Rodrigo Constantino
- O discurso proselitista de Dilma
- O papa é pop
- Primavera Árabe: A ilusão democrática
- Era melhor beijar a cruz...
- Acordo com o Papa
- Crédito murchando
- Pondé sobre a espionagem americana
- O estado-babá de Caio Blinder
- André Esteves na Veja, e Mantega cada vez mais só
O discurso proselitista de Dilma
Posted: 22 Jul 2013 05:23 PM PDT
Rodrigo Constantino
Vergonha de ser brasileiro. Eis o sentimento que tive após ver o discurso proselitista da presidente Dilma diante do papa Francisco. Por sorte, Vossa Santidade é argentino e, portanto, está ciente do típico populismo demagógico dos latino-americanos. Ainda assim foi algo constrangedor.
Dilma louvou as grandes "conquistas" dos últimos dez anos de governo. Aproveitou para fazer campanha eleitoral na cerimônia, tentando surfar na popularidade do papa. Mas, se o papa é pop, Dilma não é. Recebeu vaias no estádio de futebol, e hoje mereceu novas vaias, mas o protocolo do evento não permitiu, em respeito ao papa. Só por isso.
Não satisfeita, Dilma ainda olhou diretamente para o papa para lhe dar lições de democracia, explicando que o povo toma gosto e quer mais. Ela estava apenas seguindo a estratégia de seu mentor, o ex-presidente Lula, que recentemente adotou essa desculpa esfarrapada em artigo no site do NYT: as manifestações nas ruas são fruto do sucesso do governo petista!
Enfim, a cena toda foi patética, e Dilma saiu ainda menor da ocasião. Não deveria ter se aproveitado da visita do papa de forma tão escancarada, tão sensacionalista, para vender o peixe (podre) de sua gestão e de seu antecessor, de olho somente nas urnas de 2014. Isso foi feio. Muito feito! Dilma perdeu uma ótima oportunidade de ficar calada.
Só não foi a coisa mais constrangedora do primeiro dia da visita do papa ao Brasil porque a turma do movimento gay veio resgatar Dilma, colocando-se como merecedora do prêmio patetice do dia. Realizar um "beijaço" seminus em frente aos religiosos e à igreja foi um ato deveras infeliz, de quem acha que está chocando os outros, mas está apenas despertando o sentimento de pena, por algo tão mesquinho e ridículo.
A tentativa de ofender os religiosos demonstra apenas como essa gente necessita da aceitação daqueles que julgam "medievais". Querem a aprovação do "papai" cuja autoridade não reconhecem. De fato, patético.
O papa é pop
Posted: 22 Jul 2013 02:40 PM PDT
Fonte: Valor
Rodrigo Constantino
Vendo as imagens da chegada do papa Francisco no Rio e aquela multidão de fieis em busca de um simples toque no líder religioso, veio à mente o livro novo de Mario Vargas Llosa, A civilização do espetáculo. Para o Nobel de Literatura, vivemos na era em que tudo é transformado em espetáculo, em entretenimento. Até filosofia e religião.
Esse tipo de reação histriônica das pessoas não difere muito daquela dos fãs de um cantor de rock, ou de um jogador de futebol. O ídolo desperta fortes emoções, e só de estar perto dele ou conseguir um clique com a câmara do celular já provoca enorme satisfação. Como diz a música dos Engenheiros do Havaí, o papa é pop!
A visão que Vargas Llosa tem da religião em geral e do Cristianismo em particular é bem alinhada à minha. O escritor considera que somente uma pequena parcela das pessoas consegue conviver razoavelmente bem com a idéia de que nossa vida é finita e um tanto sem sentido, sem cair, com isso, em desespero existencial, em niilismo profundo. Diz Vargas Llosa:
Se esta vida é a única que temos, se não há nada depois dela e vamos nos extinguir para todo o sempre, por que não tentaríamos aproveitá-la da melhor maneira possível, ainda que isso significasse precipitar nossa própria ruína e semear ao nosso redor as vítimas de nossos instintos desbragados? Os homens se empenham em crer em Deus porque não confiam em si mesmos. E a história demonstra que não deixam de ter razão, pois até agora não demonstramos que somos confiáveis.
