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    sexta-feira, 8 de junho de 2012

    Homilia do bispo de Viseu na solenidade do Corpo de Deus



    Homilia do bispo de Viseu na solenidade do Corpo de Deus

    O Domingo: Dia da Fé, da Família e da Festa

    Muitos estudos têm sido feitos sobre a vivência da Fé por parte das pessoas do nosso tempo. Todos nos têm mostrado um decréscimo acentuado, nos países europeus, ocidentais e mais industrializados, na relação com a religião e com a prática cristã. Nestes países, o crescimento económico, científico e tecnológico tem desprezado e subalternizado a religião, como se esta fosse inútil para preencher qualquer dimensão da vida.
    A sociedade de hoje tem perdido a “alma”, criando uma grande desarmonia, perdendo a ideia e noção de beleza integral da pessoa, acentuada cada vez mais com a perda da dimensão espiritual. Porém, à medida que a vida vai atingindo o seu termo, as interrogações sobre o sentido da vida vão inquietando, parecendo que a religião, mais do que respondendo à beleza e ao sentido da vida, é ajuda para morrer.
    Por outro lado, a cultura, as mudanças sociais, a globalização e abertura ao universal e diferente parecem relativizar as crenças e a “alma” que cada um abraçou desde pequeno.
    Ainda, nestas circunstâncias de instabilidade múltipla e perante crises e fundamentalismos diversos, cresce um relativismo de indiferença e de privatismo quanto a práticas pessoais, levando a defender-se e a justificar-se que a religião e a fé são preocupações meramente individuais...
    Assim, diminuem a solidariedade, a coesão social e a corresponsabilidade e, ao mesmo tempo, diminuem os sinais exteriores da visibilidade da Fé e as consequências sociais da responsabilidade e da coerência individual e comunitária na vivência da mesma fé.
    Pode acontecer, também, que se afirme a fé como supremacia nacionalista, negando o diálogo pluricultural, sadio e desejável, como consequência mais forte da Fé no Deus Único – Pai e Redentor de todas as pessoas e Criador de todas as coisas maravilhosas do universo…
    Os resultados aos diversos inquéritos, feitos nos últimos tempos, pedem um reforço da valorização do Domingo para que este seja o dia do Senhor, o dia da Festa, o dia da Comunidade e o dia da Família.
    Para a Igreja e para o cristão, não pode haver uma valorização do Domingo sem a Eucaristia ou sem a celebração comunitária e festiva da Fé. O Domingo cristão não quer nem pode ser o parente pobre do fim-de-semana; não pode ser visto como o corte, a ressaca ou a forma de esquecer todos os outros dias… O Domingo é o 1º dia da semana que deve iluminar, dar o sentido e valorizar todos os outros dias, tornando a vida da semana a consequência coerente e a preparação séria do que celebra a Eucaristia.
    Será isto o nosso Domingo? Será a Eucaristia a fonte de vida e de bênção para os cristãos? Será a solenidade do Corpo de Deus a afirmação pública de que temos na Eucaristia o centro, fonte e cume da vida cristã?
    O conteúdo do Domingo, onde a Eucaristia é o centro e a solenidade de hoje torna pública, constitui o fundamental cristão que Deus nos propõe com a acção de Jesus Cristo, o nosso Redentor e que Ele selou com a Sua Páscoa.
    Que resposta damos a esta proposta, na coerência com o Baptismo e com a herança que recebemos dos nossos pais, catequistas e educadores? O que temos feito da Páscoa de Jesus, transmitida pela Igreja e celebrada, cada Domingo, na Eucaristia? Como temos vivido e cumprido a nova Aliança, que Jesus celebra e renova connosco, sempre que participamos na Sua Páscoa?
    O Papa pede que não ocupemos o Domingo com actividades que mudem o seu sentido e o seu centro. Diz que as famílias têm de ser defendidas da sobrecarga laboral e que o Domingo deve ser reservado ao convívio familiar e a Deus. Textualmente, diz Bento XVI: “É preciso preservar o tempo em família, ameaçada por uma predominância de compromissos devidos ao trabalho”. Lembrou que as actividades devem ser de modo a “encontrar um equilíbrio harmonioso para construir sociedades de rosto humano”.
    Preencher o Domingo com actividades laborais, culturais, recreativas ou desportivas que impeçam as pessoas de estar em família e de participar, juntos, na Festa e na celebração da Fé, não é ajudar a criar a esperança e a “alma” que a sociedade de hoje tanto precisa nem é encontrar o sentido tão necessário para a vida.
    Seria importante que as diversas instituições, associações e clubes que organizam essas diversas actividades não dificultassem a sã harmonia que deve existir no viver os diversos ritmos e desafios da vida.
    Importa ajudar e não impedir a que as crianças, adolescentes, jovens e adultos possam viver os seus compromissos familiares, sociais e cristãos, de modo a que o importante ditado “alma são em corpo são” não seja invertido ou pervertido, esquecendo a alma com a atenção única ao corpo…
    Fazemos votos de que este próximo Ano da Fé, a ser vivido na nossa Diocese com o tema – “Domingo, juntos na FEsta” – nos ajude a dar a necessária importância ao Domingo como um dia diferente e festivo e a viver a Eucaristia como o centro deste dia, conscientes de que “a Igreja não pode ser a mesma sem a Eucaristia”.
    Que esta solenidade e a procissão que se segue, sejam vividas como um acto único de “profunda fé na Eucaristia, que constitui o tesouro mais precioso da Igreja e da humanidade”. AMEN! ALELUIA!

    Ilídio, bispo de Viseu
    Documentos | Agência Ecclesia | 2012-06-08 | 12:46:05 | 5193 Caracteres |
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    (Diário de Santa Faustina, n. 1037)

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