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    quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

    Reinaldo Azevedo







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    Se em meu ofício, ou arte severa,/ Vou labutando, na quietude/ Da noite, enquanto, à luz cantante/ De encapelada lua jazem/ Tantos amantes que entre os braços/ As próprias dores vão estreitando —/ Não é por pão, nem por ambição,/ Nem para em palcos de marfim/ Pavonear-me, trocando encantos,/ Mas pelo simples salário pago/ Pelo secreto coração deles. (Dylan Thomas — Tradução de Mário Faustino)



    22/01/2014 às 14:31


    Leitores apontam que o chamado novo humor brasileiro, bem mais ideológico, no mau sentido, do que o de gerações anteriores também não faz piadas com religiões de origem africana ou com o budismo. É verdade. Os orientalismos estão entre hábitos de consumo de certa classe média com aspirações à ilustração, de onde vem a turma. E os africanismos são uma das expressões do politicamente correto. Transformá-los em alvos do humor seria um desrespeito com o oprimido e uma forma de fazer o jogo do poder.

    Então sobra para o cristianismo, com igual virulência contra evangélicos e católicos. Estes são considerados culpados de boa parte dos males do mundo, inclusive a aids, já que “é contra a camisinha”. Sem contar a Inquisição… Bom mesmo era Marat!!! E os evangélicos são tratados como idiotas abduzidos, que não perceberiam que seu pastor não passa de um pilantra. “Ah, mas não existem padres e pastores pilantras, Reinaldo?” Claro que sim! Mas também há jornalistas pilantras, açougueiros pilantras, humoristas pilantras. E, reitero, não quero censurar ninguém. Só não dá para posar de “Soninha Toda Pura” ou de “A Censurada do Leblon” quando há uma reação.

    Recorrer à Justiça é, reitero, uma reação democrática. Não pode é sair quebrando, espancando, batendo — práticas com as quais certo humor, é bom notar, tem flertado, ainda que por vias oblíquas. Isso, sim, é, nos valores que propaga, agressão à democracia. Recorrer a um Poder da República, nos marcos do Estado de Direito, é parte das regras do jogo.

    Mas me desviei um pouco. No meu longo texto, demonstro que, se os humoristas preservam aqueles que julgam oprimidos, então preservem o cristianismo, ora, hoje a mais oprimida das religiões, seja na denominação católica, seja num dos muitos ramos do protestantismo. Mais de 100 mil pessoas são assassinadas por ano por causa de sua confissão religiosa. Parece pouco? Inspira o gosto de alguém pela piada?

    Mas atenção! Eu sou Tocqueville: os males da liberdade se curam com mais liberdade — garantidas as premissas que permitem o exercício do direito. A piada é livre. O direito de reagir — na forma já definida aqui como sensata — também.

    Há quem ache que Cristo era um banana? Que diga! O que não é possível é sair gritando “censura!” e reagir como se tivesse havido uma agressão à santidade quando alguém diz que banana é o humorista — ou jornalista, incluindo o autor deste post.Por Reinaldo Azevedo





    22/01/2014 às 6:35







    22/01/2014 às 6:04



    Vamos a um texto longo, longuíssimo?

    Vamos às tarefas difíceis, que as fáceis são fáceis. Como afirmei num pequeno post de ontem à noite, não acho que comentaristas de política devam ficar terçando armas com humoristas, embora, em essência, o humor sempre fale a sério. No geral, interessa-me nele mais a mecânica da desconstrução de uma lógica aparente ou formal, de que são capazes os bons, do que o conteúdo propriamente. Em princípio, qualquer assunto pode ser objeto dessa desconstrução. A quem ocorreria, no entanto, fazer graça, deixem-me, ver com os sírios, submetidos ao carniceiro Bashar Al Assad e também a seus adversários, não menos asquerosos? Como arrancar um riso ou fazer uma ironia inteligente sobre a boate Kiss? “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é permitido, mas eu de nada (nem de ninguém) serei escravo”. É São Paulo na 1ª Epístola aos Coríntios, ensinando que a noção de limite também é libertadora. Para que dê sequência a este texto, é preciso que um valor esteja presente à leitura de cada linha: se, em algum momento, parecer que estou a defender a censura estatal, ou de qualquer outra natureza, ao humor do Porta dos Fundos ou de qualquer outro, ou eu não estarei a me expressar com clareza ou o defeito estará no entendimento. Vamos seguir.

    Visitei regularmente esse site de humor até aquele vídeo em que um ginecologista identifica a imagem de Jesus Cristo na vagina de sua paciente, durante um exame ginecológico. Nem vi como terminava, acreditem. Leitores me contaram que o alvo final eram os evangélicos. Sou católico. Aquilo me ofendeu por causa da minha religião? Não! Achei burro, grosseiro, sem graça. Na Internet, é muito fácil “provocar reações”, não é? Mexer com religião, especialmente agredindo a fé das pessoas, é um caminho fácil para mobilizar amores e rancores. Nem sempre, como é o caso, é o mais inteligente.

    Cheguei até ali com o “Porta dos Fundos” e não segui adiante. Para mim, estava bom. Vi mais uns dois ou três vídeos, em links recomendados por amigos e leitores. E só. Sim, é verdade, eu já os elogiei aqui e mantenho os termos do que escrevi. Assim, recomendo, com clareza meridiana, que os descontentes com o humor da turma façam como eu: não vejam! Não se perde tempo nem se ganha aborrecimento.

    Fiquei sabendo nesta terça — e foi nesta terça mesmo — que uma entidade católica já havia recorrido ao Ministério Público contra o Porta dos Fundos. Agora, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), com faro para a polêmica, decidiu também recorrer ao MP contra um “Especial de Natal” produzido pelo grupo. Segundo Feliciano, o material traz “conteúdo altamente pejorativo, utilizando-se inclusive de palavras obscenas, e de forma infame atacou os dogmas cristãos e a fé de milhares de brasileiros que comungam deles (…)”. O deputado quer uma indenização de R$ 1 milhão. Se vitoriosa a causa, diz que doará o dinheiro para as Santas Casas de Misericórdia.

    À Folha, Feliciano afirmou: “Esse vídeo ofende os cristãos. Não há necessidade de fazer humor com religião. Deixem os cristãos em paz. Esse não foi o primeiro vídeo. Agora, esperamos que eles tenham limite. Se não colocarem limites, vou convocar todos os religiosos a fazerem um boletim de ocorrência contra eles. No mínimo, vai dar muita dor de cabeça”. A turma do “Porta dos Fundos” tem seus advogados e não precisa do meu amadorismo. Mas pode, sim, dar uma dor de cabeça dos diabos. A religiosidade é um bem protegido pela Constituição, e o Código Penal também trata do assunto. Isso é lá com eles. Mas não quero me antecipar porque essa questão ainda vai aparecer mais adiante.

    Calma lá!
    A ação dos católicos repercutiu pouco — eu mesmo a desconhecia. A de Feliciano, por conta da notoriedade que lhe conferiram os gays na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, já está gerando um escarcéu danado. E começou a gritaria: “O Estado é laico!”; “Isso é censura!”; “Esse pastor precisa aprender o que é democracia!”; “Feliciano quer ditadura!”. Opa, opa, opa! Calma lá. Se o direito de o “Porta dos Fundos” fazer piadas estivesse em questão, eu estaria entre os primeiros a assinar um manifesto em sua defesa — é bem possível que um ou outro membros do grupo jamais assinassem um manifesto em favor do meu direito de escrever o que me der na telha. Mas essas coisas não exigem reciprocidade.

    Devagar com o andor — sem querer fazer graça: numa democracia, recorrer à Justiça é um direito. Não há nada de errado, de antidemocrático ou de autoritário na decisão dos católicos ou de Feliciano. Os que acham que seus direitos foram agravados têm três caminhos: a) silenciar; b) tentar resolver no braço; c) recorrer à Justiça. Sim, há a possibilidade de acordo, sem perturbar o estado com isso, mas não creio que funcionaria no caso em espécie: “Pô, pessoal, vamos pegar leve; acho que houve exagero…”. Não daria pé.

    Feliciano enviou ainda uma carta à Fiesp, uma das patrocinadoras do grupo, pedindo que reveja o apoio: “Aproveito para, encarecidamente, pedir à V. Sa. e seus representados que reflitam sobre o patrocínio que estão proporcionando ao site chamado Porta dos Fundos que, reiteradamente, vem através desses vídeos, que alegam proporcionar humor aos seus espectadores e nada mais fazem do que achincalhar as pessoas como nós que professamos a fé cristã”.

    De novo, é preciso indagar: o que há de errado nisso ou de antidemocrático? Nada! Feliciano, os católicos e os cristãos em geral têm o direito, inclusive, de propor um boicote ao site e às marcas que o patrocinam. Se ações assim funcionam, não tenho a menor ideia. Práticas dessa natureza, diga-se, foram inauguradas pelas esquerdas. Ninguém lá no “Porta dos Fundos” tem cara de ingênuo. Ou será que eles ignoram que determinadas abordagens enfurecem muitos cristãos? Posso apostar que contam com isso, inclusive, para ganhar audiência e influência na Internet. Convenham: em certos círculos militantes e ateus, arrumar uma briga com Feliciano pode até ser uma bênção. Mas sempre há o risco de passar do ponto, não é? Por definição, é sempre do topo que se começa a cair. Como é mesmo? “A gente é mais famoso que Jesus Cristo” — ou algo assim…

    O “Porta dos Fundos”, outros antes deles e outros depois deles são todos herdeiros do Monty Python — um grupo verdadeiramente engraçado, culto, inteligente. A melhor cena de humor que conheço está no filme “A Vida de Brian”, num trechinho conhecido por “O que nos deram os romanos?”. Já publiquei aqui ovídeo e a tradução do diálogo. Pode ser que alguém se ofenda com aquilo? É possível. Não há ali — como em tudo o mais que o grupo fez — uma só canelada, uma só grosseria, uma só generalização estúpida, e o humor vive, em parte, da generalização, daí a necessidade de cuidado. É bem verdade que, na sua curta existência, o “Porta dos Fundos” já fez mais piadinhas do que o Monty Python em décadas. Nem sempre dá para escolher o roteiro, pelo visto. Na falta de uma ideia melhor, por que não provocar os religiosos? Sempre funciona. Perdi o interesse por eles em razão desse e de outros proselitismos — maconha, por exemplo. Humor, quando pretende doutrinar, vira política — e precisa tomar cuidado para não se tomar como uma religião.