Poucos seriam capazes, então, de levar vidas decentes mesmo sem crer na eternidade ou em uma punição pós-morte. Esta pode ser uma visão um tanto elitista, mas paciência: eu acredito nela. Minha experiência me diz que, de fato, poucos suportam este flerte com a falta de sentido sem surtar, sem aderir à melancolia. Esse seleto grupo, não necessariamente superior aos demais, encontra na filosofia, nas artes, na literatura, as "fugas" para esta ausência.
Já a maioria necessita desse Pai, dessa figura antropomórfica que irá fornecer o sentido da existência e de sua finitude, que é a morte. O tecido social e os valores morais, portanto, dependem em boa parte da religião. Ela atuaria como Ulisses ao amarrar as próprias mãos no mastro do barco, para não cair na tentação das sereias. Esta é a visão utilitarista da crença religiosa. Marx chamava de "ópio do povo", mas creio que possa ser algo menos pejorativo: um freio, um código moral positivo. Diz Vargas Llosa:
Pouquíssimos seres humanos são capazes de aceitar a idéia do "absurdo existencialista" de estarmos "lançados" aqui no mundo por obra de um acaso incompreensível, um acidente estelar, de nossa vida ser mera casualidade desprovida de ordem e coerência, de tudo o que ocorra ou deixe de ocorrer com ela depender exclusivamente de nossa conduta e vontade e da situação social e histórica em que nos achamos inseridos.
A imagem descrita por Camus em O mito de Sísifo, que leva quase todos ao desespero e à paralisia. Mas, se a religião é mesmo o ópio do povo, então o marxismo é o crack, com efeitos bem mais letais. E eis o ponto mais relevante: quando tentaram abolir as religiões na marra, o que veio em seu lugar não foi um progressismo com base na Razão (com R maiúsculo), e sim algo muito pior. O socialismo é a religião laica, e o estado passou a ser o Deus da modernidade. Progresso? Diz Vargas Llosa:
Foi um gravíssimo erro, repetido várias vezes ao longo da história, acreditar que o conhecimento, a ciência e a cultura iriam libertando progressivamente o homem das "superstições" da religião, até que, com o progresso, esta se tornasse inútil. A secularização não substituiu os deuses por idéias, saberes e convicções que desempenhassem suas funções. Deixou um vazio espiritual que os seres humanos preenchem como podem, às vezes com sucedâneos grotescos, com múltiplas formas de neurose, ou dando ouvidos ao chamado dessas seitas que, de planejamento minucioso de todos os instantes da vida física e espiritual, proporcionam equilíbrio e ordem àqueles que se sentem confusos, solitários e aturdidos no mundo de hoje.
Se essa linha de raciocínio estiver correta, talvez seja positivo o fato de alguém como o papa ainda atrair tanta gente, inclusive jovem, mesmo com esse clima de euforia típica dos ídolos pop. Ao menos se trata de uma liderança moral decente, que prega valores importantes, e não algum tipo de fuga imediata para a angústia, seja pelas drogas, seja pela ideologia utópica. Deixo com Vargas Llosa a conclusão:
[...] o certo é que essa moral laica só encarnou em grupos reduzidos. Ainda continua sendo realidade indiscutível o fato de que, para as grandes maiorias, é a religião a fonte primeira e maior dos princípios morais e cívicos que dão sustento à cultura democrática.
Primavera Árabe: A ilusão democrática
Posted: 22 Jul 2013 01:02 PM PDT
Rodrigo Constantino
A "Primavera Árabe" encantou muita gente no Ocidente. Vários celebraram o "despertar" do povo para a democracia, lutando contra regimes opressores no poder há décadas. Mas a comemoração foi precipitada demais. Os pilares culturais e institucionais que permitem o funcionamento adequado do regime democrático simplesmente não estão lá.
A "democracia", nesse caso, pode ser apenas uma forma de teocracia disfarçada, com os fanáticos muçulmanos tomando o poder e impondo a sharia – a lei islâmica. É o que defende Andrew McCarthy em seu excelente livro novo Spring Fever: The Illusion of Islamic Democracy. McCarthy é autor também de The Grand Jihad, onde já havia exposto como os fanáticos do Islã estão sabotando os pilares da civilização ocidental de dentro do sistema.
São leituras obrigatórias para quem quer entender melhor como o radicalismo islâmico opera nos Estados Unidos, e porque a democracia no Oriente Médio ainda não passa de uma doce ilusão. Gostamos de crer que o povo islâmico da região despertou, mas isso pode ser somente uma vontade nossa de acreditar nisso.
