Razões pelas quais é impossível retroceder ao protestantismo


Eu, tempos atrás, comecei a examinar as diferenças entre católicos e protestantes por conta de um debate virtual (lista de discussão). Qual não a minha surpresa, quando vi, por exemplo, que os cristãos dos primeiros séculos tinham a Eucaristia como Corpo e Sangue de Cristo mesmo! Não como simbólica (posição de Zwínglio e dos batistas e pentecostais atualmente) ou como uma presença meramente espiritual (posição dos calvinistas), não!, mas real. Vi ainda, que seria inviável os primeiros cristãos viverem como nós, hoje, somente pela Bíblia, já que não a tinham em mãos.


O AT era constituído de inúmeros pergaminhos (enormes!!) que ficavam nas sinagogas e o NT ainda estava em formação. Daí, que os primeiros cristãos dependeram – quase que exclusivamente – do ensino dos apóstolos e de seus discípulos e sucessores. Já que a Escritura era escassa, e continuaria a ser algo raro e caro até a invenção da imprensa, 1400 anos depois, é estranho e infactível pensar que eles viviam com base exclusivamente no estudo da Escritura.
Já que eu não creio que Deus abandonaria seu povo ao léu no correr da História, sou forçada a crer na providência divina de manter oralmente (Tradição) o ensino de nosso Senhor e dos apóstolos ano após ano, um século depois do outro. Mais de 1400 anos se passam então. A Escritura só se manteve intacta graças a copistas dedicados e abnegados, que normalmente eram monges.
Aí, eu vi, quando estava fazendo tais estudos, que algumas conclusões se impunham:

  • A Igreja vem antes da Escritura;
  • Ela se utilizou da Tradição para preservar o ensino apostólico e a própria Escritura, passando de geração em geração o seu conteúdo, método, aliás, bíblico (Dt 6,6-7);
  • A Escritura só pode ser comprovadamente tida por inspirada porque a Igreja declarou-a inspirada. Basta vermos as disputas que tiveram por 3 séculos sobre o canôn do NT, com os gnósticos de um lado e os discípulos de Marcião do outro querendo acrescentar ou subtrair algo da Escritura e somente porque a Igreja foi dizendo: "esse fica, esse outro não fica" temos o canôn. Senão, qualquer livro se imporia como inspirado aos cristãos. Se temos, hoje, a Escritura Sagrada como tal, é porque a Igreja disse ser ela a Palavra de Deus;
  • A Presença Real de Nosso Senhor era fato para os cristãos dos primeiros séculos. S. Agostinho disse “Ninguém coma daquela carne sem primeiro tê-la adorado...” e Justino disse “Está comida nós a chamamos Eucaristia... nósnão recebemos essas espécies como pão comum ou como bebida comum;mas como Cristo Jesus nosso Salvador, assim também ensinamos que o alimento consagrado pela Palavra da oração que vem dele, de que a carne e o sangue são, transformação, Carne e Sangue daquele Jesus Encarnado” (São Justino Presbítero, I Apologia, cap. 66 cerca de 148-155 d.C.).
Portanto, embora ame demais a todos amigos que lá deixei, não posso mais em sã consciência comungar de certas posições. Por crer piamente em Deus e no seu cuidado com a sua Igreja, não posso crer que ele tenha abandonado seu povo – durante séculos! – à mercê de salafrários que não eram seus escolhidos e que deram pedras ao invés de pão, serpente ao invés de peixes (Lc 11,11).

Outro ponto inegociável é a unidade. Isso foi o pedido de Nosso Senhor (S. João 17), inexistente no protestantismo em suas variadas matizes. Cada uma delas é uma história de amor e ódio ao mesmo tempo, hehe. Lembro como se fosse hoje, de um dia que fui confrontada com isso. Tentei rebater com o “argumento” que existem inúmeras tendências teológicas no catolicismo. Mas logo vi que não era possível emparelhar uma coisa e outra. Se houver um racha no presbiterianismo (por exemplo), como já houve décadas atrás, com que tendência estará a razão efetivamente? Cada lado dará o outro como errado, coisa que acontece e aconteceu muito na história da igreja protestante: um não concorda, é disciplinado, funda outra denominação e fala que ali é a igreja de Cristo, etc. E vem outro e discorda desse último e faz a mesma coisa, ad infinitum. Pergunto: há, organicamente, no meio protestante algum órgão ou pessoa capaz de dar um ponto final nisso? A resposta – tristemente – é um não, já que cada um é juiz da Escritura, como disse Charles Hodge ao Papa Pio IX em uma carta.

Por outro lado, os católicos tem alguém que pode – e muitas vezes o faz! – dar um ponto final em certas controvérsias inúteis. Exemplo disso foi a controvérsia entre tomistas e molinistas a respeito da justificação. Cada lado dizia que o outro era herege etc. Mas o papa de então, vendo que na verdade, ambas as posições podiam muito bem serem católicas por não ferirem o essencial, mandou-os acabar com a controvérsia. E hoje não se toca mais nela. Bem diferente, né?

Aliás, é só por causa da autoridade da Igreja e da unidade de fé que existe que foram declaradas, vez após outra, as heresias e condenados os hereges (gnosticismo, donatismo, nestorianismo, arianismo etc).

Eu poderia elencar mais pontos – igualmente importantes – que poderiam ser assinalados. Ainda irei sempre encontrar eles todos, provavelmente, em eventos acadêmicos, profissionais. Mas por esses motivos acima, estou impedida de comungar com todos os meus amigos protestantes em se tratando de fé. Qualquer coisa nesse sentido seria falsa e estaria traindo a verdade dos fatos por mim citados.
Conquanto não possa voltar à comunhão com a igreja reformada e protestante, desejo viver em caridade com todos os homens. Não nego o quanto amo todos eles e quanto aprendi como pessoa e como cristã lá. Mas eu dei um passo além. E não tem como fazer meia volta sem ser incoerente e ingrata com tudo que Deus me mostrou até aqui.



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