Caríssimo (a),
Segue-lhe o texto para sua meditação semanal sobre as leituras das missas
dominicais.
Como sempre extraída da Obra de Francisco Fernandez Carvajal, Falar com
Deus.
Espero lhe seja proveitoso.
Boa semana.
Airton Luiz Sbrissa.
TEMPO COMUM. DÉCIMO NONO DOMINGO. CICLO B
O PÃO VIVO
– A Comunhão restaura as forças perdidas e confere outras novas. O Viático.
– O Pão da vida. Efeitos da Comunhão na alma.
– A recepção frequente ou diária deste sacramento. Visita ao Santíssimo;
comunhões espirituais ao longo do dia.
I. LEMOS NA PRIMEIRA LEITURA da Missa1 que o profeta Elias, fugindo de
Jezabel, se dirigiu ao Horeb, o monte santo. Durante a longa e difícil
viagem, sentiu‑se cansado e quis morrer. Basta, Senhor; tira a minha alma;
porque eu não sou melhor do que os meus pais. E lançando‑se ao chão,
adormeceu. Mas o Anjo do Senhor despertou‑o, ofereceu‑lhe pão e disse‑lhe:
Levanta‑te e come, porque te resta um longo caminho. Tendo‑se ele levantado,
comeu e bebeu, e com o vigor daquela comida, caminhou quarenta dias e
quarenta noites, até o monte de Deus. O que não teria conseguido com as suas
próprias forças, conseguiu‑o com o alimento que o Senhor lhe proporcionou
quando mais desanimado se sentia.
O monte santo para o qual o Profeta se dirige é imagem do Céu, e o trajeto
de quarenta dias representa a longa viagem que vem a ser a nossa passagem
pela terra; uma viagem semeada também de tentações, cansaços e dificuldades
que por vezes nos fazem fraquejar o ânimo e a esperança. Mas, de maneira
semelhante ao Anjo, a Igreja convida‑nos a alimentar a nossa alma com um pão
totalmente singular, que é o próprio Cristo presente na Sagrada Eucaristia.
Nele encontramos sempre as forças necessárias para chegarmos até o Céu,
apesar da nossa fraqueza.
Nos primeiros tempos do cristianismo, a Eucaristia era chamada Viático, pela
analogia entre esse sacramento e o viático ou as provisões alimentícias e
pecuniárias que os romanos levavam consigo para as necessidades do caminho.
Mais tarde, reservou‑se o termo para designar o conjunto de auxílios
espirituais, de modo especial a Sagrada Eucaristia, com que a Igreja
apetrecha os seus filhos para a última e definitiva etapa da viagem rumo à
eternidade2. Entre os primeiros cristãos, era costume levar a Comunhão aos
encarcerados, sobretudo quando se aproximava o dia do martírio3.
São Tomás ensina que este sacramento se chama Viático na medida em que
prefigura a alegria de gozarmos da visão de Deus na pátria definitiva e nos
confere a possibilidade de alcançá‑la4. É a grande ajuda ao longo da vida e,
especialmente, no último trecho do caminho, ocasião em que os ataques do
inimigo podem ser mais duros. Esta é a razão pela qual a Igreja sempre
procurou que nenhum cristão morresse sem esse sacramento. Desde o princípio,
os cristãos sentiram a necessidade (e a obrigação) de recebê‑lo, mesmo que
já tivessem comungado nesse dia5.
Também podemos recordar hoje na nossa oração a responsabilidade que temos,
por vezes grave, de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que
nenhum familiar, amigo ou colega morra sem os auxílios espirituais que a
nossa Mãe a Igreja preparou para a última etapa da vida. É a melhor e a mais
eficaz demonstração de caridade e de carinho, talvez a última, com essas
pessoas aqui na terra. O Senhor recompensa‑nos com uma alegria muito grande
quando cumprimos este gratíssimo dever, ainda que por vezes possa ser
difícil e penoso.
Temos de agradecer ao Senhor todas as ajudas que nos oferece ao longo da
vida, especialmente a da Comunhão. Este agradecimento manifestar‑se‑á em
prepararmo‑nos para comungar todos os dias do melhor modo possível, e em
fazê‑lo com a plena consciência de que cada Comunhão nos dá, mais do que ao
profeta Elias, as energias necessárias para percorrermos com vigor o caminho
da nossa santidade.
II. EU SOU O PÃO da vida, diz‑nos Jesus no Evangelho da Missa6 [...]. Quem
comer deste pão viverá eternamente; e o pão que eu darei é a minha carne
para a salvação do mundo.
Hoje, o Senhor recorda‑nos vivamente a necessidade que temos de recebê‑lo na
Sagrada Comunhão para podermos participar da vida divina, para vencermos as
tentações, para que a vida da graça recebida no Batismo se desenvolva em
nós. Quem comunga em estado de graça, além de participar dos frutos da Santa
Missa, obtém uns bens próprios e específicos da Comunhão eucarística:
recebe, espiritual e realmente, o próprio Cristo, fonte de toda a graça. A
Sagrada Eucaristia é, por isso, o maior sacramento, centro e cume de todos
os demais. A presença real de Cristo dá a este sacramento uma eficácia
sobrenatural infinita.
Não há maior felicidade nesta vida do que receber o Senhor. Quando desejamos
dar‑nos aos outros, podemos oferecer‑lhes objetos que nos pertencem como
símbolo de algo mais profundo do nosso ser, ou fazê‑los participar dos
nossos conhecimentos, ou dedicar‑lhes todo o nosso amor..., mas sempre
chocamos com um limite. Na Comunhão, o poder divino ultrapassa todas as
limitações humanas, porque sob as espécies eucarísticas recebemos o próprio
Cristo indiviso. O amor atinge a sua máxima expressão neste sacramento, pois
é a plena identificação com Aquele que tanto se ama, a quem tanto se espera.