    Cristo e Maomé
    No dia 3 de abril de 2013, faz tempo já, escrevi aqui um post sobre uma entrevista de Fábio Porchat a Sônia Racy. Ele sustentava que o limite do humor é não ter graça. Leiam este trecho (em vermelho):
    Por quê? Acha que o limite [do humor] é não ter graça?
    Acho que, no nosso caso, somos cinco cabeças pensando. Cinco sócios. Então, é difícil uma coisa passar despercebida. A gente tem batido em coisas que, na verdade, merecem apanhar. No idiota que inventou a Ku Klux Klan, no padre pedófilo. Eu, por exemplo, não faço piada com Alá e Maomé, porque não quero morrer! Não quero que explodam a minha casa só por isso (risos). Mas, de um modo geral, a gente vai fazendo, vai falando.
    Não houve uma situação em que vocês falaram “isso não”?
    Já. E a gente não fez.

    Na conversa com a Folha, Feliciano afirmou: “Não entendo esses ataques. Eles só mexem com os cristãos porque sabem que somos pacíficos. Por que não mexem com muçulmanos?”. Bem, Porchat respondeu à pergunta de Feliciano, não é mesmo? E vou ter de discordar de ambos — no fim das contas, reparem, eles são mais iguais no pensamento do que ambos gostariam.

    Por que não posso concordar com a pergunta-afirmação de Feliciano? Ora, o fato de humoristas não poderem fazer piada com Maomé e Alá não deve servir de argumento definitivo para que não se faça piada também sobre o cristianismo. Fosse assim, a interdição imposta pelos islâmicos relativa à sua religião seria de tal forma poderosa que acabaria se alastrando para as demais religiões. E eu não posso concordar com isso.

    Mas a resposta de Fábio Porchat é também inaceitável. O fato de os humoristas, por uma covardia justificada, não fazerem piada sobe o Islã deveria levá-los a uma reflexão: então a violência cultivada por uma religião os empurra para o silêncio, e o reconhecido pacifismo da outra, para a falta de limites — a não ser o da graça? Não é possível! Fosse assim, a tal graça (quando não envolve islâmicos, claro!) seria um valor soberano, superior a todos os outros. Essa fala, ademais, é perigosa porque está a sugerir que, se os cristãos reagissem de forma violenta, eles parariam. Não é um bom modo de pensar.

    No dia 8 de março de 2012, dei aqui uma esculhambada em Mark Thompson, que não era um humorista como Porchat e seus amigos, mas diretor-geral da BBC. Hoje, é o chefão do New York Times (já falo sobre este jornal também). E por que ataquei Thompson? Reproduzo parte daquele post (em azul):

    O chefe da BBC, Mark Thompson, admitiu que a rede BBC jamais zombaria de Maomé como zomba de Jesus. Ele justificou a espantosa confissão de preconceito religioso dando a entender que zombar de Maomé teria o mesmo peso emocional da pornografia infantil. Mas tudo bem zombar de Jesus porque o cristianismo suporta tudo e tem pouca relação com questões étnicas.
    Thompson diz que a BBC jamais teria levado ao ar “Jerry Springer -The Opera” — um polêmico musical que zomba de Jesus — se o alvo fosse Maomé. Eles fez essas declarações numa entrevista para um projeto de pesquisa da Universidade Oxford.
    Thompson afirmou: “A questão é que, para um muçulmano, uma representação teatral, especialmente se for cômica ou humilhante, do profeta Maomé tem o peso emocional de uma grotesca peça de pornografia infantil”. O porta-voz da BBC não quis comentar as declarações.
    No ano passado, o ex-âncora da BBC Peter Sissons disse que é permitido insultar os cristãos na rede, mas que os muçulmanos não podem ser ofendidos. Sissons, cujas memórias foram publicadas numa série no Daily Mail, afirmou: “O Islã não pode ser atacado sob nenhuma hipótese, mas os cristãos, sim, porque eles não reagem quando são atacados”. O ex-apresentador disse também que os profissionais têm suas respectivas carreiras prejudicadas se não seguem essa orientação da BBC.

    Retomo
    No dia 16 de março daquele mesmo ano, oito dias depois, registrei post a covardia do New York Times. O jornal publicou um anúncio, que custou US$ 39 mil, que convidava os católicos a abandonar a sua religião, classificando de equivocada a lealdade a uma fé marcada por “duas décadas de escândalos sexuais envolvendo padres, cumplicidade da Igreja, conluio e acobertamento, da base ao topo da hierarquia”. Eis o anúncio.


    Pois bem. A blogueira Pamela Geller, que comanda a página “Stop Islamization of America”, tentou pagar os mesmos US$ 39 mil para publicar no mesmo New York Times um anúncio convidando os muçulmanos a abandonar a sua religião. O texto afirma: “Junte-se àqueles que, como nós, colocam a humanidade acima dos ensinamentos vingativos, odiosos e violentos do profeta do Islã”. Assim:


    Sabem o que aconteceu? Com a coragem do humorista Fábio Porchat e de seus amigos, o New York Times se negou a publicar o anúncio. Eileen Murphy, porta-voz do NYT, repete a resposta que teria sido enviada a Pamela quando houve a recusa: “Nós não nos negamos a publicar. Decidimos adiar a publicação em razão dos recentes acontecimentos no Afeganistão, como a queima do Corão e o assassinato de civis por um membro das Forças Armadas dos EUA. Acreditamos que a publicação desse anúncio agora poderia pôr em risco os soldados e civis dos EUA, e nós gostaríamos de evitar isso”.

    E não se tocou mais no assunto.

    Perseguidos
    Gregório Duvivier, o melhor ator deles todos, escreveu uma coluna na Folha respondendo com ironia não muito fina ao cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Sherer, que reclamou no Twitter de um dos vídeos do Porta dos Fundos. Duvivier estava bravo mesmo. A empresa de que ele é sócio já fez muitos vídeos esculhambando a religião de que dom Odilo é sacerdote graduado. Mas o humorista não engoliu os 140 toques do bispo reclamando no Twitter. De quem é a intolerância com a crítica? Jogou nas costas do bispo a perseguição a Galileu Galilei, o fato de a Igreja não ordenar mulheres, opor-se ao aborto de fetos de anencéfalos etc. Aí o humorista falava a sério. Uma pena!

    Estou certo, e acho que ele faz muito bem, que Duvivier não é do tipo que faria piada com palestinos da Faixa de Gaza, por exemplo — ou com os já citados sírios. Não hoje em dia. Com Maomé, a gente já sabe, nem pensar! Há coisas na Igreja de que, a gente percebe, ele não gosta. Tem esse direito. Como humorista e como pensador. Mas se é pra ter um “papo firmeza”, vamos lá.

    Em 2012, pelo menos 105 mil pessoas foram assassinadas no mundo por um único motivo: eram cristãs. O número foi anunciado pelo sociólogo Maximo Introvigne, coordenador do Observatório de Liberdade Religiosa, da Itália. E, como é sabido, isso não gerou indignação, protestos, nada. Segundo a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), 75% dos ataques motivados por intolerância religiosa têm como alvos os… cristãos. Mundo afora, no entanto, o tema quente, o tema da hora — e não é diferente na imprensa brasileira —, é a chamada “islamofobia”, certo?

    Se Duvivier quer ir além da piada ideológica, que não tem graça, terá de reconhecer que a igreja que não ordena mulheres é a maior cuidadora do mundo de crianças abandonadas e de mães que trabalham. Também mantém a maior rede de assistência social do mundo. E é a entidade privada que mais financia leitos hospitalares no mundo. Nesta hora, seus missionários estão lá pelos rincões da África, muitos deles protegendo comunidades da fúria de milícias muçulmanas. Em Darfur, mais de 400 mil pessoas foram assassinadas porque eram cristãs. Galileu Galilei? Robespierre matou em dois anos dezenas de vezes mais do que o Santo Ofício em quatro séculos. Eram crimes do Iluminismo?

    Atenção!
    Nada disso pode impedir, reitero, o “Porta dos Fundos” de fazer humor sobre o que bem entender. Sim, a Constituição protege a liberdade religiosa, conforme se lê no Inciso VI do Artigo 5º:
    “VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.
    Não por acaso, já que são questões contíguas, é o mesmo artigo que trata da liberdade de expressão, no Inciso IX:
    “IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
    A ele se junta, nas garantias, o Artigo 220:
    “Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
    § 1º – Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
    § 2º – É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

    O Código Penal, no entanto, estabelece, no Artigo 208:
    “Art. 208 – Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
    Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.”

    O “Porta dos Fundos” faça o que quiser e siga na trilha que achar melhor, mas há uma penca de leis — inclusive aquelas que protegem a honra — que disciplinam aquela liberdade de expressão, que não é, a exemplo de qualquer direito, um bem absoluto. Se o escarnecimento por motivo de crença é considerado crime, é um sinal de que a liberdade de expressão não o abarca; se a calúnia, a injúria e a difamação são crimes, da mesma sorte não estão protegidas por aquele fundamento. O assunto pode, sim, render. E muito!

