, vivifica e suicida-se”. O plano deste estrategista da filosofia da práxis era: “envolver os Católicos na colaboração conosco e depois liquidá-los” (Qc. Quaderni del carcere).
    Isto aconteceu com a política clerical do sucessor de João 23, João Batista Montini, futuro Paulo 6, sobre o qual vimos o que foi publicado do «Pacto Montini – Stalim».
    Como se vê a ideologia de Gramsci avançou com passos de gigante e galgou na esteira da «democracia cristã» até os píncaros do Vaticano conciliar de Paulo 6.
    Notória foi sua homilia «queixosa» a Deus por não ter atendido seu pedido para evitar o assassínio pelas Brigadas Vermelhas de seu amigo demo-cristão Aldo Moro, em vias de concluir o «compromisso histórico» com o comunismo para o governo da Itália.
    Essa escalada era o máximo que qualquer «revolução cultural» poderia imaginar.
    Mas será que os católicos, enredados por noções de um falseado «papismo», poderiam perceber que a «monarquia absoluta» da Igreja podia ser abusada para a promoção da nova ordem segundo os «princípios iluministas» dos últimos séculos?
    Apontamos Olavo de Carvalho como um reputado autor que analisa o processo político da anti-cultura. Quem o lê e ouve sabe que ele parte de uma base religiosa, até mariana, afim ao tradicionalismo católico, por exemplo de Corção. Por isto vale sempre a pena voltar a esse autor, que ataca as questões com inteligência, coragem e um vigor que não salva o linguajar, em que não faltam as mais caricatas obscenidades.
    Eu já lhe havia assinalado tempos atrás o que é preciso observar no aspecto religioso do gramscismo que aqui nos ocupa, isto é, que a chave de todo problema da sociedade civil têm sempre origem religiosa; vêm de cima! Mas parece que foi em vão.
    Olavo se tem concentrado na política americana e nesta, na ilegitimidade do Barack Obama, que para ser eleito falsificou documentos da própria identidade, certamente com a cobertura de ocultos centros do pensamento globalista, planejando o controle mundial.
    Assim, o grave problema, antes de ser da elegibilidade desse presidente, era do delito de falso ideológico. Mas o que dizer se isto acontece ao nível da autoridade papal?
    Não deveria ser ainda mais preocupante para um católico?
    O amigo Aruan Baccaro de Freitas meses atrás me assinalou que nosso Autor fez esse paralelo. Mas depois se viu que não implicava nenhuma contestação da autoridade religiosa que falsifica com sua nova doutrina a identidade do magistério católico.
    Foi pena, porque o mega problema permanece sem ser devidamente enfrentado já há mais de meio século, com as crises que, mesmo quando deixam de ser reconhecidas, são vividas, e não só no plano religioso, mas civil; não só na América, mas em Roma.
    Por isto penso que este autor deveria aprofundar a questão do falso ideológico religioso, de suma importância para todo o mundo, porque vai além da decadência do governo de qualquer país em particular, por maior que seja o seu peso.
    Ninguém se pode admirar, assim, quando hoje o mesmo Vaticano do Bento 16 prega um cristianismo globalista até numa encíclica! Ou recomenda aos islamitas uma adesão necessária ao iluminismo (22.12.2006). Isto já superou as fases precedentes de João 23 com sua abertura a um comunismo iluminado pela liberdade ao máximo nível – o religioso – que deu azo nada menos que a uma teologia de libertação! E não se diga que se trata de questões separadas, sendo esta última até criticada pelas cúpulas conciliares.
    Estas «autoridades» seguem a política dos pequenos passos, que no avançar abatem princípios católicos fundamentais como o da contradição de uma liberdade no erro.
    Tal evidência tem sido demonstrada desde há muitas décadas.
    Hoje ela revive com um ligeiro sobressalto devido a estudos de abalizados professores que acusam as pretendidas «hermenêuticas» de continuidade do Vaticano 2 (Gherardini), com a sua clara e deliberada ruptura «iluminista», com a Tradição.
    O mesmo Ratzinger falou do Vaticano 2 como o anti-Syllabus que adotou o principio da Revolução. Disse que “a Igreja se abriu às doutrinas, não nossas, mas provindas da sociedade”… sim, dos princípios de 1789, os Direitos do homem promovidos pela Igreja conciliar do V2 com a Dignitatis humanae sobre uma liberdade religiosa diante de Deus.
    Já se viu que esta invertia o que fora definido desde sempre pela Igreja com respeito ao direito à verdade; verdade não adaptável aos tempos e às ideologias, como quer o Modernismo e as novas culturas anti-cristãs.
    O «pensamento iluminista» de Bento 16 está na origem de seu globalismo
    Anti-papa Bento XVI na ONU
    Se um homem troca a realidade objetiva por uma idéia subjetiva, como sucede com o «filosofar» moderno, então a Fé católica na sua mente fica sem a orientação que, como para toda navegação, depende do real: da geografia, de estrelas, ou de todo sinal criado.
    A responsabilidade principal desse desastre das mentes modernas é atribuível a Kant, que elaborou a definição, hoje dominante, de uma «razão» ideal até em matéria religiosa, mas excluindo Deus do discurso racional: se a mente não pode saber nada do objeto senão o percebido pelos sentidos, então, concluía Kant, a mente é livre de estabelecer a realidade pela idéia derivada de aparências sensíveis, pelo fenômeno.
    E uma vez tido como impossível o conhecimento da realidade objetiva, se passa ao «possível» da idéia subjetiva como realidade, até «divina»!
    Ora, para o católico a realidade deriva de Deus e seu conhecimento não dispensa a Fé. Então essa idéia kantiana não é nem mesmo racional, mas sentimento segundo uma religiosidade alheia à razão, sem referência objetiva, mas subjetiva, pela qual todas as religiões se justificam e se equivalem. As conseqüências «filosófico-religiosas» dos seguidores do subjetivismo kantiano, pondo a idéia acima da realidade e o subjetivo acima do objetivo, são hoje tristemente constatadas no mundo e até na Igreja.
    Eis a grande inversão: a Palavra divina, conhecida pela Tradição escrita e oral e confiada à autoridade papal a fim de ser preservada inalterada, para a «nova teologia» de «papas conciliares», deve evoluir com a necessidade dos tempos.
    Assim, seria a «autoridade» dos novos tempos a ditar a Tradição e não a Tradição a definir esta autoridade que representa Jesus Cristo.
    A Palavra de Deus passaria a ser a variável na fórmula em que a «autoridade conciliar» seria a constante! Tudo como se o Papado não existisse para confirmar O Verbo, mas Este para seguir a evolução dos pensamentos de «papas modernistas» e autenticá-los!
    Foi a mentalidade da ruptura preparada «culturalmente» e que hoje é a norma da Igreja conciliar, com a agravante da hipocrisia, pois Bento 16 insiste, contra toda evidência, na sua «hermenêutica da continuidade»; engano que atrela quem lhe reconhece autoridade divina para implementar o governo da nova ordem mundial, ecumenista e anti-cristã.
    Nesse sentido diz o profeta Jeremias (17, 5): “Maldito o homem que confia no homem”.
    Uma «autoridade católica» não pode ministrar veneno com deliberadas ambigüidades contra a Fé, esta certeza pertence à mesma Fé. Seria um engano de aspecto «divino»!
    Mas o veneno foi e é ministrado há décadas com a marca conciliar do Vaticano 2.
    Os católicos sabem disto; no mínimo sabem que há graves questões que são acusadas e ficam sem resposta. Falo de católicos; outros já passaram felizes às águas conciliares.
    E tudo continua invertido e de pior em pior, devido a uma perigosa incongruência: o veneno é reconhecido, mas não os seus ministrantes coroados como «papas conciliares».
    A Igreja estaria desprovida de qualquer lei contra essa prevaricação sacrílega!
    Antes, os desviados de nossos tempos continuam em postos de honra como heróis que merecem até ser beatificados! A empulhação assume tom de ludíbrio metafísico!

    Pode-se então falar de um «sono católico» ou seria melhor usar o termo «catalepsia»?