Para o autor, muitos no Ocidente desejam crer que os povos árabes compartilham dos mesmos ideais de liberdade que nós, e acabam ignorando que a "Primavera Árabe" pode ser, na verdade, a ascendência da supremacia islâmica. O governo de Mursi no Egito deixou claro esse risco: várias medidas do governante eleito foram na direção da sharia, e o alinhamento inclusive com grupos terroristas ficou evidente.
McCarthy disseca o caso da Turquia, pois se trata do país mais ocidentalizado da região, graças ao legado de Ataturk. Erdogan, entretanto, deu demonstração de sobra de que não quer saber disso, preferindo atender aos anseios dos defensores da sharia. Nem há surpresa aqui: tais são os objetivos declarados desses governantes! Eles alegam abertamente que o estado deve ser guiado pelo Islã, e essa é a visão que eles têm de liberdade: "perfeita submissão".
No Ocidente, especialmente na esquerda progressista, a visão muliculturalista impede a constatação desse fato. Simplesmente reproduzir o que as próprias lideranças islâmicas afirmam é suficiente para ser chamado de "islamofóbico". Sem querer julgar qualquer coisa (à exceção de seus oponentes conservadores e os "fanáticos" do Tea Party), esses progressistas tentam remodelar o Islã à sua própria imagem: uma nobre e tolerante religião.
Para o autor, essa é a principal lição da "Primavera Árabe": a miragem do Islã como uma força moderada e amigável à transformação democrática existe somente em nossas mentes, para nosso consumo próprio. Lá, no Oriente Médio, a mentalidade predominante não tem nada a ver com isso, como atos e pesquisas apontam. Os governantes mesmos se sentem ofendidos com o uso do termo "moderado", pois para eles, o Islã é o Islã, e ponto. Seguir sua lei é absolutamente imprescindível. Estado laico? Nem pensar!
Por acaso o Irã tem se tornado mais moderado nos últimos anos? Por acaso o Hamas é moderado em Gaza, ou ocorreu nova eleição desde que o grupo foi escolhido? Por acaso a constituição iraquiana, aprovada sob a supervisão americana, deixa de colocar o Islã como a religião oficial que deve pautar as leis? O sucesso eleitoral do Hezbollah no Líbano mudou o país, ou serviu para que o Irã pudesse contar com um braço terrorista com o manto de "democracia" em suas provocações jihadistas?
Aplicar a nossa idéia de liberdade individual ao contexto do Oriente Médio é a grande ingenuidade que cometemos, segundo o autor. Essa cultura de povo soberano não está presente nesses países. Para eles, seguir a religião por meio do estado, sob o comando de um representante forte que irá garantir tal submissão, isso é "liberdade". Parlamento com poderes legislativos, pesos e contrapesos, descentralização de poder, tolerância às minorias, tais são valores enraizados no Ocidente, mas não nos países islâmicos.
Outro ponto importante abordado pelo autor é que os fanáticos muçulmanos compreendem que a disputa é cultural acima de tudo. O dawa é o proselitismo da sharia, sem o uso de violência. Intimidar críticos, cultivar simpatizantes na imprensa e nas universidades, explorar a tolerância e a liberdade religiosa ocidental, infiltrar-se em nosso sistema político, retratar qualquer crítica como "islamofobia", eis a guerra que eles estão travando e vencendo até aqui. Esses foram os ensinamentos de Hassan al-Banna, um dos fundadores da Irmandade Muçulmana, que pretende dominar todo o planeta com sua religião.
O que McCarthy mostra no livro é como vários institutos islâmicos nos Estados Unidos servem apenas como fachada para disseminar os valores radicais de sua fé, ou então fazer um elo com grupos terroristas. Não é que eles não compreendam a democracia ocidental, ou não sejam sofisticados para isso; é que eles não desejam tal modelo para eles! Eles olham com profundo desdém para o resultado do que essa democracia e essa liberdade conquistaram no Ocidente. E eles querem mudar isso.
McCarthy não tem medo de concluir que, nos termos de Samuel Hutington, trata-se de um "confronto de civilizações". Não reconhecer isso é um perigo, pois o outro lado avança de forma agressiva. A meta das lideranças islâmicas, com o apoio da maioria do povo, é o "renascimento islâmico", o resgate de uma época de predominância do Islã.