    Começando a caminhar para a conclusão
    escrevi aqui sobre uma igreja criada nos EUA chamada Westboro Baptist Church. É composta por um bando de malucos liderados por um tal Fred Phelps. Ele teria recebido uma mensagem divina informando que Deus estava castigando as tropas americanas no Iraque e no Afeganistão por causa da… tolerância com o homossexualismo!!! A missão de sua igreja seria anunciar isso ao país. E o que fazia Phelps e seu bando de lunáticos, boa parte gente de sua própria família? Cruzava o país de norte a sul, de costa a costa e, onde houvesse funeral de um soldado, lá estavam eles brandindo cartazes com os seguintes dizeres: “Obrigado, Deus, pelos soldados mortos”, “Obrigado, Deus, pelo 11 de Setembro” e “Você vai para o inferno”. Eles são asquerosos? Não tenho a menor dúvida. A direita americana os despreza. Os liberais (a esquerda de lá) não menos.

    Albert Snyder, pai de um fuzileiro naval, processou a Westboro. Numa primeira instância, a Justiça lhe concedeu uma indenização de US$ 11 milhões, reduzida depois a U$ 5 milhões. O caso foi parar na Suprema Corte. Atenção! Por 8 votos a 1, os juízes decidiram que a Primeira Emenda garante à canalhada o direito de dizer o que diz. Se bem se lembram, a Primeira Emenda é aquela que proíbe o Congresso até de legislar sobre matéria que diga respeito à liberdade de expressão e à liberdade religiosa. Para quem se interessar, a íntegra da sentença está aqui.

    Também em relação aos vídeos do “Porta dos Fundos”, que deixaram de me interessar, faço minhas as palavras o economista Walter Williams, um ultraliberal negro, em entrevista à VEJA:
    “É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas”.

    Quando fui contratado para ser colunista da Folha, enfrentei uma canalha, inclusive da imprensa e do humor, que passou a defender uma forma de linchamento moral e de censura. Eu não quero censurar ninguém, ainda que certas coisas possam ser repulsivas.

    E agora vou concluir mesmo
    Dei uma olhada no tal vídeo de Natal, o que mais está gerando polêmica. Há lá uma tentativa de graça com os cravos fincados nas mãos de Jesus Cristo, representado por Gregório Duvivier. É engraçado? Huuummm… Tem gente que já vem equipada de fábrica com todos os antidepressivos, certo? Processar o “Porta dos Fundos” por aquilo? Eu não o faria. Mas compreendo que os cristãos se sintam ofendidos.

    Como se ofenderiam os jornalistas, acho, e qualquer pessoa decente, se fizessem uma graça com Tim Lopes, colocando-o numa pira de pneus (o micro-ondas), com alguém indagando: “E aí, está quentinho?”. Ou, sei lá, se aparecessem humoristas para fazer piadas — vou citar dois assassinos — com Carlos Lamarca ou com Carlos Marighella, ali, na hora final. Acho que seriam chamados de “fascistas”, de “direitistas”, de “reacionários”. Mais: alguém logo escreveria um artigo apontando a, como é mesmo?, “guinada à direita” do humor.

    Walter Williams de novo: “A liberdade de expressão só é realmente posta à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas”.

    Por mim, o “Porta dos Fundos” segue fazendo o que vem fazendo, seja lá o que for. Não me interessa mais faz tempo. Quem não gostar que não veja. Eu continuo com São Paulo: “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é permitido, mas eu de nada (nem se ninguém) serei escravo”. Os rapazes do site têm o direito de ser escravos dos próprios preconceitos. Enquanto for um bom negócio, mudar por quê? Só não vale reclamar e acusar os cristãos de autoritários. Eles também têm o direito de dizer o que pensam e, se acharem que é o caso, de apresentar petições ao Poder Público. Trata-se de um dos pilares da democracia.

    Por Reinaldo Azevedo





    22/01/2014 às 5:37


    Leiam o que informa a Folha:
    A secretária de Justiça de São Paulo, Eloisa Arruda, criticou a ministra Maria do Rosário por ter afirmado, em nota oficial na última sexta-feira, que Kaique dos Santos foi “brutalmente assassinado” por homofobia. O texto afirmava ainda que a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência estava “acompanhando o caso junto às autoridades estaduais” para “evitar a impunidade”. O Estado é comandado pelo PSDB, que faz oposição ao governo federal petista. Eloisa Arruda defendeu a investigação da polícia e afirmou que a homofobia deve ser tratada “de forma responsável e sem considerações precipitadas”. “Lamento que uma situação tão dolorosa tenha sido encaminhada de forma sensacionalista”, disse a secretária. “São casos que devem ser tratados com serenidade e seriedade, sem fazer proselitismo com o sofrimento alheio.”

    Gustavo Bernardes, coordenador-geral de Promoção dos Direitos de LGBT da pasta de Maria do Rosário diz que não houve precipitação ao tratar o caso como assassinato. Segundo ele, a pasta só descartará a tese crime de ódio quando saírem os laudos. “Sempre que a ministra e eu nos manifestamos, citamos que confiávamos que as autoridades fariam a apuração correta.” Em resposta às criticas de Eloisa Arruda, a secretaria disse que agiu em defesa da família de Kaique. “Como a ministra afirmou no caso do presídio de Pedrinhas, os direitos humanos são uma questão suprapartidária.”

    Por Reinaldo Azevedo





    22/01/2014 às 5:27


    Por Jailton Carvalho, no Globo:
    No segundo dia de trabalho fora da prisão, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares teve encontros com o ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalg, com o deputado distrital Roberto Policarpo (PT) e com o secretário-geral do Sindicato dos Servidores Públicos do Distrito Federal, Cícero Rola. Pelo relato dos três, Delúbio, um dos condenados no processo do mensalão, está se adaptando rapidamente à rotina de passar a noite na prisão e os dia tralhando no escritório da Central Única dos Trabalhadores (CUT). “Ele está tranquilo, está bem. Ele se sente em casa na CUT”, disse Policarpo.

    O deputado diz que foi ao escritório da central sindical para tratar da próxima campanha salarial dos servidores públicos e, na saída, teve um encontro com Delúbio. O ex-deputado Greenhalg, hoje advogado da CUT, disse que foi à sede da central em Brasília para tratar de dois processos relacionados a servidores e, por acaso, encontrou o ex-tesoureiro tomando um café. Os conversaram rapidamente, mas segundo Greenhalg, Delúbio não fez qualquer comentário sobre a condenação sofrida no mensalão e nem queixas sobre a prisão. “Ele está bem se é alguém pode estar bem (na prisão). Dei um abraço nele e disse que semana que vem eu volto pra gente conversar”, disse Greenhalg.

    Delúbio teria conversado um pouco mais com Cícero Rola. Segundo ele, o ex-tesoureiro discorreu sobre a importância de se trabalhar para reduzir a pena. Falou também que pensa em voltar a estudar para ocupar o tempo com o máximo de atividade possível previsto em lei para ele que em regime semiaberto. A disposição do colega surpreendeu o colega.”Fiquei impressionado com a força dele, falando da possibilidade de estudar. Não sei como ele está por dentro, mas me pareceu bem animado. Ele disse que está cumprindo o que foi determinado (pela Justiça). Disse : “estou cumprindo a minha parte”, conta Cícero.

    O clima estava tão descontraído que o sindicalista quis perguntar para o colega como era o colchão na cadeia. Mas como tinha outras pessoas por perto acabou desistindo da brincadeira. Um funcionário da CUT disse que Delúbio cumpre a risca os horários estabelecidos pela Justiça, mas não perde o bom-humor nem mesmo com as agruras da prisão. ”Ele é muito divertido. Fala tudo da prisão, da situação dele”, disse um funcionário da CUT que está acompanhando de perto o cotidiano do ex-tesoureiro.

    Delúbio foi condenado a seis anos e oito meses de prisão por corrupção ativa. Mas a pena pode aumentar se o Supremo Tribunal Federal confirmar a condenação de dois anos e três meses por formação de quadrilha. Pelo segundo dia de trabalho desde que foi preso em 16 de novembro, Delúbio almoçou com marmita comprada num restaurante self-service. Ele teria comido arroz, feijão e medalhão de filé, entre outros itens.Por Reinaldo Azevedo





    22/01/2014 às 5:25


    Na Folha:
    Convidado ontem pela presidente Dilma Rousseff para assumir o Ministério da Saúde no lugar de Alexandre Padilha, Arthur Chioro, atual secretário de Saúde em São Bernardo do Campo (SP), é alvo de investigação do Ministério Público de São Paulo por improbidade administrativa. ”O objeto da apuração é de possível violação ao princípio da administração pública, porque ele é secretário municipal e, concomitantemente, sócio majoritário da empresa Consaúde Consultoria, Auditoria e Planejamento Ltda., que presta serviço para diversos municípios, confrontando a Lei Orgânica de São Bernardo do Campo”, disse a promotora Taciana Trevisoli Panagio.

    Segundo o “Diário do Grande ABC” e o “Correio Braziliense”, o inquérito civil público foi instaurado em setembro de 2013. A consultoria, que pertence ao secretário desde 1997, presta serviços na área da saúde a várias cidades do Estado de São Paulo, sobretudo em municípios sob a gestão petista, como Ubatuba e Botucatu. Procurada pela Folha, a Secretaria de Saúde de São Bernardo do Campo (SP) não comentou a investigação até o fechamento desta edição.

    A escolha de Chioro começou a ser sacramentada na semana passada. A presidente tinha boas referências sobre a atuação do secretário quando de sua passagem pelo Ministério da Saúde entre 2003 e 2005, no governo Lula. À época, Chioro dirigia o Departamento de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, onde foi responsável pela implementação do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
    (…)

    Por Reinaldo Azevedo





    21/01/2014 às 22:21


    Leitores vêm me cobrando há tempos que escreva sobre o humor do “Porta dos Fundos”. Acho que, até hoje, só escrevi sobre humoristas para elogiar — e eu já elogiei a turma. Já vi sacadas realmente brilhantes. Mais: há lá atores excelentes. O grupo conseguiu desenvolver uma linguagem para a Internet. Parece coisa simples, mas não é.