    Este é um grave distúrbio, misterioso, que impede o doente de se movimentar apesar de continuarem funcionando os sentidos e as funções vitais de modo imperceptível.
    A pessoa parece uma estátua inerme de cera durante minutos, mesmo dias, podendo ver e ouvir o que acontece em volta sem reagir, nem mesmo ao próprio funeral.
    Seria uma tenebrosa manifestação de esquizofrenia ou de epilepsia sem convulsões?
    Como o que ocorre no mundo natural pode ser figura posta pelo Criador do ocorrente no mundo sobrenatural, representado na Terra pela Igreja, então em tempos terminais para a Fé, poderia se chamar «catalepsia católica» ao que se manifesta na realidade religiosa.
    Jesus deixou bem claro que a última perseguição se revestirá de um engano espantoso; que poderia perder até os escolhidos, não fora um despertar divino in extremis.
    Que cada um examine sua consciência católica, cujo «papismo» se não é para a Fé, passa a ser letal: para o Anticristo! Acolher falsos cristos e falsos profetas é engano que implica o imenso perigo de ser arrastado por eles aos abismos deste mundo e do outro!
    Pode-se escapar ao repúdio de Deus, que tudo vê, quem fica indiferente diante do ataque, por artífices da dopagem doutrinal que abala a Igreja e perde multidões de almas?
    Eis o mistério do interregno em que vegeta um cristianismo em profunda sonolência, cujos adictos não têm nem mesmo a desculpa da ignorância na Fé causadora do estado de torpor já acusado por São Pio X em 1905 (Carta Encíclica «Acerbo nimis»).
    Se alguém duvida da hora extrema que a Fé da Tradição vive, pense ao que acontece: Se até há vinte anos havia duas testemunhas episcopais remanescentes; o arcebispo Marcel Lefebvre, fundador da Fraternidade São Pio X e Dom Antônio de Castro Mayer na Diocese de Campos que, com a caridade de avisar os fiéis do atentado à Fé na própria Roma, resistiram à demolição da Ordem cristã. Agora que até essa precária resistência cai sob o poder dos «anticristos no Vaticano», quantos restam para honrar Cristo Rei e implorar a mediação da Mãe Imaculada?
    A «prova» do engano extremo de falsos cristos nos tempos finais é evangélica.
    O nosso tempo perverso não indica, talvez, que o ataque à Cristandade requer dos poucos católicos que restam fiéis, a dura prova do testemunho da Verdade a tempo e contratempo desde os tetos? Qual maior exame para a fé, esperança e caridade do Resto?
    S Pio X Procissão de Corpus Christi em Veneza
    S Pio X Procissão de Corpus Christi em Veneza
    Sobre esta necessidade premente, já no início dos males modernos, São Pio X ensinara:
    “Certamente vivemos numa época triste e podemos lamentar-nos com as palavras do Profeta (Oséias 4, 1-2): «Não há mais verdade, nem compaixão, nem conhecimento de Deus na terra; a blasfêmia, a falsidade, o homicídio, o furto, o adultério triunfam».
    “No meio deste dilúvio de males, nos aparece diante dos olhos a Virgem clemente, como árbitra de paz entre Deus e os homens – Colocarei o meu arco-íris nas nuvens e será o sinal do pacto entre Mim e a terra. Desabe a tempestade e se obscureça o céu: ninguém desespere. À vista de Maria, Deus se aplacará e perdoará. [...] Creiam os povos e confessem abertamente que Maria Virgem, desde o primeiro instante da sua concepção, foi isenta de toda mancha; com isto mesmo será necessário admitir também o pecado original, e a redenção dos homens por obra de Cristo, o Evangelho, a Igreja, e até a mesma lei da dor: assim, quanto quis o «racionalismo» e o «materialismo» será arrancado e destruído, e permanecerá para a doutrina cristã o mérito de guardar e defender a verdade… Sem dúvida, se como convêm, confiarmos em Maria… veremos que ela é sempre aquela Virgem potentíssima – que com o seu pé virginal esmagou a cabeça da serpente” (Enc. Ad diem illum laetissimum, 2/2/1904). 
    Não haverá perfídia conciliar que poderá vingar por muito tempo na presença de Maria.
    Maria Imaculada
    Mas para invocá-La e alcançar as promessas divinas que Ela trouxe em Fátima é preciso que Roma volte à Fé e haja um papa que, com a Autoridade de Jesus Cristo e a Caridade de Seu Sagrado Coração, aponte ao mundo, não aos princípios iluministas da ONU ou dos demo-cristianismos, mas a necessidade do retorno ao Reino da Ordem cristã.
    Então, por fim, poderemos regozijar-nos pelo triunfo do Imaculado Coração de Maria, para a vitória do bem neste mundo e a salvação no outro.

    DO CATOLICISMO EMPALHADO AO TRADICIONALISMO EMPULHADO

    Não se pense que o “empulhar” aqui se refere só à operação ecumenista conciliar.
    Esta só tem em comum com o catolicismo o abuso da sua denominação.
    A empulhação da qual há que falar provém dos que conhecem esta perfídia, mas pregam o disfarce de tal calamidade da Igreja ocupada pelos seus inimigos.
    Nesta longa ocupação muitos são os que sabem que foi engendrada uma «outra igreja», mas o disfarçam para constar como membros desse simulacro conciliar que controla o centro de pensamento, finanças e influência mundial do Vaticano.
    Não aderem de corpo e alma a tal mega aparato adulterino, mas como este dita as regras do «bom-tom» religioso, não querem arriscar suas sentenças de “excomunhão”.
    Assim, até pensam e pregam que fora dessa neo-igreja não haveria salvação.
    Tudo isto, embora dita comunhão derive da adesão aos «papas» recebidos e honrados pelo mundo devido às suas amplas aberturas ecumenistas em ruptura com a Tradição.
    Não importa que esses «papas» conciliares exaltem a ONU, organização que promove o aborto e outros crimes no Brasil e no mundo. Tais empulhações planetárias conjuntas não tocariam a autoridade de «papas» de posição garantida por um conclave canônico!
    Eis que – há que repetir – a função e a autoridade pontifical são representativas.
    Só por esta razão o Vigário de Jesus Cristo é simbolicamente até mesmo «adorado».
    Mas sua tríplice coroa, sua cátedra gestatória e tudo o mais não é propriedade pessoal.
    Assim, quando Paulo 6 «doou» a Tiara papal, alienava o que não era seu e tal gesto demonstrava ser alheio à fé, especialmente no correspondente à função papal de vigário de Jesus Cristo Rei, que tem todo o poder no Céu e na terra.
    Ultimamente o assunto dos gestos voltou no texto em português de autoria de um estudioso do peso de Arnaldo Xavier da Silveira, que o publicou em seu site.
    O artigo aborda a questão do Magistério Ordinário da Igreja Católica e esclarece que um papa ensina não apenas por palavras e documentos, mas que do seu magistério ordinário também constam seus atos e gestos públicos. Cita São Tomás, além de documentos do ensinamento doutrinário convencional. Tudo apoiado nas palavras de Nosso Senhor aos seus apóstolos sucessores, Papa e Bispos: “quem vos ouve a mim ouve”.
    A denominação que esse ensino comum e contínuo assumiu no tempo foi de Magistério ordinário. Este vai dos discursos solenes dos Papas, às encíclicas, decretos, cartas e pregações, que exprimem também condenações, para esclarecimento das questões de fé.
    Quando estas atingem um grau de importância extrema para toda a Igreja, envolvem a proteção divina da infalibilidade.
    Mas como esse magistério escrito ou falado implica sempre a autoridade da Igreja, também a pessoa que a representa deve manifestar credibilidade e fidelidade à Cátedra.
    Ora, a profissão de fé depende de certezas e uma delas é ser impossível que um papa ensine por meio de seu magistério o que é contrário e mesmo nocivo à Fé, na Doutrina ou na Liturgia. Por isto um católico não pode rejeitar um rito de missa promulgado por um papa, alegando ser «heretizante» ou «protestantisante».
    Foi o dilema – ainda pendente e daí «empalhado» -, no diálogo de Mgr Lefebvre com o «papado» do Vaticano conciliar, representado então por João Paulo 2 e o Cardeal Seper.
    Vejamos de novo a questão, porque dessa pendência brotou a casta dos «empulhadores», triste posição dos que reconhecendo o erro e devendo defender a Igreja de toda pérfida alteração, ficam com suas mentes petrificadas diante da Cátedra de Pedro ocupada.
    É a síndrome de um cego «papismo» acatólico porque, a ocupação do cargo para a defesa da Fé é o perigo do maior engano. Trata-se da calamidade de alguém que, vestido de chefe da Igreja beija o Alcorão… como se os eminentes Padres a quem Deus confiou a sua Igreja como pastores e doutores, pudessem, sobre um ponto de extrema importância no que tange a constituição da Igreja, ou cair todos em erro, ou tornar-se causa de erro para os fiéis (Papa Pio VI, Super Soliditate Petrae).
    “São Tomás diz que um papa rezando sobre o túmulo de Maomé [e de Ghandi] é um exemplo claro que caracteriza a apostasia pública da fé católica. Qual a diferença entre este exemplo de São Tomás para os atos e gestos feitos pelos “papas” conciliares?”
    É claro que os atos e gestos dos conciliares são muito piores porque são sistemáticos e diretos a concretizar a perversão ecumenista.