Os que são considerados "moderados" pela esquerda ocidental não escondem o mesmo sonho, e simpatizam com os terroristas, retratados por eles como "resistentes". O ódio a Israel e aos Estados Unidos está presente também, mas muitos fingem não ver. McCarthy resume sem rodeios: "Nesta região antidemocrática, a democracia real não tem a menor chance contra a supremacia islâmica".
Era melhor beijar a cruz...
Posted: 22 Jul 2013 09:56 AM PDT
Fonte: Folha
Rodrigo Constantino
Deu na Folha: Estudante prepara 'beijaço' no Rio contra visita do papa
O estudante de direito João Pedro Accioly Teixeira, 19, ficou três dias preso após uma manifestação que começou pacífica e terminou com a explosão de um coquetel molotov lançado em direção a policiais militares.
O enredo, que poderia ser de um dos mais de 60 detidos nas manifestações no último mês, no Rio, ocorreu há dois anos. Mas pode se repetir.
Preso em 2011 durante protesto contra a visita ao país do presidente norte-americano, Barack Obama, o estudante agora organiza manifestação contra o papa Francisco.
Ele participa hoje de um "beijaço" LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) para criticar a reprovação da igreja à homossexualidade. O ato terá início no Largo do Machado, zona sul do Rio, e os manifestantes devem se dirigir ao Palácio Guanabara, local da recepção oficial ao pontífice.
Para o estudante, também militante do PSOL, há semelhanças entre os atos contra Obama e contra o papa. "Os dois são ícones de instituições que causaram dano à humanidade", disse o estudante.
Um momento, por favor! Eu entendi bem? O garoto critica as entidades governo americano e Igreja Católica por terem causado dano à humanidade, e faz isso pertencendo a um partido SOCIALISTA? Confirma isso, produção?
Com todas as críticas que o governo americano merece, assim como a Igreja, estamos falando de instituições com um legado que pode ser considerado amplamente positivo. Muito ao contrário do socialismo, que só espalhou miséria, terror e escravidão pelo mundo.
Se falarmos da trajetória recente, então, do século 20, temos Reagan e João Paulo II como ícones da boa luta, justamente contra o socialismo que o garoto defende, sem se dar conta, inclusive, que tal regime assassino sempre perseguiu os homossexuais.
Entre o PSOL e o governo americano ou a Igreja Católica, não tenho a menor dúvida de qual partido eu escolho. Mas o rapaz quer "protestar" contra tais instituições, pois ele não aceita que a Igreja não considere a homossexualidade algo "lindo". São muito tolerantes os socialistas modernos: desejam enfiar goela abaixo dos outros as suas preferências.
Ora, ninguém é obrigado a ser católico! Mas aprendam a conviver com aqueles que não consideram beijo de língua entre dois barbados algo "bonitinho". Que tal praticar um pouco mais da tolerância que tanto pregam? Querem converter fiéis na marra agora? Querem controlar até a repulsa natural que muitos sentem quando se deparam com esta imagem?
Por fim, o rapaz diz ter medo de ser preso novamente. Ele se explica: "Sinto medo porque não acredito que a atuação da polícia se dê dentro da lei". E eu que pensei que jogar pedras e coquetéis molotov na polícia é que fosse algo fora da lei. Sinceramente, eu acho que era melhor esse rapaz beijar a cruz...
Acordo com o Papa
Posted: 22 Jul 2013 08:34 AM PDT
Rodrigo Constantino
O Papa está chegando no Brasil. Não se fala de outra coisa. Confesso ter até simpatia por Francisco I, um Papa que parece realmente humilde e disposto a mexer em vespeiros no Vaticano. Mas até o Papa comete seus deslizes...
Ricardo Noblat, em sua coluna de hoje no GLOBO, traz algumas passagens do Papa sobre diferentes assuntos. Não quero ensinar o Papa a rezar a missa. Quem sou eu?! Mas sobre economia, sim, acho que tenho uma ou outra palavrinha para agregar. O Papa diz:
Neoliberalismo. "A crise socioeconômica e o consequente aumento da pobreza têm suas origens em políticas inspiradas por formas de neoliberalismo, que consideram o lucro e as leis do marcado como parâmetros absolutos acima da dignidade das pessoas ou dos povos. (...)
Na predominante cultura neoliberal, o externo, o imediato, o visível, o rápido, o superficial: estes ocupam o primeiro lugar, e o real cede terreno às aparências".
Globalização. "A globalização que uniformiza é essencialmente imperialista e instrumentalmente liberal, mas não é humana. Em última instância, é uma maneira de escravizar os povos. (...)