"Assim como quando se juntam dois pedaços de cera e com o fogo se derretem,
dos dois se forma uma só coisa, assim também é o que acontece pela
participação do Corpo de Cristo e do seu precioso Sangue"7. Verdadeiramente,
não há maior felicidade nem maior bem do que receber dignamente o próprio
Cristo na Sagrada Comunhão.
A alma nunca deixará de dar graças se se recordar com frequência da riqueza
deste sacramento. A Sagrada Eucaristia produz na vida espiritual efeitos
parecidos aos do alimento material em relação ao corpo. Fortalece‑nos e
afasta de nós a debilidade e a morte: o alimento eucarístico livra‑nos dos
pecados veniais, que causam a debilidade e a doença da alma, e preserva‑nos
dos mortais, que ocasionam a morte. O alimento material repara as nossas
forças e robustece a nossa saúde. "A Comunhão frequente ou diária torna a
vida espiritual exuberante, enriquece a alma com uma maior efusão de
virtudes e dá àquele que comunga um penhor seguro da felicidade eterna"8.
Tal como o alimento natural permite que o corpo cresça, a Sagrada Eucaristia
aumenta a santidade e a união com Deus, "porque a participação do corpo e do
sangue de Cristo não faz outra coisa senão transfigurar‑nos naquilo que
recebemos"9.
A Comunhão ajuda‑nos a santificar a vida familiar; incita‑nos a realizar o
trabalho diário com alegria e perfeição; fortalece‑nos para enfrentarmos com
garbo humano e sentido sobrenatural as dificuldades e tropeços da vida
diária.
O Mestre está aqui e chama‑te10, ouvimos dizer diariamente; não recusemos o
convite. Que possamos comparecer a esse encontro com alegria e bem
preparados. Ainda estamos longe disso. E quanta coisa depende de que o
façamos!
III. AS NOSSAS FRAQUEZAS são numerosas. É por isso que o nosso encontro com
o Mestre na Comunhão deve ser tão frequente. O banquete está preparado11 e
muitos são os convidados, mas poucos os que comparecem. Como podemos
desculpar‑nos? O Amor desbarata todas as desculpas.
Podemos manter vivo ao longo do dia o desejo e a recordação deste sacramento
mediante a Comunhão espiritual, que "consiste num desejo ardente de receber
Jesus Sacramentado e num trato amoroso com Ele como se já o tivéssemos
recebido"12. Esta prática traz‑nos muitas graças e ajuda‑nos a trabalhar e a
relacionar‑nos com os outros com mais sentido sobrenatural. "Que fonte de
graças é a comunhão espiritual! – Pratica‑a com frequência, e terás mais
presença de Deus e mais união com Ele nas obras"13.
Também é muito proveitosa a Visita ao Santíssimo, que é "prova de gratidão,
sinal de amor e expressão da devida adoração ao Senhor"14. Nenhum lugar como
a proximidade do Sacrário para esses encontros íntimos e pessoais em que o
colóquio com o Senhor encontra o clima mais apropriado e em que nasce o
impulso para a oração contínua no trabalho, na rua..., em qualquer lugar. O
Senhor presente sacramentalmente pode ver‑nos e ouvir‑nos com uma intimidade
maior, pois o seu Coração, que é "a fonte da vida e da santidade"15,
continua a pulsar de amor por nós. Ele diz‑nos: Vinde vós também à parte, a
um lugar solitário, e descansai um pouco.
Ao Seu lado encontramos a paz, se a tivermos perdido, a fortaleza para
concluirmos as nossas tarefas e a alegria no serviço aos outros. "E, o que
faremos, perguntais, na presença de Deus Sacramentado? Amá‑lo, louvá‑lo,
agradecer‑lhe e pedir‑lhe. O que faz um pobre na presença de um rico? O que
faz um doente diante do médico? O que faz um sedento quando avista uma fonte
cristalina?"16
Jesus tem o que nos falta. Ele é a fortaleza neste caminho da vida. Peçamos
a Nossa Senhora que nos ensine a recebê‑lo "com aquela pureza, humildade e
devoção" com que Ela o recebeu, "com o espírito e o fervor dos santos".
(1) 1 Rs 19, 4‑8; (2) cfr. A. Bride, voz Viatique, em DTC, XC, 2842‑2858;
(3) cfr. São Cipriano, De lapsis, 13; Vita Basilii, 4; PG 29, 315;Atas dos
mártires; etc; (4) cfr. São Tomás, Suma Teológica, III, q. 74, a. 4; (5)
Código de Direito Canônico, can 921, 2; (6) Jo 6, 48‑51; (7) São Cirilo de
Alexandria, Comentário ao Evangelho de São João, 10, 2; (8) Paulo VI, Instr.
Eucharisticum Mysterium, 15‑VIII‑1967, 37; (9)ib., 7; (10) Jo 11, 28; (11)
Lc 14, 16; (12) Santo Afonso Maria de Ligório, Visitas ao Santíssimo
Sacramento, Introd., III; (13) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 540; (14)
Paulo VI, Enc. Mysterium fidei, 3‑IX‑1965, 67; (15) Ladainhas do Sagrado
Coração; cfr. Pio XII, Enc. Haurietis aquas, 15‑V‑1956, 20, 34; (16) Santo
Afonso Maria de Ligório, op. cit.
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