    Flores ao túmulo de Ghandi
    É de fé que a Autoridade que representa Deus, o Papa católico, não pode servir aos fiéis veneno contra a Fé, seja com palavras, documentos, iniciativas ou atos.
    Mas não é isto que têm feito e fazem os «papas conciliares»?
    Se a verdadeira Igreja não podia errar diante do rigor jansenista, tanto menos pode errar diante do debochado relativismo ecumenista, máxima ofensa à única soberania divina.
    No entanto esses empulhadores não só falam, mas impõem um concílio ecumenista… como se a Igreja, regida pelo Espírito de Deus, pudesse instituir uma disciplina não só inútil e mais gravosa do que pode suportar a liberdade cristã, mas também perigosa e nociva que leve à crendice e ao materialismo” (Pio VI, Auctoren Fidei).
    UM CATOLICISMO EMPALHADO
    Sobre esse ponto voltamos à questão posta pelo Cardeal Seper, chamado por João Paulo 2 para fazer as pazes com Mgr Lefebvre se este aceitasse o Vaticano 2 à luz da Tradição!
    O nó ficou devido à sua afirmação: ser o «Novus Ordo de Paulo 6» protestantisante.
    E o mesmo Seper diz por que: – ou isto é falso e tal rito – dado por um papa – é católico, ou quem o institui não é papa! (ver o nº extra da revista francesa Itineraires: Mgr Lefebvre et le Vatican).
    Pode o católico fiel, do «sim, sim, não, não», chamar católico o que é protestante, ou vice versa; tanto um rito – mas muito mais – as autoridades que os promovem?
    Não equivale isto à maldição de chamar bem o mal e mal o bem?
    E o que é instituído com valência litúrgica não deveria ser magistério?
    Ou será que o mal, o erro e a heresia em questões de «extrema importância no que tange a vida da Igreja e a salvação das almas», tem direitos e autoridade na direção apostólica da Igreja de Deus? Não têm, nem quem os promovem em nome da Igreja tem nenhum direito. Se talvez tiveram, decaem dele «ipso facto».
    É a Lei da Igreja e a ordem lógica da autoridade em representação de Jesus Cristo.
    Aqui despontam, porém, alguns novos mestres de mente petrificada pelo «papismo» cego, com uma atitude de «status quo» acatólico: não se pode julgar um papa!
    Haveria que conviver com o herege até a vinda de outro papa, finalmente fiel!
    Note-se que pela lei evangélica não se trata de julgar a heresia e quem a promove; estes já estão julgados e condenados, mas se trata de reconhecer o fato à luz da Fé e da lei da Igreja. Senão esses falsos Cristos, em posição papal, vão enganar sem freios multidões.
    Os tradicionalistas que «empalham» essa questão alegam a posição de seus maiores.
    Benção conjunta com um falso bispo.
    E aqui vem a contradição que se vale do nó não desfeito por Mgr Lefebvre.
    Não só, mas se quer valer da não posição de Gustavo Corção, que nem sequer conheceu o tempo e as abominações de João Paulo 2. Já bastara Paulo 6 para a sua indignação.
    Ou então, se querem valer das posições suspensas diante do caso específico de heresia, dos professores Plínio Corrêa de Oliveira, de seu opositor Orlando Fedeli, e outros.
    É assim que se confunde quem procura exemplos para restar firmes na defesa da Igreja.
    E chegamos a quem tratou e continua a tratar da questão, mas sem querer resolve-la.
    Não entendi de certo acusar a intenção de pessoas, como a do Dr. Arnaldo Xavier da Silveira com o meu artigo sobre seu erro (ver artigo e debate), mas indicar a grave e repetida contradição canônica relativa ao Magistério Ordinário, como descrito acima.
    O Autor agora deixa claro que palavras, atos ou gestos são parte do que complementa o magistério de um papa, que não pode assim ser rejeitado pelos fiéis.
    Como aplicar isto ao que fazem e dizem os «papas conciliares» tendo, por exemplo culminante as reuniões religiosas no espírito de Assis? Podem estas ser rejeitadas mais que quem as promove apresentando-se como se fossem papas católicos?
    Estes, através de tal «magistério» verbal e gestual manifestam claramente não professar nem a fé católica verdadeira, nem a continuidade na missão do cargo.
    Já foi dito, não falamos aqui desse abominável «empulhar» magisterial da desoladora operação ecumenista conciliar. Esta nada tem com o catolicismo, senão o abuso satânico da denominação católica. Aqui falamos aos que têm fé e conhecem o enorme problema, além dos possíveis leitores que respeitam a lógica e a coerência universal. Estes não estão no Vaticano, onde basta o inspetor que nos alista nos seus livros negros.
    A Roma conciliar iniciou seu caminho de apostasia do Catolicismo há mais de meio século, procurando e ensinando como supremo valor a paz na terra, o que significa inverter a Ordem cristã sempre seguida e pela qual lutaram os Católicos (ver artigo sobre a «Pacem in terris»).
    Até judeus, protestantes e anglicanos o entenderam e converteram-se à Religião que os «católicos» hodiernos, empulhados por falsos mestres, abandonam sem perceber.
    Para melhor ilustrá-lo publicamos autores como o Padre Benson e Gustavo Corção.
    É da luta deste ilustre autor que devemos falar, porque para alguns «conservadores» do tradicionalismo ele fixou, ou melhor, empalhou uma posição de resistência inalterável, isto é, inerte e inócua no decorrer do tempo, porque alheia à descoberta das causas e de quem a promove a demolição em veste papal. Não conta a sua reação diante de Paulo 6, que morreu dois meses depois dele em 1978. Não importa tudo o que ocorreu deste então na Igreja, com o progresso do Vaticano 2 e a sistemática inversão no plano dos dogmas da Fé católica. Hoje, qualquer resistência a isto deveria se pautar, segundo alguns, pelos arrazoados comedidos de historiadores e teólogos críticos dos erros conciliares, como acidentes eclesiásticos, até ignorando o que disseram nos anos Setenta e Oitenta os bispos Lefebvre e Castro Mayer.
    Essas corajosas posições episcopais deveriam ser igualmente empalhadas, senão jogadas no lixo da História, como o fizeram e fazem os vários Rifans.
    Eis a outra mega empulhação da qual é preciso tomar consciência para testemunhá-la.
    Vai nisso a nossa fidelidade católica a Jesus Cristo e amor pela Sua santa Igreja.
    Num artigo em italiano sobre o recente despertar de doutos estudiosos, como o Padre Brunero Gherardini, sobre a ruptura conciliar com o Magistério da Igreja, noto que tudo o que fora já assinalado muito antes deles pelos dois Bispos, ficou à margem. (Agere Contra)
    Mas não foram justamente as declarações conjuntas de Mgr Lefebvre e Dom Mayer a enfrentar desde então o problema e de modo progressivo as reais conclusões?
    Pois bem, é recurso da empulhação tradicionalista referir-se aos Bispos como se estes teriam continuado a aceitar o novo «papa conciliar» Bento 16, Ratzinger, que além de ter sido já então acusado por escrito por Mgr Lefebvre como um dos anticristos no Vaticano, já estava entre os prelados sinodais que continuando os erros e heresias do Vaticano 2 confirmavam aos fiéis «o direito de não os considerar mais como católicos».

    Bento XVI recebe o Corão
    Concluindo: é um catolicismo empalhado o que resta em posição cataléptica diante dos inauditos desvios conciliares que continuam promovidos por «autoridades legitimadas» apesar deles; como se houvesse autoridade papal autorizada a promover uma nova igreja com «outro» Evangelho e um magistério vivaldino!
    E é uma empulhação nefasta a interromper a sofrida reação seguida por estes Bispos, ignorando o que manifestaram em documentos públicos e notórios.
    Hoje, chegam a dizer em Campos que Dom Mayer fez e disse muito, chegando a acusar que havia um antipapa no Vaticano, como resultado de canseira devida à idade.
    Como estou neste testemunho há mais de quarenta anos, continuo a repetir que é preciso, sobretudo, tirar as conseqüências do que ficou publicamente demonstrado contra a Fé e que levou à constituição da neo igreja conciliar: a reunião ecumenista de Assis!
    Nosso Senhor pediu aos primeiros cristãos um testemunho cruento. Hoje, parece que não pedirá de muitos mais que consistência na ação caridosa de resistir.
    Ora, o inimigo principal desta é a canseira; origem de miragens ilusórias e desculpas que levam a contradições para que se deixe de combater o que ofende a Fé da Igreja.
    Jesus ensinou que a derradeira perseguição será revestida do engano.
    No nosso tempo tudo indica que a última gesta para a vitória da Cristandade depende desse alerta, do esforço por parte dos poucos católicos de restar fiéis ao testemunho da Verdade, a tempo e contratempo.
    Então por fim poderemos esperar que o Imaculado Coração de Maria triunfe; que volte a haver um papa em uma Roma católica e mariana e que sob a Autoridade de Jesus Cristo e na imitação de Seu Sagrado Coração, se restabeleça a unidade na Igreja e um período de ordem no mundo.