A globalização, como uma imposição unidirecional e uniforme de valores, práticas e bens, anda de mãos dadas com a imitação e a subordinação cultural, intelectual e espiritual".
Não, nobre Papa, a crise não é resultado do neoliberalismo, tampouco há essa dicotomia entre lucro e pessoas. Essa passagem, aliás, ficou parecendo do Noam Chomsky. A ganância desmedida pode ser um problema sim, mas isso não é fruto do "neoliberalismo", e sim de seres humanos sob qualquer modelo econômico. No socialismo, tal ganância é transformada em tirania da pior espécie.
Tampouco a crise foi resultado desse modelo. A crise foi resultado do excesso de intervencionismo do estado, do Banco Central praticando taxas de juros artificialmente baixas, da Casa Branca pressionando as empresas de hipoteca a emprestarem para os mais pobres em busca de votos, enfim, as impressões digitais do governo estão em todas as cenas do crime!
Globalização como instrumento liberal "imperialista"? Vossa Santidade, que isso? Parece até um marxista da Teologia da Libertação! A globalização não escraviza povo algum, ela liberta! Ela leva prosperidade, ampliação de alternativas para consumo ou estilo de vida, empregos e riqueza. Assim não, Papa...
Vamos combinar uma coisa? Eu não me meto nas questões católicas, mas o senhor evita dar pitaco em economia. Combinado? Temos um acordo?
Crédito murchando
Posted: 22 Jul 2013 07:22 AM PDT
Rodrigo Constantino
Deu na Folha: Demanda de crédito empresarial tem pior 1º semestre desde 2009, diz Serasa
A demanda das empresas por crédito diminuiu 4,7% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com a Serasa Experian. Foi o segundo pior desempenho para um primeiro semestre desde 2007, início da série histórica do indicador. Antes desse resultado, o pior tinha sido o de 2009, quando a queda chegou a 6,7%.
Tomando apenas o mês de junho houve uma pequena recuperação na demanda por crédito, com aumento de 0,6%, ante queda de 9% em maio.
No semestre, a queda se concentrou nas micro e pequenas empresas (menos 6,8%), já que entre as médias e grandes houve avanço, de 6,3% e de 18,6%, respectivamente.
Para a Serasa, a inflação elevada, as incertezas quanto à recuperação da atividade econômica doméstica e a alta dos juros afetaram a busca das empresas por recursos neste ano.
Na análise por setor, a demanda caiu mais entre as empresas comerciais (menos 7,4%), seguidas pela indústria (queda de 6,2%). Entre as empresas de serviços o recuo foi bem menor, de 1,0%.
Como sabemos, para o crescimento do crédito ser sustentável, ele precisa ter lastro na poupança, ou seja, empresta-se aquilo que antes foi poupado. Não é possível emprestar indefinidamente acima da taxa de poupança, pois a fatura terá de ser paga algum dia. Compensar isso com empréstimos externos tampouco é solução, pois os credores estrangeiros também vão querer seu dinheiro de volta eventualmente.
No Brasil, o governo tem sido o grande responsável pelo aumento do crédito. Os bancos privados, receosos com a inadimplência, pisaram no freio, enquanto o governo pisou fundo no acelerador. A Caixa expandiu sua carteira total de crédito em 45% em 2012. Os bancos públicos já respondem pela metade de todo o crédito no país. A decisão, com certeza, não é econômica, e sim política.
Isso não pode acabar bem. Os próprios tomadores de empréstimo vão acusar do golpe e recuar, como pode estar acontecendo, ou então o governo vai criar - se já não criou - uma bolha creditícia, que quando estourar deixará um rastro de desgraça. Não podemos fugir das inexoráveis leis econômicas. O alerta de Mises é sempre atual e válido:
Não há meio de evitar o colapso final de um boom de expansão provocado pela expansão do crédito. A alternativa é apenas se a crise deve vir mais cedo, como o resultado de um abandono voluntário de mais expansão de crédito, ou mais tarde, como uma catástrofe definitiva e total do sistema monetário envolvido.
