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Quinta-feira, 23 de Janeiro de 2014
23 de janeiro de 2014Sem comentários
Pe. David Francisquini
- Bodas de Caná (1820), por Julius Schnorr von Carolsfeld (1764-1841)
Imagine Maria Santíssima, Mãe das mães, ao tomar conhecimento de que seu Filho se encontrava prestes a partir para a vida pública. Ela que já experimentara a perda de seu Filho em Jerusalém, sabia bem o quanto lhe custara aquele distanciamento, pois caro Christi est caro Mariae(a carne de Cristo é a carne de Maria). Agora o seu divino Filho vai se ausentar para não mais voltar à casa de Sua Mãe.
Jesus havia completado 30 anos, e, nos desígnios de Deus Pai, chegara o momento de semear a boa semente da palavra, pois Seu reino não se circunscrevia à casa de Nazaré. José já havia falecido. O que poderia passar naquele coração de Mãe a falta do Filho que partia para o campo de batalha do apostolado e que terminaria a sua vida terrena pendurado numa Cruz?
Figuremos a solidão de Maria vendo-O partir e acompanhando-O com os olhos até que desaparecesse. Ela ficou só, pois havia chegado a hora. Jesus tomou a direção do rio Jordão a fim de se encontrar com João Batista. Quando O viu, João, maravilhado, exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira os pecados do mundo”.
Jesus pede o batismo, e João Batista reluta em concedê-lo. Argumenta que deveria ser ele batizado por Jesus, e não o contrário. Mas o Divino Mestre insiste, pois fazia a vontade do Pai. Enquanto isto, Maria passava rezando pelo Filho. Silenciosa e pensativa, sabia que Jesus não lhe pertencia, pois deveria redimir o gênero humano. Ela acompanhava com o coração tudo o que o seu filho fazia e por onde ia.
Poucas semanas depois de estar só, Maria foi convidada para uma festa de casamento em Caná [pintura acima], pequena cidade da Galileia, distante a duas horas de viagem de Nazaré. Os noivos eram íntimos amigos de Maria e teriam manifestado grande alegria pela sua presença. Ademais, encontrariam n’Ela grande apoio para o casamento, e não queriam dar passo tão decisivo na vida sem sua presença.
A festa já se desenrolava quando aparece seu Filho rodeado dos discípulos, maravilhados com tudo quanto Ele dizia. Jesus sabia que Sua Mãe se achava ali, e trouxe os discípulos para conhecê-La, a fim de mostrar-lhes o papel de Maria no Reino de Deus, e Ele, qual prófugo, iniciava a pregação.
A ocasião era mais do que propícia. De Maria Ele nascera e durante 30 anos lhe foi submisso. Com o consentimento d’Ela, Jesus daria ali o início a uma série de milagres na ordem da natureza, pois o primeiro milagre na ordem da graça se dera por ocasião da visita de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel ao santificar São João Batista ainda no ventre materno.
Cheia de graça e de virtudes, Maria não ficou indiferente diante de um fato que poderia passar despercebido a muitos, mas muito constrangedor aos anfitriões: a falta de vinho naquela festa nupcial. Ela sabia que seu Filho poderia resolver aquela questão, que parecia sem solução.
Maria, que ainda não havia presenciado milagre de Jesus, com bondade de mãe dirigiu-se a Ele, e tomando-O pelas mãos sussurrou-Lhe aos ouvidos: “Eles não têm mais vinho”. Cena simples e encantadora. O Filho, que nada lhe nega, olha para Ela e diz: “Mulher, que há entre Mim e Ti? Minha hora ainda não chegou”.
Palavras misteriosas, pois somente Maria conhece o Filho que tem. Só Ela consegue penetrar e sentir as palpitações do Seu coração. Portanto, aquelas palavras tiveram altíssimo significado. Ao chamá-La de mulher, ressaltava o sexo feminino. Ao chamá-La de mulher, fazia-nos voltar aos primórdios da humanidade, quando o livro Gêneses trata d’Aquela mulher ilustre, nobre, excelente e destemida que esmaga a cabeça da serpente.
Faz-nos lembrar da mulher forte do Livro da Sabedoria que com todo zelo ornou a sua casa e nada lhe faltou. É a mulher forte, intrépida e corajosa do Apocalipse. É a mulher que São João Evangelista relata encontrar-se no Calvário aos pés da Cruz em companhia das Santas Mulheres, e que Jesus, voltando-se para Ela, disse: “Mulher, eis aí teu filho”, e voltando-se para João: “Eis aí a tua Mãe”.
Não há Jesus sem Maria, nem Maria sem Jesus. O Jesus que adoramos e seguimos é o mesmo Jesus que sempre obedeceu, seguiu, respeitou e amou Maria. Quem rejeita Maria, rejeita Jesus. Quando Jesus afirma: “Minha hora não chegou”, Maria sabia que para Ela toda hora é hora, ou seja, que Seu Filho não deixaria de atendê-La.
Prontamente foi dizer aos servos para fazer tudo que Ele lhes ordenasse. Com efeito, Jesus quis ressaltar que o papel de Maria é misterioso e eficiente. O Filho belo, cativante, elevado, nobre, verdadeiro Deus e verdadeiro homem não poderia deixar de operar o milagre, mesmo que a hora do Pai ainda não tivesse soado.
A mãe tem um poder de intercessão inigualável junto ao filho. Assim procedendo, Maria contribuía para revelar o seu Filho ao mundo e cooperar na elevação dos homens a Deus. De fato, Jesus atendeu ao pedido d’Ela ao transformar a água em delicioso vinho. Este foi Seu primeiro milagre e seus discípulos creram n’Ele.
Tal prodígio compete a Deus, que é o Senhor dos elementos da natureza. E Ele fez isto para iluminar a nossa inteligência e esta receber a virtude da Fé, com a qual vamos acatar os Seus ensinamentos e a Sua vida. O milagre não é contra a natureza, mas está acima dela. Não apresenta explicação natural; o que o explica é o poder de Deus para confirmar o que ensina. Seu objetivo é conduzir os homens à verdadeira doutrina contida na religião instituída por Ele.
Eis o papel de Nossa Senhora por ocasião do primeiro milagre de Jesus Cristo, aliás, feito com antecipação para atender ao pedido d’Ela. Quem rompe com Nossa Senhora rompe com Nosso Senhor Jesus Cristo, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Quem não tem Maria por mãe não tem Deus por Pai.
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*Pe. David Franciquini Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira-RJ e colaborador da Agência Boa Imprensa (ABIM).
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