    O ANTICRISTO SEGUNDO ROBERT HUGH BENSON

    Robert Hugh Benson (1871-1914) é um dos escritores notáveis que, como John Henry Newman e Gilbert K. Chesterton, se converteram do Anglicanismo ao Catolicismo.
    O inglês Benson, que nos seus escritos descreve o apenas iniciado XXº século, via então a decadência do Ocidente e sérias ameaças para o futuro da Igreja.
    Qual a nova realidade? O homem tendo atingido grande progresso material e científico, num mundo dominado pela tecnologia, tenderia a programar um grande projeto global.
    Seria o triunfo do Humanitarismo, antecipado pelo russo Leão Tolstoi.
    Note-se que ao título de «Guerra e paz» do escritor russo, Benson antepõe o «Paz e Guerra» do escrito, na origem um sermão, que segue aqui no original inglês.
    Publicou em 1907 um romance destinado a ter grande sucesso; «Lord of the World» («O Senhor do mundo») no qual fez a previsão de um desastroso declino da Fé, não por causa de perseguições cruentas, mas da crise interna à Igreja, vítima do humanitarismo, que como se sabe era a «luz» do modernismo iluminista.
    Lord of the world
    Para tal «ideologia» a caridade cristã seria substituída pela filantropia e a Fé pela cultura.
    O que pensava o escritor católico nos alvores do novo século sobre o futuro da Igreja? Ora, a Europa permanecia no centro do mundo civilizado e refletia toda a própria supremacia desse progresso, nas artes, no espetáculo, no transporte, na economia, etc.
    A modernidade parecia garantir a riqueza de viagens, descobertas, segurança e paz.
    A última guerra européia remontava a 1870 e não parecia haver outra no horizonte.
    Vivia-se a “Belle Epoque” numa prosperidade aparentemente tranqüila e era nesse clima, justamente, que os católicos e o Papa São Pio X não podiam ficar serenos.
    E com razão; a Iª Grande Guerra para cancelar o Cristianismo estava às portas.
    O mesmo se diga depois dessa hecatombe européia, cujo draconiano tratado de paz foi o estopim para que a Alemanha desencadeasse a revanche com a 2ª Grande Guerra.
    No meio tempo, as diversas sociedades conheceram a expansão do regime comunista e do seu socialismo materialista levado às mais extremas conseqüências.
    Robert H. Benson em  Outubro de 1912, aos 40 anos
    Robert Benson, filho do primaz anglicano Edward White Benson.
    Para a Igreja abria-se a era de novas perseguições, mas num clima de fraqueza interna devido à difusão do Modernismo, que minava enormemente a sua influência no mundo. A nova psicologia contribuía, a par de diversos esoterismos gnósticos humanísticos, para atacar o Cristianismo. Prevalecia, como fora previsto, também por Benson, a «religião do sentimento», em que Deus ficaria reduzido às consciências num mundo secularizado dominado pela afirmação do homem que se fez deus na revolução atéia e relativista, quando Deus deixava de ser o centro da existência, cedendo o lugar à humanidade. E o Escritor católico descreve a decadência do Cristianismo minado por essa modernidade.
    Seus personagens descrevem a realidade histórica que converge para um novo poder civil e religioso, que inclui a ameaça de um confronto do Ocidente com o Oriente.
    Na iminência de uma nova guerra desponta o personagem fascinante e misterioso com seu plano de pacifismo mundialista; um novo messias para o mundo inteiro.
    O novo «salvador» prega a «grande fraternidade universal» que dispensa a Religião, mas defende o novo culto: o «espírito do mundo», que substitui a «ilusão» do sobrenatural com a política natural da humanidade, que encontrou o seu profeta!
    Eis então que a sociedade ocidental dominada pela «ideologia humanitarista» se dedica a uma cultura de vida hedonista que implica a morte espiritual e o Catolicismo passa a ser apenas tolerado sob controle da nova religião humanitária: da adoração do homem.
    Benson imagina uma perseguição cruel dos católicos e Roma arrasada num bombardeio aéreo que mata o Papa e o colégio cardinalício quase por inteiro.
    Dois cardeais sobreviventes, porém, fogem para a Terra Santa e conscientes da imediata necessidade de um papa (questão hoje esquecida) promovem um conclave em Nazaré com o Patriarca de Jerusalém, elegendo Franklin, um Papa inglês. Este, com o nome de Silvestre III, inicia a reorganização da Igreja em todo o mundo ao nível de catacumbas.
    Conhecido o retorno de um papa em Nazaré, lá são ordenados bombardeamentos.
    Aí, quando a causa da Igreja parece humanamente perdida, a Providência intervêm.
    O Papa verdadeiro no exílio enfrenta o antipapa e se trava a luta decisiva.
    Trata-se do Armagedom, (Harmagedón) a Guerra total entre o Bem e o Mal que ocorrerá no Juízo Final, de acordo com o livro do Apocalipse 16: 14-16.
    O recurso à visão apocalíptica não é pessimista, mas de esperança no triunfo divino.
    Esse romance se revela surpreendentemente profético para os nossos tempos, quando os próprios clérigos – ditos católicos – imaginam a redução do Cristianismo a uma simples sociologia e moral apartada da metafísica e da teologia, cuja universalidade só serve para fundar uma nova sociedade… mais justa, visto que a Fé pode dividir, enquanto o amor, associado à ciência só poderia unir.
    Tal «ideologia», que é a tese maçônica essencial, já neste livro é vista como o lugar de convergência comum entre professores de teologia e filosofia daquele tempo.
    É a mentalidade que impera hoje com toda força depois do Vaticano 2.
    Por isto o romance que o padre Benson escreveu tem esse cunho profético.
    Para isto ideou o personagem de nome di Giuliano Felsenburgh, que encarna o espírito do novo mundo e é, portanto o Anticristo, cujo carisma supera todo sistema político e social com o «partido do humanitarismo».
    É a tentação inicial que o homem seja «como Deus», cujo resultado é o domínio do espírito do mundo encarnado sobre as almas.
    Foi a percepção de um pastor protestante inglês convertido ao Catolicismo, consciente da invalidade dos sacramentos anglicanos (Papa Leão XIII) e que se fez escritor para glorificar a Igreja e a civilização da Roma católica, com uma visão apologética tão culta e profunda, que previu os males da época sucessiva e porque não, dos anticristos que ocupariam o lugar santo da Igreja.
    Tratando, portanto, da resistência e resiliência católica contra os falsos cristos e falsos pastores, a leitura deste grande autor é instrutiva, até nos seus agudos paradoxos.
    Os paradoxos do Catolicismo
    Aqui temos o início do texto original de uma homilia do Padre Benson de 1913, publicada como capítulo do livro desse título («Paradoxes of Catholicism», Longmans, Green and Co. London, 1923) com o título «Peace and War», que parte das palavras de Jesus:
    “Blessed are the peacemakers; for they shall be called the children of God” — Mt V. 9.
    “Do not think that I am come to send peace on earth; I came not to send peace but the sword”  Mt X. 34.
    “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” – Mt V. 9.
    “Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” – Mt X. 34.
    “Temos considerado como a chave para os paradoxos do Evangelho e a chave para os Paradoxos do Catolicismo é uma e a mesma – que a Vida que os produz é ao mesmo tempo Divina e Humana. Vamos continuar a considerar como isso resolve os do Catolicismo, especialmente os usados contra nós pelos nossos adversários.”
    Depois da arguta dissertação o Autor conclui:
    Coragem, então! Nós desejamos a paz acima de todas as coisas – isto é, a Paz de Deus, não a paz que dá o mundo, pois como pode dar, também pode tirar; não a paz que depende da harmonia da natureza com a natureza, mas da natureza com a graça. No entanto, desde que o mundo está dividido em fidelidades; enquanto o mundo, ou um país, ou uma família, ou mesmo uma alma individual se basear sobre princípios naturais divorciados dos divinos, tanto durará o tempo em que para esse mundo, país, família, ou coração humano a religião sobrenatural do catolicismo trará não a paz, mas a espada. E vai fazê-lo até o fim, até a catástrofe final do próprio Armagedom, que fará o mundo tremer. “Eu vim”, grita o Cavaleiro do Cavalo branco, “para trazer de fato a Paz, mas uma paz que o mundo não pode sequer sonhar; uma paz construída sobre os eternos alicerces do próprio Deus, não sobre as areias movediças dos acordos humanos. E até que esta Visão não desponte deve haver guerra; até que a Paz de Deus realmente não desça e seja aceita, até então minhas vestes precisam ser salpicadas de sangue e minha boca proferir: “não a paz, mas a espada de dois gumes”.
    Segue o original inglês.
    PEACE AND WAR
    Blessed are the peacemakers; for they shall be called the children of God. — MATT. V. 9.
    Do not think that I am come to send peace on earth; I came not to send peace but the sword. — MATT. X. 34.
    We have considered how the key to the Paradoxes of the Gospel and the key to the Paradoxes of Catholicism is one and the same — that the Life that produces them is at once Divine and Human. Let us go on to consider how this resolves those of Catholicism, especially those charged against us by our adversaries.
    For we live in a day when Catholicism is no longer considered by intelligent men to be too evidently absurd to be argued with. Definite reasons are given by those who stand outside our borders for the attitude they maintain; definite accusations are made which must either be allowed or refuted.
    Now those who stand without the walls of the City of Peace know nothing, it is true, of the life that its citizens lead within, nothing of the harmony and consolation that Catholicism alone can give. Yet of certain points, it may be, in the large outlines of that city against the sky, of the place it occupies in the world, of its wide effect upon human life in general, it may very well be that these detached observers may know more than the devout who dwell at peace within. Let us, then, consider their reflections not necessarily as wholly false; it may be that they have caught glimpses which we have missed and relations which either we take too much for granted or have failed altogether to see. It may be that these accusations will turn out to be our credentials in disguise.