Pondé sobre a espionagem americana
Posted: 22 Jul 2013 06:19 AM PDT
Rodrigo Constantino
A coluna de Luiz Felipe Pondé hoje na Ilustrada da Folha é um choque de realismo para aqueles mais românticos, que sonham com um mundo sem espionagem, com total preservação de nossas privacidades. Pondé recusa a visão maniqueísta de preto ou branco, reconhecendo que, no mundo real, uma zona cinzenta de "sujeira" sempre existirá em nome de objetivos maiores. Ele diz:
Quando Obama disse que ninguém pode viver com segurança e privacidade com 0% de inconveniência, pensei: Obama virou gente grande. Mas não foi assim que o mundo reagiu. Quase todo mundo ficou horrorizado, e eu, fiquei horrorizado com mais um show de infantilidade do mundo em que vivemos. É um mundo "teenager" mesmo.
E por que o Brasil seria vigiado? Talvez porque suspeita-se que o Brasil esteja na rota entre o dinheiro do crime internacional e terroristas. E a América Latina está à beira de uma virada socialista, só não sabe quem não quer ver. Corrupção, autoritarismo, gestão inepta da economia e populismo sempre foram paixões secretas do socialismo.
A CPI do "Obamagate" é um truque nacionalista (tipo Guerra das Malvinas) para desviar a atenção da nossa crise econômica, apesar de muitos brincarem de revolução enquanto a economia vai para o saco nas mãos de um governo que aumentou os gastos públicos com embaixadas em repúblicas das bananas, criação de ministérios inúteis e "investimento" na inadimplência como forma de ganhar votos.
A diferença entre um "teenager" (ainda que com PhD, PostDoc e livre-docência) e alguém que sofre para ser um pouco menos "teenager" é saber que o mundo não é preto e branco e que se você é responsável por muitas coisas, você nem sempre vive com luvas de pelica.
Estou de acordo que o mundo não é dividido de forma simplista entre "bonzinhos" e "malvados". Também estou de acordo que nosso governo usa como pretexto para desviar o foco da crise atual o caso da espionagem. Também concordo que há razões para que os Estados Unidos queiram espionar a América Latina sim. Com isso tudo estou de acordo com Pondé. Mas aqui começo a discordar um pouco:
Não é bonito o que o Obama fez. Mas todo mundo que tem as responsabilidades que o Obama tem faz coisas assim quando ocupa o lugar do Obama.
Sim, é verdade que todos vão fazer mais ou menos o que foi feito. Mas, em primeiro lugar, talvez não na mesma magnitude, e há que se ter mecanismos de pesos e contrapesos para impedir um avanço desmedido do "olho grande" estatal em nossas vidas. Em segundo lugar, há uma escalada de poder concentrado no "Grande Irmão" que incomoda - ou deveria incomodar - qualquer liberal.
Por fim, Obama sempre gozou de um salvo-conduto, enquanto Bush era o demônio em pessoa. Quando Obama mostra ser ainda mais invasivo que Bush em nossas liberdades, isso merece duras críticas sim, até para mostrar que a esquerda não é esse ícone de respeito às liberdades civis como propagado; muito pelo contrário!
Feita essa ressalva, volto ao ponto de concordância com Pondé. O filósofo esfrega na cara de muita gente a hipocrisia de quem condena uma coisa na teoria, e faz outra na prática:
Por muito menos, vigiamos a geladeira para ver quantos iogurtes tem, os armários da cozinha para ver quantos sacos de açúcar tem, e as sacolas das empregadas para ver se elas não estão levando algum pacotinho de carne.
[...]
Nada disso é bonito, apenas é assim. Para manter as coisas funcionando, pessoas tem que fazer coisas que não são muito bonitinhas. Eu sei que os inteligentinhos facilmente entram em surto, mas que vão brincar no parque, com segurança, de preferência.
As redes sociais, esse grande bacanal de narcisismo, são um prato cheio para sermos vigiados. Sites nos dão nosso perfil de consumo e nossa "linha da vida". Celulares nos avisam quando algo acontece em nossa conta e em nosso cartão de crédito, e isso tudo é muito "prático", não?
Muitos alertas têm sido feitos, mas é sempre bom lembrar: quando o produto é gratuito, é porque o "produto" é você. Muita gente posta intimidades nas redes sociais, transforma sua vida em um livro aberto, e depois reclama que isso é usado por outros? É preciso mais cuidado, pois sabemos que, no mundo moderno, as informações digitais não estão seguras. Teremos que conviver com essa realidade. Pondé conclui:
Este evento revela a óbvia violência à privacidade que as redes sociais significam. A ideia de que elas são uma ferramenta da democracia pode ser uma ideia também infantil.