    Quando, no entanto, me vi prestes a criticar seus vídeos ou pela falta de graça ou por um viés que, às vezes, põe a ignorância a serviço de preconceitos — ideológicos ou religiosos (sobretudo esses) —, preferi parar de assistir aos vídeos do grupo. A graça também tem de ser informada em certos casos para ter… graça. E nada escrevi a respeito. Humor, mesmo quando desastrado, mereceria ser respondido com humor. Não é a minha. Convenham: há no país urgências maiores.

    Mas agora apareceu uma questão que me parece relevante. Agora a coisa chegou à praia que eu frequento: liberdade de expressão. Este blog é fruto dela. O deputado Marco Feliciano (PSC-SP), pouco importa se por convicção ou por um raro faro para a polêmica — que lhe acaba sendo útil —, resolveu recorrer à Justiça contra o grupo.

    Agora, sim, eu vou entrar no caso, Na madrugada, volto ao assunto. Talvez os religiosos não gostem tanto assim. Talvez alguns humoristas não gostem tanto assim. Eu, certamente, vou me divertir lembrando alguns fundamentos da democracia.

    Tanto os, como direi?, bem como os mal pensantes, no Brasil, têm um viés curioso: dizem adorar o regime democrático. Mas basta que tenham de arcar com as consequências dele decorrentes, fazem como o coelho do Bambi e saem gritando: “Fogo, fogo na floresta!”

    Fogo nada! Fica para mais tarde.Por Reinaldo Azevedo





    21/01/2014 às 21:41


    Por Eduardo Gonçalves, na VEJA.com:
    O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa. O processo se refere aos dois períodos em que foi prefeito de Porto Alegre (1993 a 1996 e 2001 a 2002). Na decisão, assinada pela juíza da 1ª Vara da Fazenda Pública, Vera Regina Cornelius Moraes, o petista deverá pagar multa de 10.000 reais e terá os direitos políticos cassados por cinco anos. A punição será aplicada quando não houver mais a possibilidade de recursos.

    O Ministério Público acusou a administração de Genro de contratação irregular de profissionais da área da saúde. Na sentença, a magistrada afirma que não foi realizado concurso público para a admissão dos servidores: “A contratação de inúmeras pessoas sem concurso público fere os princípios que regem a boa administração, ou seja, moralidade e legalidade, bem assim a disposição constitucional que prevê o concurso público como forma de ingresso no serviço público, com as exceções expressa e taxativamente previstas na Constituição Federal”.

    As contratações foram feitas em caráter de urgência, para vagas temporárias, o que dispensaria a realização de concurso, segundo a legislação municipal. A juíza, no entanto, argumentou que alguns servidores permaneceram no cargo por dois anos com contrato temporário – cuja validade era de até oito meses. Além disso, a magistrada afirmou que “a demanda da população não era provisória, mas permanente, o que descaracteriza a motivação para contratações emergenciais”, e acrescentou que “alguns contratos sob forma temporária foram privilegiados em prejuízo de outros candidatos já aprovados em concursos públicos para os mesmos cargos”.

    Caso
    A ação civil questionava a legalidade da contratação de enfermeiros e médicos para a capital gaúcha de 1993 e 2002. A sentença foi emitida em dezembro do ano passado, mas só nesta terça-feira foi divulgada pelo Tribunal de Justiça do Estado. Além do governador Tarso Genro, foram condenados na mesma sentença os ex-prefeitos Raul Pont (1997-2000) e João Verle (2002-2004), o atual deputado Henrique Fontana (PT), que à época era secretário municipal da Saúde, e outros dois ex-secretários, Lucio Barcelos e Joaquim Kliemann.

    Em nota, Genro disse que a “prefeitura não tinha médicos concursados para contratar”, e que a ação refere-se à “contratação de um médico radiologista com base na lei municipal”. O governador também afirmou que já respondeu a outros três processos, dos quais foi absolvido de todos. “Na democracia, somos obrigados a conviver com absurdos desta natureza e para revisá-las, felizmente, temos o duplo grau de jurisdição”, disse, referindo-se ao direito de recorrer para outras instâncias.Por Reinaldo Azevedo





    21/01/2014 às 21:23


    Ah, Maria do Rosário!

    A Human Rights Watch fez um relatório criticando duramente vários aspectos ligados à segurança pública no Brasil: presídios, atuação das polícias, investigações malfeitas, impunidade. Também fez elogios, como a criação da Comissão da Verdade e a punição de policiais envolvidos nas mortes do Carandiru e no assassinato do pedreiro Amarildo. Concordo com algumas críticas; discordo de outras. Concordo com alguns elogios; discordo de outros. Mas não vou entrar agora nesse mérito.

    Quem veio a público falar em nome do governo foi Maria do Rosário, sobre quem já escrevi nesta terça. Esta impressionante ministra dos Direitos Humanos disse o seguinte, num determinado momento: “Quando o governo investe no sistema prisional, nós recebemos críticas também…”

    É mesmo? Recebe críticas de quem? Quando é que vocês viram um governo, em qualquer esfera, ser criticado por investir em presídios? Epa! Esperem! É verdade. Quem costuma fazer essa crítica é justamente o petismo. Lula, o Apedeuta-chefe, disse certa feita que ele preferia construir escolas a construir cadeias. Bidu! Com esse pensamento, o Brasil tem hoje um déficit de umas 200 mil vagas mais ou menos.

    Mas está tudo explicado. Em 2013, o governo federal investiu 38% menos do que em 2012 no sistema prisional. Agora entendi o motivo: os petistas fiaram com medo de receber… críticas.

    Não tem jeito! O diálogo com Maria do Rosário não é nem bom nem mau. É apenas inútil.Por Reinaldo Azevedo





    21/01/2014 às 21:00

    Táxi no corredor da Rebouças: avenida congestionada, área de ônibus livre — inclusive dos… ônibus!

    Na sexta-feira passada, tinha uma consulta à tarde no Hospital Albert Einstein. Não dirijo, como sabem. Nunca nem liguei um carro — hoje, basta apertar um botão. Não tive essa curiosidade. Vai que aquele troço dê um solavanco… Um desafeto pode indagar: “Como pode tentar lidar com ideias um idiota como você, que não consegue, ao mesmo tempo, cuidar de dois pedais, mover o volante e olhar para a frente e para um retrovisor central e dois laterais?”. Pois é, leitor inimigo… Já bati o carro só de escrever… Não tem jeito! É uma tarefa para humanos acima da minha medíocre condição. Admiro sinceramente as pessoas que dirigem. Adicionalmente, tenho uma miopia fabulosa (vai ficando menor com a idade, mas ainda é robusta). Enfim, eu poupo os outros da minha falta de jeito e de talento. “Menos quando escreve”, insiste o petralha viciado em mim, hehe…Retomo. Tinha uma consulta às 19h30 no Einstein. Decidi sair daqui às 18h. Minha mulher, um desses humanos superiores capazes de conduzir aquela máquina, se ofereceu para me levar. “Não, vou de táxi por causa do corredor da Rebouças, ou vamos demorar mais de duas horas para chegar lá.” E assim fiz.

    Fui bem-sucedido. Rampa do Pacaembu livre; a Rebouças toda parada, como sempre, mas os corredores de ônibus fluíam. O táxi deslizou por ele. Não atrapalhamos um único coletivo, nada! Cheguei a meu destino em 25 minutos. No meu próprio carro, dado o congestionamento, não teria levado menos de duas horas. “Por que não vai de metrô?” Porque ele ainda não chegou ao Morumbi. “E de ônibus?” Seriam necessários pelo menos quatro — oito com os da volta. Síntese: se e quando os táxis não puderem mais circular no corredor, haverá, em casos assim, um carro a mais na rua — o meu. Como eu, há milhares de outras pessoas.

    Existem 35 mil táxis em São Paulo. O motorista que me levou ao hospital afirmou que faz, por dia, 12 corridas. Mas disse não ser dos que mais trabalham. Afirmou que há quem só pare depois de pelo menos 20. Operarei com uma média modesta: 10. Fazem-se pelo menos 350 mil corridas por dia. Segundo ele me diz, em metade das vezes, transporta dois passageiros; mais raramente, três. Nos fins de semana, por causa das baladas, é frequente conduzir até quatro. Pergunto: o táxi não é também, a seu modo, transporte coletivo? Se e quando forem proibidos de circular nos corredores, será que donos de carro migrarão para o ônibus e pronto? Não! Haverá mais carros na rua, extremando os problemas de trânsito.

    Mas não tem jeito. A Prefeitura falsifica a realidade ao afirmar que se trata de uma exigência do Ministério Público. É? Sim, o órgão ameaça representar contra a Prefeitura porque os gênios de Fernando Haddad fizeram um estudo demonstrando que os táxis deixavam mais lentos os ônibus. Basta circular de táxi nos corredores para perceber que isso é falso. Digamos, no entanto, que verdadeiro fosse: mais lento quanto? A depender do percentual, melhor arcar com essa lentidão do que com o acréscimo de milhares de carros nas ruas.

    Fosse uma questão apenas técnica, de conciliação das várias necessidades de São Paulo, o certo seria permitir que táxis circulassem não só nos corredores, mas também nas faixas — inclusive vazios, para que pudessem chegar com mais rapidez aos clientes. Quando puder, leitor, se ainda não o fez, vá a Nova York ou a Buenos Aires. Veja o número de táxis que há nessas cidades e depois compare com São Paulo, Rio, qualquer outra capital brasileira. Houvesse vontade de resolver problemas em vez de criar proselitismo ideológico e luta de “ricos” contra “pobres”, Haddad daria um jeito de, primeiro, fazer com que donos de carro migrassem em maior número para os táxis. Para milhares de pessoas, o “custo tempo” é muito mais importante do que o “custo dinheiro”.