    I. Every world-religion, we are told, worthy of the name has as its principal object and its chief claim to consideration its establishing or its fostering of peace among men. Supremely this was so in the first days of Christianity. It was this that its great prophet predicted of its work when its Divine Founder should come on earth. Nature shall recover its lost harmony and the dissensions of men shall cease when He, the Prince of Peace, shall approach. The very beasts shall lie down together in amity, the lion and the lamb and the leopard and the kid. Further, it was the Message of Peace that the angels proclaimed over His cradle in Bethlehem; it was the Gift of Peace which He Himself promised to His disciples; it was the Peace of God which passeth knowledge to which the great Apostle com­mended his converts. This then, we are told, is of the very essence of Christianity; this is the supreme benediction on the peacemakers that they shall be called the children of God.
    Yet, when we turn to Catholicism, we are bidden to see in it not a gatherer but a scatterer, not the daughter of peace but the mother of disunion. Is there a single tormented country in Europe to-day, it is rhetorically demanded, that does not owe at least part of its misery to the claims of Catholicism? What is it but Catholicism that lies at the heart of the divided allegiance of France, of the miseries of Portugal, and of the dissensions of Italy? Look back through history and you will find the same tale everywhere. What was it that dis­turbed the politics of England so often from the twelfth to the fifteenth century, and tore her in two in the sixteenth, but the determined resistance of an adolescent nation to the tyranny of Rome? What lay behind the religious wars of Europe, behind the fires of Smith- field, the rack of Elizabeth, and the blood of St. Barthol­omew’s Day but this intolerant and intolerable religion which would come to no terms even with the most reasonable of its adversaries? It is impossible, of course, altogether to apportion blame, to say that in each several instance it was the Catholic that was the aggressor; but at least it is true to say that it was Catholic principles that were the occasion and Catholic claims the unhappy cause of all this incalculable flood of human misery.
    How singularly unlike, then, we are told, is this religion of dissension to the religion of Jesus Christ, of all these dogmatic and disciplinary claims and assertions to the meekness of the Poor Man of Nazareth! If true Christianity is anywhere in the world to-day it is not among such as these that it lies hid; rather it must be sought among the gentle humanitarians of our own and every country — men who strive for peace at all cost, men whose principal virtues are those of toleration and charity, men who, if any, have earned the beatitude of being called the children of God.
    II. We turn to the Life of Jesus Christ from the Life of Catholicism, and at first indeed it does seem as if the contrast were justified. We cannot deny our critic’s charges; every one of his historical assertions is true: it is indeed true that Catholicism has been the occasion of more bloodshedding than has any of the ambitions or jealousies of man.
    And it is, further, true that Jesus Christ pronounced this benediction; that He bade His followers seek after peace, and that He commended them, in the very climax of His exaltation, to the Peace which He alone could bestow.
    Yet, when we look closer, the case is not so simple. For, first, what was, as a matter of fact, the direct im­mediate effect of the Life and Personality of Jesus Christ upon the society in which He lived but this very dissension, this very bloodshedding and misery that are charged against His Church? It was precisely on this account that He was given into the hands of Pilate. He stirreth up the people. He makes Himself a King. He is a contentious demagogue, a disloyal citizen, a danger to the Roman Peace.
    And indeed there seem to have been excuses for these charges. It was not the language of a modem “humanitarian,” of the modem tolerant “Christian,” that fell from the Divine Lips of Jesus Christ. Go and tell that fox, He cries of the ruler of His people. O you whited sepulchres full of dead men’s bones! You vipers! You hypocrites 1 This is the language He uses to the representatives of Israel’s religion. Is this the kind of talk that we hear from modem leaders of religious thought? Would such language as this be tolerated for a moment from the humanitarian Christian pulpits of to-day? Is it possible to imagine more inflammatory speech, more “unchristian sentiments,” as they would be called to­day, than those words uttered by none other but the Divine Founder of Christianity? What of that amazing scene when He threw the furniture about the temple courts?
    And as for the effect of such words and methods, our Lord Himself is quite explicit. “Make no mistake,” He cries to the modem humanitarian who claims alone to represent Him. “Make no mistake. I am not come to bring peace at any price; there are worse things than war and bloodshed. I am come to bring not peace but a sword. I am come to divide families, not to unite them; to rend kingdoms, not to knit them up; I am come to set mother against daughter and daughter against mother; I am come not to establish universal toleration, but universal Truth.”
    What, then, is the reconciliation of the Paradox? In what sense can it be possible that the effect of the Personality of the Prince of Peace, and therefore the effect of His Church, in spite of their claims to be the friends of peace, should be not peace, but the sword?
    III. Now (I) the Catholic Church is a Human Society. She is constituted, that is to say, of hu­man beings; she depends, humanly speaking, upon human circumstances; she can be assaulted, weakened, and disarmed by human enemies. She dwells in the midst of human society, and it is with human society that she has to deal.
    Now if she were not human — if she were merely a Divine Society, a far-off city in the heavens, a future distant ideal to which human society is approximating, there would be no conflict at all. She would never meet in a face-to-face shock the passions and antagonisms of men; she could suppress, now and again, her Counsels of Perfection, her calls to a higher life, if it were not that these are vital and present principles which she is bound to propagate among men.
    And again, if she were merely human, there would be no conflict. If she were merely ascended from below, merely the result of the finest religious thought of the world, the high-water mark of spiritual attainment, again she could compromise, could suppress, could be silent.
    But she is both human and divine, and therefore her warfare is certain and inevitable. For she dwells in the midst of the kingdoms of this world, and these are constituted, at any rate at the present day, on wholly human bases. Statesmen and kings, at the present day, do not found their policies upon supernatural considerations; their object is to govern their subjects, to promote the peace and union of their subjects, to make war, if need be, on behalf of the peace of their subjects, wholly on natural grounds. Commerce, finance, agriculture, education in the things of this world, science, art, exploration — human activities generally — these, in their purely natural aspect, are the objects of nearly all modem statesmanship. Our rulers are professedly, in their public capacity, neither for religion nor against it; religion is a private matter for the individual, and governments stand aside — or at any rate profess to do so.
    And it is in this kind of world, in this fashion of human society, that the Catholic Church, in virtue of her humanity, is bound to dwell. She too is a kingdom, though not of this world, yet in it.
    (2) For she is also Divine. Her message contains, that is to say, a number of supernatural principles revealed to her by God; she is supernaturally constituted; she rests on a supernatural basis; she is not organized as if this world were all. On the contrary she puts the kingdom of God definitely first and the kingdoms of the world definitely second; the Peace of God first and the harmony of men second.
    Therefore she is bound, when her supernatural principles clash with human natural principles, to be the occasion of disunion. Her marriage laws, as a single example, are at conflict with the marriage laws of the majority of modem States. It is of no use to tell her to modify these principles; it would be to tell her to cease to be supernatural, to cease to be herself. How can she modify what she believes to be her Divine Message?
    Again, since she is organized on a supernatural basis, there are supernatural elements in her own constitution which she can no more modify than her dogmas. Recently, in France, she was offered the kingdom of this world if she would do so; it was proposed to her that she actually retain her own wealth, her churches and her houses, and yield up her principle of spiritual appeal to the Vicar of Christ. If she had been but human, how evident would have been her duty! How inevitable that she should modify her constitution in accordance with human ideas and preserve her property intact! And how entirely impossible such a bargain must be for a Society that is divine as well as human!
    Take courage then! We desire peace above all things — that is to say, the Peace of God, not that peace which the world, since it can give it, can also take away; not that peace which depends on the harmony of nature with nature, but of nature with grace.
    Yet, so long as the world is divided in allegiance; so long as the world, or a country, or a family, or even an individual soul bases itself upon natural principles divorced from divine, so long to that world, that country, that family, and that human heart will the supernatural religion of Catholicism bring not peace, but a sword. And it will do so to the end, up to the final world- shattering catastrophe of Armageddon itself.
    “I come,” cries the Rider on the White Horse, “to bring Peace indeed, but a peace of which the world cannot even dream; a peace built upon the eternal foundations of God Himself, not upon the shifting sands of human agreement. And until that Vision dawns there must be war; until God’s Peace descends indeed and is accepted, till then My Garments must be splashed in blood and from My Mouth comes forth not peace, but a two-edged sword.”