Além de elas serem um elemento de alto risco com relação a linchamentos e violência espontânea, elas nos tornam vulneráveis de modo direto na medida em que estar "na rede" significa estar dependente de uma "teia" (de aranha) tecnológica de controle bastante vulnerável a tutela das empresas que nos oferecem a própria ferramenta. Por isso o nome é TI, tecnologias da informação.
Há muito se sabe que é mais fácil subornar um blogueiro do que um jornal gigantesco (o blogueiro é mais barato...). Agora fica mais claro ainda que a manipulação via redes sociais é muito maior do que via mídia "clássica".
Todo mundo sabe que não pode marcar encontros amorosos ilegítimos via e-mail ou mensagem de celular, como alguém fica escandalizado que a internet não seja segura? Parece papo de falsa virgem de 50 anos.
Em breve esqueceremos isso e continuaremos a postar fotos, falar bobagens, marcar revoluções no final de tarde e propor utopias que requentam a falida autogestão. E viajar para fazer compras em Miami com segurança e usando Visa.
Snowden, e seus 15 minutos, é mais um falso herói para falsos adultos.
O estado-babá de Caio Blinder
Posted: 22 Jul 2013 05:05 AM PDT
Fonte: Veja
Rodrigo Constantino
No Manhattan Conection deste domingo, falando sobre o prefeito Michael Bloomberg, Caio Blinder saiu em defesa do conceito de estado-babá, aquele que olha por nós, que cuida de cada cidadão como se uma criança indefesa ele fosse. Como exemplo, em tom jocoso, Caio disse que sem essa tutela o Diogo Mainardi ficaria o dia inteiro em frente a televisão, e Ricardo Amorim passaria o dia todo no celular.
Brincadeira (sem graça) à parte, o assunto é muito sério. Até porque vivemos na era do estado-babá, onde este se mete cada vez mais em nossas vidas, partindo exatamente dessa premissa absurda de que, sem sua tutela, seríamos um bando de irresponsáveis. Nos casos citados por Caio Blinder, fica evidente que os únicos prejudicados seriam os próprios envolvidos. O que Caio ou Bloomberg teriam com isso é algo que me escapa.
Uma leitura imperdível sobre o tema é O Estado Babá, de David Harsanyi. O autor faz um levantamento minucioso das atrocidades legislativas nos Estados Unidos com base nessa premissa de que cabe ao governo cuidar dos mínimos detalhes de nossas vidas. Escrevi uma resenha para a revista do Instituto Liberal, e recomendo fortemente a leitura do livro na íntegra. Aliás, precisamos de um livro desses sobre a nossa realidade brasileira. Receio apenas que seria um calhamaço de fazer inveja a Tolstoi.
No meu texto, escrevo:
Babás são presunçosos, e acreditam que sabem melhor que os outros como a vida deve ser vivida. Eles partem da premissa arrogante de que conhecem as escolhas "certas". São moralistas autoritários, que desejam impor seu estilo de vida aos demais. Viver é assumir riscos, mas os covardes babás querem uma vida totalmente segura (e sem graça), e pior, querem obrigar os outros a desejar o mesmo.
Confesso que me veio à mente agora a imagem de Caio Blinder, como ícone dessa vida "segura", protegida de riscos e aventuras. E sim, também chata, insossa, sem graça. Mas como liberal, respeito o direito de cada um buscar seu próprio estilo. Acho absolutamente legítimo Caio Blinder desejar uma babá. Só não entendo porque ele simplesmente não contrata uma para ele, pagando de seu próprio bolso pela tutela que tanto anseia, e deixa seus colegas em paz, um diante da TV, e o outro do celular. Todos seriam mais felizes assim, não?
Se fosse para todos serem mais ou menos iguais, clones de Caio Blinder, não só o mundo seria um lugar mais entediante, como tenho certeza de que o programa liderado por Lucas Mendes não teria audiência alguma...
André Esteves na Veja, e Mantega cada vez mais só
Posted: 22 Jul 2013 03:55 AM PDT
Rodrigo Constantino
O editorial da revista VEJA atira sem dó nem piedade: "A conclusão é que o Brasil está tendo um triênio perdido, com as piores taxas de crescimento do PIB desde o governo Color. Má notícia para a presidente Dilma. Péssima para a candidata à reeleição em 2014. Uma tragédia para o Brasil e os brasileiros, pois, como se sabe, o estado sobrevive, mesmo que dramaticamente modificado, sem uma economia funcional, mas as economias de mercado não sobrevivem muito tempo sem que os governos propiciem e mantenham condições favoráveis à criação de riqueza".