    Mas não! Haddad, que hoje hostiliza os donos de automóveis, apesar de seu partido estimular a compra de carros, decidiu hostilizar também os motoristas de táxi e os usuários do serviço. Eis o PT: essa gente é especialista em promover a guerra de todos contra todos.

    Os bichos
    Para chegar ao Einstein, no caminho que faço, tenho de passar pelo Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo. Havia lá um grupo de uns 15, 20 militantes, com cartazes. Eles cobravam que o governador Geraldo Alckmin sancione uma lei aprovada pela Assembleia Legislativa — na esteira daquela barbaridade cometida contra o Laboratório Royal —, que proíbe o teste em animais de produtos cosméticos, de higiene pessoal e de perfumes e seus derivados. “Também os de higiene pessoal?” Também! Parece que o essa área do saber é considerada mera frescura…

    Que se note: a indústria cosmética quase não usa mais bichos. Na maioria das vezes, os testes são mesmo feitos in vitro. No Royal, diga-se, os animais eram usados apenas para testar remédios. Aquela gente em frente ao Palácio só estava lá protestando, firme e saudável, em razão de alguns bichinhos que serviram à ciência. O governador tem até quinta para sancionar ou não a lei. Parece-me evidente que se trata de uma questão federal, não estadual. Até porque, a depender das restrições que se criem, empresas deixarão São Paulo, desempregando pessoas, para se instalar em outros estados.

    Higiene pessoal, cosméticos, perfumes… Será isso tudo supérfluo? A depender da decisão que se tome, também nessa área, o único resultado será a punição de pessoas. Que diferença faz empregar um animal em São Paulo ou em outro estado qualquer? Mas faz toda a diferença para quem vai perder o emprego, não? Sem contar que há, obviamente, um apelo obscurantista nessa história. Mas essa gente sabe que o espírito estúpido do tempo está a seu favor. Essa militância já chegou à imprensa.

    Novo encontro
    Passei pela minha consulta; fiz lá as minhas negociações com o Jairo Hidal (“haja paciência”, ele deve pensar!) e desci até o andar onde param os táxis. Aquele mesmo grupo que estava no Palácio do Bandeirantes havia decidido ir até o hospital para usar o banheiro, beber água, essas coisas… A turma usava com muita destreza um espaço particular, certa do seu “direito” de impor tanto ao público — o conjunto dos paulistas — como ao privado (o hospital) as suas vontades, as suas necessidades, a sua visão de mundo. Seja para defender bichos ou para fazer xixi, comportam-se como soberanos.

    “Que ironia!”, pensei (enquanto aguardava o táxi, que não chegou; peguei outro na rua). “Esse hospital deve salvar centenas de vidas por dia porque pesquisadores que aquela gente certamente acha desprezíveis souberam estabelecer uma hierarquia entre o homem e os outros animais. Não eram torturadores; não eram sádicos, não eram maus; ao contrário: queriam salvar vidas.”

    Líquidos expelidos e ingeridos, lá se foram os amigos dos bichos, certos de ter cumprido a sua missão: anunciar ao mundo a sua bondade e a maldade alheia. Outros, nem tão bonzinhos, continuarão a fazer pesquisas para preservá-los de suas próprias convicções, curando-os de doenças e preservando-lhes a vida. Peguei meu táxi de volta, pelo corredor — eu, um usurpador do direito natural dos pobres, segundo o Ministério Público e Fernando Haddad. Afinal, eu sou mau. Eles são bonzinhos.Por Reinaldo Azevedo





    21/01/2014 às 19:16

    Maria do Rosário: ela atira primeiro e só pergunta depois

    Escrevi há pouco um texto sobre a conduta lastimável da ministra Maria do Rosário, que anunciou ao Brasil a falsa ocorrência de um crime. Resgatemos dois trechos de sua nota:
    ANÚNCIO DO FALSO CRIME:
    “A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) vem a público manifestar solidariedade à família de Kaique Augusto Batista dos Santos, assassinado brutalmente no último sábado”
    MOBILIZAÇÃO DA AUTORIDADE
    “SDH/PR está acompanhando o caso junto às autoridades estaduais, no intuito de garantir a apuração rigorosa do caso e evitar a impunidade.”

    O que diz o Código Penal no Artigo 340? Isto:
    “Art. 340 – Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado:
    Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.”



    Por Reinaldo Azevedo





    21/01/2014 às 19:02


    Por Marcela Mattos, na VEJA.com:
    O Brasil criou 1,1 milhão de empregos com carteira assinada em 2013, o pior resultado em dez anos – em 2003, foram criadas 821.704 vagas formais. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado nesta terça-feira, o número representa queda de 14,1% em relação a 2012, quando foram criadas 1,3 milhão de vagas.

    O ministro do Trabalho, Manoel Dias, creditou os resultados à conjuntura mundial: “Ao todo, foram fechados 62 milhões de postos no mundo inteiro em 2013, e a previsão é que até 2018 tenhamos 200 milhões de trabalhadores desempregados no mundo. Não estamos conseguindo, ainda, o milagre de não ser afetado pela onda de desemprego”, afirmou.

    Para tentar justificar o fraco desempenho no mercado de trabalho, o ministro também culpa o baixo desempenho da economia do país. “Tivemos um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) que não foi alto. A geração de emprego não poderia contrariar a nossa realidade, mas, mesmo assim, crescemos acima do esperado.”

    Mesmo com o enfraquecimento no ritmo de criação de vagas, Manoel Dias mantém o otimisto e projeta para este ano um avanço na criação de empregos. Segundo ele, o Brasil deve criar entre 1,4 milhão e 1,5 milhão de vagas formais de trabalho em 2014. A expectativa do governo é que seja mantida a tendência dos últimos cinco meses de 2013, quando foi registrado avanço em relação a igual período de 2012.

    Setores
    O setor de serviços, de acordo com o Ministério do Trabalho, liderou a criação de empregos formais em 2013: ao todo, foram criados 546.917 novos postos. O setor de comércio está logo abaixo no ranking, com 301.095 novos empregos, seguido pela indústria de transformação (126.359 novas vagas) e pela construção civil (107.024). O levantamento aponta ainda um aumento de 2,59% no valor dos salários médios de admissão. Quando analisados em relação ao gênero, os homens continuam em posição de vantagem: obtiveram aumento real do salário médio de admissão de 2,76%, ante 2,46% das mulheres.

    O Sudeste destacou-se como a região que apresentou maior taxa na criação de empregos: 476.495. Este número, porém, é menor do que o de 2012, quando foram contabilizadas 655.282 novas vagas. Em seguida está a região Sul, com 257.275 novos trabalhadores atuando com a carteira assinada – um aumento de cerca de 23.000 novos postos em comparação ao ano anterior.Por Reinaldo Azevedo





    21/01/2014 às 18:47


    Vejam a foto deste adolescente. Ele tinha 17 anos.


    No dia 18, escrevi aqui um texto sobre a morte trágica de Kaíque Augusto, o rapaz da foto, que era negro e gay — pronto, portanto, para ser “consumido” por movimentos militantes. Faço questão de reproduzir o primeiro parágrafo daquele post:
    “Todas as profissões têm seus momentos desagradáveis, indesejados pelos profissionais. Eis um deles. Preferiria não escrever nada do que virá, seja em razão do que há de drama humano, de sofrimento mesmo, seja em razão da pulhice política que acompanha o episódio. Raramente tantos oportunistas se aproveitaram com tamanha determinação da dor alheia como nestes tempos.”

    Meu desconforto continua neste segundo texto. Kaíque, agora a família também reconhece depois de mais um monte de indícios, se suicidou. Jogou-se do alto de um viaduto no Centro de São Paulo. A polícia encontrou seu corpo no dia 11, desfigurado em razão da queda. Dado o estado do cadáver, que, adicionalmente, passou três dias sem refrigeração, a família suspeitou de espancamento e tortura e sustentou que o garoto teria sido morto num ataque homofóbico.

    Penso no sofrimento do rapaz, na dor de sua mãe, de seu pai, da sua família, enfim. Nesta terça, o advogado da família reconheceu que o jovem se suicidou — em seu diário, há até um texto de despedida — e que a Polícia atuou com correção na investigação do caso. Na sexta-feira, militantes gays promoveram um protesto no Centro de São Paulo “exigindo” que a polícia apurasse direito o caso. Na verdade, a exigência era outra: que se concluísse que a morte era consequência da homofobia. Kaíque, como observei, havia deixado de ser uma pessoa — com todos os seus sofrimentos — e passara a ser uma bandeira.

    E agora? Bem, agora Kaíque foi rebaixado à condição de cadáver comum, e ninguém mais vai se interessar pelo seu caso. Deixo claro, meus caros: eu até compreendo, embora lamente, que lideranças de movimentos gays chamem de “crimes de homofobia” também àqueles que não são. Lamento porque isso distorce a verdade e, por óbvio, distorce também a solução. Mas vá lá… Digamos que essas lideranças tenham adotado uma postura política: “Faremos sempre o máximo de barulho para que nossa causa fique em evidência”. Acho um erro, sim, mas é muito próprio do caráter sindical que assumiram esses movimentos.

    Mas e Maria do Rosário? A ministra dos Direitos Humanos, com a (ir)responsabilidade de quem é a voz da Presidência da República na área, emitiu na sexta-feira uma nota indecorosa, asquerosa mesmo, a respeito. Ela decidiu pegar carona na morte de Kaíque e na terrível tragédia que acometeu sua família e emitiu uma nota pública em que:
    a: deu como certo e fato consumado que Kaíque fora assassinado;
    b: deu como inquetionável que se tratava de um crime praticado pela “homofobia”;
    c: fez propaganda de seu ministério;
    d: fez propaganda do governo Dilma;
    e: sugeriu que, não fosse a pressão da sua pasta, a Polícia de São Paulo não faria a devida investigação;
    f: defendeu a aprovação da tal lei anti-homofobia.