    Gustavo Corção – Conservador ardente

    Arai Daniele
    (Resumo do artigo em homenagem do Autor falecido em 1978, publicado na rev. Permanência em março-abril 1980)
    Gustavo Corção
    A descoberta da verdadeira vida não se faz com longos estudos ou com valorosas conquistas pessoais, mas pela humilde adesão a uma graça. Saberemos então, que também a verdadeira vontade humana não se realiza impondo idéias, mas aceitando reverente, a suprema ordem vital que é para nós um mistério.
    Eis, então, que o Reino Sublime que nos envolve a todos, per­tencerá àqueles que abandonaram artificiosas elucubrações men­tais para, esquecidos de si mesmos, ermitões das fantasias do mun­do, pobres de espírito, servir de corpo e alma a Causa da divina perfeição.
    Incrível fecundação no real conhecerá então esse doador de boa vontade e, poeira perdida em trevas abissais, receberá a luz do Ver­bo que habitou entre nós para ser atraído por Sua salvadora gra­vitação. Átomo fugaz de crosta agreste, será transfigurado para refletir o esplendor do Absoluto que tudo cria e tudo exalta na Sua imensa órbita de vida. A palavra será alimento da verdadeira ação, dada para vivifi­car e difundir o secreto equilíbrio de separações e atrações essen­ciais, na perfeita ordem, na perfeita razão e na vontade do Ser Su­premo que em cada homem gravou feições pessoais dentro de uma entidade universal à Sua imagem, para acolhe-lo, após o desterro, nas dimensões da Sua eternidade.
    O católico fiel Gustavo Corção viveu plenamente essa ideia e sua ação vital se exprimiu pela vontade de servir e de ligar, apli­cando artes e técnicas, relacionando palavras e pessoas, enquanto seguia com ardor as linhas de força que sua devoção a Cristo e ao exemplo indicavam.
    Muitos acharão paradoxal um homem que, procurando unir, seja ao mesmo tempo polêmico e agressivo, mas o autor explicará que a verdadeira união se faz separando, distinguindo e enaltecen­do. Cristo disse: “Eu não vim trazer a paz mas a espada.”
    Cristo, da sua boca saia uma espada de dois gumes
    Outros acharão contraditório apresentar um homem de vasta cultura e brilhante inteligência como um pobre de espírito, mas aí está a lição: despiu-se e esvaziou-se de coisas próprias para conter muito mais, conter a verdadeira sabedoria que emana das palavras divi­nas. “Se não acolheres o Reino de Deus como um menino, não en­trareis…”
    Minha tentativa de lembrar o pensador que marcou a socie­dade em que viveu, não se deterá portanto diante de seu aspecto de escritor brilhante, de professor de vértices e abismos ou do des­temido polemista católico; seguirei seus pólos de atração, suas li­nhas divisórias, suas intimas e férteis oposições, descobertas no próximo, na mulher, no outro. Vamos assim percorrer os acidentes geográficos e históricos da vida do autor, descendo nos abismos de seus pensamentos ou subin­do na senda de suas altas visões, para chegar ao aconchego de uma casa arrumada que abriga o peregrino universal que foi por ele acolhido e dignificado em si e no próximo. Falaremos pois de Corção pai de família, homem religioso e conservador de valores pe­renes. Tendo se sagrado à rudeza e austeridade da “idade medieval”, manteve até o fim uma luta cerrada em defesa da Igreja e dos valores que ela ensina, não hesitando em aparecer nas vestes do homem comum que retorna à condição de criança para melhor tocar a maravilhosa realidade de Deus, ou então de cava­leiro armado, do crente assinalado.
    O romance “Lições de Abis­mo”
    Infenso à sociedade mundana, com o romance “Lições de Abis­mo” a estimulou e provocou para, em seguida, pedir atenção e ouvidos a sinais que vinham de muito mais alto. Escritor apartado, homem religioso tenso, mantinha sua rede de antenas em ação, re­forçando os tirantes de sua torre vigilante, enquanto canalizava reservas de sangue e linfa para a grande missão: a auscultação e propagação terrena do Absoluto Revelado. Repetiria, fiel, a fala de videiras e grãos de mostarda, de coisas simples e quotidianas que são os ingredientes do verdadeiro romance de nossa existência.
    Que melhor sentimento pode inspirar a literatura senão o amor pela linguagem comum dos homens, que por sua vez ecoa à som­bra da comunicação sobrenatural? E onde pode levar o progresso da comunicação humana senão à comunhão com o Criador? Com essa intenção, vale a pena ser artista da palavra e articular a harmonia verbal como testemunha da origem da Verdade, do Bem e do Belo.
    Toda a fantasia do cavaleiro medieval é sair à demanda da Suprema Realidade, para melhor servir os Seus desígnios e defen­der a Sua ordem. Pois bem, assim é com o pai, quando defende os valores da família: mantém íntegra e saudável a sua vida e pensa com prudência na sua conservação e renovação. Não deve temer expor-se ao escárnio ou ser abatido nessa tarefa, porque essa fun­ção habita a alma humana, e é imperecível.
    Hoje, porém, uma “onda” enorme vai convencendo os pais à renúncia dos próprios deveres, não somente através dos abusos de sempre, os vícios, as fraquezas, as incompreensões e a ignorância, mas cedendo à moderna investida que condena e ridiculariza a au­toridade do chefe da família para substituí-lo por “especialistas” diplomados por ideologias revolucionárias.
    Acrescentemos ao assédio feito ao responsável pelo patrimônio e pela vida, a rebeldia dos filhos em idade de dúvidas e os rancores de todas as idades. Juntemos os remorsos pelos castigos injustos, as dúvidas pelos métodos escolhidos, e ainda os momentos de impa­ciência, de canseira, de nervosismo. Será preciso muita clareza e força para resistir ao assalto. Como é possível porém renunciar ao irrenunciável? Como dei­xar de ser aquilo que nem a sociedade nem a ciência dos especia­listas elaborou? Pois bem, é preciso que os pais se lembrem que, mesmo sendo imperfeitos, a família é sagrada porque engendra e conserva a vida e a sua defesa lhes foi confiada pela Suprema autoridade.
    Autores como Corção puseram todo o seu zelo nessa rememo­ração, foram além, conseguiram transmitir a satisfação que deriva da árdua mas sublime missão de “pater familias”. Na realidade, os homens e as mulheres serão pais e mães de maneira indissolúvel. Ninguém e nenhuma organização pode substituí-los plenamente, nem com o corpo nem com o espírito. Se a mente trair essa verdade, se degradará; se quiser aceitá-la, será a mesma luta a exaltá-la.
    O nome do pai é um escudo
    Corção repetiu direta e indiretamente a noção de que o nome do pai é um escudo e bastará pronunciá-lo com força para que os vendilhões do Templo sejam desbaratados, para que todo o seu con­trário, a rebelião, a sedutora Revolução, a pérfida doutrina, a pala­vra estéril, sejam expulsas. No seu livro “O Século do Nada”, lembra essa permanente procura feita por Leon Bloy: “A França acabara de marcar a vitória do Marne. Os jornais estavam encharcados de júbilo, de esperança, de triunfo. Mas Leon Bloy folheava os jornais com cólera crescente, e depois com tristeza infinita. O que é que o velho leão procurava nos cantos dos jornais? Lá está escrito em seu diário: “je cherche en vain le nom de Dieu”. Nesse ponto é justo colocar um autor diante do grande dilema pessoal e social, a questão do equilíbrio na verdade, na qual a razão humana presta seu exame de madureza. A posição de um escritor está expressa em seus escritos, mas ela é resultado de uma escolha que, por sua vez, exprime uma doutrina. Não devem ser porém os sentimentos ou intuições, as amizades ou simpatias, as afinidades ou o estilo literário a constituir termo de juízo.
    A qual equilíbrio pode um ser humano aspirar, suspenso em um mundo que orbita num espaço infinito? A razão procura um centro, um fulcro imóvel, uma perfeição acima da própria razão. A mente facilmente se perderia na vastidão da procura e por isso a Razão perfeita, o Ser imóvel nos revelou seu modelo ideal, de nossa mesma carne, centro humano de perfeição divina: Jesus Cristo.