Vira-se a página, e lá está a entrevista nas páginas amarelas com o banqueiro André Esteves, cujo alerta vem estampado como título: "Estamos perdendo o jogo". O BTG Pactual de Esteves tem feito pesadas apostas no sucesso da nossa economia, e a situação começa a colocar em xeque o retorno desses investimentos. A proximidade entre o banco e o governo, que são inclusive sócios na Caixa (uma operação muito suspeita), estreitou-se nos últimos anos.
Mas, pelo visto, o relacionamento está azedando. O sócio de Esteves, Pérsio Arida, deu entrevista recentemente no Estadão pregando um choque de liberalismo. E agora foi a vez do próprio Esteves bater em tecla parecida. Eis alguns trechos da entrevista:
A decepção com o Brasil
A decepção dos investidores não é só com o Eike. É também com a Petrobras, que, mesmo tendo feito uma capitalização recorde, vai mal.
Sobre o BNDES
Não acho certo o BNDES dar crédito barato a empresas que têm como conseguir dinheiro no mercado. O banco é um excelente instrumento para o Brasil, mas está se tornando contraproducente. Não é bom que o país fique tão dependente dele. Trata-se de um claro sinal de que algo está errado. [...] Se todo mundo ficar pendurado no BNDES, o país perde a competitividade.
O PT e o mercado
Quando o PT assumiu, em 2003, o momento era de enormes desafios econômicos, e havia uma descrença na capacidade dos petistas em lidar com essa complexidade. O ceticismo fez com que Lula fosse muito disciplinado na condução da economia no primeiro mandato. Graças a isso, consolidamos os pilares da estabilidade. Mas o sucesso trouxe um efeito colateral negativo: o gradual desprezo às críticas do mercado, principalmente a partir de 2008, com a derrocada dos sistemas financeiros na Europa e nos Estados Unidos. Sinais importantes - como o fato de a nossa bolsa estar indo pior do que todas as outras e a perda de credibilidade da política fiscal - foram ignorados. Essa soberba econômica foi um erro. O mercado é um termômetro tão valioso quanto a voz das ruas.
A credibilidade do governo
O país tem feito muita confusão nessa seara. Outro dia mesmo o governo reafirmou o compromisso com o superávit de 2,3% do PIB e deixou todo mundo satisfeito. Dias depois, ficamos sabendo que o Tesouro estava recebendo dividendos do BNDES para cumprir essa meta. Ora, esse tipo de coisa tira toda a credibilidade. Assim fica difícil defender o país perante os investidores.
Os investidores e a confiança no Brasil
Paira uma grande incerteza sobre o rumo que o país está tomando. Nos últimos tempos, o governo lançou pacotes para ferrovias, rodovias e aeroportos que até iam na direção certa, mas resolveu definir ele mesmo a taxa de retorno do investimento – o que, além de despropositado, é tarefa absolutamente inglória. A beleza desse tipo de concorrência está justamente em cada um conseguir maneiras de obter a melhor taxa de retorno do negócio oferecendo um bom preço ao consumidor. Ao tentar tutelar essa variável, o governo afetou diretamente o apetite dos investidores. Depois disso, muita gente pôs o Brasil sob observação. Temos um cliente, um grande fundo de pensão canadense acostumado a aplicar bilhões aqui, que suspendeu temporariamente os investimentos em infraestrutura até ter mais clareza sobre o futuro. É esse o jogo – o das expectativas – que o governo está perdendo. Precisamos de racionalidade e transparência para fazer o dinheiro voltar a fluir. O que me choca é que é tudo muito fácil de resolver. As soluções estão dadas.
Se é tão fácil assim, por que ninguém faz?
Em alguns segmentos do governo, falta capacidade de gestão e, em outros, os diagnósticos, estão errados. Tem gente que ainda acha que está abafando.
Como podemos ver, até um "parceiro" próximo, amigo de Mantega, sócio na Caixa, não está mais suportando ficar em silêncio diante de tanta incompetência e esse viés ideológico absurdo. A equipe econômica do governo simplesmente não entende nada de economia! E isso precisa ser dito, e repetido, pela maior quantidade de gente possível. Quem sabe assim cai a ficha da presidente Dilma...
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