    Reproduzo uma vez mais a sua nota e volto em seguida.
    A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) vem a público manifestar solidariedade à família de Kaique Augusto Batista dos Santos, assassinado brutalmente no último sábado (11/01). Seu corpo foi encontrado pela Polícia Militar de São Paulo próximo a um viaduto na região da Bela Vista, na Avenida 9 de Julho.
    As circunstâncias do episódio e as condições do corpo da vítima, segundo relatos dos familiares, indicam que se trata de mais um crime de ódio e intolerância motivado por homofobia.
    De acordo com dados do Relatório de Violência Homofóbica, produzido pela Secretaria de Direitos Humanos, em 2012, houve um aumento de 11% dos assassinatos motivados por homofobia no Brasil em comparação a 2011. Diante desse grave cenário, assim como faz em outros casos que nos são denunciados, a SDH/PR está acompanhando o caso junto às autoridades estaduais, no intuito de garantir a apuração rigorosa do caso e evitar a impunidade.
    A ministra da SDH/PR, Maria do Rosário, designou o coordenador-geral de Promoção dos Direitos deLGBT e presidente do Conselho Nacional de Combate a Discriminação LGBT, Gustavo Bernardes, para acompanhar o caso pessoalmente. O servidor da SDH/PR desembarcou no início na tarde desta sexta-feira (17) na capital paulista, onde deverá conversar com a família e acompanhar o processo investigativo em curso.
    Informamos ainda que a Secretaria de Direitos Humanos está investindo recursos para a ampliação dos serviços do Centro de Combate à Homofobia da Prefeitura Municipal de São Paulo, fortalecendo a rede de enfrentamento à homofobia.
    Diante desse quadro, reiteramos a necessidade de que o Congresso Nacional aprove legislação que explicitamente puna os crimes de ódio e intolerância motivados por homofobia no Brasil, para um efetivo enfrentamento dessas violações de Direitos Humanos.
    O Governo Federal reitera seu compromisso com o enfrentamento aos crimes de ódio e com a promoção dos direitos das minorias, em especial, com a população LGBT.

    Retomo
    É um hábito desta senhora disparar primeiro e ponderar depois. É assim desde os tempos em que ela defendia a proibição da venda legal de armas, embora tivesse aceitado doação de campanha da Taurus… Notem: a doação foi legal. Imoral era a pregação de Maria de Rosário. Sim, é preciso combater os crimes de ódio — necessariamente sem fazer escolhas que possam provocar… ainda mais ódio. E assim pode ser caso, nos termos em que está, se aprove a tal lei anti-homofobia. Mas nem vou entrar agora nessa questão.

    Qual história é mais trágica, mais triste, mais dura? Para a família de Kaíque, suspeito, a versão que se comprovou falsa talvez machucasse menos. Os militantes gays deixarão o garoto de lado. Ele não pode mais ser consumido pela causa. Ele já não serve como bandeira. Maria do Rosário não vai se desculpar, e seus caçadores de causas ficarão atentos à espera de um próximo cadáver que possa ser exibido em praça pública.

    Recorri a Renato Russo no título — quando percebi que tinha qualidades genuínas, ele já havia morrido —, um verso de índole cristã (e pouco me importa saber o que autor pensava sobre religião).

    Se Maria do Rosário seguisse aquele princípio, não seria tão oportunista. E emitiria, então, 140 notas de pesar por dia, que é a média de assassinatos diários no país que mais mata no mundo, incluindo os que estão em guerra. Ocorre que Maria do Rosário pertence a uma escola de pensamento que transforma um morto na bandeira com a qual esconde os outros 51 mil para os quais o governo que ela integra não dá a menor bola.

    Solidarizo-me com a família de Kaíque. É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.Por Reinaldo Azevedo





    21/01/2014 às 17:35

    Canalha tenta riscar um fósforo para explodir o posto, depois de derramar combustível no chão. Felizmente, não conseguiu

    Um leitor, que se identifica como Paulo César, aponta o que considera os meus “equívocos” no post em que critico a abordagem que o Jornal Nacional fez de dois assuntos ontem: o arrastão promovido por supostos funkeiros e o caso da invasão, e posterior conflito, de uma fazenda no norte de Minas. O post está aqui. Segundo ele, não há nada de errado na forma como as notícias foram dadas, e minha crítica teria apenas “viés ideológico”. Ele me recomenda ainda que tome cuidado para não ser o “outro extremo do JEG”. JEG, como devem saber quase todos os leitores, é a sigla que criei para definir o “Jornalismo da Esgotosfera Governista”, aquela gente financiada por estatais para exaltar o governo e o PT e atacar as lideranças de oposição e a imprensa independente. Não corro o risco. Escrevo o que penso, não o que pensa uma “legião”. Adiante.

    Acho que fui bastante claro no post que escrevi, mas não me incomodo de voltar ao assunto. Noto, de saída, que critiquei, em primeiro lugar, o discurso da PM — não a ação de repressão, deixo claro. Ainda que os atos criminosos tenham se seguido à proibição de um baile funk, é preciso que se tome cuidado para que ações daquela natureza não sejam consideradas uma reação possível de descontentes. Evidentemente, não é. Aquilo é banditismo em estado puro. A questão, para mim, toca num dos pontos centrais do combate à violência.

    Quem espanca funcionários e clientes de um posto de gasolina, derrama combustível no chão de forma deliberada e tenta explodir o lugar age deliberadamente de forma criminosa. Pobre ou rico, ele é apenas um bandido. Não há condição social que explique isso — a menos que se invista no preconceito habitual de associar a pobreza a delitos. Essa, como se sabe, é uma das farsas mais influentes no debate sobre a violência, desmentida de forma peremptória pelos fatos. São tantos os pobres no Brasil que, fosse verdadeira a relação, seria impossível andar nas ruas. A verdade é bem outra: a esmagadora maioria dos pobres tem o senso de moralidade de todos nós: peca aqui e ali, mas, no geral, segue as leis. Algumas psicopatias à parte, o criminoso o é porque quer, não porque foi empurrado para o crime.

    E acho, sim, hoje mais do que ontem, que o JN fez muito mal em associar ao caso a promessa do prefeito Fernando Haddad de que vai levar iluminação para os tais clubes comunitários — ou algo assim. Qual é a relação óbvia que se estabelece? Com os clubes, não seria preciso fazer o baile funk no meio da rua, a polícia não teria interferido, e aqueles rapazes não teriam praticado aquelas barbaridades. Essa explicação pertence à mesma família moral daquela que sustenta que, não fossem as pesadas penas impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes, não teria havido nazismo no país. Há uma diferença entre explicitar circunstâncias e estabelecer relações de causa e efeito que, no fim das contas, acabam responsabilizando as vítimas pela ações dos criminosos e facínoras.

    Se cada crime cometido por pobres — frequentemente contra outros pobres, que não despertam a compaixão nem excitam a compreensão dos politicamente corretos — merecer um rabicho explicativo de sociologismo barato (falta de “opções de lazer”, por exemplo), estará criada a justificativa para a violência. Mas será preciso, por coerência intelectual, atuar também na outra ponta: o criminoso do colarinho branco terá igualmente de ser visto como alguém, sei lá, “vítima da sua classe”, certo? Ou a riqueza, a seu modo, também não tolhe a liberdade de escolha? Sigamos.

    A invasão da fazenda
    Paulo César me acusa ainda de tentar negar o que considera um fato “óbvio”, assim definido por ele: “a violência promovida pelos proprietários rurais”. E pergunta, em tom de desafio: “Você não reconhece?”. Não! Eu não reconheço! Não, ao menos, como ação deliberada de um grupo social ou de uma área da economia. Ao contrário: eu reconheço, isto sim, é que o setor agropecuário brasileiro há muitos anos tem livrado o país do buraco. Há bandidos entre os proprietários de terra? Há sim! Mas também os há na indústria, no comércio, nos serviços, na imprensa…

    Estou igualmente mais convencido do que ontem dos equívocos da reportagem do Jornal Nacional. Em nenhum momento ficou claro que a invasão da fazenda, promovida por supostos quilombolas, era um ato ilegal. Nota: a violência com que foram retirados não se justifica; nem eu a justifiquei; escrevi isso Na verdade, a palavra “invasão” nem foi pronunciada pela reportagem ou pela locução do JN. Falou-se, candidamente, que eles “entraram” na propriedade. De modo oblíquo, informa-se que o Incra inclui a terra entre aquelas que poderão ser passíveis, um dia, quem sabe?, de reforma agrária. Fica clara a sugestão de que a invasão — ooops, “a entrada” — era justificada.

    Eu reconheço, sim, que existe uma indústria da invasão de terras no país. Eu reconheço, sim, que existe uma escandalosa manipulação do conceito de “comunidades tradicionais”, seja para definir índios, seja para definir quilombolas. Paulo César aponta a minha “ignorância” por estranhar o que o dito “quilombola” entrevistado seja… branco! Segundo ele, cor de pele não é critério para definir quem pertence e quem não pertence a essa comunidade.

    Ah, entendi: cor de pele serve para conquistar vaga na universidade pelo regime de cotas e, em breve, uma vaga no serviço público. Na hora da “quilombonlice”, aí não. Aí, parece, o que conta é o negro que cada um tem dentro de si, o negro subjetivo. Diz ele que aquele rapaz pode ser um descendente. Claro que pode! Mas é evidente que ele é fruto do cruzamento de cores de pele, de culturas, de correntes migratórias, sei lá eu. Ele é, em suma, uma brasileiro como a larga maioria de nós: está todo misturado. Seja para definir reservas indígenas, seja para definir áreas de quilombolas, não dá para fazer de conta que a história brasileira não existiu. Mas que se note: esse é o aspecto menos importante da minha restrição.

    Inaceitável mesmo é que uma invasão não seja tratada como tal e que se condene apenas um dos atos criminosos. O simples silêncio sobre a primeira transgressão legal já comprometeria a isenção da reportagem. Mas há mais do que silêncio: a história é contada segundo um ponto de vista: o dos invasores — tratados como simples “entrantes”.