    Agora nossa procura de equilíbrio tem uma referência defini­tiva: O Bem feito Homem, e o equilíbrio do Bem significa o aper­feiçoamento, a procura de tudo que pode melhorar as pessoas, enriquecer suas qualidades inatas e, por conseguinte, sua capacidade de combate ao mal e a repulsa de tudo aquilo que degrada e corrompe. Essa guerra decisiva se processa pelas definições claras, pelas sepa­rações vitais e pelas purificações do Templo. Será o santo equilíbrio acessível, depois de ter sido batizado por Cristo e guardado pelos seus pastores e pela sua Igreja? Na história do Cristianismo sabemos como as inúmeras heresias, mes­mo apontadas e condenadas, continuaram enevoando a mente co­mum propondo níveis intransponíveis à verdadeira luz. Sabemos que os maiores desvios surgiram nos meios religiosos e pediam uma força inusitada para reequilibrar idéias que se auto-definiam como “novos equilíbrios”.
    A santa obediência pode transformar-se em arma vil
    Até mesmo a santa obediência pode se transformar em arma vil ao passo que o equilíbrio cristão nos foi ensinado na humilde imitação do único e supremo Chefe, d’Aquele que ficou só, minoria absoluta, para dar testemunho e exemplo da Via, Verdade e Vida, quando houve até mesmo o sacrifício do Centro de qualquer poder e sabedoria, esquecido, condenado e crucificado enquanto os discí­pulos, temerosos, procuram dialogar com as maiorias.
    O número, a quantidade, a riqueza, a concentração de poder econômico e político, a tecnologia dos confortos e das conquistas, tudo está aí a nos dizer que a vida deve ser vivida, que os católicos de sempre são extremistas, que os santos são fanáticos, que o Re­dentor é um mito, que Deus não existe, que tudo é ilusão, que a religião deve ser um serviço social e que o equilíbrio humano está no meio do nada, como esse homem medíocre que vai por aí perdido.
    Gustavo Corção vivera o drama de um Centro Católico, nascido à sombra do convento beneditino e que tivera sua função alterada e seu alimento contaminado por novas ideias. Arregimentou então as forças fiéis e fundou um novo grupo para que, mesmo depois de sua morte, resistisse à intempérie: Permanência, um reduto de vigilância mais que de erudição e diálogo. Tentativa feita por uns poucos contra uma multidão mun­dana, crescente, com cunho de sacrifício ingênuo se medirmos a disparidade numérica das armas no plano material.
    Como combater o ensurdecedor efeito da propaganda com o silêncio? Ou a invasão da sensualidade feita doutrina, com renúncia? Ou mes­mo o alarido festivo do templo com a penumbra?
    Há um canto na alma humana onde a Igreja de Cristo sempre pode preparar um altar. Hoje este parece ter sido enxotado dali tam­bém, e ela vive um momento de abandono e de paixão. Quem vigiará com ela? Se em outros momentos da história foi possível procla­mar aos quatro ventos que nela residia a Via, a Verdade e a Vida, agora se trata apenas de proclamar e dar testemunho de permanên­cia na doutrina, de um canto ou de uma catacumba que seja. Mas qual pode ser a tristeza se o próprio Senhor do Universo escolheu uma gruta para nascer, uma manjedoura para ficar, uma pedra para pousar e uma cruz para morrer? Deve ficar impaciente e agitado o fiel por viver sua fé num canto humilde e desprezado pelo mundo?
    A tomada do poder pelo homem medíocre multiplicado, acu­mula resultados: são as presenças vazias, as abundâncias insigni­ficantes, as eficiências paralizadoras, as displicências urgentes e a gravidade caricata com que falam de problemas humanos; a inso­lência segura com que propagam dúvidas enquanto manifestam um cuidado obsessivo em ocultar as próprias responsabilidades na fa­lência moral do mundo que pensam dirigir.
    Não há surpresa, porém, pois o homem moderno assumiu por modelo uma média ponderada que exprime valores quantitativos que, variando continuamente, lhe dá a ilusão de progresso.
    A im­possível eqüidistância entre o Bem e o Mal está calculada em co­lossais computadores, fornecendo a exaltante utopia: um homem novo, votado pela maioria e aperfeiçoado pela tecnologia espacial!
    Ora, com manobras grandiosas, o inimigo induz as mentes en­fraquecidas pelas tentações da carne e do mundo, a se rebelar con­tra as vozes primordiais que pedem renúncias, como se o organismo social e familiar servisse a uns em detrimento de outros, engordasse os pais à custa dos filhos, enaltecesse o homem com a degradação da mulher, enriquecesse a humanidade com a poluição da natureza e o poder fosse medido pela capacidade de infligir castigos.
    O equilíbrio, como a liberdade, pede coragem e ideias claras e assim não será o padre medíocre, temeroso de saltar suas refeições regulares ou perder o seu consenso social, nem menos ainda, maio­rias confusas e ululantes, a estabelecê-lo.
    O equilíbrio cristão se rea­liza na direção oposta, no sentido vertical, na consciente escalada para o Ser, por duras e estreitas que sejam as passagens. Foi sempre necessário que se repetisse, sem medo, que cada um de nós já nasceu especializado. Quem nos criou já nos fez de certo modo, e nos marcou de uma identidade particular e outra uni­versal. Não podemos alterar nossa natureza íntima sem o risco de anular o nosso ser. Esta é a lei de quem criou também a lógica e nos pede respeito pelo que somos, por aquilo que nos circunda, por tudo aquilo que é.
    Quem vive os dias atuais com ouvidos para os seus sinais, per­cebe que tudo o que foi insinuado como evolução dos tempos, outra coisa não era senão a mais assustadora investida do abominável ini­migo contaminador da humanidade.
    O campo político está arra­sado pela imbecilidade; o social ressequido pelo ódio e o reli­gioso invadido pela dissimulação e pelo medo. Que resta? So­mente alguns hortos que cultivam, sofridamente, a boa palavra de sempre.
    Esses redutos são atacados, ridicularizados e desprezados justamente pela fidelidade que prestam à santidade da Igreja imutável, à qual todos somos chamados. Mas alguém entre nós é designado para ilustrar o patrimônio de verdade, para proclamá-lo em altos brados se preciso for. Quem? Alguém escolhido pelos homens, ou líder voluntário, ou caráter poderoso ou então sagrado pela hierar­quia? Já houve áureos tempos cristãos em que a capacidade de viver a Fé produzia apóstolos, capazes de reunir essas qualidades cujo valor e legitimidade, porém, só iam se confirmar na adesão e cumprimento da palavra. Não importa a situação do reduto, a resistência ali está cen­trada em um chefe combatente que não teme expor-se pela Causa e pelos outros, fiel no desejo de oferecer o sangue da paixão e a pró­pria vida para semear a salvação. Gustavo Corção recebeu do Cria­dor esse especial molde de líder. E soube preenche-lo com o metal fino de sua preparação, para fundi-lo à chama de sua conversão madura e ao ardor constante de sua fé.
    Entre os mortais, o amor se exerce também através da Justiça. Ora, se formos privados daqueles que conhecem sua origem e seu fim e que são capazes, a tempo e contratempo, de proclamá-lo dian­te de todos, apesar de riscos, de ameaças e do desprezo de tantos outros, sem esses, nada teremos.
    A necessidade de verdadeiros Juízes
    Os problemas humanos se repetem porque derivam de nossas tendências de sempre. O corpo é, continuamente, atraído por sua gravitação em torno da matéria que exibe suas riquezas e seus pra­zeres. A mente é, por sua vez, seduzida pelo brilho da vaidade e vacila diante do poder e da glória. Desde os albores da humanidade essas atrações levaram o homem ao acúmulo de posses e de domí­nios que só foram mantidos em equilíbrio, mesmo precário, pela invocação destemida de Juízes.
    Igualmente, na esfera religiosa, foi sempre difícil contrapor a serenidade e o silêncio da vida espiritual ao desequilíbrio de nossas cobiças e paixões. Foi preciso cultivar sempre a auto-repressão para conter o mal da alienação mundana indiscriminada, porque é difícil contemplar a porta estreita do Ser, dentro de um corpo que anseia por uma corrida na larga avenida do haver. Aqui também, somente o austero exemplo de poucos evitou a decadência de muitos.
    Dos raros Juízes destes últimos dias, de há muito sem espada, lhes é tirada também a tribuna por uma hierarquia de fariseus e hipócritas a serviço de estranhos senhores. De fato, os vícios, rumo­rosos e turbulentos que a todos escravizam, vêm juntos com teorias sociais que os destilam em nome da liberdade, para servir aos novos poderosos de um mundo que devora mentes e almas humanas no lugar do ouro e das terras, tanto cobiçadas no passado.