    Lamento! Está tudo errado, e minhas observações, de resto, são técnicas. Não têm nada a ver com ideologia, se sou de direita ou de esquerda, comunista ou liberal. O país tem uma ordem jurídica, democraticamente instituída, e seus fundamentos têm de ser respeitados. Abordagem ideológica — no sentido de que se apela a um conjunto de valores abstratos para alterar e corrigir os fatos — foi a empregada pelo Jornal Nacional.

    PS: No vídeo que publiquei, do SPTV, falta o momento em que um dos bandidos tenta riscar um fósforo para explodir o posto. Por que no do JN aparece aquele instante e não no outro? Não sei. Por Reinaldo Azevedo





    21/01/2014 às 16:31


    Na VEJA.om:
    Um dia depois de o governo do Maranhão iniciar a transferência de detentos do Complexo Penitenciário de Pedrinhas (MA) para presídios federais, mais um preso foi encontrado morto nesta terça-feira na cadeia mais violenta do Brasil. Foi a terceira morte registrada em janeiro, a 63ª desde o início do ano passado.

    Segundo a Secretaria de Justiça e Administração Penitenciária (Sejap), o detento Jô de Souza Nojosa foi encontrado enforcado com uma “teresa” (corda improvisada feita pelos presidiários). Em nota, o governo maranhense afirmou que investiga as circunstâncias da morte – a hipótese mais provável é que tenha sido retaliação à remoção de nove detentos nesta segunda-feira para Campos Grande (MS). “Somente após a perícia será possível apontar as circunstâncias da morte. Mais informações serão repassadas após o fim do trabalho da equipe do Instituto de Criminalística (Icrim)”, disse o governo, em nota.

    A crise no sistema penitenciário maranhense chocou o país no final do ano passado pelas cenas de selvageria – decapitações, esquartejamentos e, agora, enforcamento – provocadas pelo confronto de facções inimigas dentro do presídio. Para tentar conter a guerra de criminosos, o governo estadual enviou homens da Polícia Militar e recebeu o apoio da Força Nacional para reforçar a segurança e vistoriar as celas. Centenas de armas improvisadas, uma pistola e dezenas de celulares foram encontrados.

    A presença da PM no presídio irritou líderes das facções criminosas, que deram ordem para bandidos atacarem ônibus e delegacias nas ruas de São Luís. Uma criança de 6 anos morreu queimada após um ônibus ser incendiado. Veja o vídeo. O Ministério Público Estadual denunciou sete acusados pela morte da menina.

    A governadora Roseana Sarney (PMDB) também recebeu apoio do governo Dilma Rousseff, preocupado com o desgaste do clã Sarney no Estado, aliado estratégico em ano eleitoral. No entanto, nem mesmo o reforço policial e a transferência de detentos parecem ter apaziguado os ânimos em Pedrinhas: na semana passada, os policiais tiveram de agir para conter dois princípios de rebelião no complexo.Por Reinaldo Azevedo





    21/01/2014 às 14:47


    Na VEJA.com:
    O Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a reduzir as previsões de crescimento econômico do Brasil. Para este ano, a projeção é que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 2,3%, abaixo dos 2,5% previstos em outubro. Com a revisão, a expectativa se igualou à expansão estimada para 2013. Para 2015, o FMI projeta avanço de 2,8%, também menor que os 3,2% divulgados no relatório anterior.

    O Brasil deve ter este ano um dos menores crescimentos entre os países emergentes com previsões divulgadas no relatório desta terça-feira. O México, por exemplo, deve crescer 3% este ano e 3,5% no próximo. A África do Sul deve crescer 2,8% e 3,3% nos mesmos períodos. Entre os grandes mercados emergentes, só a Rússia deve ter desempenho pior que o Brasil, crescendo 2% este ano e 2,5% no próximo. Os emergentes devem crescer 5,1% este ano, mesma previsão do relatório de outubro. Em 2015, o crescimento deve ficar em 5,4%, pouco acima dos 5,3% previstos anteriormente. Já a economia global deve avançar 3,7% em 2014 e 3,9%em 2015.

    O Fundo divulgou nesta terça-feira um relatório em Washington atualizando as estimativas feitas durante sua reunião anual na capital americana em outubro, quando apresentou o documento “Perspectiva Econômica Global”. As projeções anuais para a economia brasileira vêm sendo rebaixadas a cada novo relatório do FMI desde meados de 2012.

    No documento, o Fundo alerta que países emergentes com contas externas mais fragilizadas e fraquezas internas, como o Brasil, estão “particularmente expostos” ao risco de fugas de capital por causa da mudança da política monetária dos Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). A recomendação do Fundo é que os governos deixem as moedas desvalorizarem e fiquem atentos para gerenciar fuga de recursos.

    A crescente volatilidade no mercado financeiro e nos fluxos internacionais de capital está entre os principais riscos que os mercados emergentes enfrentarão em 2014, destaca o relatório. “A combinação de mudanças nas carteiras dos agentes e fraquezas domésticas pode resultar em fugas mais acentuadas de capital e ajustes nas taxas de câmbio”, alerta o documento.Por Reinaldo Azevedo





    21/01/2014 às 7:00







    21/01/2014 às 6:47


    Vejam isto.



    Já me acusaram de ser um defensor incondicional da TV Globo. Deve ser porque me oponho àquilo que os pterodáctilos chamam “controle social da mídia”, que é o outro nome da censura. Outro dia me enviaram um texto de um Zé Mané me acusando de tentar, calculem, levar a Globo para a direita. Quem sou eu?! E que se note: seja para elogiar, seja para criticar, não escrevo imaginando se este ou aquele vão me ler. Eu escrevo apenas para dois leitores, plagiando Gil Vicente: um leitor chamado “Ninguém” e outro leitor chamado “Todo Mundo”. Mas volto ao ponto: nem elogio nem critico a Globo por princípio. Quando gosto, aplaudo; quando não gosto, critico. Oponho-me ao controle social da mídia não por causa dos Marinhos. Eu me oponho ao controle social da mídia por causa dos Azevedos — uma gente bem mais mixuruca e vira-lata, mas em cujo cérebro também se realizam algumas sinapses. Adiante.

    Hoje é crítica. O Jornal Nacional precisa tomar mais cuidado. Vi duas notícias, em sequência, editadas ambas de maneira um tanto perigosa. “Segundo qual critério, Reinaldo Azevedo?” Serve o do Estado de Direito?

    Na primeira, um bando de vândalos, de bandidos, de vagabundos — assim os chamo eu, não a Globo —, é flagrado por câmeras depredando, saqueando e assaltando hipermercado e um posto de gasolina e espancando funcionários. O vídeo acima, como está claro, não é o da reportagem do JN. Na saída, um deles, acreditem!, aciona a bomba de gasolina, derrama combustível no chão e risca um palito de fósforo. Felizmente, não acendeu. Imaginem quantas vítimas poderia ter feito se tivesse sido bem-sucedido. Ele só tentou porque sabia das consequências. É um monstro! É um canalha! É um assassino em massa em potencial.

    Até aí, bem. Não havia sinais de simpatia do JN com os marginais, é claro! Mas aí começa a trilha perigosa. O JN informou: “Segundo a Polícia Militar, os jovens estavam revoltados com a suspensão de um baile que promoviam na rua”.

    Bem, aqui vai a minha primeira observação, dirigida ao governo de São Paulo, muito especialmente ao comando da Polícia Militar. Quem quer que tenha passado essa suposta informação à reportagem da Globo tem de ser severamente advertido. TRATA-DE SE UMA MENTIRA. GENTE QUE FAZ O QUE SE VÊ NA REPORTAGEM É BANDIDA. Ninguém assalta porque está revoltado. Assalta porque é assaltante. Ninguém tenta explodir um posto de gasolina porque quer fazer baile. Quem age desse modo quer matar pessoas, além de causar um grande dano.

    Em seguida, o JN gruda a seguinte informação à notícia:
    “O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse hoje que vai fornecer mais espaços para o lazer dos jovens em São Paulo. Ele quer levar iluminação pública para os 300 clubes de comunidades que funcionariam como praças públicas e que poderiam receber festas à noite, desde que não atrapalhem a vizinhança”.

    Como é bacana este Haddad. Além da iluminação, espero que ele dote também os clubes de tratamento acústico. Ou o prefeito imagina um batidão de funk sem… “atrapalhar a vizinhança”? Pois é… Ainda que, de modo explícito, o JN não tenha justificado a ação dos criminosos, na sublinha fica a suspeita de que, NÃO FOSSE A PROIBIÇÃO DO BAILE, TALVEZ ELES NÃO HOUVESSEM ATACADO O POSTO. Não dá!

    Imaginem, agora, se todos os funkeiros — ou que outro gosto tenham — que forem contrariados resolverem, digamos, reagir… Ao associar a fala de Haddad a uma notícia como essa, o JN, queira ou não, cria uma correlação entre os fatos, e fica parecendo que mandar um posto de gasolina para os ares é uma das consequências possíveis quando se proíbe um baile ou quando não existem as tais “opções de lazer”. Aqueles canalhas precisam é de cadeia, não de lazer.

    O segundo caso
    Vamos lá. Um grupo de 18 pessoas que se dizem quilombolas invadiu uma fazenda no norte de Minas, entre os municípios de Verdelândia e São João da Ponte. No domingo, outro grupo, este de 11 pessoas encapuzadas, entrou na fazenda, agrediu e expulsou os invasores. Consta que dois deles foram feridos a bala.

    É óbvio, é ululante, é claro como a luz de um dia ensolarado que eu não apoio reações dessa natureza. Mas é preciso comentar certos aspectos tortos da reportagem do JN. O grupo que atacou os ditos “quilombolas” foi chamado de “bando” e de “criminosos”‘. Ok. Nada a opor. Era um bando. Eram criminosos. Mas pergunto ao JN: e os invasores eram o quê? Pombas da paz? Destaco um trecho da fala da repórter:
    “No sábado, um grupo de quilombolas de comunidades vizinhas entrou na fazenda. Eles dizem que era uma ação para reivindicar a desapropriação da área. Para o Incra, a fazenda está incluída em uma relação de imóveis que pode entrar em processo de reforma agrária”.

    Um dos invasores da fazenda, o quilombola branco, tratado pelo JN só como vítima

    Ualá! Então vamos ver. Eu adorei o emprego do verbo “entrar”. Observem, então, que os sedizentes quilombolas “entraram” na fazenda, tá? Não foi invasão. Durante os protestos de junho, por exemplo, alguns black blocs e outros dinossauros também queriam “entrar” na Globo do Rio e de São Paulo, entenderam? A segurança foi reforçada. E se eles forçassem a “entrada”? Vai saber… Tenho certas ortodoxias: uma delas é achar que propriedade, rural ou urbana — seja uma fazenda ou uma emissora de TV —, não pode ser invadida… Ooops! Corrijo-me: o proprietário deve ter o direito de impedir a “entrada” de quem não foi convidado.

    Volto ao texto. A “entrada”, então, segundo os quilombolas era “uma ação para reivindicar a desapropriação da área”. Ah, entendi. Informa mais a repórter:“Para o Incra, a fazenda está incluída em uma relação de imóveis que podem entrar em processo de reforma agrária”. Certo! Trata-se de propriedade privada, e o Incra acha que a terra deva servir à reforma agrária. Mas fica claro que não há nem mesmo uma ação de desapropriação em curso, nada!

    Vale dizer: um bando resolveu tirar outro bando de uma fazenda. Foi isso o que aconteceu. E o fez da pior maneira. Sim, ações dessa natureza devem ser vivamente desestimuladas e punidas. Mas é preciso que também os invasores arquem com as consequências legais de seus atos, não é mesmo?

    Ao fim da reportagem, há o depoimento de um dos “quilombolas” agredidos. O homem é mais branco do que eu antes das três semanas de sol do fim de dezembro e início de janeiro — e olhem que isso não é assim tão fácil, hehe… Tenho certas ortodoxias, que me desculpe a neoantropologia… Quilombola, creio, tem de ser negro, não? A ideia não é tomá-los como uma chamada “comunidade tradicional” — hoje em dia, isso costuma ser pura mistificação —, formada por descendentes de negros que foram escravizados? Para que essa “tradicionalidade” (sim, a palavra existe!) se mantenha, entendo, os descendentes de escravos teriam de ter conservado vínculos, tradições etc. Se não é assim, Tio Rei é índio e vai invadir todo o Litoral Norte de São Paulo…

    Não! Definitivamente, eu não apoio a ação daqueles que entraram na fazenda para retirar de lá os invasores — e não os “entrantes”. Mas eu também não apoio a invasão e acho que as coisas têm de ser chamadas pelo nome que elas têm.

    Sei, sei… Hoje em dia, para não cair na boca de sapo da difamação das redes sociais, a gente tem de ser simpático a invasores de terra, do MST ou quilombolas, ou de compreender que, em certas circunstâncias, certas comunidades acabam reagindo mal à falta de opções de lazer e saem por aí explodindo postos de gasolina. Ainda que reverente a essas canalhices, a imprensa segue sendo alvo da bandidagem ideológica.

    Não! Não é a minha praia. Não vou fazer isso. Não condescendo com isso. E, adicionalmente, acho que quilombola tem de ser negro. #prontofalei.
    Texto publicado originalmente às 22h42 desta segundaPor Reinaldo Azevedo





    21/01/2014 às 6:47


    Perto de 6 mil pessoas serão expulsas de uma área considerada pela Funai como pertencente aos índios awá-guajá. Pois é… Consta que “awá” quer dizer “gente, pessoa”. Os agricultores pobres que não têm para onde ir, má sorte deles, não são “awás”, entendem? Não são gente, não são pessoas. Vejam este vídeo. Eis os pobres coitados que estão sendo tratados como “intrusos” pelas joint ventures que hoje unem ONGs, jornalistas e farto financiamento internacional. Volto em seguida.



    Voltei
    O juiz federal José Carlos do Vale Madeira resolveu agir com um pouco de bom senso ao menos, depois de ter decidido expulsar os não índios da área, e determinou que o governo dê garantias de que eles serão realmente reassentados pelo Incra. Segundo o juiz, o governo tem até o dia 27 para definir onde as famílias serão alojadas. A decisão foi comunicada ao Incra, ao Ministério do Desenvolvimento Agrário é à Secretaria-Geral da Presidência. Todos esses entes integram o grupo de trabalho que trata da tal “desintrusão”, essa palavrinha absurda.

    Quem protestou em defesa dos pobres coitados que estavam sendo jogados ao relento não foi a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, mas a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA) — vejam lá no alto as expressões do “agronegócio” que estão levando um pé do traseiro…

    Segundo Paulo Maldos, braço-direito de Gilberto Carvalho, que só tem braços esquerdos, aquela gente estava lá para plantar maconha e extrair madeira. Depois ele se desculpou. Dadas as bobagens que costuma dizer e sua trajetória, foi desculpa da boca pra fora. Os moradores, como se vê, já começaram a ser notificados. Tão logo recebam o papel, têm 40 dias para deixar a área por livre e espontânea vontade. Ou é isso, ou saem debaixo de metralhadora…

    Leio no site http: Questão Indígena:
    “A região compreende os municípios de Centro Novo do Maranhão, Governador Newton Bello, Zé Doca e São João do Caru. Madeira teme que o Incra não consiga cumprir a decisão judicial no que diz respeito ao reassentamento dos pequenos produtores. Na semana passada, o Incra criou grupo de trabalho para dialogar com sindicatos de trabalhadores rurais sobre o andamento do processo”.

    Nunca é demais lembrar: o país tem quase 14% do seu território ocupado por reservas indígenas — boa parte delas, como todo mundo sabe, infiltrada pelo garimpo e pela exploração ilegal de madeira. Se for com a concordância dos índios, aí o governo faz vista grossa. Como fazia no Amazonas, onde os tenharins resolveram ganhar dinheiro cobrando pedágio na Transamazônica, uma estrada federal.

    Voltem lá ao vídeo. Vejam aqueles rostos. Há quem queira nos convencer de que eles são os novos opressores do Brasil.Por Reinaldo Azevedo





    21/01/2014 às 5:43


    Começa nesta quarta, em Montreux, na Suíça, a tal conferência de paz que tem como tema a Síria. Depois de protestos oriundos de todo lado, inclusive dos EUA, a ONU desconvidou o Irã, hoje o principal esteio do regime de Bashar Al Assad. O objetivo do encontro seria debater um governo de transição, com a saída de Assad, que já disse que não vai embora. Fato: ele está vencendo a guerra. O campo adversário, hoje em dia, é comandado por facções terroristas ligadas à Al Qaeda, que, curiosamente, brigam até entre si.

    É a velha história. Este senhor é um açougueiro? É, sim, mas, infelizmente, ele diz a verdade quando afirma estar enfrentando terroristas financiados pela Arábia Saudita e pelo Catar — um notório insuflador, diga-se, das revoltas batizadas de “Primavera Árabe”.

    Em que vai dar o encontro? Muito provavelmente, em nada. Se Assad não for assassinado ou vítima de um golpe desfechado pelos militares, ficará no poder. A menos que as potências ocidentais decidiram tirá-lo de lá a bala. Mas aí será preciso convencer antes a Rússia. Não parece que ela vá concordar. Não sendo isso, a única saída é tentar negociar um acordo com o próprio presidente sírio para pôr fim ao morticínio. A oposição política, no exílio, rejeita essa alternativa, mas vamos ser claros: ela não tem e nunca teve o comando no campo de batalha, que está com os jihadistas.

    Noticiou-se nesta segunda, em tom de escândalo, que Assad pretende concorrer em junho a um novo mandato de sete anos. Como uma tirania faz uma eleição decente num país conflagrado por uma guerra civil? Isso, no entanto, não deve nos impedir de constatar o óbvio — atestado até pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, emissário da ONU: ainda que se realizassem eleições limpas na Síria, Assad venceria com tranquilidade.

    A razão é simples: seus opositores não usam métodos distintos dos seus; em muitos aspectos, são ainda piores; há relatos de que, nas áreas dominadas pelos rebeldes, vigora a lei do cão, com execuções sumárias, violência de toda sorte, especialmente contra mulheres, tortura contra pessoas consideradas aliadas do regime — e, para tanto, assegura-me um sírio, basta que o sujeito não tenha decidido pegar em armas para que seja visto como suspeito.

    Entenderam o ponto? O regime de Assad é violento, sim; Síria afora, no entanto, há centenas de Assads locais “do lado de lá”, que não têm nem mesmo um compromisso com um simulacro de legalidade.

    A única decisão “humanitária” sensata dos países que se dizem empenhados em construir a paz na Síria é negociar uma transição com Assad. Não é assim porque quero nem porque gosto. É assim porque é e porque os adversários do tirano são ainda piores do que ele próprio. Já morreram 130 mil pessoas. Isso tem de parar.Por Reinaldo Azevedo







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    'A Lógica da Criação'


    Jesus, oculto na Hóstia, é tudo para mim




    “Se não fosse a Santa Comunhão, eu estaria caindo continuamente. A única coisa que me sustenta é a Santa Comunhão. Dela tiro forças, nela está o meu vigor. Tenho medo da vida, nos dias em que não recebo a Santa Comunhão. Tenho medo de mim mesma. Jesus, oculto na Hóstia, é tudo para mim. Do Sacrário tiro força, vigor, coragem e luz. Aí busco alívio nos momentos de aflição. Eu não saberia dar glória a Deus, se não tivesse a Eucaristia no meu coração.”



    (Diário de Santa Faustina, n. 1037)

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