    A Revolução mobilizou os grandes empreiteiros de artimanhas, os especialistas do próprio bem-estar, os sacerdotes do prazer a baixo preço, os apóstolos da bondade exterior, da caridade obrigatória, da misericórdia programada e da consciência coletiva. Legiões se servem também do edifício eclesiástico para “cursilhar” acima da pessoa e alterar as leis da própria essência que as ordena. Contra esses desvios que degradam a natureza humana, contra a revolução da anti-palavra, contra os decretos que destroem a autoridade da doutrina, contra a hierarquia que protege e promove anarquias delirantes, veio o brado vigilante do juiz Corção que montou, com amor, sua própria tribuna para convocar as consciências em defesa da Cidade Celeste, atacada pelas hordas dos vândalos da cidade ter­rena, que, depois de reduzir seus terreiros e suas sedes a covis de bandidos e prostitutas, partiram com urros e gestos obscenos à conquista de uma harmonia que não lhes é dado nem mesmo ava­liar e entender.
    O cristão sabe que “essa geração não passará sem que tudo o que foi escrito se cumpra”. São palavras eternas. Sempre foi assim e não será a mola da vitória terrena que irá mover o verdadeiro cris­tão para o cumprimento da dúplice batalha, contra o mundo e con­tra si mesmo. O único desespero é desertar, até a morte, da vigilân­cia e da luta que são os meios eficazes para atingir o Fim Supremo.
    Essa campanha em defesa da vida, da verdadeira vida, mesmo quando feita lembrando a morte passageira, é a missão cristã, de cada cristão, padeiro ou bispo e nela devemos perseverar para que esta também deixe de ser um fim mas se mantenha um meio. Com essa idéia saberemos colocar prudência em nossas alianças, desmas­carando falsos pastores que exigem obediência aos seus desmandos, às suas duvidosas elucubrações, às rebeliões centra a doutrina de sempre e às suas festivas alianças novas. Com essa fé poderemos aceitar todos os revezes sem sermos submersos pelo desespero que tudo destrói.
    “A única tristeza é não ser santo”, e o católico fiel, Gustavo Corção, também nos ensina que o bom cristão quer ser camelo de corcunda servil. “A carga que nos é posta em cima não depende de nossa vontade nem de nossa sabedoria, a missão é transportá-la ao seu destino.” Entre aqueles que fazem seu dever, o pensamento comum é posto na pureza da Fé. Tudo o mais vem por acréscimo, parentesco, amizades, simpa­tias. “Se assim não fora tanto vale que os contatos humanos se façam pelos ombros, peitos ou nádegas, comprimidos na multidão.”
    A solidariedade cristã se vai cumprir mais na aspereza dos sa­crifícios e no ardor das campanhas comuns que na convivência prazerosa e nas efusões de amizade. Considerar a condescendência, a tolerância sobre as questões vitais, os desejos de alegria ou mes­mo a obediência indiscriminada como características próprias da vida cristã é uma das falácias do mundo.
    Pensemos por um momento na atitude pública de uma maio­ria e também de um grande número de membros de nossa Igreja, diante de uma polêmica que envolve assuntos religiosos. No início, o sentimento predominante será o de curiosidade pela discussão. Em seguida, serão as incertezas muito humanas a prevalecer. Fi­nalmente, um medo difuso tomará conta das mentes, temerosas de serem envolvidas e obrigadas a tomar partido ou uma atitude definida. Qual pode ser o resultado do processo senão uma raiva incon­tida contra o intransigente que, com sua polêmica, suscitou tal es­tado de intranqüilidade? O ser humano é mais sujeito à preocupação pelos fatos que solicitam as suas reações superficiais, do que pelas questões pro­fundas que envolvem a sua própria origem e destino. Por isso as inteligências mal amparadas por uma vontade cercada de confor­tos, vaidade e sensualidades, começam a elaborar razões a favor daquelas forças que abandonam ou mesmo atacam o Cristianismo. Justificarão a própria atitude como amor ao equilíbrio, à liberdade, à tolerância universal e à obediência ao exemplo dos pastores que representam Cristo. Hoje, essa maneira de esconder a pusilanimidade se fez tão generalizada que viceja abundante até mesmo nas imediações do Templo, para não dizer que lá dentro se discute a maneira de regu­lamentá-la.
    Não se negou ainda Cristo com palavras mas a huma­nização de Sua divina Pessoa se alastra enquanto o culto à Santíssima Virgem Maria já foi considerado, por alguns membros da hierarquia eclesiástica, excessivo e exagerado. Podem ser obe­decidos? Pois bem, nesse ponto não será preciso aprofundar-se na ver­dade religiosa para apontar a miséria mental desse falso equilíbrio. Cristo, Deus encarnado, é o modelo que nos conduz a Deus-Pai. A Santíssima Virgem Maria é a Sua mãe, pessoa humana sem man­cha que nos conduz a Jesus e à Sua Igreja. A Perfeição Divina se nos revela à nossa medida, pela família sobrenatural, com o pai, a mãe e o Filho, pessoas que compõem também a nossa família natural imperfeita. Essa é a revelação, ou se quiserem, a proposta integral do Cristianismo. Fora dela não há meias propostas, nem meias famílias, como não pode haver um modelo médio que nos eleve com uma meia devoção, de mentes desequilibradas por outros tantos conceitos, certamente não cristãos. O equilíbrio cristão está na procura da máxima devoção de que se é capaz, pois essa já é precária e imperfeita, embora a única que nos possa levar em direção ao Ser que nos criou à própria ima­gem e semelhança mas nos resta velado. Assim o equilíbrio se rea­liza na imitação de Cristo, que seguirá a imitação de Maria e tam­bém dos Santos. A palavra deverá seguir a ação.
    É nesse encadeamento de dívidas e imitações que o cristão pode procurar o seu aperfeiçoamento e também uma vida familiar e so­cial melhor. Felizes aqueles que dispuseram de mestres e exemplos que os ajudaram nessa tarefa. Pois bem, o grupo de Permanência teve o seu precioso guia em Gustavo Corção, e pelas dimensões de seu trabalho e presença será muito difícil que o seu desapareci­mento não provoque cedo ou tarde uma desorientação. Que fazer?
    A Igreja cresceu e frutificou depois do sacrifício de Cristo, cultivando a Sua palavra, comemorando a Sua Presença, oferecendo a sua devoção. É seguindo Suas palavras que se deve vigiar e orar para não cair em tentação mas permanecer com Ele.
    Neste momento de desalento e tristeza, a lembrança de Corção deve ajudar a superar os problemas que surgirem. O exemplo foi marcante. A fidelidade do fundador de Permanência foi sua força, o conhecimento da doutrina foi sua inteligência, a coragem em pro­clamá-la dando testemunho de seu Chefe foi a sua vontade, e cul­tivar os momentos de vigilância e oração, foi seu método. Todos aqueles que quiserem se unir para prosseguir a sua fru­tuosa tarefa, embora privados de uma palavra brilhante, uma ló­gica agilíssima, uma cultura de ampla dimensão, características do grande pensador, dispõem de algo; do seu exemplo e da sua obra pela qual podemos fortificar e melhorar a nossa pro­cura de imitação do exemplo e da obra de Cristo.
    Toda a devoção que dedicarmos à pessoa do mestre carioca, não pode se perder nem se extraviar porque a sua devoção era, por sua vez, toda dedicada ao Alto, ao Pai, ao Divino Filho, à Santíssi­ma Mãe e também a todos aqueles mestres que, como ele, travaram uma santa luta de aperfeiçoamento de si mesmos e do mundo.
    Os homens do nível de Corção sabiam e puseram em prática a grande regra da Caridade e do Amor que nos foi ensinada pelo nosso Salvador: o oferecimento de si mesmo. Somente o homem alimenta a vida dos homens e Deus se fez homem para se fazer nosso alimento. Imitemo-lo, mas também na Sua perfeição porque senão, que alimento seremos?
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    Immaculata mea

    In sobole Evam ad Mariam Virginem Matrem elegit Deus Filium suum. Gratia plena, optimi est a primo instanti suae conceptionis, redemptionis, ab omni originalis culpae labe praeservata ab omni peccato personali toto vita manebat.


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    'A Lógica da Criação'


    Jesus, oculto na Hóstia, é tudo para mim




    “Se não fosse a Santa Comunhão, eu estaria caindo continuamente. A única coisa que me sustenta é a Santa Comunhão. Dela tiro forças, nela está o meu vigor. Tenho medo da vida, nos dias em que não recebo a Santa Comunhão. Tenho medo de mim mesma. Jesus, oculto na Hóstia, é tudo para mim. Do Sacrário tiro força, vigor, coragem e luz. Aí busco alívio nos momentos de aflição. Eu não saberia dar glória a Deus, se não tivesse a Eucaristia no meu coração.”



    (Diário de Santa Faustina, n. 1037)

    Ave-Maria

    A Paixão de Cristo